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domingo, 9 de março de 2014

Os pais, irmãos e filhos da ex-cangaceira Durvalina


Nesta foto, os pais da ex-cangaceira  Durvalina, com seus filhos e filhas. Foto gentilmente cedida por Neli Conceição.



Hilda Gomes, irmã da ex-cangaceira Durvalina. Esta foto andava nos bornais de Durvalinha (vejam legenda).


Casa da família Gomes de Sá, berço da ex-cangaceira  Durvalina, povoado Arrasta-Pé, Paulo Afonso, no Estado da Bahia  - Vejam legenda na foto.



Conforme a legenda na foto, este é Pedrinho Gomes, irmão de Durvalina - foi forçado pela família a desistir do sonho de ser cangaceiro.


Neli Conceição e seu irmão Inacinho, filhos dos ex-cangaceiros Moreno e Durvalina. A propósito, Inacinho foi gerado durante o cangaço e entregue a um sacerdote no interior da Bahia que o criou. Foi localizado no Rio de Janeiro, graças à insistente busca da irmã Neli, em 2005, quando ele teve oportunidade de conhecer pessoalmente os pais, em Belo Horizonte.

Neli Conceição é nossa amiga, isto é, amiga de todos que estudam o cangaço, e vive comunicando-se com todos nós, através de e-mails, e facebook.
Fotos:
História do cangaço
Severino Barros
Material gentilmente cedido pela filha destes, Neli Conceição. 
http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

“LAMPIÃO” COMO SURGIU ESTE APELIDO - PARTE II



Por: cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

"Algumas hipóteses"


SEGUNDA HIPÓTESE:


Em junho de 1921,  Virgulino  e seus irmãos Levino e Antônio Ferreira mais seu primo Domingos, incorporaram-se  ao bando do Sinhô Pereira que encontravam-se foragidos em um coito às margens do Rio Pajeú bem próximo da sua foz com o São Francisco. Ao todo uns 30 cangaceiros extremamente armados e equipados. Virgulino astuto, inteligente e muito destemido, foi logo se destacando e  conquistou a total confiança de seu líder, tornando-se o mais jovem chefe de um sub-grupo de cangaceiros.
            
Numa tarde primaveril equinócio de setembro, após confronto com  um pequeno destacamento policial que não ofereceu muita resistência, o bando do Sinhô Pereira depois de saquear um  vilarejo no extremo leste pernambucano, deslocaram-se por uma vereda em meio às caatingas até chegarem no sopé de uma serra, onde o mesmo escolheu um lugar seguro ordenando a todos que ali passariam  a noite.  Virgulino sempre desconfiado, foi até seu chefe e o informou que iria com seu irmão Antônio subir até o topo do espigão para observar  lá do  alto com seu monóculo de distância  se tudo estava normal, e assim foi feito. 

Era boca da noite e já estava bem escuro, quando os dois irmãos desciam do cume de rochas, Antônio tinha feito um cigarro de palha e quando foi acendê-lo, deixou o isqueiro cair entre as fendas das pedras, e por mais tempo que procuravam não o conseguiram  localizar, foi aí que Virgulino disse a seu irmão: 

- Afaste-se que eu vou atirar bem ligeiro e com a claridade dos disparos você vai achar seu binga. 

Ágil e com traquejo, Virgulino segurou firme seu fuzil, levantou a alavanca de manejo destrancando e puxando o ferrolho  totalmente para a retaguarda, depois pressionou o gatilho da arma para trás amarrando-o com um cadarço de couro, ficando desta forma o  mecanismo de disparo totalmente liberado, deixando ainda o percussor livre para  detonar; colocou o pente com cartuchos alimentando a arma em seguida, com incrível habilidade e rapidez ele acionou o ferrolho com enérgicos movimentos de vai e vem, efetuando cinco disparos ininterruptos e quase simultâneos formando um clarão idem à luz de um lampião. 

Lá do coito os que  ouviram e viram a claridade dos céleres estampidos, realmente pensaram que fosse a luz de um lampião. Daí  Antônio achando o tal isqueiro  acendeu o cigarro e ambos vieram  fumando e descendo morro a baixo até chegarem no acampamento, onde seu primo Domingos ao vê-los disse:

-O quê aconteceu lá em cima “Lampião”? 

E Virgulino respondeu: 

- Nada não, eu só clareei com tiros um lugar para Antônio achar seu isqueiro. 

O lendário Sinhô Pereira que presenciou tudo disse:

- Virgulino! Seu primo Domingos lhe chamou di  “Lampião”? 

Virgulino respondeu:

- Sim Sinhô Pereira! 

E assim indagou o sábio chefe cangaceiro:

- Pois é! Então, ele tá certo! Porque  o fogo do seu fuzil pareceu com  a luz dum  lampião, e de agora em diante seu apelido no bando será “Lampião”!   

Neste momento uma rasga mortalha voando alto sobre o acampamento crocita seu canto lúgubre e amedrontador e no mesmo instante, um gélido vento súbito deixa   todos arrepiados causando-lhes a sensação da fria presença da morte. 

- Munição di cangaceiro não é para si gastar a toa, pruquê é adquirida pru meio di muito sacrifício. Arrematou ainda o experiente Sinhô  Pereira bocejando     numa rede junto à  fogueira.

Então Lampião o futuro rei do cangaço cansado porém  mais seguro, bebe um bom gole de cachaça, come dois gomos de linguiça de porco assada com alguns bocados de farinha de mandioca,  toma um café bem quente, faz um cigarro de palha, deita na rede e após fazer sua oração, adormece abraçado a seu mosquetão ouvindo o sôfrego crocitar de um bacurau solitário procurando por uma fêmea em meio às caatingas dentro da noite escura como breu.
        
CONTINUA...

Enviado pelo  o autor

Francisco Carlos Jorge de Oliveira é pesquisador e cabo da Polícia Militar no Estado do Paraná.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

PEQUENA HISTÓRIA DOS BONDES DE NATAL



Publicado em 08/03/2014 por Rostand Medeiros



Este texto foi originalmente produzido por Augusto Severo Neto e publicado no Jornal Dois Pontos, edição semanal de 15 a 21 de junho de 1984, na sua coluna “Ontem vestido de menino – XXX”. Eu  li e guardei esta página ao longo destes quase 30 anos, com um desejo de não esquecer os registro de uma Natal que não existia mais, que não conheci, mas que achava importante conhecer através dos escritos de quem viveu naquela época. Infelizmente não consegui conservar perfeitamente este documento, as traças levaram um pedaço, mas o que trago dá uma ideia do meio de transporte mais marcante da antiga Natal.


Bonde da linha do Alecrim, fotografado em fins de 1942, pelo oficial da USAAF Robert C. Henning. Fonte – Livro Eu não sou herói-A história de Emil Petr, de Rostand Medeiros, 2012, pág. 92

Quando eu “cheguei”, os bondes puxados a burro já haviam dobrado a esquina do tempo. Também já haviam desaparecido as empresas que haviam explorado esse lírico meio de transporte. Primeiro foi a Ferro Carril de Natal, nos fins de março de 1908, no governo Alberto Maranhão, que, naturalmente, como magistrado supremo desta simpática sesmaria que é o Rio Grande do Norte, Capital Natal, presidiu a instalação solene deste meio de transporte.

E houve aquela pressa em assentar os trilhos, em comprar os bondes, que vem lá de longe, de Belém do Pará, e em adquirir os burros de tração, para tirar as viaturas. Eram burros de raça, fortes e custaram uma nota. R$ 250.000 (Duzentos e cinquenta mil reis) cada.

O primeiro trecho da linha ia da rua Dr. Barata à Praça Padre João Maria. Na “viagem” inaugural, ocupavam os assentos do novo transporte, o Governador Alberto Maranhão, o Senador Ferreira Chaves, o Deputado Juvenal Lamartine, o Presidente da Intendência Joaquim Manoel Teixeira (cargo equivalente atualmente ao de prefeito), algumas pessoas gradas e, naturalmente, os dirigentes da empresa.

As linhas foram se estendendo e chegaram até o Esquadrão de Cavalaria (onde funciona hoje a Escola Doméstica). O preço da passagem era de R$ 000.100 (cem réis, ou um tostão como chamavam). O primeiro acidente ocorreu em fevereiro de 1909, quando as rodas de ferro do veículo cortaram uma das pernas do garoto Antônio Pereira Dias.

Em 1911, o Governo tomou à França um empréstimo de R$ 4.214,274$830 (quatro milhões e duzentos e quatorze mil contos, duzentos e setenta e quatro mil e oitocentos e trinta réis). Com esse dinheiro Natal teve luz e bondes elétricos, além de telefones. Crescia o conforto moderno da cidade. Isso tudo foi inaugurado em outubro daquele mesmo 1911. A Empresa de Melhoramentos de Natal Vale de Miranda & Domingos Barros passou a gerir e explorar os novos melhoramentos da cidade. As linhas de bondes se estenderam ao Alecrim, até o Hospital dos Alienados. Em 1912 chegaram a Petrópolis. Em 1913 iam até o Tirol, onde se encontra a sede do Aero Clube. Em 1915 atingiam a praia de Areia Preta.

Foto da revista Life, realizada em fins de 1941, ou no início de 1942, mostrando um típico bonde de Natal nos cruzamento das Avenidas Duque de caxias e Tavares de Lyra, no bairro da Ribeira.

Vale de Miranda e Barros se separaram e os serviços de bondes, luz e telefones estiveram a ponto de ir para o brejo, nas mãos da nova arrendatária, Cia. De Tração, Força e Luz. Aí o Governador deu uma de durão e acabou com a moleza. Mandou executar a Força e Luz. Em 1930, uma outra Cia. Força e Luz do Nordeste do Brasil assumiu a coisa, tendo a frente o inglês Mr. Brown, genro de Juvenal Lamartine. Foi aí que eu comecei a tomar conhecimento, de mesmo, com os bondes de Natal.

Com o passar dos anos, eu e os bondes, adquirimos uma grande intimidade. Chegava a sofrer com ele (se não participava do troço), quando, na subida da Avenida Junqueira Aires, defronte do velho Atheneu, os estudantes passavam sabão nos trilhos e o coitado ficava patinando no mesmo lugar, sem conseguir chegar ao fim da ladeira. Tinha aquelas vezes que, até a “viagem” até o Aero Clube do Tirol, a gente tomava o lugar do motorneiro e, a nove pontos e muitos gritos, víamos passar as mangabeiras da antiga Rua Jundiaí, ainda sem calçamento e as poucas construções da Avenida Hermes da Fonseca, entre as quais o Esquadrão de Cavalaria e a casa do Dr. Varela Santiago. O bonde corcoveava que só montanha russa e, aqui e ali, a lança saltava e a gente tinha de recolocar no lugar.

Já tatuado e metido a sebo, junto com alguns colegas, eu descia de bonde até à Ribeira, para ir a “zona”, pagar o meu tributo as mulheres-damas. Quando o bonde passava defronte de minha casa, na Junqueira Aires, eu baixava a sanefa e os outros passageiros punham a mão para fora, para ver se estava chovendo.

Um dia os bondes começaram a falecer, até que morreu o último, de abandono e ferrugem, em um galpão sem nenhum conforto. Ainda hoje sinto saudades daquela alegria amarela (a cor tradicional dos bondes), lírica e barulhenta que cortava as ruas de Natal.


SOBRE O AUTOR – Augusto Severo Neto é oriundo de uma família de tradição que remonta ao século XVII e que deu ao Rio Grande do Norte nomes ilustres como os governadores Pedro Velho e Alberto Maranhão, o prefeito Djalma Maranhão, o revolucionário André de Albuquerque e o pioneiro da aviação, Augusto Severo, entre outros. Sua vida profissional teve origem no comércio.

O carisma do seu ilustre avô incentivou-o a tentar, por um certo período de tempo, o campo da aviação civil. Espírito inquieto, não tardou a largar as linhas aéreas para abraçar o jornalismo, atividade em que se revelou um cronista sensível às fraquezas e grandezas humanas, em que realizou um trabalho marcante, que tocou as fronteiras do jornalismo e da literatura.

Foi membro correspondente da Academia Paulista de Letras (na vaga de Cãmara Cascudo), professor universitário (cargo em que se aposentou na Universidade Federal do Rio GHrande do Norte) e viajante.

Esta última atividade, “por fome de vida”, segundo a sua mulher, Maria Lúcia Beltrão. Mas, na opinião dela, a principal atividade de Augusto Severo Neto foi “viver e ser feliz”. Formado em Jornalismo pela UFRN, colaborou em diversos periódicos do Rio Grande do Norte de outros estados desde 1942. Sua galeria Vila Flor, foi, nos anos 70, importante ponto de encontro de intelectuais e artistas natalenses.

Apaixonado pela cultura européia, sobretudo a de extração latina, empreendeu dezenas de viagens ao Velho Continente, o que lhe rendeu alguns livros de memória e uma impressão pessoal sobre Paris, cidade a que devotava uma admiração especial. A vida cultural natalense, com seus tipos boêmios e poéticos, também lhe chamou atenção. Em De Líricos e de Loucos, Augusto Severo Neto presta tributo a essas personagens, sob a forma de crônicas.

Ao morrer, seus amigos escolheram como epitáfio para o seu túmulo, os versos:

Há caminhos de luz escondidos nas trevas
Para achá-los, porém, é preciso ir sozinho.

Os versos são do próprio poeta. Seu corpo foi sepultado no cemitério da vila de Pirangi, litoral sul potiguar, que ele mesmo escolheu como sua última morada.

(texto de Nélson Patriota)

Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.

http://tokdehistoria.wordpress.com/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com