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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

GONZAGA E GONZAGUINHA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 18 de dezembro de 2014 - Crônica Nº 1.327

Nunca mais havia assistido uma produção tão grandiosa, como a que passou ontem à noite na Rede Globo de Televisão. Pego de corpo aberto, deixo tudo e corro à poltrona para examinar a homenagem a Luiz Gonzaga e a seu filho Gonzaguinha. Nem havia jantado ainda, mas diante da perfeição do que via e ouvia, não quis me levantar da poltrona nem para um café pequeno, coisa que faço habitualmente várias vezes ao dia.
  

Foto: (folhadeexu.com.br).

Tudo foi maravilhoso. Parecia uma grande produção americana sem nada dever a eles. Os vários atores, desconhecidos para mim, foram perfeitos, todos. Não houve um só intérprete que merecesse uma única observação negativa da minha parte. Gonzaga, Gonzaguinha adulto, Santana, Januário, o coronel, as duas mulheres de Gonzaga... Tudo de primeira linha, tudo divino. O garoto que fez o papel de Gonzaguinha, quando pequeno, foi fenomenal, levando-me a encher os olhos d’água várias vezes com direito ao chamado nó na garganta. Nem posso dizer quem fez o melhor papel, todos foram espetaculares. Não gostei da Helena, a segunda mulher do Gonzaga, apesar do nome da minha mãe e o mais angelical de todos os nomes femininos, perdendo apenas para Maria. Não falo da atriz, mas da própria Helena interpretada, seca, frustrada, como uma velha solteirona intragável.

Foto: (dzai.com.br.).

Do que eu conhecia sobre a literatura de Luiz Gonzaga, a película foi fiel. E a apresentação do meu querido, amado e idolatrado sertão nordestino, foi demais. A paisagem do sítio de Januário. A casa, os jumentos, o açude, a vegetação, caminhos sem fins, os vaqueiros, capangas, coronel, feira e festas, grudaram-me na poltrona e quase não saio, emocionado, quando chegou ao fim.

Não estou, no momento, procurando elogiar os homenageados, mas sim, a magnífica produção apresentada. O único momento de risos foi com a cena dos seus companheiros improvisados, “Custo de Vida” e “Salário Mínimo”, o anão.

Parabéns aos cineastas brasileiros por tanta qualidade refletida na tela. Valeu por tudo que assisti durante 2014.


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O FRAGELLO DE "LAMPEÃO"


Esse livro raro publicado no ano de 1931, e que não encontramos mais a não ser nas mãos de colecionadores ou em bibliotecas públicas, traz um apanhado de notícias dos jornais do Rio de Janeiro e da Bahia, relação essa documentada nos quatro primeiros meses do ano de 1931, com hediondas façanhas do famigerado bandido nordestino, Lampião. É de autoria de Pedro Vergne de Abreu, também autor de Os Dramas Dolorosos do Nordeste  - Deixo como se encontra transcrito, transcrevo para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler a introdução do mesmo, que é um libelo contra os crimes de Lampião.

"Pro re pauca loquar"
É BREVE A EXPLICACÃO . . .
( Do divino Poeta Mantuano)

Vae para dez mezes que uma voz mais poderosa e mais alta do que todas as vozes humanas me incita ao cumprimento de grandes deveres, até o sacrificio, para com a terra que amo sobre todas e sobre tudo...

Ha vinte oito annos, em transe de alma, decidi abandonal-a para consummar um divorcio necessario com a politica que a infelicitava e que, muito além das minhas previsões, continuou a empobrecel-a, dividil-a e devastal-a, até baixar ao que é nos ultimos annos : o "refugio pacifico" das peiores féras humanas!

Nos dias e noites de agonia que Vivi, no regresso de minha viagem á Europa, em 1902, a mim mesmo interpellava, para afogar as saudades e as hesitações da minha mocidade e preparar as grandes renuncias a que me votára: "É preciso combater e vencer o homem velho entumecido de orgulho e vaidade"...

Após tantos annos de ausencia e voluntario ostracismo, uma visita de poucos mezes aos lares talados de minha adorada Bahia, o contacto com as dores intraduzíveis das populações do seo Nordéste rever, deceram o coração do homem velho e deram aos meos 65 annos toda a paixão, enternecimento e coragem com que desertei outrora: E volto a combater o bom combate... .

Os "mestres cantores" que andam pela rama lyrica de suas faias, em livros ou jornaes, a fazer  apologia do cangaço e dos cangaceiros, a entoar-lhes laureas de heroismo e legenda, não podem ter uma ideia approximada dos dramas dolorosos que se desenrolam n'aquelles sertões adustos, taganteados quase diariamente pelas mais monstruosas atrocidades.

Intermittentemente, resido no Rio de Janeiro desde 1894, em que tive pela primeira vez assento no Congresso Nacional: tenho presenciado e assistido as mais graves perturbações, revoltas e motins que desde então têm desabado sobre a nossa formosa e culta Capital, e as correrias e precipitadas fugas das familias cariocas, como principalmente em 23 de Novembro de 1910 e 5 de Julho de 1922.

Pois nada vi comparavel com as scenas de panico, de homens, mulheres e crianças estonteados em meio do deserto e das caatingas só com a visão d'aquelle 'Monstrum horrendum, informe, ingens" que se chama "Lampeão!..." 

E depois dos destroços e ruinas; dos homicidios, violações e incendios; as almas mas penadas e ensandecidas, as Nióbes e Lucrecias para sempre ultrajadas e allucinadas, que pedem a morte como um allivio terminal! Mais humana a serpente de Ténedos, que na mesma pavorosa constricção esmagou Laócoonte e todos os seos filhos...

Jurei guerra de morte, com as armas que Deos me deo — a palavra e a penna — ao sombrio e multifário scelerado. E esse dever se impõe a todos os brasileiros; — pois é uma mentira, uma protervia sem nome, dizer-se que esse hediondo salteador é um fructo, da nossa incultura e desgoverno.

...0s Monstros florescem ás vezes entre as mais brilhantes civilizações: Londres, Paris e agora Dusseldorf, uma das mais adiantadas e industriosas cidades da Allemanha, têm visto tambem féras sanguinarias, que de humano só tem a "fórma e o aspecto"– Mas todos têm sido supprimidos e jugulados, e agora mesmo Reter Kverten. acaba de ser condemnado á guilhotina, em expiação de uma insignificante dezena de homicidios...

Sobre "Lampeão", que ainda vive, pezam muitas centenas de infames attentados..., Não desanimo de vêr desaggravada e vingada a honra do nome brasileiro, e confio que a Nova Republica não deixe expirar o segundo 'semestre de sua vegencia, sem cumprir esse grande e primordial compromisso.

No primeiro semestre, que hoje finda, "Lampeão" commetteo mais atrocidades no Nordéste do que nos ultimos dois anos: é o que me asseguram informantes da Bahia, que se têm dado ao cuidado de registrar seos feitos.

Antes de terminar essa explicação, devo rectificar dous involuntarios enganos, em que incidi no meu primeiro "Opusculo", publicado em 1930: — Lampeão" não é "Cearense", nem "afilhado ou discipido do Padre Cicero Romão Baptista",. . . Certamente..foi em Joazeiro (Ceará) que esse inveterado facinora percebeu as honras e as armas de Capitão honorario do nosso exercito, e d'ahi veio directamente irromper na Bailia. De onde, a supposição geral de ser aquella a sua procedencia; pois não disputamos a solicitude de "investigar-lhe a arvore genealogica", nem de cantar-lhe as gestas. Além das insuspeitas informações colhidas no livro do Sr. Gustavo Barroso ("Almas de lama e de aço.") e que transcrevi a pags. 16 e 17 do meu citado folheto .("Dramas do Nordeste"), outras muitas poderia aqui mencionar. 

Para desencargo de consciencia, e para corroborar que me firmei: em factos. históricos, notoriamente conhecidos, reproduzo apenas um suélto do "Globo", desta Capital, em recentissima data:

"No governo Bernardes, quando a coluna Prestes atravessava o Brasil, combatendo, "Lampeão" e seu bando foram chamados ao Joazeiro do Padre Cícero e ahi acolhidos. Receberam armas e muniçoes do exercito. O então deputado cearense, Floro Bartholomeu, nomeado general honorario, attribuiu a "Lampeão" o posto de capitão, concedendo-lhe favores especiaes e vantagens seguras. Data dahi a tenacidade daquelle cangaceiro, que tala os sertõesdo do nordeste a ferro e a .fogo. Depois de ter prestado serviços ao governo federal, sob o patrocinio do Padre Cícero, de Joazeiro, "Lampeão" e seu bando se tornaram flagello. Todos aquelles, que estudaram o problema concluem que os cangaceiros do nordéste vivem sob o patrocinio dos grandes proprietarios que, por interrnedio deiles, servem à politica. O caso de "Lampeão" é typico, Até o governo federal, no tempo de Bernardes. precisou de seus serviços".

Rio, 24 de Abril de 1931.
VERGNE DE ABREU.

http://meneleu.blogspot.com.br/2014/12/o-fragello-de-lampeao.html

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Coronel Cândido do Pavão

 Por João Tavares Calixto Junior

João Tavares Calixto Junior e Manoel Severo no Cariri Cangaço Lavras da Mangabeira

O Coronel Cândido Ribeiro Campos (Cândido Fernandes da Silva), conhecido em seu tempo por Cândido do Pavão, era natural do sítio Antas em Aurora. Filho de Matias Fernandes da Silva (pedreiro que trabalhou na ampliação da Capela do Senhor Menino Deus em 1864) e Antônia da Encarnação Monteiro, substituiu o sobrenome Fernandes da Silva por Ribeiro Campos, por ocasião de “qualificar-se”, para tirar o título eleitoral. Foi um dos mais importantes chefes políticos do Cariri em sua época, e pai de prole numerosa, sendo o Padre Januário Campos, o filho de atuação mais marcante.

Casou-se com Ana Maria de Jesus (Naninha), instalando-se no sítio Martins, de seu tio materno João Monteiro. Transferiu-se em 1902 para o sítio Pavão, antiga propriedade do mosteiro de São Bento, de Olinda, à época, em poder do padre Cícero Romão Batista, que a havia comprado. Era encarregado da cobrança dos dízimos dos que ocupavam as terras sob o domínio eclesiástico, as quais mediam três léguas de comprimento por uma légua de largura, de ambos os lados do rio Salgado, estendendo-se do riacho dos Mocós até o riacho do Juiz.

 
Cândido Pavão

Tornou-se, por força da arrecadação das alíquotas, de grande confiança do Padre Cícero Romão Batista, o que lhe conferiu notoriedade, ocupando cargos importantes em Aurora, como o de suplente de Juiz substituto, presidente da Câmara e Prefeito Municipal, cargo, este último, ocupado em face aos fatídicos episódios de 1908, onde, com a deposição do coronel Totonho do Monte Alegre, assume ele, Cândido do Pavão, o cargo de Intendente Municipal de 1908 a 1914, e posteriormente, de 1921 a 1926. 

 Jagunços de 1908 e Aurora

Em carta do Padre Cícero ao Cel. Cândido do Pavão, datada de 13 de outubro de 1916, observa-se referências sobre a situação de perda de seu rebanho bovino, ora localizado em suas terras em Aurora. Segue trecho do lançamento:

“... A paz de Deus o guarde e família. Tendo precisão de fazer minha criação de gado e animais nesta propriedade que comprei aos padres de S. Bento, mandei lá José Xavier e o meu vaqueiro e disseram-me eles que o lugar que presta é o Pavão. Havia passado procuração bastante ao Sr. José Xavier para tratar de qualquer negócio com qualquer um que estivesse no lugar mais apropriado, e resolver, como fosse justo. O Pavão foi o melhor que acharam. Portanto, não estranhe em exigir para estabelecer-me que boto aí, eu perco o resto da criação que está mal colocada. Portanto, lhe aviso que não posso mais arrendar aí, e em janeiro mandarei o José e o vaqueiro para aí. A respeito de sua casa, cercados, indenizo por preço razoável. Eu lhe digo com pena porque lhe desejo a si e a todos todo bem que posso desejar, porém não tenho outro lugar que se preste para a criação que já estou perdendo. É muito melhor que compre uma propriedade onde firme seus trabalhos e deixe sua família colocada em propriedade sua. Reflita bem que verá que é mais justo e melhor. De seu amigo e compadre.
P. Cícero Romão Batista”. 

Participante no famoso episódio do "Pacto dos Coronéis", representando o município de Aurora, Cândido atuou de forma ativa na truculenta briga pelo litígio do poder no Cariri, figurando em diversas cenas do coronelismo regional, como na "Questão do Coxá", Ataque de 8 em Aurora, Morte de Izaías Arruda, entre outros. Veio a falecer aos 24 de julho de 1936.

João Tavares Calixto Junior
Pesquisador e escritor
Juazeiro do Norte, Ceará

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VIRGULINO FERREIRA DA SILVA – O CANGACEIRO LAMPIÃO


José Romero Araújo Cardoso
Benedito Vasconcelos Mendes
Suzana Goretti Lima Leite

Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, nasceu a sete de julho de 1897 no município de Villa Bella, hoje Serra Talhada, Estado de Pernambuco, e foi registrado no cartório da sua cidade natal a doze de agosto de 1900, conforme registro de nascimento reproduzido por Carvalho (1974). Era filho de José Ferreira dos Santos e Maria Sulema da Purificação, sendo defendido por diversos autores que pertencia a família Feitosa, dos Inhamuns, no Estado do Ceará. Com relação a esta possibilidade assim se expressa Macedo (1975, p. 25); 

“se é verdade que o capitão Virgulino vinha do tronco Feitosa dos Inhamuns, a violência do sangue, de fato, era-lhe muito antiga. Família velha como o sertão dos sesmeiros e povoadores, dividia, no sul do Ceará, nos Inhamuns, o poderio com os Montes, outro clã de sangue quente e muito derramado naquelas paragens.”

A primeira referência a esta vinculação genealógica de Virgulino Ferreira da Silva com a valente família cearense encontramos em seu biógrafo pioneiro, o jornalista paraibano Érico Gomes de Almeida, quando escreveu a obra, intitulada “Lampeão, sua história”, escrita em1926 quando a fama do bandido atingia proporções exponenciais.
Quanto ao físico e indumentária, Leonardo Motta, célebre folclorista cearense, assim o descreveu;

Amulatado, estatura meã; magro e semi-corcunda; barba e nuca ordinariamente raspados e sempre que é possível perfumados; na perna esquerda encravada uma bala, com que o alvejou o sargento “Quelé”, da polícia parahybana; o olho direito branco e cego, escondido pelos óculos pardacentos, de aros dourados; mãos compridas que se assemelham a garras; os dedos cheios de anéis de brilhantes falsos e verdadeiros; ao pescoço, vasto e vistoso de cor berrante, preso ao lado por valioso anel de doutor em direito; sobre o peito, medalhas do padre Cícero, escapulários e saquinhos de “rezas fortes”, chapéu de cangaceiro, tipicamente adornado de correias e metal branco; ensimesmado toda vez que defronta uma turma de curiosos; folgazão quando entre poucos estranhos ou no meio de comparsas; não se esquecendo de um guarda costa à direita sempre que desconhecidos o rodeiam; paletó de camisa de riscado, claro, calças de brim escuro; alpercatas reluzentes de ilhozes amarelos; a tira-colo, 2 pesados embornaes de balas e bugingangas, protegidos por uma coberta e chales finos; tórax guarnecido por 3 cartucheiras; ágil como um felino mas aparentando constante estropiamento e exaustão; às mãos um fuzil; à cintura duas pistolas “parabellum” e um punhal de 78 centímetros de lâmina. (In: Araújo, 1982, p. 76)

A vida antes e depois de entrar para o cangaço:

Virgulino Ferreira da Silva levava vida normal como qualquer outro sertanejo antes de adentrar o cangaço, campeando o gado na caatinga, correndo em vaqueijadas, trabalhando em artesanato de couro e auxiliando o pai como almocreve. Esta última atividade certamente favoreceu-lhe bastante no conhecimento profundo das veredas do sertão. Gueiros (1953, p. 11) faz referências às façanhas de Lampião quando vaqueiro na adolescência, frisando que era respeitado e admirado nas ribeiras do riacho de São Domingos, que cortava a propriedade dos seus pais em Villa Bella.

Um pretenso roubo de chocalhos foi o responsável pelas primeiras escaramuças contra uma família antes amiga, ligada aos Ferreiras por fortes laços de compadrio. Os Saturninos da Pedreira, em alusão a propriedade Pedreira que situava-se vizinha às terras da família de Lampião, são apontados como pivô das refregas nos longínquos anos finais da década de 1910 do século passado, conforme Macedo (1975, p. 29-35).

Lampião estreou na senda do crime em seu estado natal, mas foi com a fixação de sua família em Alagoas, devido a acordo informal mantido com os rivais, que provocou a transferência de sua família para a não menos violenta localidade de Matinha de Água Branca (AL), onde ficou protegido pelo “coronel” Ulisses Luna. Foi em Alagoas que houve de fato a sua inserção no cangaço, bem como a de alguns irmãos seus à exceção de João Ferreira e Ezequiel, que depois se integraria também ao bando.

Ataques cruéis entre os anos iniciais da década de 1920 às localidades de Pariconhas, Espírito Santo e Poço Branco, todas no estado Alagoano, são apontados como as façanhas que renderam notoriedade regional aos irmãos Ferreira (Maciel, 1985, p. 15-29), embora a façanha que de fato lhe deu mais destaque tenha sido o saque à residência da Baronesa de Água Branca, residente em Água Branca (AL), Dona Joanna Vieira de Siqueira Torres (idem, p. 38-43).

 Lampião serviu ainda como cangaceiro ao seu conterrâneo Sebastião Pereira e Silva, conhecido por Sinhô Pereira, que movia luta sem trégua contra os Carvalhos da mesma localidade de Villa Bella. Quando o comandante Sinhô Pereira deixou o sertão e fugiu para o estado de Goiás, foi a Lampião que o velho guerreiro do Pajeú entregou a chefia do bando (Macedo, 1975, p. 36-42).

Durante os vinte e dois anos que se entregou à vida bandoleira, Lampião não costumava penetrar no Piauí e na zona norte do estado do Ceará. No norte cearense nunca contou com o apoio do coronelato como na região sul, cuja estruturação de valhacoutos com certeza tenha garantido certo sucesso em suas empreitadas.

O número de companheiros em armas oscilava bastante. No início da carreira era reduzido, mas aumentou consideravelmente quando da sua ascensão a chefe do bando de Sinhô Pereira no ano de 1922, registrando-se provavelmente maior número de componentes quando do desfile de cento e cinco cangaceiros por ele chefiado a dois de setembro de 1926, na cidade de Cabrobó, estado de Pernambuco (Oliveira, 1985, p. 33). Em quatro de março do mesmo ano havia comparecido à cidade do Juazeiro do Norte (estado do Ceará), a convite do Dr. Floro Bartholomeu da Costa, amigo do Padre Cícero Romão Batista e líder político do sul do Ceará, para que fizesse parte dos Batalhões Patrióticos organizados pelo Presidente Arthur Bernardes que combatia o foco insurgente dos revoltosos comandados pelos oficiais do Exército Brasileiro, Miguel Costa e Luís Carlos Prestes,a conhecida Coluna Prestes. Nesta ocasião recebeu a falsa patente de “Capitão” das mãos do Padre Cícero. No ano de 1928, que marca a fuga dramática para os sertões baianos,em razão da repressão desmedida feita pelas polícias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba desencadeada por causa do frustrado ataque à cidade de Mossoró (estado do Rio Grande do Norte), ele se encontrava na companhia de apenas quatro bandoleiros.

Lampião buscava nos fenômenos e coisas da natureza a inspiração para os apelidos dos seus cangaceiros. Por isso registraram-se diversos bandidos com os nomes de jararaca, corisco, jandaia, jitirana, vereda, limoeiro, etc. Quando um cangaceiro morria seu apelido era herdado por outro cangaceiro que entrava no bando. Utilizava ainda a identificação dos seus subordinados a partir do local de origem, a exemplo dos celebérrimos José Baiano e Sabino das Abóboras. Abóboras era uma fazenda entre as cidades de Serra Talhada e Triunfo no estado de Pernambuco.
Mello (1985.p. 90-91), enfatiza que;

Durante as duas décadas que compõem o seu período de correrias bem para além do que a ficção possa engendrar, chegou a exercer concreto domínio sobre áreas dos sertões de sete Estados do Nordeste, tendo o seu grupo em ocasiões de maior sucesso ido além dos cento e vinte componentes. Foram seus asseclas, num primeiro plano Antônio Ferreira da Silva, o Esperança; Livino Ferreira da Silva, que também se assinava Livino Ferreira dos Santos ou, ainda, Livino Ferreira de Souza, o vassoura, Ezequiel Ferreira da Silva ou Ezequiel Profeta dos Santos, o Ponto Fino; o seu cunhado Virgínio, o Moderno; e o seu diletíssimo amigo Luís Pedro Cordeiro, o Luís Pedro, todos mortos no cangaço. Em plano levemente inferior, vale citar os cabras Sabino Gomes de Góes, o Sabino; Antônio Rosa, o Antônio do Gelo; Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco; José Leite de Santana, o jararaca; José Baiano, bandido que conduzia um ferro de gado com as suas iniciais, destinado a marcar mulheres nas faces, coxas ou nádegas, desde que usassem cabelos ou vestidos curtos; Ângelo Roque da Costa, o Labareda; Sátiro de tal, o Gato; Antônio Ribeiro, o José Sereno; Mariano Laurindo Granja, o Mariano, e mais os cabras Português e Moita Braba, todos tendo ascendido à chefia de seu subgrupo.

Principais cidades atacadas:

Lampião protagonizou façanhas espetaculares, a exemplo da fuga desesperada em direção ao sul do estado do Ceará após o frustrado ataque de 13 de junho de 1927 à cidade de Mossoró, segunda maior núcleo urbano do estado do Rio Grande do Norte (Fernandes, 1999). Acossados por policiais de três estados (Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba), os cangaceiros conseguiram furar cercos intransponíveis.

No entanto, a mais ousada investida do grupo de Lampião não contou com a participação do chefe, quando a 27 de julho de 1924 seus irmãos comandando o bando, unidos ao de um cangaceiro paraibano de nome Francisco Pereira Dantas, conhecido por Chico Pereira do Jacu, da localidade de Nazarezinho, invadiram a cidade de Sousa (estado da Paraíba), conforme Nóbrega (1989, p. 71) e Mello (1985, p. 135). A ousadia dos bandidos resultou na perda do imprescindível valhacouto na região serrana que faz a divisa dos estados da Paraíba e Pernambuco. Houve empenho do mandonismo local e do governo paraibano na captura dos cangaceiros, embora revezes dignos de notas tenham acontecido às tropas destacadas para as missões, a exemplo do célebre combate de Serrote Preto no estado de Alagoas, quando a milícia da Paraíba foi quase que totalmente destroçada em tocaias fenomenais. O recrudescimento das perseguições a Lampião resultou na morte de Livino Ferreira, na localidade Tenório de Flores do Pajeú (estado de Pernambuco), embora a vindita do cangaceiro tenha sido marcada pela violência inaudita, atingindo populações indefesas de lugarejos perdidos nos confins da serra da Bernarda em Princesa (estado da Paraíba). O novo posicionamento da classe dominante desta região sertaneja do estado da Paraíba quanto ao tratamento aos bandidos personificou-se na instalação de um batalhão da Polícia Militar em Patos das Espinharas, no governo de João Suassuna (1924-1928), concentrando a atuação na fronteira com o estado de Pernambuco, epicentro do cangaceirismo por causa da proximidade com o vale do Pajeú, considerado o “celeiro dos bandidos”.

Principais coiteiros de Lampião e a repressão do governo:

Como forma de tentar se desvencilhar da mácula de ter homiziado cangaceiros, o chefe político de Princesa (PB), “Coronel” José Pereira Lima, que no início da década de Trinta do século passado moveu uma luta encarniçada contra o governo do presidente paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, financiou uma resposta erudita aos comentários propalados por Lampião de que o político sertanejo havia-lhe usurpado certa quantia em dinheiro que o cangaceiro lhe havia confiado, transformando-o numa espécie de banqueiro informal sem juros. O referido “coronel” encomendou ao jornalista paraibano Érico Gomes de Almeida a confecção de uma obra que traçou o perfil do bandido de forma bastante negativa, intitulada “Lampeão, sua história”, constituindo-se na primeira biografia erudita de Virgulino Ferreira da Silva, que foi publicada em 1926.

Perseguido tenazmente pelas volantes paraibanas, Lampião não voltou mais à Paraíba, onde quem de fato o protegia era Marcolino Pereira Diniz, imortalizado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira no baião “Xanduzinha”, gravado em 1950, que enaltecia o “caboclo Marcolino”.

Seu apogeu começou a declinar após o mais impressionante feito de sua vida à margem da sociedade convencional, que foi a tentativa frustrada de saquear a cidade de Mossoró. Depois deste episódio seu eixo de atuação teve que ser radicalmente revertido.

Seus coiteiros mais importantes foram Antônio da Piçarra, de Brejo Santo (estado do Ceará), Ângelo da Jia, de Tacaratu (estado de Penambuco), “Coronel” Marçal Florentino Diniz e Laurindo Diniz, ambos de Princesa Isabel (estado da Paraíba), Marcolino Pereira Diniz, dos Patos de Irerê e também da região limítrofe da Paraíba com Penambuco. A repressão aos agentes patrocinadores do cangaço, principalmente após a tentativa de saque a Mossoró, é destacada por Mello (1985, p. 116), quando relata que;

Às voltas com o grave problemas das deserções que se seguiram ao revés em Mossoró, Lampião chega ao Pajeú, deparando-se com os primeiros e nada desprezíveis efeitos de um plano de governo concertado ainda no início do ano. É que com o advento do governo Estácio Coimbra, o novo chefe de polícia de Pernambuco, Eurico de Souza Leão, havia estabelecido novas diretrizes à repressào ao banditismo. O ponto central de sua firme orientação repousava no combate sem trégua aos coiteiros. Um a um iam descendo presos para a capital alguns dos principais aliados do cangaço. De Custódia, descem dois políticos influentes; de Tacaratu, o fazendeiro Arsênio Gomes; de Serra Talhada, o comerciante Ascendino Alves de Oliveira e o chefe político, “coronel” José Olavo de Andrada; de Rio Branco, descem mais alguns coiteiros, até que finalmente é preso o “coronel” Ângelo Lima, conhecido como Ângelo da Jia, à época o maior deles. A ação corajosa de Estácio Coimbra contra homens que, juntos, representavam milhares de votos, tira as muletas aos bandido. Sem o coiteiro o cangaceiro não é nada.

Lampião passou a agir no estado baiano no ano de 1928, inicialmente sob a proteção do “Coronel” Petronilo de Alcântara Reis. Durante um ano o “rei do cangaço” esteve longe das refregas e escaramuças, mas a traição do coiteiro que o recebeu na Bahia fê-lo voltar à ativa, com força redobrada e com uma perversidade inexplicável. O governo baiano passou a oferecer a quantia de cinqüenta contos de réis para quem, civil ou militar, o trouxesse às autoridades competentes de qualquer forma, vivo ou morto.

Contudo, apesar de todos os esforços olvidados, o estado da Bahia não estava preparado para enfrentar as artimanhas da guerra de guerrilhas de Lampião. Precisava-se que homens acostumados às suas estratégias fossem convocados para a luta contra o banditismo rural. Vieram, principalmente de Pernambuco, guerreiros das caatingas que conheciam todos os segredos da arte da guerra de Lampião, com destaque ao clã dos Nazarenos, famosos perseguidores do bandido e aquele que foi o matador de Corisco, “o diabo louro”, José Osório de Farias, o célebre José Rufino.

Maria Bonita, a mulher de Lampião

Mas não só de estripulias nas caatingas baianas, alagoanas e sergipanas viveu Lampião e o seu bando recomposto nesta fase que ele inaugurou quando transpôs o rio São Francisco. Virgulino Ferreira da Silva encontrou no município de Jeremoabo (estado da Bahia), numa propriedade conhecida por Malhada da Caiçara, a companheira que o seguiu até os últimos momentos. Chamava-se Maria Déa de Oliveira, a qual passou à história com o apelido de Maria Bonita, a “rainha do cangaço”. Corria o ano de 1930 e a cabocla sertaneja tinha menos de vinte anos de idade, sendo na ocasião casada com um sapateiro conhecido por José de Nenén. Maria Déa deixou o marido para acompanhar Lampião, causando a estranheza do comandante Sinhô Pereira quando da entrevista a Macedo em julho de 1975, cuja assertiva fomentou que nunca permitiu e nem permitiria a presença feminina no cangaço.

Mulheres se destacaram como bravas guerrilheiras, como a famosa Dadá, esposa de Corisco, ferida em combate no qual pereceu o valente cangaceiro que vingou Lampião.

Tiveram vários filhos, mas apenas uma sobreviveu, a qual recebeu o nome de Expedita. Nasceu em plena seca de 1932 no estado sergipano e foi entregue a coiteiros de confiança para que não se expusesse a agrura do cangaço. Foi criada por um vaqueiro de nome Severo Mamede que trabalhava na fazenda Exú, propriedade de um fazendeiro de nome Zequinha Andrade, que era compadre de Lampião. Havia acertado com Lampião para que o vaqueiro ficasse com a menina logo de pois do nascimento (Araújo, 1982, p. 17).

Documentário cinematográfico:

Lampião se deixou filmar por um aventureiro de origem libanesa de nome Benjamin Abraão Botto. Secretário particular do Padre Cícero, Benjamin já havia tido contato com o cangaceiro quando este foi convocado por floro Bartolomeu da Costa para comparecer ao Juazeiro do Norte (CE) e receber uma falsa patente de Capitão do Exército Brasileiro. Com a morte do Padre Cícero Romão Batista em 1934, tentou convencer a empresa fotográfica ABA Filmes de Fortaleza (estado do Ceará) a incentivar sua aventura pelas caatingas baianas, encontrando o bando após inúmeros contatos com a malha protomafiosa de coiteiros que o assessorava nas investidas criminosas.

Realizado o filme e extensas sessões de fotografias com todo o grupo, Benjamin Abraão Botto não viveu o bastante para ver o resultado dos seus trabalhos cinematográfico e fotográfico. Foi assassinado de forma misteriosa no ano de 1937, enquanto Lampião e o bando, acossados com a repressão policial, teriam pouco tempo de atuação. 
De acordo com Mello (1985, p. 199);

A habilidade do cinegrafista verdadeiramente das arábias chegou a ponto de lhe permitir, num requinte mercadológico, a obtenção de uma declaração passada e, o que é ainda mais incrível, futura e exclusividade para o documentário elaborado, constando esta de uma carta de próprio punho do bandido, que Abraão faria publicar com grande alarde e em fac-símile na edição de 18 de fevereiro de 1937 do Diário de Pernambuco. (...) É fácil avaliar a irritação do presidente Getúlio Vargas e do seu Departamento de Imprensa e Propaganda. Começava a contagem regressiva para a destruição do cangaceiro-mor. Afinal, como seria possível modelar um Brasil novo com Lampião espiando do terreiro?

O documentário elaborado por Benjamin Abraão Botto se responsabilizou pelo esclarecimento de vários subterfúgios dos coiteiros que assessoravam o cangaceirismo no Nordeste brasileiro, descortinando para os sulistas como estava montado o poderoso esquema que garantia parte do sucesso que Lampião alcançava.

A morte de Lampião

No dia 28 de julho de 1938 o grupo descansava às margens do riacho Angico, um pequeno afluente do rio São Francisco do lado sergipano. Uma volante sob o comando do tenente João Bezerra, auxiliada pelo aspirante Francisco Ferreira de Mello e pelo sargento Aniceto, conseguiu finalmente alcançá-los na grota de angicos, município de Poço Redondo, travando-se um tiroteio no qual onze cangaceiros e um soldado foram mortos, colocando-se um ponto final na atribulada atuação de Virgulino Ferreira da Silva como o mais bem sucedido chefe de bando do Nordeste Brasileiro. Segundo Araújo (1982, p. 34) até hoje não se sabe ao certo o nome de todos que tombaram em Angico. Recorrendo a imprescindível colaboração de ex-cangaceiros, como Dadá, Cila, Zé Sereno, Criança, Pitombeira e Balão relacionou Quinta-feira, Maria Bonita, Luiz Pedro, Mergulhão, Elétrico, Enedina, Cajarana, Tempestade e Marcela. 

Nas proximidades da área onde foi travado o último combate do “rei do cangaço”, no qual ele não conseguiu disparar um único tiro, estava a volante dos Nazarenos, que buscava a todo custo reivindicar a glória pela morte de Lampião. Consideraram o objetivo alcançado pelo oficial alagoano uma afronta, pois quem era para ter liquidado com o bandido deveria ter sido eles. Passaram quase duas décadas seguindo os seus passos. Suspeitava-se que João Bezerra realizava negócios escusos com Lampião, fornecendo-lhe armas e munição.

Procedida à rapina usual quando dos combates e mortes de cangaceiros, os corpos foram degolados e as cabeças levadas primeiro para a cidade de Piranhas (estado de Alagoas), palco de diversas tropelias de Lampião, inclusive de um ataque formidável quando a cangaceira Inacinha, esposa de um bandido apelidado Gato, havia sido capturada pela volante liderada pelo mesmo homem que comandou a chacina de Angicos.

As cabeças dos cangaceiros mortos foram levadas para o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador (BA), onde foram estudadas pacientemente a fim de que revelassem sinais de degenerescências lombrosianas, tendo em vista que as teorias do médico-antropólogo italiano estavam em voga na época como forma de explicar a inserção de cidadãos comuns no mundo do crime.

Em maio de 1969, depois de mais de três décadas finalmente o que restou dos cangaceiros mortos em angicos foi enterrado no cemitério das Quintas, em Salvador, capital baiana, devendo-se a isso, em parte, à pressão do Dr. Sylvio Hermano de Bulhões, filho de Corisco e Dadá, que mobilizou a opinião pública para que pusessem fim a exposição bárbara dos restos mortais dos principais expoentes do ciclo épico do cangaço no século 20.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, Érico de. Lampeão, sua história. Parahyba/PB: Imprensa Official, 1926.

ARAÚJO, Antônio Amaury Correia de. Assim morreu Lampião. São Paulo/SP: Traço Editora Ltda., 1982.

CARVALHO, J. Rodrigues de. Serrote Preto: Lampião e seus sequazes. 2. ed. Rio de Janeiro/RJ: SEDEGRA S/A – Gráficos e Editores, 1974.

FERNANDES, Raul. A marcha de Lampião – assalto a Mossoró. 4. ed. Mossoró/RN: Fundação Vingt-un Rosado, 1999 (Coleção Mossoroense, Série “C”, Vol. 1074).

MACIEL, Frederico Bezerra. Lampião, seu tempo e seu reinado (II – A Guerra de Guerrilhas – Fase de vinditas). Petrópolis/RJ: Vozes, 1985.

MACEDO, Nertan. Lampião – Capitão Virgulino Ferreira. 5. ed. Rio de Janeiro/RJ: Editora Renes, 1975.

_________. Sinhô Pereira – O comandante de Lampião. São Cristóvão/RJ: Ed. Artenova S. A., 1975.

MELLO, Frederico Pernambucano de. Guerreiros do sol: O banditismo no nordeste do Brasil. Recife/PE: FUNDAJ / Ed. Massangana, 1985.

NÓBREGA, F. Pereira. Vingança, não – Depoimento sobre Chico Pereira e cangaceiros do Nordeste. 3. ed. João Pessoa/PB: Departamento de Produção Gráfica, 1989.

OLIVEIRA, Aglae Lima de. Adriana – A vida de uma professora no Estado de Pernambuco no tempo de Lampião. 2. ed. Recife/PE: FUNDARPE,1985.




José Romero Araújo Cardoso - Prof. do departamento de geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.


Benedito Vasconcelos Mendes - Prof. do departamento de geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.


Suzana Goretti Lima Leite – Advogada e Pedagoga. Membro da Academia Mossoroense Feminina de letras.

Enviado por José Romero de Araújo Cardoso

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CANGAÇO XIV

Material do acervo do pesquisador do cangaço Antonio Morais

Resposta do prefeito.

Formiga ao encontrar o piquete da caieira ao lado da estrada, antes da ponte, explica a que vinha. O Soldado João Antonio de Oliveira o escolta ao solar do prefeito. Era, aproximadamente, uma da tarde. Rodolfo lê o bilhete para o pessoal em casa. Ali, se encontravam comerciantes e trabalhadores – gente amiga. Declara, com firmeza, que não cederia às exigências do facínora. Não faria concessões. Lutaria. Devido a pouca munição, recorreria à arma branca, caso fosse necessário. Por esse motivo não exigia sacrifícios, nem teria queixas de quem deixasse a trincheira. Nesse ínterim, Francisco Calixto de Medeiros rompe o silencio. Bate no bornal e grita:

- O dinheiro está aqui! Lampião, que venha buscar! Viva Rodolfo Fernandes! Viva nosso prefeito! Viva Mossoró!

Todos vivaram uníssonos. Jubilosa aclamação alastrou-se aos piquetes da defesa.

No calor do entusiasmo, Júlio Fernandes Maia e outros companheiros mandavam recados desafiantes ao chefe bandoleiro.

Da trincheira da rua, o mensageiro, meio desconfiado, ouvia a demonstração de valentia.

Rodolfo viu-se com Laurentino de Morais, sediado no prédio do telégrafo e o diretor da rede ferroviária, Vicente Sabóia Filho. A gente da trincheira sabendo que o assalto se daria em breve ficou alerta.

Por falta de meios de comunicação, os entendimentos se alongavam.

Retardaram a volta de Formiga, por mais de meia hora. O Edil procura impressioná-lo sobre a fortaleza dos mossoroenses e o número de pessoas em armas.


Por fim, entrega-lhe a resposta:

Virgulino Lampião.

Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo o funcionário se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo que o Senhor queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma.

13.06.1927.

Rodolfo Fernandes – Prefeito.

A invasão - Bando em fuga.

Deu tudo errado para Lampião em Mossoró. O resultado está nesta poesia de José Otávio Pereira Lima, referindo-se ao resultado da investida - feridos e mortos:

Às cinco e meia da tarde
Lampião disse a negrada
Acabemos com esse fogo
Que isso não é caçoada
Jararaca e meu Colchete
Diabo levou no colete
Perdemos nossa caçada.

Seu Massilon eu me queixo
De você e mais ninguém
Dizer a mim que esse povo
Muita coragem não tem
Mas veja que em Mossoró
Os seus homens não tem dó
De bandidos que aqui vem.

Fujamos logo daqui
Eu estou envergonhado
De ir dizer ao Padre Cicero
Que por cá fui derrotado
Em que camisa me meti
Meus dois amigos perdi
Estou aterrorizado

Iam no grupo feridos
Que gemiam em grande dor
Outros calados qual mudos
Transpassados de pavor
Chorando sua desgraça
A beber em negra taça
O fel cortante do horror.

Raul Fernandes.

CONTINUA...


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