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terça-feira, 5 de abril de 2016

PREFÁCIO

Por José Romero de Araújo Cardoso

Responsável pelo despertar da identidade nordestina em incontáveis seres humanos espalhados Brasil a fora, sem esquecer também no exterior, não apenas no Nordeste Brasileiro, o legado de Luiz Gonzaga vem se avivando com o passar do tempo, pois imorredouro em razão da forma brilhante como o grande Deus de amor e de bondade definiu seu processo de construção, a arte do eterno Rei do Baião encanta multidões, principalmente por causa da beleza e da relevância em valorizar e cultuar nossa região em sua forma holística, bem como de forma enfática engrandecer a cultura e as tradições do valente povo nordestino.
          
Advogado, escritor, jornalista, radialista e poeta popular, de dotes pungentes, raros, raríssimos, inigualáveis, singulares na expressão plena e absoluta, Francisco Alves Cardoso guarda incólume sob sete chaves a grande paixão pela sublime arte gonzagueana, influenciado notoriamente pela inconfundível relação telúrica que atrela pessoas de bom gosto musical ao fascínio despertado pela magistral poesia matuta que caracteriza a sublime herança cultural do saudoso sanfoneiro do Riacho da Brígida.
          
A importância das experiências magnificas observadas em Exu (Estado de Pernambuco) e em São João do Rio do Peixe (Estado da Paraíba) no que diz respeito à preservação da memória e do legado de Luiz Gonzaga foram bem estruturadas em versos pelo renomado articulador cultural paraibano, pois cada estrofe revela chama flamejante do amor supremo às tradições regionais que o Parque Asa Branca e o Parque O Rei do Baião resguardam em seus domínios benditos, mostrando às gerações presentes e futuras a grandeza de um dos maiores nordestinos de todos os tempos.
          
O Parque Asa Branca, localizado na cidade natal do Rei do Baião, teve sua estrutura milimetricamente pensada e efetivada pelo próprio Luiz Gonzaga, pois bem sabia seu lugar na história. Nos confins das trilhas sinuosas da chapada do Araripe em solo pernambucano, chão sagrado no qual o filho de Santana e Januário veio ao mundo, tendo deixado firme suas pegadas e boa parte de suas lutas, da permanência dos seus costumes, cultura, valores e tradições, notabiliza-se o encanto de sua idealização fenomenal em prol do reconhecimento de um povo que precisa de referência para se reconhecer dentro dos próprios prognósticos que definem a dimensão exata do conceito de nação enquanto elo aglutinador dos sentimentos e dos ideais de uma gente forte e altiva.
          
O Parque O Reio do Baião, localizado na comunidade São Francisco, a cinco quilômetros da cidade de São João do Rio do Peixe, localizado às margens do riacho Grotão, vem se transformando em referência quanto à proposta de preservar bases da arte gonzagueana, caracterizando-se pelas nuances paraibanas contidas no locus em que se personificam as raízes do culto ao mito que elevou o nordeste a patamares nunca antes alcançados.
          
A interação entre os dois Parques é tão forte que sobrinhos de gonzagão, Joaquim Gonzaga e Piloto, estiveram presentes em 15 de agosto de 2015 quando da entrega de prêmios referentes aos festivais realizados no Parque Cultural O Rei do Baião.
          
Fruto da perseverança e da obstinação de Francisco Alves Cardoso, o Parque O Rei do Baião se intercala em seus objetivos com seu congênere pernambucano, implementando momentos antológicos como o o FESMUZA, CONPOZAGÃO e o concurso Lembrança do Ídolo, o qual em 2015 enfocou Rosil Cavalcanti, celebre compositor pernambucano radicado no Estado da Paraíba, o qual elegeu Campina Grande como relicário sagrado, autor de inúmeras canções interpretadas por Luiz Gonzaga, a exemplo de Tropeiros da Borborema e Aquarela Nordestina.
          
A importância do Parque Cultural O Rei do Baião torna-se tão proeminente que a atenção de figuras de destaque, como Dr. Onaldo Queiroga e Dr. Kydelmir Dantas, elegeram o espaço sagrado de culto às tradições nordestinas como imprescindível e indispensável às suas presenças, sendo acolhidos como filhos diletos.
          
Despertado na ênfase ao reconhecimento enquanto nordestino através da arte de Luiz Gonzaga, rendo homenagens aos dois ambientes marcados pela notável proposta de perpetuação do que nos transmite a essência das canções que ele e inúmeros parceiros compuseram ao longo de sua brilhante história marcada pelo amor ao nordeste e sua gente.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

FONTE: CARDOSO, José Romero Araújo. Prefácio. In: CARDOSO, Francisco Alves. O Encontro dos Parques: Parque Cultural O Rei do Baião – Parque Asa Branca. Cajazeiras – PB:  S.e., s.d. P. 05-07.  

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CORONEL TIBURCIO TRIBUTINO CAVALCANTI DE BRITO JUNIOR


CHAPADA DO ARARIPE 1923 - CORONEL TIBÚRCIO E O VAQUEIRO CASCA DE BALA


No avarandado alpendre que circunda o velho casarão nos seus 360 graus, castelo da tradicional família do Coronel Tibúrcio de Brito, com as suas paredes grossas, janelas e portas inteiriças,  pequenas,  emolduradas com o mais puro mogno , tabuas de 06 Cms de espessura, travada por trás  por duas tramelas da mesma madeira, com  a bitola da espessura  dobrada,  12X12 cms, casa baixa, telhas vermelhas e sem parapeitos, estrategicamente nos quatro cantos da casa, um batente com dois degraus e logo acima da grossa parede a um metro e meio de altura, um buraco afunilado para a escora dos rifles,  dos bacamartes e para a visão certeira dos potenciais inimigos, os coiteiros e os cangaceiros que amasiavam-se naquelas plagas, dos bandos do Sinhô Pereira e mais tarde do Virgolino Ferreira Lampião, o sanguinário Rei do Cangaço.

Terreiro largo, de barro vermelho esturricado pelo incandescente  sol, vento quente e empoeirado devido os frequentes redemoinhos, calor escaldante e seco, miragem à distância , caatinga acinzentada, estalidos de galhos ressecados a contorcer-se, aqui e ali um calango, um mugir de uma vaca magra, o grito estridente de um rasga mortalha anunciando mais uma morte, o canto triste de anum preto chorando o sofrimento impiedoso, o grunhido  de um  cachorro pé duro,  que descansa  na única sobra do umbuzeiro  a se coçar, e uma nuvem de moscas, mutucas e mosquitos a escapar  nos ferimentos presentes   no maltratado couro do esquelético cão, além  do som de um pequeno chocalho colocado no pescoço do único caprino que escapara naquele arrebol.

- É Coroné Tibúrcio, com este céu azul e sem nuvem num vai ter inverno este ano, será mais um ano de seca e de sofrimento para os bichim da terra.

- Larga de besteira cabra, bota esta boca porca pru lado de lá, ainda ontem eu avistei uma Asa Branca lá pelas bandas do carrasco, fazia mais de dois anos que ninguém nem ouvia falar nelas, tem mais Casca de Bala, eu nunca vi uma seca tão terríve, faz mais de três dias que num passa uma alma penada no meu terreiro, nem um animá perdido, nem um cachorro sem dono.

- É Coroné, os povo todo anda dizendo que lá prus lado do Cariri a coisa anda mió, tá tudim descendo pru Juazeiro,  dixero que o Padim Ciço e o Dr Fuloro Bartolomeu tá acuiendo  os povo, de fome Coroné, lá ninguém morre, pru mode o gunverno tá mandando mantimento duas veis nu méis, agora tem que se alistá, tem que si fichá, dispois entra numa frente de selviço im abertura de instrada, recebe o nome de cassaco  Coroné, cassaco,  cuma si fosse bicho, cuma si fosse um animá, só pru mode num morrê  de fome, num morrê a míngua Coroné.

- Eu num vou mi umilhar por causa deste sofrimento, só dexo minha terra por último, inquanto tiver giquiri, mandacaru, muncunâ, raiz de imbuzeiro, batata de tiú, calango, arubú e xique xique este Coroné num deixa a sua terra, tombém sou filho de Deus, num vou invergonhar meu pai, home forte e de palavra im todos os lajedos deste sertão.

- Coroné, num é por ser fie de Deus qui o sinhô tem que morrê  pur  estas bandas, si o sinhô quisé eu vou inté o Cariri e dispois vorto pra contá o que  si assuscede pur lá.

- Casca de Bala, tô vendo que você tombem quer arribá deste pedaço do mundo , arribe  se quiser, pode se avexar, quando chuver pras bandas de cá pode vortar que vou precisar do seu trabaio.

- Coroné Tibúrcio, eu trabaio cum o sinhô derne os 15 ano, derne o tempo de pai e do véio Coroné  Tiburcio Brito, o sinhô seu pai, já entrei nos 40 ano , nunca vi um tempo tão ruim Cuma esse, si o gunverno num ajudá Coroné, o sertão e toda a serra vai si acabá, arribo amenhã di menhãzinha, eu, a mué e os dois fiim, os dois minino, levo uma cuia de farinha, umas muncunã, dois gavião sargado, três batatas de imbuzeiro, duas batatas de tiú, um taco de bode seco, três cabaças d´agua barrenta, uma meia banda de rapadura e mêi lite de mé, com uma sumana chego no Juazeiro do meu padim, são e vivo, peço logo a sua benção e vou a percura do qui fazê, di fome nós num morre Coroné, di fome nós num ai de morrê.

No oitão da casa, de viva alma, apenas três viventes, o Coronel Tibúrcio Tributino Cavalcanti de Brito Filho,  a sinhá Zizinha, sua sofrida mulher,  e o velho e esquálido cachorro Leão, sem contar com um exército de moscas azuis esverdeadas, mosquitos pretos, meia dúzia de mutucas e uma meia dúzia de anuns agourentos,  estes são desprovidos de alma.

Durante o dia um sol escaldante, um calor infernal, um clima satânico e um céu azul celeste cristalino;  durante a noite,  o mesmo céu  azul salpicado por milhões e milhões de pulsantes estrelas, céu límpido, transparente, sem uma única nuvem e muito frio, a lua parecia mais próxima, parecia abaixo das nuvens, tal era a sua claridade, a visibilidade chegava ao extremo, parecia a continuidade do dia.

O Coronel olha para o céu, vira para velha companheira e humildemente, como um grande pecador,  resmunga quase que gutural.

- É Zizinha, a minha esperança está quaje no fim, me apego naquela Asa Branca que vi na sumana passada, me dixeram que lá prus lado do ôio d’agua avistaram um rebanho delas, inté o vigaro celebrou uma missa de agradecimento, isto me anima Zizinha, isto me anima.

Os dias passam, o coronel e dona Zizinha reiniciam a sofrida, incerta e cambaleante vida, esperam pela morte, pedem por Deus, seja o que for melhor, afinal deve ser castigo, deve ser um corretivo do Senhor.

Em menos de trinta dias, o mundo tomou outro rumo, o céu não tinha mais tantas estrelas, a lua subira para o seu lugar, os redemoinhos deram uma trégua, os vaga-lumes apareceram, a vasilha das pedras de sal começou a marejar, nos cedros do  terreiro cantou o sabiá, surgiu um juriti, voou   uma  arribaçã, duas Asa Brancas e um rebanho de Rolinhas caldo de feijão, no horizonte surgiu a barra, de madrugada o galo cantou, a noite ficou menos  fria, o suor chegou, o cachorro mesmo assombrado, de vez em quando apresentava um latido, a terra serenou, um vento frio soprava do leste durante as manhãs, das folhas dos umbuzeiros caiam algumas gotas de orvalho no nascer do sol, logo ao raiar do dia. 

Numa noite escura, 19 de março, sem o brilho das estrelas e sem o clarão da lua, Deus ouviu o lamento sofrido do Coronel, Deus ouviu o choro solitário da Sinhá Zizinha, os latidos roucos do velho cão e os pedidos da passarada, Deus abriu as torneiras do céu, rasgou o bucho das nuvens e despejando água por cima da ressecada terra Deus resgatou toda a alegria do sertão.

O Coronel abraçado e em prantos misturava-se com a Sinhá Zizinha, a babuja babujou, os pássaros voltaram, o cão latiu, as borboletas chegaram, o cinza sumiu, os sapos coaxaram e aos poucos a vida foi voltando ao normal em todos os esquecidos rincões daquela abençoada chapada nordestina. 

As folhas ficaram verdes, os capins, os sapos, os besouros, os beijas flores e os sanhaçús resolveram encher as capoeiras antes habitadas pelos calangos e pelas cascavéis.

Não se sabe de onde veio tanta força e tanta vida, mas em menos de trinta dias estava lá o coronel Tibúrcio, alegre, radiante, inebriante e altivo   no alpendre do velho casarão a comandar os seus colaboradores, a velha serra sorria diante de tanta beleza.

- Casca de Bala, ajunta os homens, os meninos e as mulheres e vamos plantar, quero todo mundo cantando e de bucho cheio, veja como é rica e sábia a natureza, os barreiros cheios, a terra moiada, os matos verdes e crescendo, os animá afoito e correndo, chei de vida e todos os filhos de Deus alegre, vamos Casca de Bala, vamos agradecer ao Criador.

- É Coroné Tibúrcio, pelo jeito e pela contidade de casamento qui tô veno, neste pé de serra este ano vai nascer é  munto barrigudim, incrusive tá cum cara,  qui vai nascê inté um coronezim, um Tiburcim.

- Casca de Bala  dexa de liutria cabra, Sinhá Zizinha anda sirrindo demais estes dias e dixe que num vai dexá pur menos, já me dixe que quer é gemes, quer logo é dois.

Foi assim o final de uma das maiores secas da minha querida, sofrida, rica e aconchegante Serra do Araripe, no Estado de Pernambuco divisa com o meu Ceará, hoje, um dos maiores celeiros fóssil da humanidade .

Quando chove tudo dá.

Em 1924 aconteceu o maior contraste, a maior cheia de todos os tempos, levando o baiano Gordurinha a compor a obra prima _SÚPLICA CEARENSE, eternizada na voz do Rei do Baião, LUIZ LUA GONZAGA  o Pernambucano do Século. 

Salvador, 23 de Março de 1989

Iderval Reginaldo Tenório.
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LAMPEÃO E AS ORDENAÇÕES DO REINO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Tornou-se comum entre jornalistas e escritores a reprodução de parte de um discurso desfavorável sobre Virgulino Ferreira da Silva, pernambucano nordestinado no cangaço, que morreu há 68 anos, em Sergipe (gruta de Angico, município de Poço Redondo, 28 de julho de 1938.

Tornou-se comum entre jornalistas e escritores a reprodução de parte de um discurso desfavorável sobre Virgulino Ferreira da Silva, pernambucano nordestinado no cangaço, que morreu há 68 anos, em Sergipe (gruta de Angicos, município de Poço Redondo, 28 de julho). Atribui-se, generalizadamente, a ele a “perversidade” de marcar com ferro quente o rosto dos desafetos, quando os episódios documentados dão autoria a Zé Baiano, como registram Ranulfo Prata na primeira edição de Lampião (Rio de Janeiro: Ariel, 1934) e Frederico Pernambucano de Mello em Guerreiros do Sol (São Paulo:  A Girafa Editora, 2004). Desde o escritor sergipano, que corre mundo uma foto de uma mulher, negra, marcada no lado esquerdo do rosto, com as iniciais JB, reproduzida por Frederico Pernambuco de Mello.

Não se trata de anomalia comportamental dos cangaceiros de Lampeão. Marcar o rosto com a brasa do ferro era uma pena antiga, do reino português, que Dom João III, o piedoso (1521-1557) extinguiu, através do Alvará de 27 de fevereiro de 1523, mas que voltou a vigorar com as Ordenações Filipinas, conjunto de leis e penas vigorante durante a ocupação espanhola em Portugal. Diz a lei: 

“Mandamos que nenhum cristão, que fosse convertido da Lei dos Mouros à nossa, sendo forro, nem Mouro forro, de quaisquer partes que sejam, venha, nem entre  nestes Reinos e Senhorios, posto que diga, que vem com intenção de negociar, sob pena de, sendo eles achado das arraias (limites) para dentro, ser cativo de quem o acusar, publicamente açoitado, e ferrado no rosto, para se saber como é cativo, e perderá sua fazenda (bens).”

As motivações portuguesas para a pena de ferrar o rosto com ferro em brasa são religiosas, políticas e jurídicas, ainda que no sertão nordestino do Brasil o fundo moral prevaleça, justificando o uso da pena por integrantes do ciclo do cangaço. Para as populações assustadas que viveram os anos turbulentos do cangaceirismo, a pena parecia remédio para certos pecados cometidos pelas mulheres, como cabelo curto, saia ou vestido curto, que depreciavam a imagem feminina.

Outras leis e penas, transplantados para o Brasil – Ordenações Manuelinas, Filipinas, Afonsinas, Leis Extravagantes de D. Duarte – vigoraram tanto tempo que terminaram folclorizadas pelo uso social. Nas academias ainda ensinam que o costume é fonte do Direito e que em conseqüência existe um Direto Consuetudinário. O enunciado tem validade, mas é preciso observar que no Brasil as Ordenações do Reino vigoraram por tanto tempo que terminaram, em muitos aspectos, fonte do costume, como no caso do ferro no rosto, como pena.

Outra pena, a de projetar vingança nos membros da família, quando o desafeto não é encontrado, frequentou o elenco de práticas dos cangaceiros, capitaneados por Lampeão. São muitas as estórias que circulam na oralidade, dando conta que ao não encontrar um adversário que procurava para cobrar dinheiro ou tomar satisfações, o cangaceiro humilhava, feria ou matava quem encontrasse, que fosse do mesmo sangue. Em Olindina, antes Nova Olinda e mais remotamente Mocambo, na Bahia, onde o Conselheiro construiu igreja e cemitério, conta-se que o grupo de Lampeão obrigou as moças a dançarem a “dança do dedo”, usando os dedos das mãos, alternadamente, entre a boca e o cu, enquanto a rapaziada cantava, dando ritmo ao movimento das mãos. Dizia-se, também, que um velho morador daquele lugar ficou de quarto, recebeu sela, e foi esporado por um dos rapazes do grupo. 

Também se ouvia dizer que o próprio Virgulino Ferreira da Silva aprendeu ali a tocar concertina, pequena sanfona de 8 baixos, também conhecida como “pé de bode”, usada para animar as festas das noites luarentas do Nordeste. Atribuiu-se, ainda, a Lampeão a frase amando e querendo bem, que parece ter origem numa sextilha recitada pelo cabra Mariano, depois de uma incursão pela Fazenda Belém, no município de Porto da Folha:

         “Rapazeada de Belém
         quando os macacos chegarem
         digam que eu vou por aqui
         por este sertão além
         cantando, gozando,
         amando e querendo bem.”

A informação foi dada no jornal O Rosário, de 30 de outubro de 1936, pelo padre Artur Passos, que foi vigário de Porto da Folha e conheceu Lampeão e seus rapazes em Poço Redondo, em 1929.

68 anos depois de morto, Lampeão vive na memória do povo.

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FAMÍLIA FERREIRA EM JUAZEIRO DO NORTE/CE.


Fotografia registrada por Lauro Cabral no ano de 1926 durante a permanência de Lampião e seu bando na cidade de Juazeiro do Norte/CE, ocasião em que recebeu a “Patente de Capitão” dos Batalhões Patrióticos que dariam combate à Coluna de Revoltosos militares liderada por Prestes e Miguel Costa.

Conheçam os personagens.

01 - Zé Paulo (Primo)

02 - Venâncio Ferreira (Tio)
03 - Sebastião Paulo (Primo)
04 - Ezequiel Ferreira (Irmão)
05 - João Ferreira (Irmão)
06 - Pedro Queiroz (Cunhado - casado com Maria Queiróz “Mocinha”.).
07 - Francisco Paulo (Primo)
08 - Virgínio Fortunato da Silva (Cunhado) casado com Angélica Ferreira
09 - Zé Dandão (Agregado da família)
10 - Antônio Ferreira (Irmão)
11 - Anália Ferreira (Irmã)
12 - Joaninha (Cunhada) Esposa de João Ferreira
13 - Maria Ferreira de Queiróz “Mocinha” (Irmã)
14 - Angélica Ferreira (Irmã)
15 - Virgulino Ferreira da Silva “Lampião”.

Lembrando aos amigos (as) que nessa fotografia estão ausentes LEVINO FERREIRA que foi morto no ano interior (1925) e Virtuosa Ferreira por razões desconhecidas.

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
 Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=568570853306815&set=gm.1199351483411301&type=3&theater

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BENJAMIN ABRAHÃO BOTTO


Uma fotografia pouco conhecida de Benjamin Abrahão que foi “Secretário Particular” do Padre Cícero Romão Batista do Juazeiro/CE, e autor das fotografias e filmagens do bando de Lampião que foram registradas no decorrer do ano de 1936.

Importante lembrar que o fotograma abaixo foi extraído do Documentário RELAÇÃO PADRE CÍCERO E LAMPIÃO (Rede Globo) apresentada pelo repórter Francisco José.


Fonte: facebook
Página: Geraldo  Júnior 
Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=568305236666710&set=gm.1198903726789410&type=3&theater

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LAMPIÃO É SALVO PELO CORONEL AUDÁLIO TENÓRIO DE ALBUQUERQUE


Coronel Audálio Tenório ,
 o  TENÓRIO que salvou
 o capitão  Virgulino LAMPIÃO.

Virgulino Ferreira Lampião, a sua cegueira  e  o  Coronel Audálio Tenório de Albuquerque

Era o início do ano de 1937, faltava pouco mais de um ano  para a sua morte  ocorrida no  amanhecer do dia 28 de  julho de 1938,   madrugada do dia 27 para o dia 28,  a cabroeira   se preparava  para a reza e o café da manhã, num ataque surpresa na Fazenda Angico, Estado de Sergipe,  num local chamado gruta do angico, o capitão  sofreu a maior emboscada da vida, morrendo ao lado de  


Maria Bonita e de muitos companheiros, ali,  seria aniquilado a maior fase do cangaço meio de vida, a pior variedade desta estranha e sanguinária profissão, naquele dia   o Tenente João Bezerra da Silva,  Pernambucano das Ingazeira, nascido em 1898,  lotado na Polícia  das Alagoas  enterrava o Cangaço no Brasil, o Tenente foi cria do Cangaceiro Antonio Silvino, o “Rifle de ouro”, o maior atirador do nordeste brasileiro, o Tenente possuía uma rixa com o Capitão, foi cabra do seu maior inimigo, o Coronel paraibano José Pereira, de Princesa- Pb, importante  pólo político da época, um dos pivores do assassinato do Governador  João Pessoa, em 1930.

Nesta época ,  1937,  O Capitão Virgulino vivia amasiado pelos Estados de  Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia (no Raso da Catarina). O homem era um estrategista de causar inveja a qualquer experiente general de brigada, esta região beirava o rio São Francisco,  exatamente no local que o rio faz uma interseção  entre os  quatro Estados.

O capitão que só possuía um olho bom, o esquerdo, uma vez que, ficara cego do olho direito muito cedo,  devido a uma doença chamada glaucoma congênito  que lhe acompanhava desde a infância,  desta vez  passou a sentir queimor,  lacrimejamento, prurido intenso e diminuição da acuidade visual à esquerda, procurou o  Coronel Manoel  Maranhão no Estado de Alagoas   na sua fazenda,   divisa com Pernambuco e lhe pediu socorro,  de imediato,  pediram  a ajuda  do Coronel  Audálio Tenório de Albuquerque, homem poderoso, fazendeiro, coiteiro  e amigo de Lampião de 1930 a 1938, um dos mais importantes homens do Sertão Pernambucano.

O Coronel Audálio Tenório, que se encontrava em uma das suas Fazendas (a Formosa), recebeu o chamado do Capitão e foi ao seu encontro, pegou o seu FORD e foi até a fazenda do amigo Maranhão, lá encontrou um  Lampião cabisbaixo, triste, desanimado e temente a ficar cego, a sua vista boa se encontrava doente, temia  perdê-la, o seu tratamento se resumia a um grupo de velhas rezadeiras, ervas e panos para limpeza, estava em derrocada, o capitão estava morrendo.

O  Coronel Audálio  Tenório Cavalcante,  por ser respeitado pelo capitão,  fez várias propostas, uma delas era o abandono do cangaço, faria tudo para limpar o seu passado, o capitão Virgulino declinou do conselho,   disse que estava muito cedo e que ainda tinha muito por fazer, o Tenório não titubeou, no outro dia resolveu levar o capitão para Recife, procurou o Dr. Isaac Salazar, o mais famoso oftalmologista do Estado que ficou famosíssimo depois que foi para o Juazeiro do Norte e lá operou o Patriarca do Nordeste, o Padre Cícero Romão Baptista, o homem ganhou fama em todo o mundo.  A ideia  foi conduzi-lo  ao grande especialista, contudo,  não poderia levá-lo, era muito arriscado, as volantes vasculhavam os sertões à procura do cangaceiro, riscavam a caatinga diuturnamente,  a ordem era matar  os cangaceiros, os coiteiros, os amigos e os seus protetores, o Getúlio  não brincava em serviço, a lei era matar, a estratégia do Tenório foi transformar o  capitão Virgulino Lampião no  seu melhor vaqueiro e compadre, fez uma visita  ao consultório do especialista, contou detalhadamente o problema do paciente, o médico prescreveu alguns medicamentos, injeções, pomadas, colírios e bandagens,  dias depois chegava na sua fazenda  o Coronel com todos os medicamentos e o capitão inicia o milagroso tratamento, a vista foi melhorando, aos poucos foi clareando, como trunfo, cheio de alegria  e de vida, Lampião mostrou ao grande  amigo,  um frasco de estricnina e uma garrafa metálica cheia   gasolina, caso ficasse completamente cego,  cometeria o suicídio,  beberia  o veneno  para não ser  pego pela volante, porém,  antes tocaria fogo em todo o dinheiro guardado nos seus bornais com a gasolina, relatou que  não seria um bobo para ser preso e ainda enricar alguns macacos com o seu suor. O homem era macho, foi assim que o capitão não ficou totalmente cego.

Nesta época o capitão já se encontrava em decadência, não tinha a mesma força, o clímax do cangaceiro é aos 25 anos, as volantes tinham ordem de matar para depois conversar, era lei qualquer cidadão ficar com os bens do cangaceiro caso o  matasse, todo mundo queria ficar rico, os jornais noticiavam diariamente as estripulias e as maldades do cangaço, as estradas que cortavam os sertões permitiam o envio de caminhões de soldados e munições, as mulheres e os filhos  passaram a ser uma das preocupações dos cangaceiros, os coiteiros sumiram, o cangaço perdia a força, a lei era matar, até que em 1938, na emboscada do Angico,  o capitão, Maria Bonita e quase toda a sua cabroeira tombaram sem vida  na frente da mais temida metralhadora da época, a famosa metralhadora caga fogo,  chamada carinhosamente pelas volantes de:  A COSTUREIRA. 

O Coronel Audálio Tenório de Albuquerque, grande latifundiário de Pernambuco e Alagoas, foi deputado Estadual eleito por Pernambuco em 1966 e cassado pela ditadura militar brasileira. O governo 50 anos depois devolveu o seu mandato, agora em 2012, o Coronel já havia falecido. Mandatos devolvidos 50 anos após cassação pelo regime militar, Diário de Pernambuco.  Publicação: 07/12/2012

Iderval Reginaldo Tenório

Fonte de pesquisa, diversas obras sobre o cangaço, 1- Guerreiro do Sol, Frederico Pernambucano de Melo , Editora  A GIRAFA.2- Diario de Pernambuco.
15- Olha a Pisada _ _O Perdão do Lampião_ _ Boiadeiro ...
www.youtube.com/watch?v=vwCUgZk9U6Q

1 de mai de 2011 - Vídeo enviado por forrobodologia
Luiz Gonzaga Ao Vivo - Volta Pra Curtir [2001] FONTE: http://www.forroebom.blogspot.com

http://iderval.blogspot.com.br/2015/03/lampiao-e-salvo-pelo-coronel-audalio.html?m=1

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O LADRÃO DE CALCINHAS

Por Rangel Alves da Costa*

Em tempos de graúdas rapinagens, de raposas grandes flagradas com as garras na botija, eis que me chega a recordação de outros tipos de sem-vergonhices, de ladroíces que mais pareciam brincadeiras diante das tramoias de agora. Nada mais do que espertalhões interioranos acostumados a roubar galinha dos quintais alheios, a meter a mão no fundo do ofertório da igreja matriz, a roubar no peso e na medida.

Outro dia, Totonho Cirineu debulhava suas memórias acerca desses ladrõezinhos de meia tigela e seus maus costumes quase lendários. Dizia do furtador de flores e cotocos de velas do cemitério, do malandrim acostumado a levar fiadas de arame dos cercados, do larápio viciado em roubar doce de criança, do mão-leve expert em namorar velha viúva somente ao final do mês. Teve que só roubou coqueiro alheio até o dia que despencou lá de cima, e já no chão ainda recebeu uma chuvarada de coco.

E uma história bem interessante: o ladrão dos suspiros e sonhos das solteironas. O espertalhão frequentava as janelas mais chorosas do lugar, oferecia flores e poemas rimados às desafortunadas de macho. Com olhar lânguido dizia palavras bonitas, lançava as mais doces promessas, mas depois sumia. Então aquelas titias se lançavam de vez aos umbrais da melancolia, dos choramingados, das lágrimas. De repente ele retornava dizendo que tão bela flor só merecia um jardineiro de roupa nova, por isso que, envergonhado, deixara de aparecer. E logo lhe surgia à mão dinheiro contado e esperança infinita.

Mas nada igual ao relato de Cirineu sobre o ladrão de calcinhas. Segundo o prosista, é comum nas cidades interioranas que as mocinhas estendam nos varais suas roupas íntimas após o banho ou a lavagem. Como os quintais eram abertos, e quando muito tendo apenas cercas baixas por divisa com o mais além, os varais estendidos ficavam à vista de todos aqueles que passassem pelos fundos das casas. Gente passava e sequer dava qualquer importância ao que estivesse dependurado, mas com outros eram diferente.

Meninote pulava no quintal para afanar fruta madura, caída do pé, ou mesmo agindo com rapidez para subir tronco acima e recolher o caju, a goiaba, a manga. Não lhe interessava mais que isso, ao menos que avistasse no varal uma calcinha pendurada. Sentia-se despertado ante a peça íntima, soltando um sorriso de safadeza, mas nada que fosse além de um interesse proibido e próprio da idade. Mas certos adultos, mesmo avistando ao longe o varal, bastava que enxergassem aquilo que lhes parecia uma calcinha e logo ficavam açulados. 


Por isso mesmo que muito marmanjo já foi pego cheirando roupa de mulher pelos quintais. Certa feita, um rapazote estava tão entretido cheirando e beijando uma calcinha rendada vermelha que nem se deu conta que alguém se aproximava. Quando viu diante de si o dono da casa com charuto descendo no canto da boca e espingarda na mão, já era tarde demais. Não deu tempo nem de correr. Teve de vestir a calcinha e sair pela porta da frente todo se requebrando.

Mas episódios seguidos começaram a colocar em polvorosa os quintais. De repente e calcinhas e mais calcinhas simplesmente começaram a sumir dos varais. Esquecidas, as mocinhas novamente estendiam suas delicadezas nos arames e em pouco tempo o canto estava mais limpo. Logo se espalhou a notícia da existência de um ladrão de calcinhas pelos arredores, e que era preciso muito cuidado porque podia se tratar de um tarado pronto para atacar também suas donas. E foi um assanhamento danado.

Mas quem será esse ladrão, uma perguntava a outra, mas sem qualquer pista. A velha senhora, relembrando episódio antigo no mesmo sentido, achou melhor minimizar a situação e dizer que talvez fossem gaviões os responsáveis por aqueles furtos. Tudo para não dizer que havia sido o próprio namorado, então falecido esposo, que apaixonado furtava o calçolão para colocar debaixo do travesseiro. Que gavião que nada, dizia outra, deve ser mesmo aquele rapazinho que saltita cheio de delicadeza. Mas de jeito nenhum, cortava a outra, para ajuntar que aquilo era mesmo coisa de gente safada, de algum pervertido que fazia da calcinha alheia a mulher que não tinha.

Resolveram, então, que as calcinhas seriam colocadas novamente nos varais, só que a partir de então sob a vigília de homem da casa. Seria a única forma de pegar no flagra o tal ladrão e desmascará-lo de vez. Mas as calcinhas passavam as noites embaladas ao vento sem que ninguém aparecesse para levá-las. Uma semana, duas semanas assim, até que a vigilância acabou. Até que numa manhã nenhuma peça íntima foi encontrada.

Levaram todas as calcinhas de todos os quintais e varais da cidade. Então o mundo desabou novamente. Foi um vexame danado. A velha senhora insistia para que olhassem para o alto para ver se algum pássaro graúdo passava de calcinha. O poeta do lugar logo encontrou inspiração: “Foi-se uma calcinha, depois outra e mais outra. Quantas calcinhas voarão para que tenhamos ninhos de tantas delícias?”.

Neste ponto Cirineu deu por encerrado seu causo. Mas um cabra se levantou raivoso e exigiu o final da história, com a indicação do ladrão. Não suportando desfeita, então o prosista remendou: “Só pode ter sido as almas do outro mundo, pois até hoje nunca se ouviu dizer que tivessem coragem de dizer que foi o senhor seu avô”. E até hoje o sopapo rola.

Poeta e cronista
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