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domingo, 22 de dezembro de 2013

A POESIA DO NATAL

Por Rangel Alves da Costa*


Alegre ou triste, festejante ou melancólica, há sempre uma poesia no natal. Contudo, diante de seu clima nostálgico, sempre envolto em relembranças e reencontros, há quem não consiga ver o período natalino como propício a inspirações.

E eis que a poesia, ainda que não construída em versos escritos, já se faz presente naqueles que se deixam envolver pela magia e singeleza desse período tão especial e importante na vida do ser humano.

Assim, a poesia do natal está em tudo aquilo que envolve o próprio natal e consegue alcançar e transformar as pessoas, seja as tornando mais fraternas e afetuosas, seja para fazê-las sempre mais frágeis, tristes e solitárias.

Se a tristeza lhe abraça mais fortemente neste período, saiba que é poética sua angústia. Somente os sensíveis se envolvem de enternecimentos na colheita dos frutos dessa estação; apenas os que não erram em esconder sentimentos se deixam revelar além dos espelhos.

 
É poética a reflexão mais profunda surgida com o natal. Não há apenas a recordação nem a vontade de reencontrar, mas um sentimento profundo de presença e até de diálogo. E isto comprova o quanto nos curvamos diante do passado e do que ainda permanece como presença em nossa memória.

Do mesmo modo, a poesia do natal está na sua atmosfera tão simbólica e meditativa. Tudo nos chega envolto em uma espécie de névoa contemplativa, numa paisagem nublada que nos chama à reflexão, ao diálogo íntimo, às leituras dos erros e acertos ao longo do ano.

E quando saímos de nós mesmos nos encontramos no outro que recordamos. Eis que natal é tempo de saudade, é tempo de desejo de reencontros, é momento para querer estar pertinho de quem está apenas distante ou de quem já está na inalcançável distância.

Mesmo que a modernidade tenha imposto uma visão meramente comercial do natal, ainda assim jamais conseguirá tirar do íntimo de muitos aquela feição de cartão natalino antigo. Em muitos olhos e corações, o natal continua sendo uma bela fantasia nevoenta, com neblina descendo sobre pinheiros e luzes piscando distante.

E também o Papai Noel, a árvore enfeitada com bolas coloridas e rodeada de caixinhas de presentes, o sapatinho do menino à janela, a chaminé misturando fumaça à nevasca, as renas do bom velhinho cortando os céus. Certamente um clima europeizado, mas que acostumamos a apreciar.

Mas também o natal dos barracos, das favelas, das famílias abandonadas, dos meninos nas marquises, da miséria e da pobreza. Uma ceia de pão e de qualquer grão, um presente prometido para um amanhã, uma existência que tanto merecia ser visitada pelos reis magos.

Que o ouro, a mirra e o incenso chegassem às novas e cada vez mais empobrecidas manjedouras. Que a estrela da natividade guiasse os três reis magos às moradias daqueles meninos famintos, aos casebres distantes e tão esquecidos pelos que fartamente preparam suas ceias e festins.

Muitos não terão chesters, perus, pernis, lasanhas, saladas, bacalhoadas, espumantes, cervejas, uísques, importados. Muitos não terão sequer um frango assado ou uma garrafa de sidra. Talvez o pão, talvez nada. Mas terão o natal, e de modo mais significativo que aqueles que fazem desse dia apenas mais um pretexto para festanças.

 

Ora, o que alimenta o espírito natalino não é a ceia nem a comilança, a troca de presentes ou a renovação de móveis e vestimentas. Tudo isso é hipocrisia consumerista, não passa de vaidade e esnobismo. E onde só há lugar para o pensamento material, para o ter e querer sempre mais, dificilmente sobrará espaço para os nobres sentimentos.

E da pobreza não é afastada a significação maior do natal. Ainda que dele só tenha a data, ainda que não haja troca de presentes nem mesa farta, sua imensa fé a coloca como num presépio vivenciando o nascimento daquele menino que tanto parece com os seus. Menino pobre nascido em um Belém que pode ser qualquer lugar onde a ceia será apenas a da esperança.

Não muito longe de você há uma manjedoura, um Belém. Ali há o presépio da outra realidade. Uma mesa sem ceia, mas um natal sem igual, pois se celebra a vida e não o momento de se servir.

Poeta e cronista
 blograngel-sertao.blogspot.com 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com  

NATAL DE 1944 – BATALHA DAS ARDENAS – QUANDO DEUS VEIO PARA A CEIA DE NATAL



Autor: Rostand Medeiros - Publicado em 20/12/2013
 
Para mim o espírito de Natal é algo tão forte, tão intenso, que mesmo no meio de uma sangrenta guerra ele pode produzir milagres. Foi assim na fria véspera de Natal de 1944, nesta incrível história que conto a vocês.


Após a invasão da Normandia, a chamada Operação Overlord, a consequente conquista da Normandia no fim de julho de 1944 e do hoje pouco lembrado desembarque no sul da França em 15 de agosto, os Aliados avançavam rumo a Alemanha de forma mais rápida do que era esperado.

Em meio a problemas de abastecimento e do cansaço das forças americanas e britânicas, Hitler decidiu lançar uma contraofensiva alemã na frente ocidental, na tentativa de deter o avanço Aliado.

Em meio a neve, a destruição de uma aldeia belga na região das Ardenas

Conhecida como Batalha das Ardenas, ou Batalha do Bulge, aconteceu na floresta das Ardenas, na região da Valônia, sul da Bélgica. Tudo começou em meio a um inverno rigoroso, no dia 16 de dezembro de 1944, quando tanques panzers alemães avançaram, causando fortes estragos nas fileiras Aliadas pegas completamente de surpresa. Os americanos e britânicos estavam com suas linhas de combate muito espalhadas, passando a enfrentar uma força inimiga inicialmente superior.

Os alemães capturaram milhares de prisioneiros e seu ataque deixou muitas unidades americanas e britânicas isoladas em meio à floresta.

 Fritz Vincken em 1940

Enquanto a carnificina se generalizada nas Ardenas, uma mãe e seu filho de 12 anos, chamados Elisabeth e Fritz Vincken, tentavam sobreviver ao caos escondidos em uma cabana no meio da floresta.
 
Escondidos Para Viver…

Eles eram alemães da cidade de Aachen. Ali o marido de Elisabeth tinha uma padaria. Na madrugada de 11 para 12 de abril de 1944, 352 bombardeiros britânicos atacaram esta cidade, perdendo nove aeronaves. O ataque foi intensamente destrutivo, causando danos generalizados e fortes incêndios. Entre os locais atingidos estavam a padaria e a casa dos Vincken, que sobreviveram. Na sequência todos foram evacuados para uma aldeia, onde encontraram abrigo.


Alemães nas Ardenas

Consta que o pai de Fritz ficou então agregado como cozinheiro de uma unidade do exército alemão. Uma noite ele veio em um pequeno caminhão militar e levou sua família para as profundezas da floresta de Ardenas, 20 quilômetros ao sul do abrigo onde se encontravam, perto da fronteira da Alemanha com a Bélgica. Era uma área elevada, bem arborizada, onde existia uma solitária cabana de caça. Foi um amigo belga do marido de Elisabeth que mostrou o caminho para chegar lá. Foi neste local que ela e Fritz se encontravam na véspera de Natal de 1944.

Fritz comentou que na noite anterior as temperaturas caíram para abaixo de zero, entretanto no dia 24 de dezembro, o sol nasceu com vigor, trazendo um espetacular céu azul sem nuvens. Aproveitando a visibilidade, durante todo o dia centenas de aviões aliados voaram em suas missões mortais. O rugido sombrio e pesado de seus motores permaneceriam para sempre enraizado na mente do garoto.

Quando a escuridão caiu no final da tarde, a quietude repentina era caracterizada pelo silêncio na floresta e incontáveis estrelas ​​no céu. Fritz narrou que havia até mesmo longos pingentes de gelo formados fora das janelas da casa. Mãe e filho ficaram algum tempo olhando o espetáculo celeste e comentando quando viriam novamente o seu mundo em paz. Depois entraram para dividirem a ceia de Natal.

Prisioneiros americanos. Na Batalha das Ardenas, só os americanos tiveram 19.000 mortos, 47.500 feridos, 23.000 capturados ou desaparecidos.

Nisso ouviram batidas na porta do abrigo. Aterrorizada, Elisabeth rapidamente apagou as velas que iluminavam o lugar e Fritz foi até a porta, sendo bloqueado por sua mãe.

Mesmo sabendo que ali fora poderia haver problemas, Elisabeth e Fritz decidiram abrir e ver quem lá estava. Como fantasmas contra as árvores cobertas de neve, ali se encontravam dois homens com capacetes de aço. Um deles falou em uma língua que eles não entenderam, apontando para um terceiro homem deitado na neve. Elisabeth percebeu que eram soldados americanos. Eram inimigos!

Um Escolha Difícil

Mãe e filho ficaram olhando em silêncio, parados. Eles estavam armados, poderiam ter forçado a entrada na cabana e, além disso, estavam com um homem ferido, parecendo mais morto do que vivo. Ela sabia que a pena por abrigar o inimigo era a morte por fuzilamento, mas quando olhou nos olhos dos jovens americanos não teve medo, abriu a porta e os deixou entrar. Eles se aproximaram, andando com neve até os joelhos.

Tanque alemão destruido pelos americanos na batalha

Os americanos eram bem jovens, nem barbas tinham. Elizabeth não falava inglês, mas um dos americanos falava francês, idioma que a mãe de Fritz conhecia. Contaram que estavam perdidos no meio da floresta e já vinham andando por três dias, escondendo-se dos alemães e procurando a sua unidade de combate. Porém, tudo o que encontram foi aquela casa.
Sem outra solução Elizabeth mandou Fritz trazer mais seis batatas para o fogo e “Hermann”, um galo gordo. Este homenageava Hermann Goering, o obeso comandante da Luftwaffe, a força aérea dos nazistas, figura a qual Elisabeth nutria pouco afeto. O galo tinha sido engordado durante semanas na esperança de que o pai de Fritz estivesse na casa para o Natal. Mas, algumas horas antes, quando era óbvio que ele não viria, sua mãe tinha decidido que o galo deveria viver mais alguns dias para o caso de seu marido chegar para o Ano Novo.

Os Americanos nas Ardenas careciam de roupas apropriadas para o rigor do inverno. Vemos infantes do 290th Regiment perto de Amonines, Bélgica. em 4 de Janeiro de 1945.

Todavia, diante das circunstâncias, Elisabeth mudou de ideia: “Hermann” serviria para um fim imediato. Em breve o cheiro tentador de frango assado permeava pela cabana.

O clima foi se distendendo e os americanos foram se apresentando. Havia um atarracado, de cabelos escuros, chamado Jim. Seu companheiro, alto e magro, era Ralph e o ferido se chamava Herbie.

Quando Fritz arrumava a mesa para a ceia de Natal e os americanos estavam em um quarto onde o ferido Herbie estava deitado, escutaram uma forte batida na porta.

Com a expectativa de encontrar mais americanos perdidos, Fritz abriu com hesitação e lá estavam quatro soldados com uniformes muito familiares para a jovem mãe e seu filho. Eram soldados alemães da Wehrmacht, o exército de Hitler.

Blindados anti aéreos alemães destruídos pelos americanos.

Diante do Perigo

Apesar do medo de Elisabeth e Fritz, ela disse calmamente “Fröhliche Weihnachten” (Feliz Natal em alemão). Os soldados lhe responderam um Feliz Natal e informaram que se perderam do seu regimento e gostariam de abrigar-se na cabana para descansar e esperar a luz do dia, explicou o militar de hierarquia mais elevada, um cabo.

Com uma calma nascida do pânico, Elisabeth respondeu que sim. Eles poderiam descansar, ter uma refeição quente e comer até o pote ficar vazio. Estes sorriram enquanto sentiam o aroma de “Hermann” através da porta entreaberta.

Mas Elisabeth acrescentou com firmeza que na casa estavam três outros convidados e disse quem eram. Daí para frente sua voz se tornou severa ao comentar: “É véspera de Natal e não haverá nenhum tiro aqui”. Ela narrou a situação dos inimigos e pediu que “Nesta noite de Natal todos deveriam esquecer a matança”.


Blindado alemão destruído.

O cabo olhou para ela por uns dois ou três segundos intermináveis ​​de silêncio. Então Elisabeth pôs fim à indecisão “Chega de falar” ela ordenou e bateu palmas rispidamente. “Por favor, coloquem suas armas aqui na pilha de lenha, e se apressem para comer o jantar!”. Aturdidos com a autoridade feminina e diante de um quadro que certamente lembrava as suas mães em seus lares na Noite de Natal, os homens de Hitler obedeceram.  Os quatro soldados colocaram suas armas sobre a pilha de lenha ao lado da porta. Enquanto isso, Elisabeth estava falando francês de forma igualmente autoritária para Jim e logo eles entregaram suas armas àquela valente mulher.

Apesar do clima tenso, Elisabeth foi preparar o jantar. Nisso um dos alemães tinha posto seus os óculos para inspecionar a ferida do americano, ele havia estudado medicina em Heidelberg até poucos meses atrás e informou que graças ao frio a ferida de Harry não iria infecionar.
Uma Ceia de Natal Especial

O relaxamento começou a substituir a suspeita. Fritz Vincken comentou anos depois que, mesmo sendo um garoto de doze anos, todos os soldados pareciam muito jovens. Entre os germânicos havia Heinz e Willi, ambos de Colônia, com apenas 16 anos de idade. O cabo era o mais velho de todos os militares das duas nações em guerra e só tinha apenas 23 anos. Do seu saco de comida ele tirou uma garrafa de vinho tinto e Heinz conseguiu encontrar um pedaço de pão de centeio para aumentar o jantar.

Filme da televisão americana sobre este fato.

Quando tudo estava pronto, Elisabeth deu as graças na mesa.  Com lágrimas em seus olhos, ela disse velhas palavras familiares: “Komm, Jesu Herr. Seien Sie unser Gast” (Vem, Senhor Jesus. Seja nosso convidado). Fritz comentou que jamais esqueceu que viu ao redor da mesa lágrimas nos olhos dos jovens militares cansados e longe de casa. Herbie, mesmo ferido, sacou de uma pequena Bíblia, leu uma das passagens e terminou declarando que haveria pelo menos uma noite de paz nessa guerra. Todos concordaram e os soldados alemães e norte americanos compartilharam uma refeição quente, juntos, em uma noite especial.
 
Depois todos descansaram em paz.

O armistício privado continuou na manhã seguinte. O cabo aconselhou os americanos sobre a melhor maneira de encontrar o caminho de volta para as suas linhas. Olhando por cima do mapa de Jim, o cabo apontou um córrego e disse “Continue ao longo deste riacho e você encontrará o seu pessoal se reagrupando”. O estudante de medicina transmitiu a informação em um Inglês atravessado, mas compreensível. Jim então perguntou por que não ir para a cidade de Monschau? “Nein!”, o cabo exclamou. “Nós retomamos Monschau e lá vocês seriam mortos ou capturados”.

Somente na hora de sair Elisabeth deu-lhes todas as suas armas. Os soldados alemães e americanos apertaram as suas mãos e desapareceram em direções opostas.
 
Um Grande Encontro

Elisabeth, seu marido (cujo nome desconheço) e seu filho Fritz sobreviveram a Guerra.


Fritz Vincken no Havaí no final da década de 1990.

Seu marido faleceu em 1963 e Elizabeth em 1966. Fritz Vincken se casou em 28 de fevereiro 1958 e logo após emigrou para o Canadá, depois Estados Unidos, onde foi morar em Honolulu, Havaí, onde montou uma padaria. Durante anos Fritz tentou encontrar os sete soldados, mas sem sucesso. Ele chegou até a escrever um texto pessoal de suas lembranças sobre aquela noite nas Ardenas, mas nunca publicou.

Um dia Fritz narrou a sua incrível história para uma revista americana e depois apareceu na televisão em março 1995, em um programa chamado “Unsolved mysteries” (Mistérios não resolvidos), onde novamente narrou sobre aquela noite de Natal verdadeiramente interessante.

Na cidade de Frederick, Maryland, na casa de repouso chamada Northampton Manor Nursing Home, estava Ralph Henry Blank, um pedreiro aposentado e veterano da Segunda Guerra Mundial, que inúmeras vezes, e para várias pessoas, tinha contado a mesma história. Logo, seus familiares fizeram contato com o canal televisivo.

 Ralph e Fritz Vincken.

Em janeiro de 1996, Fritz foi até Maryland e reencontrou Ralph em um momento muito emocional. Lá ele soube que além de Ralph, os outros soldados se chamavam Jimmy Rassi e Herbie Ridgin. Consta que Fritz Vincken ainda conseguiu se encontrar com outro dos americanos, mas não consegui descobrir qual deles era. Em relação aos alemães, apesar desta história ter sido divulgada pela imprensa, nada se conseguiu saber destes combatentes.

Nesta história vemos que a força interior de uma única mulher, através de sua inteligência e intuição, em um momento onde o espírito de Natal mostra a sua luz, impediu um potencial derramamento de sangue. Transmitindo o significado prático das palavras: “boa vontade para com a humanidade”.

Ralph Henry Blank  faleceu aos 79 anos, em Frederick, Maryland, no dia 21 de maio de 1999. Já Fritz Vincken, depois de viver vários anos em Honolulu, Havaí, faleceu no dia 10 de janeiro de 2002, aos 69 anos, na cidade de Salem, Oregon.

Desejo a todos que visitaram o nosso TOK DE HISTÓRIA um FELIZ NATAL!

Fontes:
http://pulpitbytes.blogspot.com.br/2007_01_01_archive.html
http://jrackman.wordpress.com/2011/12/13/truce-in-the-forest-seeing-the-bigger-picture/
http://the.honoluluadvertiser.com/article/2002/Jan/11/ln/ln37a.html
http://ba-ez.org/educatn/LC/OralHist/vincken.htm

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Extraído do blog Tok de Histórias do historiógrafo 
Rostand Medeiros

 http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/12/20/natal-de-1944-batalha-das-ardenas-quando-deus-veio-para-a-ceia-de-natal/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com