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sexta-feira, 16 de março de 2012

A construção discursiva de personagens históricos

Por:Wescley Rodrigues
Mais uma vez vem a baila o livro do ex magistrado Pedro de Morais, intitulado “Lampião, o Mata Sete”, que afirma ter sido o “Rei do Cangaço” um homossexual que viveu um triângulo amoroso e uma relação de fachada com Maria Bonita e Luiz Pedro, seu lugar tenente. As opiniões a cerca da obra são acaloradas, uns criticam, outras tratam-na com ar jocoso, e ainda há aqueles que a demonizam na tentativa de criar uma barreira para que os leitores não tenham acesso a tal produção. A priori deixo claro que não estou aqui para fazer uma defesa do livro em questão, mas para propor um novo olhar que historicamente, sociologicamente e antropologicamente estamos esquecendo, ou não queremos tirar as nossas vendas do comodismo para vislumbrá-la.
Primeiramente é bom salientar que sou completamente contrário a qualquer forma de censura a livros, vivemos em uma sociedade e estado democrático de direito, na qual a liberdade de expressão é princípio elementar que depõe a favor da dignidade da pessoa humana. Só porque um livro vai contra os nossos princípios ou as ideias que temos como verdadeiras, isso não nos autoriza a censurá-lo, pois ao fazermos tal, não estaremos longe do que fez a Igreja Católica com a sua lista de livros proibidos, ou a ditadura militar brasileira que impediu a circulação de toda obra que atentasse contra os seus princípios distorcidos de sociedade.
Não li na integra a obra do referido escritor, haja vista diretamente não poder criticá-lo ou elogiá-lo, mas confesso que pretendo ler, ao contrário da repulsa que alguns amigos pesquisadores do cangaço estão tendo com a obra, pois acredito que só através de uma minuciosa leitura é que estarei gabaritado para fomentar e construir as minhas análises de forma consistente sobre o escrito.
Mas para não me alongar na ideia apresentada, trago ao foco uma questão importante, essa diz respeito à fabricação dos personagens históricos. Antes de Lampião e seus cabras serem protótipos do Nordeste ou da sua dita masculinidade, cabras machos, de fibras, eles são produtos e sujeitos históricos. Como sujeitos históricos são fabricados, construídos, mediante discursos e narrativas. Falo isso por não acreditar em uma verdade histórica, mas uma verossimilhança, uma interpretação autorizada pelos documentos de um passado que já foi, o qual não poderemos resgatá-lo, somente interpretá-lo, representá-lo, mediante os vestígios que chegam ao presente. Essa é uma concepção que atenta de frente contra a teoria positivista de história que ainda vigora na atualidade.
Por ser uma figura histórica que é ditos por um corpus escriturário, Lampião é essa figura que congrega discursos, representações. O livro do Pedro de Morais ajuda-nos a entender um pouco dessas facetas narrativas que os mitos em torno das figuras históricas constroem. Esses são discursos que trazem em si a marca de seu lugar de produção. Por isso, conclamo os amigos a lerem a obra “Lampião, O Mata Sete”, não como um livro de história no sentido positivista, mas, como diriam os teóricos da história francesa, uma vertente de resignificação de personagens históricos a partir de propagandas de épocas distintas, uma página de entendimento de como a fabricação de um mito envolve polêmica e opiniões nem sempre comprováveis, mas que vão tornando-se válidas a partir de sua resignificação simbólica e infiltramento no imaginário e cultura histórica. Tal fabricação de personagens se deu com Napoleão, Hitler, Jesus Cristo, Delmiro Gouveia, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, e tantos outros personagens históricos.
Acredito na necessidade de se abri um espaço no Cariri Cangaço 2012 para se debater tais questões fazendo um paralelo com o livro abordado há pouco.
Prof. Ms. Wescley Rodrigues
Sócio da SBEC
Sousa - PB 
Extraído do blog: "Cariri Cangaço"

CARTA AO MESTRE E SENHOR JESUS

Por: Alcino Alves Costa

Meu Mestre e Senhor Jesus Cristo

Jesus no Monte das Oliveiras - http://www.derradeirasgracas.com/

Perdoe a minha ousadia por tentar chegar até vós esta carta. Uma razão imperiosa e desesperadora me leva a este quase delírio. É o sofrimento atroz e sem limite do homem do Sertão do São Francisco, desde o fazendeiro até aquele menos favorecido da sorte. Ambos, fazendeiro e lavrador, padecem em virtude da canícula abrasadora que castiga o caatingueiro e seu esquálido rebanho bovino que agoniza sem água e sem comida.

Meu Mestre e Senhor Jesus, os vossos filhos caipiras estão pagando um preço altíssimo em virtude da falta de chuva e com ela a tenebrosa seca que mais uma vez assola e dizima os rebanhos e a quase que inexistente economia sertaneja.

O gado está morrendo a míngua, de fome e sede. Muitos criadores estão entrando em desespero total. A terra está torrada. O capim e outras leguminosas desde muito deixaram de existir. A palma forrageira quase que sumiu dos roçados. Outros refrigérios são adquiridos por um preço exorbitante. Portanto, meu Mestre Supremo, me perdoe por enviar-lhe esta desesperada cartinha que é um pedido de socorro e misericórdia em favor do povo sofrido do meu sertão.

Há muitos anos o Sertão do São Francisco sofre com os horrores da seca e da insensibilidade do homem. A seca que torra o chão e estiola a mataria; o homem que destrói, derruba e queima as matas e caatingas; mata os pássaros e os animais silvestres; polui os rios e riachos, deixando a nossa mãe-natureza jogada ao léu, completamente abandonada, e quase sempre, quando sofre esses abusos, se vinga. 

Meu Mestre e Senhor, desde muitos anos que o camponês sofre os horrores das intermináveis secas que tanto nos flagela. Os campos sertanejos estão nos estertores da morte. A sua caatinga está praticamente extinta. O amanho da terra, a semente e o plantio são coisas do passado. No sertão deixou de existir qualquer tipo de lavoura. As fazendas estão sem alegria e sem vida. O gado magro, fraco, cambaleante, faminto e sedento muge desconsolado pelos caminhos e veredas dos roçados. Os currais estão vazios e solitários, sem aquela alegria da bezerrada cabriolando em sua malhada e o vaqueiro aboiando na porteira do curral no momento da ordenha. A fartura caatingueira dos tempos de outrora foi substituída por uma horripilante e negra miséria. A miséria de vermos nos dias de hoje todo o nosso rincão sertanejo murcho, com um aspecto triste, de extremado sofrimento e profunda desolação.

A população cabocla está angustiada e aflita. Muitos, iludidos por novos sonhos e perspectivas deixaram suas terras e se destinaram estrada afora procurando amparo nas cidades vizinhas. Os que ficaram padecem os rigores desse sol abrasador e a vingança da natureza em represália a mão assassina do homem é constante.

Jesus Cristo! Esparramai as vossas bênçãos por sobre o povo sertanejo. Que a vossa misericórdia chegue através da chuva; essa bendita chuva que é o sangue de nossa terra. Com ela vamos ter a ventura de ficarmos felizes e inebriados com os rios e riachos, as lagoas e os charcos, os açudes e os tanques, as barragens e os barreiros; cheios, abarrotados de água, esse bendito e precioso liquido que fará brotar, lá das profundezas de nossa fecunda mãe-terra, o verde que representa a bonança e a fartura do homem do campo; o verde que irá matar a fome de nossos esquálidos rebanhos; o verde que transforma um cenário de tristeza e dor em um lugar de exuberante beleza.

Meu Mestre e Senhor Jesus, é este o motivo que lhe escrevo. Sei perfeitamente, devido aos meus incontáveis pecados, que não sou merecedor de nenhum crédito de vossa infinita bondade. Porém, não consigo visualizar nenhuma possibilidade no sentido do campônio se livrar do abismo que ele está desabando sem a vossa ajuda, sem a vossa misericórdia.

Nos daí, Mestre Jesus, chuva que encha de vida a terra. Faças com que o lavrador volte a plantar a sua roça e assim colher o fruto de sua própria lavoura e com ele alimentar os filhos. Jesus! Tenhas piedade dos rebanhos bovinos morrendo de fome. Na beira das estradas e nas malhadas das fazendas os esqueletos dos animais formam um quadro dantesco que enluta e entristece até os corações mais enegrecidos. Aquele antes imenso rebanho bovino definha e diminui assustadoramente em nossa região.

O que será do homem nascido e criado na caatinga, acostumado e adestrado nos eitos dos roçados; na lida do gibão e da perneira; na labuta campeira; e de uma hora para outra, dominado pela intempérie do tempo. Ainda a indiferença e impiedade das autoridades, se vê obrigado a deixar o campo e passar a residir nas cidades vizinhas, criando dessa maneira, o ambiente propício para que seus filhos se afundem no abismo da prostituição e do vício da droga.

Em nome desse povo tão sofrido eu vos peço chuva. Só assim, através de vossa intercessão, uma calamidade dessa dimensão não atingirá o vosso povo, o povo sertanejo.

Desculpe-me meu Mestre e Senhor pela ousadia desta carta. Perdoe-me, mas insisto, mandai-nos chuva e que ela chegue com brevidade.

Termino essa missiva lhe pedindo perdão pelos meus pecados e que vós protejas o flagelado do sertão.

FLAGELADO
Autor: Alcino Alves Costa
Interpretes: Babá e Júlio


Ai meu Deus que amargura
Eu tenho no coração
Por ver tanto sofrimento
Dos filhos do sertão
Ai meu Deus que triste sina
Do homem do sertão
Tão humilde, tão bondoso,
Sofrer tanta judiação.

Vai, vai, vai flagelado
Vai ganhar seu pão...

São chamados flagelados
Só porque estão sem pão
Vive triste o sertanejo
Com tamanha humilhação
Andam em bandos reunidos
Todos tristes e amolados
Com um saquinho nas costas
Já sem fé, desenganados.

Vai, vai, vai flagelado...     

Sofre, sofre flagelado
Sofre homem de verdade
Mostre ao mundo seu valor
Seu trabalho e humildade
Peço a todos brasileiros
Que proteja o flagelado
Dê comida aos seus filhos
Que já estão desamparados

Vai, vai, vai flagelado...

Não queremos passar fome
Nós queremos trabalhar
Luta, luta, governante
Pra o flagelo acabar
Termino fazendo preces
A Virgem da Conceição
Que proteja o flagelado
Dando chuva no sertão.

Vai, vai, vai flagelado...

Música gravada pela dupla Babá e Júlio


Publicado nos dias 29 e 30 de março de 2009, no JORNAL DA CIDADE, Aracaju – Sergipe.

Saudações,

Alcino Alves Costa

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço:
Alcino Alves Costa

Pediu o filho de Corisco

Por: Ivanildo Alves da Silveira
*Cortesia e comentários de Ivanildo Silveira
Uma das grandes polêmicas no estudo do cangaço, se tratou da "briga", para que fossem enterradas as cabeças dos cangaceiros, " Corisco ", " Lampião " e outros que se encontravam expostas ao público no museu, em Salvador, tendo como guardião, o professor Estácio de Lima..

O Dr. Silvio Bulhões ( vide foto, logo abaixo), filho de Corisco, foi um dos que lutaram nessa frente, tendo ido a jornais, e a imprensa de um modo geral, além de ter mantido diálogo com o governo e estudiosos, a fim de que a cabeça de seu famoso pai, tivesse um enterro digno.

Abaixo, trecho de uma reportagem da revista " O Cruzeiro " de 02 de janeiro de 1969, que tratava do assunto em tela.. Vejamos.

Economista, Dr. Silvio Bulhões, filho do cangaceiro Corisco.
Abaixo, a matéria de Tobias Granja, tendo destaque, também na mesma, a transcrição de dois bilhetes encaminhados pelo cangaceiro "Corisco", ao padre Bulhões ( pai de criação de Silvio), solicitando informações e uma foto do mesmo.
Abraço a todos
Ivanildo Alves Silveira
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e Cariri-Cangaço
Natal/RN

Extraído do blog: Lampião Aceso

Quem não leu, vai ler, e quem já leu, vai ler de novo -

Por: Renato Cassimiro

Caro Severo,
Você me pede uma opinião sobre o excelente depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.
Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abraão.
É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas. Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.
Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em http://www.juaonline.info/.
FILMOGRAFIA(I)...
Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.
FILMOGRAFIA(II)...
O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO (Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc. Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residencia trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela". (Jornal do Comércio, 02.12.1926)
FILMOGRAFIA(III)...
O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.
FILMOGRAFIA(IV)...
PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.
 FILMOGRAFIA(V)...
Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para tv. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:
1931, 13 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: " Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. Joazeiro, 13, de outubro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.(Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas: 1931, 14 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra: "Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. Saudações. Joazeiro, 14 de novembro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).
O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.
É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.
Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.
Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois. Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...
...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.
Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.
Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925. Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.

Renato Casimiro
Extraído do blog: Cariri Cangaço

A Briga de Quelé com o cangaceiro Meia Noite

Por: Rostand Medeiros
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O comerciante e almocreve Miguel Moura nutria uma boa relação com Clementino, a quem chamava de “primo”. Este comentou com seu filho que a razão de sua saída do bando de Lampião foi uma briga com o valente cangaceiro “Meia Noite”. Este era alagoano, do lugar Olho D’água, atual Olho D’água do Casado, próximo a cidade de Piranhas. Seu nome verdadeiro era Antônio Augusto Correia e pelo fato de possuir a pele negra, recebeu a famosa alcunha. Para o genitor de Antônio Ramos, o negro Meia Noite foi o mais valente de todos os homens que andaram com Lampião, do tipo de gente que “-Dava medo só de olhar”. 
Segundo Mello (op. cit.), a razão da briga entre Quelé e Meia Noite foram dois irmãos cangaceiros chamados José e Terto Barbosa. Este último havia assassinado no Ceará o irmão de um chefe cangaceiro, tendo se refugiado com seu mano na serra do Catolé, a cerca de 30 quilômetros da cidade pernambucana de Belmonte, próximo às fronteiras do Ceará e da Paraíba.
Em uma ocasião que os cangaceiros de Lampião e Quelé se encontravam na fazenda Abóbora, pertencente ao tradicional coiteiro Marçal Diniz, chegou uma mensagem de José e Terto para seus tios Neco e Chico Barbosa, igualmente cangaceiros do bando de Lampião. O que os dois sobrinhos solicitavam aos tios era uma maneira de salvarem a pele. Neco e Chico sabendo que o chefe cangaceiro cearense, conhecido como “Casa Velha”, cujo irmão foi morto por Terto, era amigo de Lampião, acharam por bem pedir a Clementino Quelé que recebesse os dois sobrinhos. O chefe dos Furtados se sobressaía cada vez mais no cangaço junto com seus irmãos e não pôs obstáculo à entrada dos dois rapazes no seu grupo.
Coronel Marçal Diniz
Quando Meia Noite soube da história se colocou totalmente contrário, pois foi amigo do homem morto por Terto Barbosa e disse que se ele viesse para o bando iria atirar nele. O resumo da ópera foi que após Quelé tomar conhecimento da alteração de Meia Noite se coloca ao lado de Terto. Corajosamente disfere uma saraivada de impropérios contra Lampião, Meia-Noite e os outros cangaceiros. Segundo Mello (op. cit), Clementino teria dito textualmente “-Que juntassem tudo que ele brigava do mesmo jeito”.
Antônio Ramos relata que depois da discursão, Quelé aparentemente não se satisfez com o posicionamento de Lampião e reclamou. No entendimento do chefe dos Furtados, Lampião “-Teria dado mais valor a um negro do que a ele”. Sentindo-se rebaixado no seu racismo tardio, Quelé abandonou a vida do cangaço e ficou marcado por Virgulino.

Continua...
Rostand Medeiros
FONTES: 

PAJEÚ TAMBÉM

De Lucivaldo Ferreira
Seja bem vindo

PAJEÚ TAMBÉM

Disse assim Louro, “O Rei dos Trocadilhos”:
no sertão, nem todo poeta rima.
Sei. Não faço nenhuma obra-prima,
só vãos versos sinceros e andarilhos,
sem prestígio e de motes estrapilhos,
sem nenhuma intenção de afrontar
a castiça poesia deste mar,
deste amar que é o rio dos cantadores.
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.

Só por que não imito os menestréis,
grandes mestres, poetas do sertão,
só por que não escrevo igual Cancão
Ninguém dá por meu verso um só réis,
nem aplausos, coroas, nem anéis,
mesmo assim sigo humilde a versejar.
Deixe, pois, o meu verso cru passar,
não o tenha com insulto ou desfavores.
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.

Sou da laia dos poetas libertos
indo na contramão deste pai rio.
Não o seu, mas o que me conduziu
à poesia sem regras em tons incertos.
Por que riem dos meus versos despertos?
Por que negam para mim um lugar
onde possa meu verso branquejar,
sendo o branco a mistura de mil cores?
Eu também sou do Pajeú das Flores,
também tenho as razões para cantar.

Sou poeta, mas não sei fazer repente
há quem diga que sequer faço poesia,
que minha métrica é quebrada, falha, fria,
que minha rima é pobre e incompetente,
que há em mim um sentimento que não sente,
falta arte, estudo, molho e pensar...
Inda assim faço meus versos, e apesar
de a mim teres por pequeno e sem valores
deixe eu ser do seu Pajeú das Flores,
dê-me, enfim, as razões para cantar.

Serra Talhada, 13/03/2012


O multiartista Lucivaldo Oliveira Ferreira nasceu em Salvador/BA no dia 05 de agosto de 1976 e aos dez anos mudou-se junto com a família para a cidade de Triunfo, no sertão pernambucano.
Aos treze anos iniciou seus estudos de música com o saudoso Maestro José Madureira, na centenária Banda Isaias Lima, onde veio ocupar mais tarde a função de diretor musical e em maio de 2003 tornou-se regente desta que é uma das Filarmônicas mais antigas do país.
Concluiu o Magistério em 1994 e em 1997 fundou o Grupo Ambrosino Martins e participou neste mesmo ano da criação do Grupo de Artes de Triunfo (GAT).
Dedicou oito anos de sua vida ensinando teatro, música e artes plásticas a crianças e adolescentes da entidade filantrópica Lar Santa Elisabeth em Triunfo/PE.
Foi no Lar Santa Elisabeth que Lucivaldo Ferreira criou o Teatro Contra Regras, grupo premiado nos dois festivais de teatro realizados no Cine Teatro Guarany. O Teatro Contra Regras ganhou no primeiro ano do festival os premio de melhor ator, para Antônio Souza, melhor texto, para Lucivaldo Ferreira e melhor espetáculo para a peça Vamos Dominar o Mundo!. No ano seguinte o Contra Regras ainda ganhou o prêmio de melhor direção para Lucivaldo Ferreira, além de indicações em todas as outras categorias.
Ainda na área cênica Lucivaldo criou o Grupo Teatro Aos Vivos que estreou no Cine Teatro Guarany com a peça
As Forças Caudinas de Machado de Assis.
Em 2004 Lucivaldo Ferreira deixou a banda Ambrosino Martins e criou os
Templários Acústicos.
De 2006 a 2009 foi responsável pelos arranjos e pela direção e produção musical do
Coral Vozes do Guarany, criado pelo diretor teatral Denis Gomes.
Poeta, lançou em 2000 seu primeiro livro intitulado Profecias Ilógicas Sobre Temas Aleatórios.
Atualmente esta a frente da banda
Templários Acústicos, Orquestra de Frevo Maestro Madureira, Orquestra Isaias Lima, além de levar às noites da região o melhor da MPB acompanhado pelo seu inseparável violão.
Em junho de 2008 Lucivaldo Ferreira cria o "BOOM!", com o intuito de divulgar a produção artistica e cultural de sua tão amada terra, Triunfo.

ELEANOR ROOSEVELT E PARNAMIRIM FIELD COMO A MAIOR BASE AÉREA DOS AMERICANOS NA II GUERRA MUNDIAL

Por: Rostand Medeiros
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Eleanor Roosevelt era a esposa do presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945).  Conhecida pela sua ação em ajudar os mais necessitados através da caridade, foi também autora e uma defensora incansável das causas sociais.
Em 1944 esta brilhante mulher esteve em Natal, visitando Parnamirim Field e autoridades locais.
Eleanor Roosevelt
Eleanor Roosevelt era a esposa do presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt (1882 – 1945).  Conhecida pela sua ação em ajudar os mais necessitados através da caridade, foi também autora e uma defensora incansável das causas sociais.
Em 1944 esta brilhante mulher esteve em Natal, visitando Parnamirim Field e autoridades locais.
Anna Eleanor Roosevelt nasceu em New York, em 11 de outubro de 1884. Sua família era financeiramente estável, mas perturbada. Seu pai era Elliott Roosevelt, o irmão mais novo do ex-presidente americano Theodore Roosevelt (1858-1919). Apesar de bonito e charmoso, Elliott sofria de depressão mental e alcoolismo. Já a mãe de Eleanor estava preocupada com a imagem da família na alta sociedade e transmitia extrema vergonha pela aparência física de Eleanor, que não foi considerada bonita.
Na época da escola
Embora o pai de Eleanor fosse considerado ausente, ela o considerava um pai maravilhoso e fascinante. Quando Eleanor era uma criança, seu pai entrou uma instituição para alcoólatras. Foi uma das muitas perdas iniciais para a jovem, cuja mãe morreu quando ela tinha apenas oito anos de idade. Após a morte de sua mãe, Eleanor e seus dois irmãos mais novos foram viver com sua avó materna, em Nova York. Pouco tempo depois o irmão mais velho morreu. Quando Eleanor ainda não havia completado 10 anos, ela soube que seu pai havia morrido. Sua avó abrigou-a de todo o contato exterior, exceto para os amigos da família.
Eleanor Roosevelt começou a descobrir um mundo além de sua família depois de frequentar uma escola para mulheres jovens na, Inglaterra, quando tinha 15 anos de idade. Para ela a sua escola lhe ensinou um sentido maior de responsabilidade com a sociedade. Eleanor começou a agir de acordo com este ensinamento depois de seu retorno a Nova York. Mergulhou no trabalho em pról dos mais carentes. Ao mesmo tempo, seu primo, alto e bonito, Franklin Delano Roosevelt, começou a cortejá-la. Eles se casaram em março de 1905. Eleanor tinha agora de lidar com uma avó controladora e com um marido que gostava de estar em público e que realmente não entendia a luta de Eleanor para superar sua timidez e insegurança.
Os Rosevelt. Uma relação bem longe da perfeição.
Entre 1906 e 1916, os Roosevelt tiveram seis filhos, um dos quais morreu quando criança. A família viveu em Hyde Park, Nova York, enquanto Franklin focava em suas ambições políticas para se tornar uma figura importante no Partido Democrata. Ele exerceu um mandato de Senador pelo estado de Nova York no senado americano, antes do presidente Woodrow Wilson  nomeá-lo como secretário assistente da Marinha em 1913. Embora Eleanor tenha realizado muitos trabalhos voluntários pela Cruz Vermelha durante a I Guerra Mundial (1914-18), ela permaneceu fora do olho público.
Um importante ponto de mudança na vida de Eleanor veio em 1921, quando Franklin contraiu poliomielite e sofreu de paralisia e perdeu a mobilidade das pernas. Eleanor fez tudo para o marido volta à atividade política. Dentro de poucos anos havia recuperado sua força e ambições políticas. Enquanto isso, Eleanor tinha-se tornado uma importante figura pública, trabalhando para um maior envolvimento ativo das mulheres em vários setores do governo. Ela começou a agir como se fosse as “pernas e ouvidos” do depois que Franklin tornou-se governador de Nova York em 1928, Ela se manteve muito ocupada inspecionando hospitais estaduais, casas e prisões.
No final de 1930 os tambores de guerra ecoavam e mostravam que os Estados Unidos seguia para a luta.
Eleanor Roosevelt falou vigorosamente em favor da política externa de seu marido.  Depois que os Estados Unidos entraram formalmente a Segunda Guerra Mundial em dezembro de 1941, ela fez várias viagens ao exterior para impulsionar os espíritos de soldados e de inspecionar as instalações da Cruz Vermelha.
Eleanor em diálogo com o Brigadeiro Eduardo Gomes e o Bispo de Natal, Dom Marcolino Dantas
Eleanor Roosevelt visitou o Brasil entre 14 e 17 de março de 1944, onde visitou Belém, Natal e Recife. Na capital potiguar ela visitou a Base de Parnamirim, esteve com autoridades locais. Esteve na sede do USO, o clube de recreio dos militares americanos, que ficava na praça Augusto Severo, por trás da antiga Rodoviária, no bairro da Ribeira. Ali ela foi reconhecida e ovacionada por muitos natalenses. Esteve também na Base Naval de Natal, onde elogiou as instalações.
Condecorando oficiais da US Navy em Parnamirim Field
Um fato interessante foi que para os jornalistas a Sra. Eleanor Roosevelt afirmou (e assim foi reproduzido) que a base aérea de Parnamirim era “A mais bem equipada do Mundo”. Mesmo reproduzindo o que ela disse, os jornalistas locais claramente se empolgaram e lascaram em letras destacadas “A maior base do Mundo”. E parece que a coisa pegou.
Eu entendi que aparentemente na época ninguém leu o conteúdo e ficaram nas letras destacadas.
Muita gente fala até hoje sobre isso, mas eu pessoalmente nunca vi nenhum documento de lá, informando, ou corroborando a informação que Parnamirim Field foi a maior base aérea norte-americana em atividade na Segunda Guerra.

Maior base?
A escritora Clarice Lispector, em uma carta endereçada a Elisa Lispector e a Tania Kaufman, em Belém, no dia 18 de março de 1944, fez os seguintes comentários sobre Eleanor Roosevelt, que está reproduzida no  livro “Clarice Fotobiografia”,  de autoria Nádia Battella GOTLIB e publicado pela Editora da USP.
“… A senhora Eleanor Roosevelt passou por aqui. Fomos convidados para recebê-la no aeroporto e para ir à recepção dada a ela. Fui com meu vestido preto. Ela é simpaticíssima, muito simples, vestida com muita modéstia, bem mais bonita pessoalmente do que nas fotografias e no cinema. No dia seguinte, ela deu entrevista coletiva à imprensa, eu fui, mandei noticiário telefônico para A NOITE, mesmo estando de licença porque não queria perder a chance”.
Depois de Franklin Roosevelt morreu no cargo em abril de 1945, esperavam que Eleanor se retirasse para uma vida privada e tranquila. No entanto, até o final do ano, ela estava de volta em público. O novo presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman a indicou co0mo representante americano para a Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos. Ela permaneceu no cargo até 1952. Mais tarde, ela continuou a trabalhar para a compreensão e cooperação internacional, atuando como um representante da Associação Americana para as Nações Unidas.

Durante a última década de sua vida Eleanor Roosevelt viajou para vários países estrangeiros, incluindo a temida União Soviética. Ela completou sua Autobiografia em 1961.
Ela morreu em Nova York, em 06 de novembro de 1962.
Apesar de sua infância tímida e solitária, Eleanor Roosevelt tornou-se uma das mulheres mais importantes do século XX e sua ação inspirou milhares de mulheres.

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Extraído do blog: "Tok de História", do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros

HOJE É O MEU ANIVERSÁRIO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

HOJE É O MEU ANIVERSÁRIO

Hoje, 16 de março, é dia do meu aniversário. Foi nessa data que nasci lá no sertão sergipano do São Francisco, em Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo. Isso lá pelos idos de...
Dizem que completo 49 anos. Isso é lá o que dizem, pois tenho certeza que hoje comemoro a chegada dos 21 anos. Dizem também que nasci em 1963, mas tudo fruto de um povo que fica dando idade aos outros e esquece a sua. Se fosse como eu, que jamais me preocupei com a vida dos outros, jamais passaria dos 21 anos.
Pois bem, mesmo tendo nascido em 1963, hoje completo 21 anos. E já há algum tempo que completo essa mesma idade todos os anos. E tão cedo não passarei dessa fase, e simplesmente porque o meu estado de espírito insiste em não acompanhar os cabelos brancos que vão surgindo nem outras marcas do tempo.
Não tenho histórico dizendo se sou bom aluno na vida ou não. Os conceitos são variáveis como as próprias circunstâncias cotidianas. Às vezes me vejo com excelência na solidão, outras vezes péssimo quando todos me encontram sorrindo. Também não tenho biografia dizendo sobre o que não sou, ainda não fui nem serei. E nem precisaria, pois enquanto vivo o indivíduo tende a apagar toda a sua história com um simples gesto ou ato.
Do mesmo modo, não tenho o nome fincado na imensa pedra – porém rochedo de rigidez aparente - dos importantes, dos socialmente reconhecidos nem das elites forjadas no poder. Sou apenas o homem simples que sempre procurei ver estampada na minha tez morena, o sertanejo que nunca fugiu nem omitiu suas raízes áridas e esturricadas, o eterno construtor de manhãs e dias melhores, o caminhante que precisa chegar.
Contudo, e eis a maior sinceridade em afirmar, não há ninguém sobre a face da terra que seja de felicidade mais completa. Vindo do interior, na capital sergipana passei de um banco escolar a outro e de repente já estava estudando História, Jornalismo e Direito. E estudei muito mais, tenho doutorado em muito mais, pois não há formação maior do que aquela conquistada conhecendo a terra, o homem, as relações sociais nela existentes, adentrando no mundo da pobreza e da miséria como se dele fizesse parte.
Repito que o meu trunfo maior não é nem nunca será minha formação acadêmica, mas sim o conhecimento que vou incessantemente adquirindo com a preocupação e estudo das coisas simples envolvendo meus conterrâneos, conhecendo toda a poesia da natureza sertaneja, a importância da lição de cada um na formação de um amplo conhecimento. Conhecendo o meu povo, vivendo o meu irmão sertanejo, também me conheço e passo a cada vez mais sentir que a honradez na simplicidade é a maior virtude na vida de um indivíduo.
Mas hoje também sou advogado militante e fui membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SE. Mas não sou apenas advogado, mas principalmente amigo dos meus clientes, mantendo os vínculos necessários para compreender os aspectos psicológicos e motivacionais de cada um. Sinto demasiada frieza em defender ou postular direitos apenas pela aparência.
E essa minha arte jurídica vem acompanhada de outras artes. Principalmente na arte do desenho e da pintura, na poesia, na crônica, no conto, no romance. Ilha das Flores, Desconhecidos, Evangelho Segundo a Solidão Tempestade, A Solidão e a Árvore e Outros Contos, Todo Inverso, Três Contos de Avoar, Já Outono, Poesia Artesã, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel, Crônicas de Sol Chovendo, Sertão – Poesia e Prosa, Crônicas Sertanejas, Andante e Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, são todos livros de minha autoria já publicados.
E na minha gaveta ainda estão não menos de que quatro novos livros. Brevemente serão publicados. Mas enquanto isso vou fazendo os meus pequenos rituais, mantendo minha rotina espiritual: Conversando com Deus no céu do meu oratório, esperando sempre a chuva cair, acendendo meu incenso de lavanda e jasmim, ouvindo Barcarolle, de Offenbach.
E lendo minha Bíblia. Principalmente seguindo as lições de minha Bíblia.

Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com