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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

"ARVOREDO", O CANGACEIRO. ALGUNS SUBSÍDIOS PARA SUA HISTÓRIA.

 Do acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio


Cangaceiro Arvoredo, que a população local e os demais cangaceiros chamavam "Alvoredo", tinha por nome Hortêncio Gomes da Costa. Também ficou conhecido, por assim se identificar, como Hortêncio Gomes da Silva, Hortêncio Gomes de Lima, José Lima e José Lima de Sá.
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Depoimento de "Arvoredo", quando preso. 1927, copiado em extrato em inquérito policial de 1929:
José Lima, (que é o mesmo Hortencio Gomes de Lima ou José Lima de Sá, vulgo “Arvoredo”) estava;em Juazeiro, onde foi preso a pedido da autoridade policial de Jaguarary, alli;chegou a 5 sendo ouvido em auto de perguntas. Declarou “ser filho de Faustino Gomes, vulgo “Banzé” e Maria de Jesus, natural de “Salgado do Melão”; que dalli partiu;com destino a São Paulo, encontrando–se em Varzea da Ema com João de Souza,;(Cicero Vieira Noia) seu conhecido e João Baptista (que é o mesmo Christino ou “Curisco”); que em caminho se encontraram com Manuel Francellino, vindo em sua;companhia para Jaguarary, pernoitado em casa delle os tres; que moraram cerca de oito dias em casa de Antonio Piahy, até que alugaram uma casa a Demosthenes Barboza, por intermedio de João Baptista, seguindo na terça feira, 30 de Agosto para Juazeiro, a negocios, sendo alli preso na sexta feira ultima, dois do corrente; que antes de chegar á “Santa Rosa” com seus companheiros de viagem, o de nome João Baptista propoz para todos mudar de nome, ficando o depoente com o de Jose Lima, lembrando–se tambem que depois de se acharem nesta Villa, com João Baptista e João de Souza ou Cicero, foram á cidade de Bomfim, alli se hospedando na pensão de Piroca, por indicação do cel. Alfredo Barboza; que pretende não se juntar mais com João Baptista e João de Souza, caso se encontre ainda com os mesmos, pretende se retirar desta Villa depois de pagar o que deve ao senhor coronel Alfredo Barbosa”. (fls.208–210).
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De depoimento da mãe de "Arvoredo", colhido em inquérito policial, em 1929:
"Maria de Jesus e tambem da Conceição, mulher de Faustino Gomes da Costa (“Banzé”) ou “Pae Velho”, do grupo de “Lampeão) foi ouvida nesta mesma data e affirmou que ha tres mezes reside em “Olhos d’Agua”; que o apellido de “Arvoredo” foi posto em Hortencio por seus irmãos, quando era pequeno; que tem cinco filhos – Hortencio, Ambrosio, Raphael, Sylvestre e Manoel, vulgo “pé de meia”, os quais têm sobrenome de Gomes da Costa que Hortencio tem, alem deste nome, o de José Lima; que seu filho “Arvoredo” acompanha “Lampeão”, por ser amigo de infancia de Christino, conhecido por João Baptista da Silva, vulgo “Corisco”; que João Baptista é filho de Firmina, empregada na fabrica de linhas da Pedra, Estado de Alagoas e Manoel de tal, já fallecido, na Matinha de Agua Branca, com parentes residentes na fazenda “Sitio”, de Salgado do Melão."
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Como referência não tanto inédita, mas completamente esquecida no estudo do Cangaço, ressurge aqui informação de que Pae Velho, o cangaceiro que morreu junto com Mariano e Pavão (que na foto abaixo aparece equivocadamente denominado Zeppelin), era pai do também cangaceiro Arvoredo.


Outro ponto discutido é se "Arvoredo" e "Corisco" eram primos.
Estes trechos, tirados de inquérito policial com o depoimento de dois dos irmãos de "Arvoredo", confirmam este ponto:
"Declararam, então Raphael Gomes da Costa, filho de Faustino Gomes da Costa e Maria de Jesus que: “seu pae é criminoso em Santo Antonio da Gloria; que seu pae ha pouco chegou em Salgado do Melão devido á perseguição da força contra o mesmo; que no grupo denominado “Lampeão” tem os parentes Hortencio Gomes de Lima ou José Lima de Sá, vulgo “Arvoredo”, irmão do depoente, e Christino de tal, vulgo “Curisco”, ex soldado da policia de Sergipe, primo do depoente; que o grupo de “Lampeão” ha cerca de um mez fôra visto no “Serrote da Macambira”, de Santo Antonio da Gloria, com destino a Sergipe, de cujo grupo constavam entre outros, “Lampeão”, Curiscu, Arvoredo, o menino conhecido por “Volta Secca” e outros; que “Arvoredo”, seu irmão, já lhe escreveu por duas vezes e mandou recado convidando o respondente a fazer parte do bando “Lampeão” que tambem já mandou fazer esse convite. Perguntado que respostas deu a esse convite, respondeu que por hora ainda não decidiu nada.”
José Gomes da Costa fez quase identicas declarações, referindo tambem que recebera convite de “Arvoredo” e “Lampeão” para fazer parte do seu bando, não tendo ainda resolvido nada a respeito."
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Arvoredo morreu em 26 de maio de 1934, na serra, próximo à estação ferroviária da Barrinha, por então conhecida como Angicos.
Os dois matadores foram Cícero José Ferreira, o Xisto, que nasceu em 1911, e João Biana da Silva, que nasceu em 1913.
Uma imagem cuja dificuldade para conseguir foi grande, mas, graças ao senhor Raimundo, de Jaguarari, ex-cunhado de João Biano, e a gentileza imensa da filha e do filho deste valente matador de Arvoredo, aqui a única foto existente... de João Biano:


Muito chamado por "João Biana" é uma alteração posterior ao evento da morte de Arvoredo.
O nome correto é João Biano da Silva.
No texto de Oleone Fontes, em seu livro "Lampião na Bahia", aparecem os matadores citados como Xisto e João Martins da Silva... Este erro apenas reproduz o cometido pelo coronel Alfredo Barbosa, de Jaguarary, que, à época do evento, relatou-o, errando no nome de João.
João Biano está enterrado na Fazenda Saco, em Jaguarari.
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Partícipe, com o amigo João Biano, na morte do cangaceiro Arvoredo, esta é a única foto restante de Cícero Ferreira, o Xisto.
A dificuldade para se conseguir esta foto foi imensa, mas, finalmente, graças ao sobrinho de Xisto, Messias, e à filha adotiva daquele, a "Neguinha", consegui esta imagem.
Xisto está sepultado na Fazenda Mulungu, em Jaguarari.
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Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari:
Sepultura do cangaceiro Arvoredo, em Jaguarari - detalhe - AC = Arvoredo Cangaceiro:
http://cangaconabahia.blogspot.com/2012/11/arvoredo-o-cangaceiro-alguns-subsidios_26.html

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1921 – OS PRIMÓRDIOS DA SAGA DE LAMPIÃO

 

O cangaceiro Lampião nos primeiros momentos de sua vida no Cangaço.

AINDA VIVE O HOME M QUE EM 1921 SEPULTOU O PAI DE LAMPIÃO

Diário de Pernambuco , 29 de março de 1973, Terceiro Caderno, Página 3.

Pesquisa – Tadeu Rocha / Fotos José Valdério

Diário de Pernambuco, 29 de março de 1973, Terceiro Caderno, Página 3.

Num velho casarão alpendrado de uma fazenda sertaneja, em plena caatinga pernambucana do Município de Itaíba reside o ancião Maurício Vieira de Barros, que em maio de 1921 sepultou o pai de Lampião, morto por uma força volante da Policia alagoana. Nos seus bem vividos e muito sofridos 86 anos de idade, ele viu e também fez muita coisa, por esse Nordeste das caatingas e das secas, dos beatos e dos cangaceiros, dos soldados de verdade e dos coronéis da extinta Guarda Nacional.

O Sr. Maurício Vieira de Barros nasceu em 2 de abril de 1886, Na casa dos seus 30 anos, foi Subcomissário de Polícia no Estado de Alagoas e, na dos 40, chegou ao posto de Sargento na Polícia Militar de Pernambuco. Depois, respondeu a dois júris por excesso de autoridade e, desde 1955, está vivendo uma velhice descansada no Sítio dos Meios, em companhia de sua filha Dona Jocelina Cavalcanti de Barros Freire.

Se não fossem as ouças, que já estão fracas, o velho Maurício não aparentaria os seus quase 87 anos, pois ainda caminha com passo firme e guarda boa lembrança dos fatos de sua mocidade e maturidade. Ele é, agora, a derradeira testemunha viva do início de uma tragédia sertaneja: a transformação do cangaceiro manso Virgulino Ferreira em bandido profissional que convulsionaria os sertões nordestinos durante 17 anos.

Casa do Sítio do Meio em 1973.

UM ATOR NO PROSCÊNIO

A primeira indicação do Sr. Maurício Vieira de Barros como a autoridade policial que sepultou o pai de Lampião nos foi dada, há mais de 20 anos, pelo Major Optato Gueiros, no segundo capítulo do seu livro sobre Virgulino Ferreira. O autor das “Memórias de um oficial ex-comandante de forças volantes” ouviu o relato da morte de José Ferreira da boca do próprio Virgulino, nos começos da década de 1920, quando Lampião ainda era um simples cabra de Sinhô Pereira. Optato Gueiros também informa que, anos mais tarde, Lampião poupou a vida de Maurício, no povoado de Mariana, em gratidão pelo sepultamento de seu pai.

Maurício Vieira de Barros sendo entrevistado pelo professor e escritor Tadeu Rocha e acompanhado de Bruno Rocha.

Nos meados de dezembro do ano passado, após concluirmos que não foi feito, absolutamente, o registro dos óbitos de Sinhô Fragoso e do pai de Lampião (mortos na primeira “diligência” da volante do Tenente Lucena), julgamos necessário ouvir o Sr. Maurício Vieira de Barros, que nos constou ainda estar vivo e residir para os lados das cidades de Águas Belas ou Buíque. Somente o antigo policial que sepultou os dois cadáveres poderia revelar-nos a data precisa da morte de José Ferreira.

NO RASTO DA TESTEMUNHA

Após consultarmos inúmeras pessoas sobre o paradeiro do ancião Maurício de Barros, afinal soubemos do Sr. Audálio Tenório de Albuquerque que esse seu compadre estava morando na fazenda Sítio dos Meios, no Município de Itaíba. Rumando para Águas Belas, entramos em contato com os nossos parentes do clã dos Cardosos, entre os quais fomos encontrar o jovem veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, neto do velho Maurício, por parte de pai.

Notícia do ataque dos cangaceiro ao lugar Pariconha em 1921, hoje município alagoano distante 354 km de Maceió.

Na tarde quente do dia 17 de janeiro, em companhia do veterinário Ricardo Gueiros Cavalcanti, do fotógrafo José Valdério e do jovem estudante Bruno Rocha, deixamos a cidade de Águas Belas pela rodovia PE—300, na direção de Itaíba. Após cruzarmos o rio Ipanema e o riacho Craíbas. Pegamos uma estrada vicinal, por onde atingimos, dificilmente, o Sítio dos Meios, a uns 2.5 km de Águas Belas, a outros tantos de Itaíba e a 9 da cidade alagoana de Ouro Branco.

Fomos encontrar o velho Maurício no alpendre do casarão da fazenda de sua filha, jovialmente vestido de blusão de mangas compridas c calçado com sandálias havaianas. A presença do seu neto Ricardo e a delicadeza de sua filha Dona Jocelina permitiram-nos conversar longamente com o Sr. Maurício Vieira de Barros. O fotógrafo Jose Valdério documentou a nossa visita e o estudante Bruno Rocha gravou a nossa conversa.

Lampião nos primeiros anos.

SUBCOMISSÁRIO SEPULTA DOIS MORTOS

O Sr. Maurício Vieira de Barros  já exercia o cargo de Subcomissário de Polícia da cidade de Mata Grande, em maio de 1921, quando o Bacharel Augusto Galvão, Secretário do Interior e Justiça de Alagoas na segunda administração do Governador Fernandes Lima, enviou ao sertão uma força volante da Polícia, sob o comando do 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, a fim de dar combate ao banditismo. Antes que essa força chegasse ao sertão, os cangaceiros saquearam o povoado de Pariconha, na tarde de 9 de maio. Logo que a volante do Tenente Lucena atingiu seu destino, cuidou de prender os participantes desse saque, entre os quais estavam os irmãos Fragoso e os irmãos Ferreira, residentes no lugar Engenho Velho. A volante cercou a casa dos Fragoso e do tiroteio resultou a morte de José Ferreira e Sinhô Fragoso, ficando baleado Zeca Fragoso e saindo ileso Luís Fragoso.

Avisado em Mata Grande das mortes ocorridas no Engenho Velho, o Subcomissário Maurício de Barros dirigiu-se a esse lugar e fez transportar, em redes, os dois cadáveres para a povoação de Santa Cruz do Deserto, em cujo o cemitério os sepultou. O fato de José Ferreira e Sinhô Fragoso terem sidos deixados mortos por uma “diligência” da Polícia Militar de Alagoas levou o Subcomissário de Mata Grande a enterrá-los no cemitério mais próximo.

DATA DA MORTE DO PAI DE LAMPIÃO

Na breve história de 17 anos, qual foi a do cangaceiro Virgulino Ferreira (que se fez bandido profissional em 1921 e foi eliminado em 1938), existem erros de datas de mais de um ano, como no caso da morte de seu pai pela volante do Tenente Lucena. Tem-se escrito que esse fato aconteceu em abril de 1920, o que não corresponde, em absoluto, à verdade histórica.

Ao que apuramos no Arquivo Público e Instituto Histórico de Alagoas, 2º Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão foi nomeado Comissário de Polícia da cidade alagoana de Viçosa em 10 de abril de 1920, assumiu o exercício do cargo logo no dia 15 e permaneceu nessa comissão até princípios de maio do ano seguinte. Ele ainda assinou ofício na qualidade de Comissário de Viçosa em 28 de abril de 1921. No dia 4 de maio esteve no Palácio do Governo, em Maceió. E no dia 10 desse mês, deixava Palmeira dos índios “com destino ao sertão”, estando “acompanhado de um contingente de 24 praças”, conforme registrou o seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.

Nota sobre a volante do Tenente Lucena no seminário palmeirense O Índio, de 15 de maio, em seu número 16, página 3.

Viajando a pé, a volante do Tenente Lucena só alcançou o sertão ocidental de Alagoas uma semana mais tarde. Por isso mesmo, sua “diligência” no Engenho Velho somente pode ter ocorrido nos começos da segunda quinzena de maio de 1921. O Sr. Mauricio de Barros não se recorda mais da data do sepultamento dos mortos pela “diligência” no Engenho Velho. Lembra-se, porém, que foi numa quinta-feira. Ora, a primeira quinta-feira da segunda quinzena de maio de 1921 caiu no dia 19, o que permitiu ao Correio da Tarde, de Maceió, publicar no fim desse mês uma carta de Mata Grande, sobre os acontecimentos do Engenho Velho. A esse tempo, os estafetas do Correi levavam, a cavalo, três dias entre as cidades de Mata Grande e Quebrangulo, de onde as malas postais seguiam de trem para Maceió.  

Detalhe da carta enviada de Mata Grande e publicada no final do mês de maio de 1921 pelo jornal Correio da Tarde, de Maceió, sobre os acontecimentos do Engenho Velho.   

EPISÓDIO MUITO CONTROVERTIDO

Sempre foram muito controvertidas as circunstancias da morte do pai de Lampião. Na primeira entrevista que concedeu a um jornal (o recifense Diário da Noite, de 3 de agosto de 1953), o Sr. João Ferreira, irmão de Virgulino, declarou o seguinte sobre a morte de seu pai: “Findo o tiroteio, seguido pelo abandono do local pela tropa, eu o fui encontrar sem vida, caído sobre um cesto, tendo às mãos uma espiga de milho, que estava debulhando, ao morrer”.

Por seu turno, parentes e amigos do Cel. José Lucena de Albuquerque Maranhão costumam dizer que o velho José Ferreira resistiu à Polícia, atirando de dentro da casa dos Fragoso. Parece-nos que há engano em ambas as versões, pois o Sr. Maurício Vieira de Barros nos disse que encontrou o cadáver do pai de Lampião no terreiro da casa dos Fragosos.

O Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, comandante da desastrada volante que matou o pai de Lampião.

Este depoimento se harmoniza com o informe que nos deu o Sargento reformado Euclides Calu, residente em Mata Grande, e a história que contava o velho Manoel Paulo dos Santos, Inspetor de Quarteirão no Engenho Velho, ao tempo da morte do pai de Lampião. História que nos foi transmitida por seu filho Gabriel Paulo dos Santos e pelo magistrado alagoano Dr. Dumouriez Monteiro Amaral.

O informe do velho Calu e a história contada pelo velho Manoel Paulo referem que José Ferreira foi morto durante o tiroteio do Engenho Velho, quando ia tirar leite em um curral. De fato, o cerco da casa da casa dos Fragosos foi feito ao amanhecer do dia 19 de maio de 1921. E o tiroteio que se seguiu e vitimou José Ferreira ocorreu “antes do café da manhã de um dia muito chuvoso”, como declarou, textualmente, João Ferreira, na citada entrevista a um jornal recifense. E não há dúvida que o Inspetor de Quarteirão Manoel Paulo dos Santos foi a testemunha mais isenta de paixões no episódio da morte do pai de Lampião.

https://tokdehistoria.com.br/2020/02/15/1921-os-primordios-da-saga-de-lampiao/

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ANTES DE SER "CAPITÃO"

 Do acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.

Virgulino Ferreira da Silva,"Lampeão", em 1925...

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TUDO AINDA ESTÁ ALI...

 Por Rangel Alves da Costa

Logo atrás, após as paredes carcomidas da velha casa em Curralinho, palavras eram ouvidas como se a família ainda estivesse bordando e alinhavando o seu viver. “Olhe o cuscuz. Vá cortar um pedaço de toucinho no cordame do quintal. Mande Toinha comprar três contos de bolachão na venda de Chico Bilato ou Seu Neguinho”. Passado, pensei. Isso não existe, repeti. Mas mesmo no passado havia presença. Eu via, eu sentia. O São Francisco, nosso querido Velho Chico, majestoso, cheio de vida, fazendo o seu percurso mais abaixo. Ouvi um roncar de fole e sons de bolas de bilhar batendo pelas tabelas. Coisas dos irmãos Ciano e Valter, não seriam outras pessoas. Crianças dava batim quando voando do beiral das águas. Ao longe, avistei João de Virgílio ajeitando um saco nas costas para transportar até a cidade de Poço Redondo. Coitado de João, até de burro de carga era chamado. Mas nunca vi nada igual. Todos os dias, e mais de uma vez ao dia, ele levava nas costas desde sacos a outros mantimentos pesados, e retornava também com peso sobre a cabeça e os ombros. Até caixão de defunto ele transportava. João foi seguindo a estrada e eu mirei os horizontes ribeirinhos, os montes, as serras, o Pontaleão, as casinhas solitárias do outro lado do rio. Canoas chegavam com seus pescados. As tarrafas sendo jogadas e os alimentos recolhidos. Tempos diferentes de agora. O sino tocou e fiquei em dúvida em qual igreja, se na Capela de Nossa Senhora da Conceição ou na Igreja de Santo Antônio. Não importa. Importa o que veio a seguir. A fé e a religiosidade do ribeirinho de Curralinho caminhando com seus xales, seus rosários de contas, seus cadernos de orações, suas preces e suas promessas para salvação. Depois me dei conta que estava noutro tempo, que tudo aquilo era miragem, era ilusão. Mas não. O tempo passou, mas tudo ainda está ali.

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MINHA BARRINHA!

 Por José Mendes Pereira



Os três patetas, da esquerda para a direita: Nilton Mendes, Eu e Antonio Mendes Sobrinho.

Casa do meu pai Pedro Nél Pereira na sua pequena propriedade denominada sítio São Francisco. 

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O OURIVES

Por Clerisvaldo B. Chagas, 5/6 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.636

Já dissemos que a Rua Antônio Tavares foi a primeira de Santana do Ipanema, após o quadro comercial. Apelidamos a via de Rua dos Artesãos, pois havia inúmeros deles. Artesãos que trabalhavam fazendo candeeiros, bicas (calha), sapatos, selas, sofás, colchões, malas, capotas... E assim, sucessivamente. Certa feita chegou à rua um preto alto e caladão e se estabeleceu na parte baixa, primeiro trecho da rua de quem vem do comércio. Logo ficamos sabendo seu negócio: trabalhava com ouro. O ourives logo demonstrou que entendia profundamente da arte, conquistando bela freguesia. Era um mestre! Fabricava várias peças de ouro, mas era muito procurado para confecções de alianças, cada uma mais perfeita do que a outra. Naturalmente ensinava o ofício aos filhos e um deles acompanhou fielmente a arte do pai: O cidadão Maurílio.

Um dos filhos do ourives dedicou-se ao futebol. Era muito bom de bola e chegou a jogar no Ipiranga. Parece que não tinha muita afinidade com a arte do pai. Minhas alianças de casamento saíram daquelas mãos bem treinadas. No desenrolar da vida, a família mudou-se de Santana.  Há bem pouco tempo parei de súbito em Maceió, na Rua Senador Mendonça ao reconhecer o artesão da minha juventude, Maurílio Ourives. Era ele sim: Preto comprido e fino, do mesmo jeito do passado.  Não ousei me apresentar e puxar conversa. Conversa para quê? O homem era sisudo igual ao genitor, poderia não querer saber de conversa. Uma placa indicava onde era o seu atelier. Maceió foi quem ganhou incorporando ao seu cotidiano, um artesão de altíssima qualidade.

É isso que os alunos gostam e aprendem no extraclasse. Visitar uma indústria grande ou simplesmente uma fabriqueta. Entrevistar um artesão demostrando sua arte, um museu, uma organização social... No caso do ourives que poderia ser um, quanto interesse despertaria no jovem com o encanto do trabalho! Poderia até depois querer seguir a mesma carreira do artesão ou entrar no ramo das joias ou no comércio das pedras preciosas. Isso foi o que conversamos ontem com amigos em visita. Uma avaliação da prática no ensino antigo e monótono de apenas entre quatro paredes. Pois o exemplo de hoje vai para o amigo Maurílio: brincos, anéis, alianças... A vida é uma joia animada.

Viva a vida!

Assim seja.

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23 DE AGOSTO DE 1927, NO “O IMPARCIAL”

Do acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

O RASTRO DE LAMPEÃO
Um depoimento vivo e palpitante do guia do terrível faccinora
As ameaças do bandido
FORTALEZA, 2 (Impacial) – Pelo Correio – A passagem de Lampeão pelo territorio cearense constitue algo de interessante e, ao mesmo tempo, impressionante. A respeito, publicou o jornal “O Ceará” uma carta do sr. José Gonçalves da Silva, que serviu de guia do terrivel faccinora, e que encarra algumas novidades. Damos a seguir o depoimento vivo e palpitante:
“Lampeão chegou á minha casa por volta das duas horas da tarde, muito vexado, para continuar a viagem dizendo que ia descansar em Pernambuco, pois desde que saiu de Parahyba, pois desde que saiu de Mossoró, em virtude de não conhecer o terreno, não havia descansado.
Disse que nunca viu força tão atrevida.
Ia muito sujo e tinha companheiros que havia um mez que não mudavam a roupa, a qual era de kaki novo, mas toda rasgada de pontas de páos.
Sobre o fogo do logar “Felicidade”, disse:
“Brigamos um bucadim, quatro horas mais ou menos, vendo a hora de me vê pegado.
Mas felizmente tinha um lado tomado pela força da Parahyba, que tomado pela força de Pernambuco, que muito bem conheço a dispuzição della.
“Arroxei séro e fugi facilmente, todo caipóra argum dus mininos
Sobre o combate de Missão Velha, disse:
“Neste fogo num dei um só tiro.
“Izaia fez a boa com nós.
“Mandou nós pra uma manga aonde demoramos oito dia, e no fim deste tempo elle mandou deixá a cumida como de custume. Mas, desta feita, uma mosca assentou na nossa ureia e os mininos arretiraram uns buracos e disseram! Os cumida travoza dus diabos!
“Eu mandei que elles deixassem a cumida, que a cuspissem e dei a cada uma uma canéca de garapa de rapadura, elles nada tiveram.
“Eu tinha cumbinado cum Izaia prá quando eu uvisse um tiro ir recebê a munição qui elle mi premetera.
“Dei o tiro e ante de ir mandei um dos mininos assubi num pau e vê o que havia.
“O rapaz assubiu e adispois mi disse: Seu capitão tão é tocando fogo é noc ercado.
“Mandei, então, que todos se apreparasse prá sahi, ainda tinha um lado du cercado ainda verde mas era um cipual medanho qui nos deu trabaião pá rompê.
“Antão me puz de parte e elles começaro a atirá e a gritá:
“Viva meu padim Cirço.
“Ah diabos! Antão, meu padim nus havia de mandá nos atacá, quando eu não faço nada cum o Ceará?!
“Izaia não soube nem envenená a cumida, purque botou veneno de mais que deu prá nós conhecê.
“Mais este Izaia me paga, inté as pédras se encontram.
“Nós vae aqui cuma uns mizeraves, mas um dia eu dou um conhecimento nesta gente.
Perguntado porque não deixava a vida de bandoleiro, respondeu:
“Quá! Não é pussive, não. Sou muito conhecido em toda a parte e não tenho aonde me escondê.
“Voiu vivendo assum inté quando Deus fôr servido.
Quando “Lampeão” com seu grupo passou para o territorio pernmbucano disse:
“Mininos, agóra, podem vadiá qui isnamos pizando no qui é nosso”.
Começaram a cantar o “Côco” e a “Mulher rendeira”.
Havia no local muita pedra. Então, Lampeão disse o seguinte: “Si tudo isso fosse bala eu matava era soldado cuma avoante na bebida”.
Deu a entender que nada tinha feito no Ceará, mas por causa de Izaias se via obrigado a fazer, e era logo.
“Lampeão” trazia quatro rifles e dois fuzis de sobrecellencia.
Alguém, por ultimo, lhe dissera:
Realmente, capitão, o senhor tem comido é fogo!
Ao que elle respondeu:”Eu nunca mi vi tão apertado cuma agora no Ceará”

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RESOLUÇÃO ASCRIM 001/2022 – RECESSO ACADÊMICO ASCRIM /2021, DE 03.01.2022 –


I - NA QUALIDADE DE PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASCRIM, ALBERGADO NOS PODERES QUE ME SÃO CONSTITUÍDOS,  

R E S O L V O: 

1. DECRETAR O RECESSO  ACADÊMICO ASCRIM ACADEM, NO PERÍODO DE 04.01.2022 A 03.02.2022, CONCERNENTE AS FÉRIAS DA ASSOCIAÇÃO DO ANO 2021.. 

2. NO PERÍODO DO RECESSO SUPRAMENCIONADO, TODAS ATIVIDADES DA ASCRIM ESTARÃO SUSPENSAS, EXCETO O EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA “REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA VIRTUAL DA DIRETORIA EXECUTIVA E DO CONSELHO FISCAL DA ASCRIM Nº 001/2021, DE 30.11.2021-REVAC N° 001/2021 E A PARTICIPAÇÃO EM PROGRAMAÇÕES CULTURAIS, JÁ COMUNICADAS OFICIAL E TEMPESTIVAMENTE ANTES DESTA PUBLICAÇÃO RESOLUTIVA, BEM COMO OS ASSUNTOS EXCLUSIVOS DE ALÇADAS EDITILIZADAS, ESPECÍFICAS INADIÁVEIS EM PROL DA ASCRIM. 

3. EM CARÁTER EXCEPCIONALÍSSIMO, PARA DESPACHAR COMPROMISSOS EXTERNOS E ADMINISTRAR OBRIGAÇÕES INTERNAS DA PRESIDÊNCIA, INICIADAS ANTES DO RECESSO SUPRAMENCIONADO, O PRESIDENTE DA ASCRIM MANTERÁ EXPEDIENTE COM PLANTÃO EXCLUSIVO PARA ESSA FINALIDADE, VISANDO CUMPRIR ESSE MISTER EM ASSUNTOS QUE BENEFICIEM O CORPO SOCIAL E O PATRIMÔNIO INSTITUCIONAL DA ASCRIM. 

4. OUTROSSIM, OS PRAZOS DA ASCRIM ESTARÃO SUSPENSOS NO PERÍODO DO RECESSO SUPRAMENCIONADO, DEVENDO REINICIAR A CONTAGEM NO 1º DIA ÚTIL SUBSEQUENTE AO TÉRMINO DESSE PERÍODO RECESSIVO. 

5. EXCEPCIONALMENTE, OS PRAZOS DE PAGAMENTOS DE ANUIDADES DA ASCRIM ESTÃO SUSPENSOS ATÉ O TÉRMINO DO RECESSO(supedâneo no item 1 do inciso I desta).  

II- TERMOS EM QUE EXPEDE, REGISTRE-SE E CUMPRA-SE A PRESENTE  RESOLUÇÃO ASCRIM 006/2022, REVOGANDO-SE AS DECISÕES EM CONTRÁRIO, PODENDO SER RETRANSMITIDO POR TODOS OS MEIOS DISPONÍVEIS AOS CONVOCADOS INTERESSADOS.  

MOSSORÓ(RN), 03 DE JANEIRO DE 2022 

BOAS FESTAS !  

SAUDAÇÕES ASCRIMIANAS 

BOAS FÉRIAS !  

PROSPERIDADE E ESPERANÇA EM 2022  

FELIZ RETORNO 2022 ! 

FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO 

- PRESIDENTE EXECUTIVO DA ASCRIM- 

 Enviado pela ASCRIM

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CHICO PEREIRA

 Do acervo do professor, escritor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio.

Ps... Foto de Chico Pereira colorida por Rubens Antonio.

Quem é o terrivel cangaceiro parahybano

PARAHYBA, dezembro ( Agencia Brasileira) – Tem sempre algo interessante o estudo da psychologia dos bandidos. Não nos propomos a fazel–o aqui, comtudo queremos hoje destacar a personalidade extranha do cangaceiro Chico Pereira, agora em fóco com o cerco que a policia parahybana lhe poz em Páo Ferrado, nas proximidades da cidade de Pombal, no alto sertão.

Chico Pereira é um admirador dos heroes do Far West americano. Usa chapéo de abas largas, pistola á cinta, pesadas cartucheiras, lenço vermelho ao pescoço, tudo de mistura com o muito nortista punhal e bordadas alpercatas.

Monta admiravelmente e gosta das situações difficeis, parecendo até haver escolhido a vida do cangaço pelo prazer dos arriscados desportos.

Pertence a conhecida familia sertaneja. E’ um typo insinuante e galanteador, possuindo mesmo alguma instrucção.

Ha tres annos passados, num assomo de desmedida bravura, assaltou em pleno dia a grande cidade de Souza, levando centenas de contos em dinheiro, joias e mercadorias.

Passaram–se os tempos e já ninguem se lembrava de Chico Pereira.

A semana passada, porém, o delegado de Pombal, tenente Manoel Benicio, teve denuncia de que o famoso campeador da caatinga estava homisiado bem perto da cidade, no lugar Páo Ferrado, acompanhado apenas por Manoel Mendes, seu companheiro de crimes. Era mais uma demonstração de sua doentia paixão pela lucta.

Commandados por aquelle official, nossos milicianos fizeram o cerco da casa onde elles se encontravam. Ambos dormiam. Despertados pela fuzilaria reagiram logo vigorosamente.

O cerco foi se apertando, pouco a pouco.

Depois... depois... os bandidos se eclypsaram...

O delegado explica o occorrido. Infelicidade. Da policia, está claro.

Dois soldados se encontravam proximo a uma das portas da casa assediada. Em dado momento um delles tombou fulminado com certeira bala no coração. O outro se manteve no arriscado posto por algum tempo. Seu fuzil (fuzil Mauser), dos mais modernos, “mentiu fogo” e, para não ter a mesma sorte de seu companheiro, o soldado recuou.

Chico Pereira e seu collega de aventuras aproveitaram a opportunidade.

Assim réza o communicado official...

Esse Chico Pereira parece que já trabalha em fita de série...

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