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terça-feira, 10 de maio de 2016

"PADRES E CANGACEIRO" MISTO DE GUERRA E PAZ


"A relação entre religiosidade e banditismo no Sertão nordestino é antiga. O sentimento religioso do sertanejo é especialmente voltado para o culto católico, este ainda remetendo ao catolicismo medieval, onde Deus estava ligado ao castigo, ao fim do mundo.

Predominou por muito tempo essa cultura religiosa nessas paragens, onde a religião ainda repleta de superstições, os milagres ajudavam a suportar as agruras.

A ligação entre cangaceiros e padres atingiu os dois extremos: amigos e conselheiros, mas também ferrenhos inimigos, chegando a travarem combates bélicos.

O cangaceiro Adolfo da Meia-Noite ainda no século XIX, após entendimentos prévios com o Padre Bernardo de Carvalho Andrade, sacerdote que ficou conhecido como bom samaritano dos flagelos da seca em virtude de sua atuação em favor dos flagelados da seca de 1877, uma das mais devastadoras que aconteceu no nordeste, conseguiu a realização de seu casamento. Após a realização da cerimônia o padre foi autorizado pelo cangaceiro a dizer o seu paradeiro, pois segundo o mesmo, estava pronto para morrer sem escolher ocasião.

Henry Koster no seu excelente trabalho Viagem ao Nordeste do Brasil cita o padre Pedro, que na década de 1800 mantinha em suas terras, a vinte léguas do Recife, grande número de cangaceiros a seu serviço.

O Padre Pedro foi chamado pelo representante de Dom João VI para prestar esclarecimento sobre os mesmos. Compareceu acompanhado de alguns cangaceiros armados até os dentes. Chegando ao Recife declarou que não tinha culpa de o sertão ser violento, não havia criado aquela situação, porém precisava de proteção, e a solução que encontrara para se resguardar dos inimigos veio por meio dos cangaceiros.

Antes mesmo da fama de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que ainda submetia-se ao comando de Sinhô Pereira, ficou conhecido no sertão o ataque ao padre Lacerda do Coité. José Furtado de Lacerda era inimigo do Major José Inácio do Barro, esse, por sua vez, amigo de Sinhô Pereira, primeiro e único chefe de Lampião.

Padre José Furtado de Lacerda

Aproveitando-se da amizade com o chefe de cangaceiros, o Major José Inácio arregimenta homens que junto aos cangaceiros do Pajeú atacaram o reduto do Padre Lacerda, seu grande inimigo. O combate durou cerca de uma hora e meia, sendo inclusive ferido no mesmo, Antônio Ferreira, irmão mais velho de Lampião. Este ataque desencadeou uma perseguição ferrenha ao Major José Inácio pelas autoridades cearenses, que culminou com sua retirada para o estado de Goiás.

O cangaceiro Lampião, por exemplo, manteve contatos com padres que ficaram marcados na sua biografia. O encontro com o padre Cícero em 1926 em Juazeiro e sua relação com o padre José Kherle em Serra Talhada, ambos dignos de nota.

Padre José Kherle

O primeiro encontro de Virgulino Ferreira com padres deu-se no seu batismo realizado pelo Cônego Joaquim Monteiro Tôrres, então vigário em Floresta de Navio. Seu relacionamento com o padre alemão José Kherle, deu-se em virtude dele ter sido vigário em Vila Bela, quando das estripulias praticadas por Lampião naquele território.

Prova da obediência que Lampião nutria pelo padre deu-se em junho de 1923 quando do casamento de sua prima Maria Licor Ferreira com Enoque Menezes. Lampião invadiu o povoado de Nazaré, distrito de Floresta do Navio/PE, acompanhado com cerca de quinze homens, dispostos a brigar com os nazarenos, seus ferrenhos inimigos.

Padre José Kherle

O padre José Kherle interveio pedindo a retirada de Lampião e seu bando do povoado para evitar brigas e até mortes, pois além da aguerrida população do povoado, estava para chegar uma força policial ao lugar. Lampião atendeu o pedido do padre amigo, porém antes exigiu levar a sanfona, pois se ele não iria dançar, ninguém também dançaria no povoado. Assim foi feito e por intermédio do padre José Kherle evitou-se uma tragédia no pequeno povoado pernambucano.

Lampião com o seu primeiro bando

O relacionamento de Padre e Cangaceiro mais comentado, sem dúvida é o de Virgulino Ferreira com o Padre Cícero Romão Batista, em Juazeiro no Estado do Ceará.

O cangaceiro, atendendo o chamado do Dr. Floro Bartolomeu da Costa, grande amigo do Padre Cícero, uma espécie de braço armado do líder juazeirense, adentra em Juazeiro em maio de 1926 com intuito de alistar-se no Batalhão Patriótico a fim de combater a Coluna Prestes. Por esses tempos a Coluna vinha adentrando no sertão nordestino.

Por motivos de saúde o médico baiano Floro Bartolomeu não se encontrava na cidade, sendo o cangaceiro e seu bando recebidos pelo Padre Cícero. O desenrolar dessa história culmina com a famosa patente de Capitão do Batalhão Patriótico outorgada ao famoso cangaceiro.

O grande respeito e admiração que Lampião nutria pelo Padre Cícero de Juazeiro advém também do amparo que o reverendo cearense dava a sua família refugiada no Juazeiro. Fatos facilmente comprovados pelas fotos tiradas na cidade em 1926, mesmo ano da visita dos cangaceiros.

Padre Cícero, também teve participação decisiva na retirada para Goiás dos cangaceiros de Sinhô Pereira (primeiro e único chefe de Lampião), neto do Barão do Pajeú e Luís Padre, primos e integrantes da família Pereira de Serra Talhada, na época em guerra com a família Carvalho.

Em setembro de 1926, Lampião adentra em Granito, estado de Pernambuco, acompanhado por mais de cem homens. A população amedrontada procura a casa paroquial em busca de refúgio.

Padre Joaquim de Alencar Peixoto

O padre do lugar reverendo Joaquim de Alencar Peixoto, destemido e polêmico, que inclusive havia tido desavenças políticas com o Padre Cícero Romão, procura o cangaceiro, mesmo antes que esse o faça. Os dois entraram na casa do padre, conversaram por alguns minutos em particular, nunca se soube o teor do diálogo, o que se sabe é que os cangaceiros, depois dessa conversa, vão embora e inclusive pagam todas as despesas feitas nas bodegas da cidade.

No Ceará, em 1927, o Padre Vital Lucena tomaria parte da história do cangaço, dessa vez em Limoeiro. Após frustrado ataque a cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte, o grupo de facínoras adentrou a região jaguaribana no território cearense. Chegando a cidade de Limoeiro, Lampião e seu grupo foram recebidos pelas autoridades do lugar, que temendo saques e mortes preferem receber os bandoleiros em paz.

Entre os membros da recepção estava o Padre Vital Lucena, que ficou encarregado de arrecadar a quantia de dez contos de reis exigida pelo cangaceiro. Sob o comando do padre, a população consegue arrecadar cerca de dois contos. O próprio padre Vital foi incumbido da árdua missão de entregar o dinheiro arrecadado incompleto ao cangaceiro, mas Lampião recebeu a quantia e de nada reclamou, ficando satisfeito com a quantia recebida.

O Padre Vital ainda pediu um favor ao cangaceiro do Pajeú: que soltasse os reféns que vinham presos desde o Rio Grande do Norte, o que foi negado pelo bandoleiro, alegando precisar de dinheiro. Mesmo assim para ser agradável ao padre, soltou o refém de nome Manoel Barreto Leite.

No dia 19 de abril de 1929, na cidade de Poço Redondo, estado de Sergipe, o padre Artur Passos estava tranquilamente rezando uma missa para sua comunidade quando de repente aparece na igreja Lampião e seus cabras, num total de dez homens muito bem armados.

O padre, segundo seu próprio depoimento, continuou a missa, apesar de constrangido pela presença do bando sinistro do rei do cangaço. Após a celebração religiosa o padre Artur manteve um diálogo com o cangaceiro, tendo inclusive Lampião deixado um bilhete de próprio punho com os nomes de todos os cangaceiros visitantes com suas respectivas idades, exceto o de nome José Alves dos Santos, vulgo Fortaleza, cuja idade não consta na referida carta.

Padre Bernardo de Carvalho Andrade

Outro interessante episódio ocorrido envolvendo padre e cangaceiro deu-se em 1937, mais precisamente no dia 10 de outubro, quando do casamento do cangaceiro Corisco, o Diabo Louro, e Dadá. Resolvido a casar com sua companheira de longas datas, Corisco pediu ajuda de um fazendeiro amigo para trazer o padre José Bruno da Rocha, pároco da igreja de Porto da Folha, para oficiar seu casamento. O fazendeiro escreve um bilhete ao padre pedindo sua presença urgente na fazenda para professar uma extrema unção.

O padre atendeu ao pedido o mais rápido possível, ficando surpreso ao chegar ao local solicitado e se deparar com os cangaceiros. O fazendeiro explica a situação e o padre José Bruno rapidamente faz o casamento de Corisco e Dadá. O cangaceiro ainda pergunta se para casar é mesmo ligeiro daquele jeito, o padre com pressa de ir embora, apavorado com a situação, realizou a cerimônia bem mais rápido do que o habitual.

O cangaceiro Corisco teria ainda uma ligação muito forte com o Padre Bulhões, de Santana do Ipanema, em Alagoas, homem muito respeitado em toda a região. Ao referido padre seria entregue seu filho Silvio, criado pelo reverendo e hoje economista, morando em Maceió.

Fato deveras pitoresco foi contado pelo ex-cangaceiro Ângelo Roque da Costa, vulgo Labareda, ao Dr. Estácio de Lima e que foi transcrito no seu livro O Mundo Estranho dos Cangaceiros, eis o relato. Em uma fazenda no município de Santo Antônio da Gloria, estado da Bahia, chegaram os cangaceiros onde estava havendo uma festa com a presença do Padre Emídio, vigário do lugar. Relata o cangaceiro que chegaram em paz, almoçaram com o padre, além dele, o chefe Lampião e ainda Ezequiel, irmão do chefe, e Virginio, cunhado.

Após o farto almoço resolveu se confessar com o Padre Emídio e assim o fez. Conta o cangaceiro que após a confissão o padre aconselhou: 

"Num mate mais os macaco, meu fio. Nos mandamentos tá proibido. Quando pegá um, você cape ele, i sorte capado".

A correlação existente entre Padres e Cangaceiros no sertão, apesar das exceções, reforça mais uma vez o poder que a igreja representava (e ainda representa, hoje em menor escala) para os nordestinos de um modo geral.

O respeito de Lampião, aqui representado como o cangaceiro em geral, para com a autoridade dos padres, traduz de certa maneira o respeito às Leis de Deus e santos representados aqui na terra pelos sacerdotes. Dos poderes oficialmente constituídos, a Igreja parece ser o que mais os cangaceiros respeitavam."

TRANSCRITO POR Sálvio Siqueira

Ângelo Osmiro Barreto: Historiador e Pesquisador do cangaço/ Membro da Sociedade Cearense de Geografia e História- Cadeira nº 09 - e atual presidente da SBEC Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço.

Fonte/foto lampiaoaceso.com

Fonte: facebook

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O ANDARILHO DAS CAATINGAS, JOÃO DE SOUSA LIMA

 Por Manoel Severo
Sílvio Bulhões, Neli Conceição e João de Sousa Lima

Nos acostumamos a partir do inesquecível Caipira de Poço Redondo; Alcino Alves Costa, patrono de nosso Conselho Consultivo do Cariri Cangaço; a chamar estes valorosas homens e mulheres que dedicam suas vidas à pesquisa e aprofundamento do tema cangaço de "Vaqueiros da História". Quantas e quantas vezes no meio de uma sensacional prosa lá vinha o velho Alcino citando os tais vaqueiros da história.

Hoje rastreamos um desses vaqueiros da história, um cabra da peste, cheio de coragem e determinação, com faro para o novo, um verdadeiro desbravador das caatingas. Pesquisador e escritor renomado, membro da Academia de Letras de Paulo Afonso, Sócio da SBEC e GECC, além de Conselheiro Cariri Cangaço, falo do pernambucano João de Sousa Lima.

 João de Sousa Lima no Museu do Tingui em Água Branca

Na última semana deste mês de Abril, Joãozinho arrumou o matulão, poliu as esporas e os arreios e mais uma vez se mandou no "oco do mundo"; para rever amigos, matar saudades, recontar histórias. Hoje republicamos alguns momentos dessas andanças do amigo João, com fonte em seu espetacular blog: www.joaodesousalima.com

Na Fazenda Crauná no Tingui

Primeiro João nos apresenta o Museu do Tingui: "O povoado Tingui, em Água Branca, Alagoas, ganhou um novo espaço de visitação e de promoção dos arquivos históricos e culturais da região, todo o acervo foi reunido por Paulo Soares de Oliveira e disponibilizado para visitação e pesquisa em sua própria residência. O Museu Casa Lúcio Braga tem um grande acervo dos ofícios da região. O espaço é merecedor de visitações e apoios, tanto pela quantidade e qualidade das peças, quanto pelo atendimento e simpatia do seu curador, Paulo Soares."

A passagem por Maceió não poderia deixar de lado uma visita marcante: "Dia 29 de abril de 2014, eu Josué Santana e Neli fizemos uma visita ao cangaceiro Vinte e Cinco (José Alves de Matos). José Alves encontra-se em recuperação de saúde. Sempre muito educado não ligou muito para as observações de falar pouco e conversou com todos, agradeceu alguns presentes recebidos e falou da alegria de conhecer Neli, que é filha do casal dos cangaceiros Moreno e Durvinha. A família de José Alves é bastante educada e carinhosa e tivemos alguns minutos juntos em torno do último guerreiro do cangaço. SAÚDE E PAZ MEU AMIGO E QUE SUA RECUPERAÇÃO VENHA MUITO EM BREVE."
  
Neli, Vinte e Cinco e João de Sousa Lima

Dali mais uma visita inesquecível; fala João: "Eu, Nely e Josué fomos visitar o professor Sílvio Bulhões, em Maceió, Alagoas. Sílvio é filho de Dadá e Corisco. No momento registramos o encontro de dois filhos de cangaceiros pois a Nely é filha de Moreno e Durvinha. Sílvio nos atendeu educadamente e além de contar suas belas histórias sobre a memória dos pais, mostrou-nos um rico acervo com peças do cangaço e muitas fotografias, inclusive a bolsa de plástico e a caixa de madeira onde vieram as cinzas da cremação de Corisco. Foi uma tarde e uma prosa memorável. Obrigado Sílvio, pela oportunidade. Grande abraço e felicidades.

Bem, poderia passar aqui mais algumas horas ou inúmeras postagens falando de João de Sousa Lima, mas esse, dispensa comentários e apresentações, valeu João! Vamos em frente! Parabéns por tudo que faz e o faz com paixão.

Manoel Severo
Cariri Cangaço

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2014/05/o-andarilho-das-caatingas-joao-de-sousa.html?spref=fb

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ERA UM GAROTO, FEZ-SE HOMEM - EZEQUIEL, CODINOME PONTO FINO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Ezequiel, cognominado "Ponto Fino", nascido no ano de 1908. Com a morte de Livino e Antônio, entrou em 1927 no cangaço com 19 anos no grupo de seu irmão Lampião. O apelido foi motivado por sua grande pontaria, rápida e segura.

Era bastante inteligente e de uma valentia desassombrada. Seria na certa, com o tempo, o sucessor de Lampião, segundo a opinião de Luís Pedro, que era lugar-tenente de Lampião.

Morreu valentemente em combate na Várzea do Touro, Bahia, em 1932 aos vinte e três anos de idade.

Fonte: Lampião, seu tempo e reinado. Frederico Bezerra Maciel. Pg 111

Perguntas:

1 - Existe sepultura?
2 - Se existe, onde?
3 - Quem o matou? (Volante)
4 - Cortaram-lhe a cabeça?

Não sei as respostas dessas quatro perguntas.

O historiador e pesquisador Voltaseca Volta respondendo minhas indagações sobre EZEQUIEL, disse: São interessantes, as perguntas, vejamos: 

Ao amigo Raul Meneleu Mascarenhas

 1º) Ele morreu no combate da Lagoa do Mel, também chamado de Touro ( para uns), em Paulo Afonso-BA, no dia 24 de abril de 1931, em confronto com a volante baiana do Ten. Arsênio, que deu uma rajada de metralhadora;

 2º) Seu corpo, foi enterrado no meio do mato, visando despistá-lo da polícia, mas, posteriormente, foi descoberto, e sua cabeça / crânio foi levado para Salvador-Ba, onde, inclusive, foi fotografado e exibido em jornal...

3º) Creio que, hoje, não mais existirá a sepultura do mesmo....O incansável pesquisador/escritor JOÃO DE SOUSA LIMA, ainda chegou a fazer foto e entrevista com o senhor, que desenterrou os ossos, obrigado pela polícia;

 4º) Abaixo, foto da antiga LAGOA DO MEL, que como o tempo, foi aterrada, e, hoje, é um lote de terra bem cultivado, só existindo a presença de GRANDES PEDRAS, que são originárias do seu entorno...


Voltaseca Volta: O crânio de EZEQUIEL (Ponto Fino), um chapéu e dois punhais de CATINGUEIRA, que foram expostos, em Salvador-BA, e, posteriormente, publicados pela A NOITE ILUSTRADA, na edição de 06 - 10 - 53... Confira ABAIXO, Raul Meneleu Mascarenhas e Francimary Oliveira... Abraço Volta Seca.


Raul Meneleu Mascarenhas: Como sempre o amigo Voltaseca Volta com bastante dinamismo e conhecimento nos auxilia nesse maravilhoso tema que é o Cangaço. Valeu grande pesquisador!


 http://meneleu.blogspot.com.br/2014/10/era-um-garoto-fez-se-homem-ezequiel.html

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CHEGADA A TABULEIRO GRANDE DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA


No natal de 1871, convidado pelo professor Simeão Correia de Macedo, o padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (numa fazenda localizada na povoação de Juazeiro, então pertencente à cidade do Crato), e ali celebrou a tradicional missa do galo.

O padre visitante, então aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, penetrantes olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.

Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio a confessar as pessoas do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: - E você, Padre Cícero, tome conta deles!

LIGAÇÃO COM O CANGAÇO

Floro Bartolomeu e Padre Cícero

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, era devoto de padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Naquele ano, a Coluna Prestes, liderada por Luís Carlos Prestes, percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Para combatê-la foram criados os chamados Batalhões Patrióticos, comandados por líderes regionais que muitas vezes arregimentavam cangaceiros.

Existem duas versões para o encontro. Na primeira, difundida por Billy Jaynes Chandler, o sacerdote teria convocado Lampião para se juntar ao Batalhão Patriótico de Juazeiro, recebendo em troca, anistia de seus crimes e a patente de Capitão.[9] Na outra versão, defendida por Lira Neto e Anildomá Willians, o convite teria sido feito por Floro Bartolomeu sem que padre Cícero soubesse.

O certo é que ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram padre Cícero aconselhá-los a abandonar o cangaço. Como Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel que Lampião seria, a partir daquele momento, Capitão e receberia anistia por seus crimes. O bando deixou Juazeiro sem enfrentar a Coluna Prestes.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_C%C3%ADcero

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LAMPIÃO E A COLUNA COSTA – PRESTES

Por Geziel Moura

Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, ao conceder entrevista ao médico, Otacílio Macedo, por ocasião de sua visita a Juazeiro (CE), em 06 de março de 1926, para compor o batalhão patriótico, comentou o seguinte:

"Tive um combate com os revoltosos da coluna Prestes, entre São Miguel e Alto de Areias. Informado de que eles passavam por ali, e sendo eu um legalista, fui atacá-los, havendo forte tiroteio. Depois de grande luta, e estando com apenas dezoito companheiros, vi-me forçado a recuar, deixando diversos inimigos feridos". (Jornal Pequeno 29.03.1926)

É recorrente em textos, sobre o cangaço lampiônico, que aquele cangaceiro, nunca combateu a coluna Costa – Prestes, mesmo que algum grupo destacado, de tais revoltosos. Entretanto, na falta de argumentações contrárias ao combate, farei movimento diferente, na tentativa de produzir contraponto deste discurso oficial, isto é, tentarei apontar possibilidades, da existência deste encontro, e buscando isentar-me, não de parcialidade do pensamento, mas de qualquer “teoria da conspiração”, que levaria a excentricidade do acontecimento histórico. Ressalto, ainda, que este ensaio visa fazer pensar, não se constitui um entendimento cristalizado, sobre o fato exposto.

Em sua obra, A Coluna Prestes: Marchas e Combates, Lourenço Moreira Lima, que se destacou, como secretário da coluna, afirmou que no amanhecer do dia 24 de fevereiro de 1926, próximo ao Riacho do Navio, em lugar denominado Rochedo, no estado de Pernambuco, a retaguarda da coluna, foi atacada por tiros oriundos da caatinga.

Sobre este episódio, Lima (1979) que participou ativamente, na crônica do movimento da Coluna Costa – Prestes, diz:

"Saindo da fazenda Buenos Aires, na manhã de 23, fomos sestear na fazenda Jatobá, continuamos a marcha, chegando às 6 horas ao sítio Rochedo, junto ao rio Navio, na estrada de autos de Vila Bela a Floresta. [...] Sabíamos que aquele lugar era um dos pousos de Lampião". (LIMA, 1997, p.271).

Ainda, podemos inferir que se tratava de cangaceiros, pela seguinte manifestação de Lima:

"Desconfiei que ali se achavam por nos apodarem de “macacos”, alcunha que os cangaceiros do nordeste dão aos soldados de polícia com os quais, provavelmente nos confundiram". (Idem)

Logo, é possível pensar, que o grupo de Lampião, não era desconhecido pela tropa de revoltosos, nem tampouco, o lugar de sua operação, ou seja, a região do Pajeú.

Ainda sobre o suposto ataque do grupo de Lampião, a coluna Costa – Prestes, Lima menciona:

"Cerca de uma légua, adiante de Rochedo, a retaguarda foi atacada, partindo os tiros da caatinga [...] Soubemos, mais tarde, que esse ataque fora feito pelo grupo de Lampião". (Idem)

Segundo, Frederico Pernambucano de Mello, na seção de notas e referências, de sua obra: Benjamin Abrahão: Entre Anjos e Cangaceiros, e baseado em entrevista, concedida por Luiz Carlos Prestes, em 1983, afirma que este declarou, que o fogo na fazenda Cipó, nesta região de Rochedo, foi o único que ocorreu entre Lampião e a Coluna, corroborando com o entendimento de Lourenço Moreira Lima.

As datas do combate na fazenda Cipó e a entrevista com Otacílio Macedo, são compatíveis. Assim, caso tal entrevero, tenha mesmo ocorrido, conforme relatou Prestes e Moreira Lima, Lampião não mentiu em Juazeiro.

Existe, ainda, hipótese, que o choque do grupo de Lampião, ocorreu, na região da Chapada Diamantina, comandado pelo Coronel Horácio Mattos, o que carece, de mais subsídios, para pensar, nesta direção.

Sobre o suposto ataca, na região da Chapada Diamantina, por Lampião, vejam a revista Memória da Bahia, publicada em 02.2004, que passo a compartilhar com os amigos. PDF no arquivos.

Fonte: facebok
Página: Geziel Moura
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/631148307049289/?notif_t=group_activity&notif_id=1462787356960108

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CAFÉ COM O PASSADO

*Rangel Alves da Costa

Nas minhas andanças de fim de tarde, pelos desalentados caminhos do dia a dia, eis que avisto aqueles que eu jamais imaginei pudesse encontrar lado a lado: o passado e o presente. O primeiro, velho amigo de estrada, já é conhecido de muito tempo, de outros percursos no mundo. Já o segundo, mesmo sendo avistado ali e acolá, afeiçoa-se mais a um conhecido desconhecido e sempre parece tramando alguma coisa que não quer revelar.

Mas eis os dois em ligeira conversação, com o passado retirando da memória tudo que desde muito desejava revelar, porém sem a compreensão e a paciência do presente, que simplesmente dizia estar muito ocupado para aquela prosa, mas prometia para outro dia um encontro mais demorado. E assim o presente partiu apressadamente, deixando para trás o passado envolto em pensamentos. Foi quando me aproximei um pouco mais e o convidei para uma xícara de café.

O passado aceitou, mas com a condição de ser café verdadeiro, daquele cujo grão é batido em pilão de quintal, peneirado e depois colocado em chaleira já de água fervente por cima do fogão de lenha. Servido no bule e não em garrafa térmica, com açúcar grosso de engenho e não aquele pó branco refinado pela máquina. E talvez acompanhado de um bolinho de chuva, biscoito de nata ou bolo de macaxeira, mas com preparo na cozinha e no forno de lenha, jamais comprado pronto e sem sabor. Mas tudo é difícil demais, tentei explicar, pois é tão difícil encontrar um pilão no quintal como o café saboroso e perfumado fervendo em fogo de lenha.

Relutou o quanto pôde, porém acabou aceitando um café comum, mas desde que não fosse solúvel, sem gosto, imprestável ao ritual prazeroso de colocar o lábio na borda da xícara e logo sentir vontade de se queimar. Café em pó ainda é possível arriscar, afirmou o passado, mas desde que preparado em chaleira antiga, no tempo certo e servido sem estar requentado. E sem qualquer bolo, biscoito ou bolacha. E disse mais: Já distante o tempo em que a cozinha era o melhor lugar da casa e esta vivia sempre perfumada pelos quitutes das velhas senhoras, das vovós sempre preparando surpresas saborosas para os seus netinhos.

Quase não aceita o café colocado à mesa. Só concordou em experimentar porque estava quentinho e de negrume forte, leitoso. Fez descer um gole, mais outro, pediu licença para preparar um cigarro de palha e se pôs em prática. Tirou do bolso um pequeno embrulho, de dentro retirou palha seca de milho, um pedaço de fumo e um canivete miúdo. Segurou o pedaço de fumo com uma mão e com a outra foi pinicando aos poucos, até juntar sobre a mesa a quantidade certa para o cigarro. Em seguida abriu a palha de milho, espalhou o fumo e se pôs a dobrar. Depois levou o cigarro à boca para amaciá-lo e fechar a palha. Estava pronto o cigarro.


Pediu mais café e pouco tempo depois já estava baforando e ansioso para conversar e, certamente, sobre si mesmo, o passado. Mas tomei como surpresa ao ouvir que era preciso primeiro enxergar o presente para avistar o passado, o ontem, o tempo ido. Só se valoriza o passado quando o confronta com o presente. Daí ser costumeiro ouvir que hoje já não se faz mais como antigamente, que agora as coisas não chegam nem aos pés de como eram antigamente, que tudo agora é feito para acabar sem deixar lembrança ou recordação. Os móveis antigos são exemplos disso. Mesas, oratórios e cristaleiras de cem anos atrás ainda permanecem firmes, resistentes. Mas o móvel bonito de hoje já estará esfarelado amanhã.

Até a pessoa de hoje é muito diferente daquela de outros tempos, foi relatando o passado. De uns tempos pra cá, parece mesmo que a maioria nasce sem o tempero da vida. Vem ao mundo sem o sal da temperança para viver num mundo insosso. Ao sangue falta a pitada de coragem, de vontade de luta, de destemor, de galhardia. O coração parece completamente destemperado. E no corpo inteiro, desde a alma à sola do pé, o pouco ou inexistente tempero da honra, do caráter, da verdade, da moral e da decência. Por isso mesmo é quase nada mais se exemplifica pelo agora, mas pelo que se faz distante na estrada. E comumente se diz que homem de honra era fulano ou sicrano, que bastava a palavra e não havia escrita que tivesse mais validade do que o dito.

E prosseguia o passado, sempre buscando no contraste com o agora a valia de outros idos. Dizia que muito se fala na arrogância e no chibatamento dos velhos coronéis, aqueles senhores de latifúndios e vidas, bem como das botinas dos generais que um dia pisaram sobre muita gente. Mas hoje, sem a violência e a perseguição de ontem, quem não sente falta de pessoas de pulso forte, que comandem com zelo e seriedade aquilo que devam comandar? E o mais importante, que não tergiversem com a realidade da nação nem com o sofrimento do povo.

E sobre o futuro, perguntei, por fim, ao passado. E este respondeu: Do jeito que a coisa anda só restará o passado, e desde muito passado. Nem presente nem futuro merecerá ser relembrado. E quem viver verá.

Poeta e cronista
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