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domingo, 31 de janeiro de 2016

CHEGOU O CARNAVAL - 31 DE JANEIRO DE 2016

Por Geraldo Maia do Nascimento

Fevereiro chegando e o povo começa a se programar para o carnaval, mesmo numa cidade onde não há carnaval. Praias, serras e outras cidades onde haverá “festa de Momo” estão na programação dos mossoroenses: uns em busca de carnaval; outros, fugindo do mesmo. 


Podemos dizer que o carnaval é uma das festas mais antigas da humanidade. Dez mil anos antes de Cristo, homens, mulheres e crianças se reuniam no verão com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios da má colheita. As origens do carnaval têm sido buscadas nas mais antigas celebrações da humanidade, tais como as Festas Egípcias que homenageavam a deusa Isis e ao Touro Apis. Os gregos festejavam com grandiosidade nas Festas Lupercais e Saturnais a celebração da volta da primavera, que simbolizava o Renascer da Natureza.
               
O carnaval, tal como conhecemos no Brasil, tem sua origem no entrudo português, onde, no passado as pessoas jogavam umas nas outras, água, ovos e farinha. O entrudo acontecia num período anterior à quaresma e, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje no Carnaval.
               
O entrudo foi trazido para o Brasil por volta do século XVII, por influência dos portugueses das Ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Era uma brincadeira de loucas correrias, mela-mela de farinha, água com limão, colorau, etc. Em meios mais nobres, esses produtos eram substituídos por confetes e serpentinas. Esse formato primitivo do entrudo permanece até hoje em algumas regiões do Brasil, principalmente no Nordeste. Damos como exemplo a vizinha cidade de Aracati, no Ceará, onde essa prática ainda é usada. Em países como Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a colombina, o pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem europeia.
               
E dessa forma foi sendo formado o carnaval brasileiro. Uma mistura do entrudo português, com os mascarados da Itália e França, apimentado com o ritmo alucinante dos tambores africanos e o requebrado de nossas mulatas. Vieram depois as marchinhas que deram um novo ritmo ao carnaval brasileiro, tornando-o mais animado e com características únicas.
               
No final do século XIX, começaram a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos \"corsos\". Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo dos séculos XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam seus carros e, em grupos, desfilavam pelas ruas das cidades. Está aí a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. A folia continuou crescendo até tornar-se a maior festa popular brasileira.
               
Em nosso país é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa. Na Bahia é comemorado também na quinta-feira da terceira semana da Quaresma, mudando de nome para Micareta. Esta festa deu origem a várias outras em estados do Nordeste, todas com características baiana, e com a presença indispensável dos Trios Elétricos. Com esse formato são realizadas no decorrer do ano; em Fortaleza realiza-se o Fortal; em Natal, o Carnatal; em João Pessoa, a Micaroa; em Campina Grande, a Micarande; em Maceió, o Carnaval Fest; em Caruaru, o Micarú; em Recife, o Recifolia, etc.
               
As primeiras notícias que temos da festa de momo em Mossoró é de 1913, quando “um pequeno grupo de cavalheiros e pouco maior número de crianças” saíram fantasiados pelas ruas da cidade no domingo de carnaval. Naquele mesmo dia houve uma festa no Cinema Almeida Castro, onde “a fina flor mossoroense” travou uma verdadeira batalha de confete, serpentina e lança-perfumes. Na segunda-feira outros bailes se realizaram. O jornal “O Mossoroense” registrava “uma soirée (festa) familiar na casa do diretor desta folha e, outro ainda no Polytheama (cinema que existia em Mossoró, naquela época) como remate à festa anual tão cheia de atrativos. ”
               
No ano seguinte, 1914, apareceu um grupo de senhoras, “virtuosas esposas e mães dos proprietários do Polytheama”, promovendo festivo assalto de confetes, em intervalos de danças, durante a soirré. A assim, ano após ano, foram surgindo os blocos carnavalescos, os clubes, os grupos folclóricos e até os tradicionais ursos compondo nossa festa de Momo.
               
Hoje já não há carnaval em Mossoró. Algumas iniciativas individuais tentam, sem sucesso, reergue o evento na cidade. Mas o certo mesmo é que nessa época a cidade se esvazia, com grande prejuízo para a economia local. 

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Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com

EUCLIDES 150

Por José Gonçalves do Nascimento


No dia 20 de janeiro deste ano, o jornal o Estado de São Paulo publicou, em caderno especial, longa reportagem sobre os 150 anos de nascimento de Euclides da Cunha. Acreditamos ser esta apenas a primeira de uma série de outras tantas publicações que, em 2016, haverão de homenagear o escritor nascido em Cantagalo, antiga província do Rio, em 20 de janeiro de 1866.

E não é para menos. Engenheiro, militar, físico, naturalista, jornalista, geólogo, geógrafo, botânico, zoólogo, hidrógrafo, historiador, sociólogo, professor, filósofo, poeta, romancista, ensaísta e escritor, Euclides da Cunha é um dos mais legítimos representantes da inteligência brasileira. Intelectual de escol, foi ele responsável pela descoberta de um Brasil que até então era desconhecido: o Brasil do interior. Para ele, a construção da identidade nacional brasileira teria de buscar seus fundamentos na profundidade do Brasil interiorano, pois era lá que estava “o cerne da nacionalidade”.

Dedicado aos estudos das questões brasileiras, conforme pontifica um dos seus melhores biógrafos – Olímpio de Souza Andrade – Euclides valeu-se “da ciência para examinar sob vários aspectos a conformação do território brasileiro, seus ares, suas águas, sua flora, sua fauna, bem como a evolução do povo brasileiro, ressaltando conflitos entre estágios diversos de civilização. Mas principalmente valeu-se disso tudo, com engenho e arte, assim vendo o que os outros não viam, e dizendo-o numa linguagem clara e precisa, de rara beleza”.

Com efeito, é esta a tônica de toda produção literária de Euclides da Cunha, sendo que Os sertões é a obra que melhor encarna a preocupação do autor. Dividido em três partes – a Terra, o Homem e a Luta – o livro empreende ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre o exército brasileiro e os heroicos habitantes de Canudos. Tem o texto o mérito de mediar o difícil e doloroso diálogo entre o “Brasil real e o Brasil oficial” – para usar uma expressão de Machado de Assis – despertando a atenção das elites políticas, econômicas e culturais para os inumeráveis problemas que faziam (e fazem) desta uma nação dividida entre o progresso do litoral e o atraso do interior. Pela primeira vez, no Brasil, uma obra de literatura assumia a discussão sobre os reais problemas do país e lançava as bases para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Além d’Os sertões, há, na extensa obra de Euclides da Cunha, mais dois livros sobre a temática de Canudos: Caderneta de campo e Canudos: diário de uma expedição. O primeiro, publicado postumamente em 1975, traz uma série de anotações e croquis da época em que o escritor se achava no campo de batalha. O segundo, também publicado após a morte do autor, em 1939, reúne o conjunto de correspondências encaminhadas ao jornal O estado de São Paulo, informativo para o qual trabalhou o escritor na condição de enviado especial ao teatro da guerra. O acervo de informações reunido na Caderneta e no Diário seria de grande utilidade para autor, quando da feitura d’Os sertões.

Fora do chamado “ciclo d’Os sertões” (que compreende toda a literatura referente à guerra de Canudos), é Euclides da Cunha autor de outros três títulos igualmente notáveis: Perus versus Bolívia (1906), Contrastes e confrontos (1907) e À margem da história (1909), este último publicado depois da morte do escritor. As três obras reúnem artigos, ensaios e estudos produzidos por Euclides ao longo de sua atividade intelectual. Sua extensa produção literária inclui ainda correspondências, poesias, e um sem-número de crônicas e artigos publicados em jornais e revistas da época.

Como homem de ciência, sintonizado com o que havia de mais avançado no âmbito da intelectualidade, e imbuído dos ideais do positivismo – corrente filosófica que defendia o primado da razão como único meio de construção da civilização e, por conseguinte, da ordem e do progresso dos povos – além de intransigente defensor da causa brasileira, Euclides da Cunha foi firme e enérgico na defesa das suas convicções mais profundas. Acabou decepcionado com a República, após perceber que esta não conseguira atender à expectativa do povo brasileiro. E, uma vez decepcionado, tornou-se crítico ferrenho da forma de governo imposta pelo golpe militar de 1889.

Para Gilberto Freire “ele [Euclides da Cunha] foi a voz que clamou a favor do deserto brasileiro: Endireitai os caminhos do Brasil (O Brasil era o seu “sonho”) os caminhos entre as cidades e os sertões. Esta foi a grande mensagem de Euclides: que era preciso unir-se o sertão com o litoral para a salvação – e não apenas conveniência – do Brasil. Ninguém mais do que ele enalteceu tanto o sertão e o sertanejo. Em Euclides [prossegue o autor de Casa Grande e Senzala] a tendência foi quase sempre para engrandecer e glorificar as figuras, as paisagens, os homens, as mulheres, as instituições com que se identifica o vaqueiro, o sertanejo, o próprio jagunço. Até mesmo o negro dos sertões – sobrevivência do quilombola colonial – sai engrandecido de suas páginas”.

Salve Euclides! Salve o Brasil!

José Gonçalves do Nascimento
jotagoncalves_66@yahoo.com.br


http://blogdomendesemendes.blogspot.com