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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

AINDA O RIO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.820

Não custa nada repetir trecho de crônica do ano velho. O cidadão chamado Toinho, morador da Rua Professor Enéas, era exímio pescador de mandim a anzol. Eu diria mesmo que ele era absoluto. Descia para o Poço dos Homens, no rio Ipanema e, indiferente aos banhistas ou a outros pescadores de anzol e tarrafa, acomodava-se nas pedras do “estreitinho” (o poço era dividido em Estreitinho e Largo) onde iniciava sua tarefa. Mandim era um peixe difícil de ser fisgado a anzol, mas Toinho era especialista, atesta meu tempo de rapazote. Discretamente fazia o prato do dia, não se demorava e saía para casa. Toinho era baterista na época dos grandes bailes de Santana do Ipanema, no Tênis Clube Santanense e no clube AABB – Associação Atlética Banco do Brasil. Como o tempo muda, Toinho passou a ser consertador de máquinas simples e fogão quando passou a ser conhecido como: Toinho das Máquinas.

Rio Ipanema e a eterna farra dos urubus. Foto: (AlagoasNanet - Arquivo).

Pois bem, em rio com trecho urbano infernalmente poluído, mais de trinta famílias vivia (talvez ainda vivam) da pesca miúda, matadora de fome da pobreza. Foi Toinho quem descobriu que os peixes pescados por ele, estavam doentes de câncer ou coisa parecida. E indicava protuberâncias feias formadas no lombo desses animais. Abandonou de vez a pesca no rio Ipanema. Porém, todos os dias você vê pessoas pescando nos poços imundos, de anzol, de tarrafa, pequenas redes e manualmente futucando as locas. É a parte invisível do rio que as autoridades teimam em não vê.
Como despoluir o rio Ipanema? São duas as alternativas. A CASAL, responsável pelo saneamento tem obrigação de concluir os serviços de coletas de esgotos. Segunda, a prefeitura tem que fazer um projeto fazendo um levantamento de casas sem fossas em Santana. Todos os dejetos de casas sem fossas descem diretamente para o rio Ipanema ou através dos riachos Camoxinga e Salgadinho. Depois ela própria ajudar na construção de banheiros minimamente decentes. Em seguida monitorar todos os bairros, inclusive o Comércio, grande poluidor de lixo doméstico e até industrial. Somente depois de tudo isso, usar sua estrutura para limpar às margens do Panema, da Barragem à Rua da Praia. Verba federal não falta, faça e apresente o projeto.

·         O autor é Geógrafo, escritor e cidadão santanense.


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UMA CASINHA, APENAS...

*Rangel Alves da Costa

A porta se fechava e se abria a todo instante. A janela, apenas recostada, chegava a dançar com a força do vento. Panela de barro por cima do fogão de lenha, uma frigideira esperando sua vez, num varal de arame toucinho de porco, bucho e tripa.
Um tempo de desalento, de paisagens tristes, mas ainda assim as mais belas que podiam existir. O sertão e sua feição de esperança e desolação, de fartura no olhar e tristeza pelo tão pouco ter. Mas o homem não vive somente de posses, principalmente se tem o poder de ser feliz na vida que tem.
Um grito pela sobrevivência. Nada além do necessário à sobrevivência. Vintém da feira contado, quilo de comida contado, pedaço de pano contado, tudo contado, até mesmo a cachaça com raiz de pau tomada ao pé de balcão. Nunca havia o prazer de possuir além do permitido à sobrevivência.
Carne pouca, seca, mas tinha um tiquinho ali estendida. Perto do meio dia ou mesmo antes da boca da noite, bastava ir até lá com a faca afiada e cortar a porção do de comer. Coisa boa quando tinha feijão de corda. Fazer com a mão o bolo de feijão com farinha e depois passar no caldo apimentado na tigelinha ao lado, não havia maior gostosura. E se fosse carne de bode então.
Mas às vezes o contentamento era com o que restava na despensa ou pelos cantos da cozinha. Um cuscuz ralado se o tempo dava de ter milho, inhame, batata ou macaxeira. Ou apenas farinha seca com perna de preá. Tudo mata a fome, dizia a senhora dona da casa. A verdade é que ninguém rejeitava a farinha seca com toucinho ou mesmo na farofa com tripa e ovos de galinha de capoeira.
A xícara de café ao lado, a fome tanta para tão pouco. Mas assim se vivia. Na sede, a quartinha perto da janela, o pote por riba da trempe, a caneca ariada com folha de velame e terra grossa. Ficava num brilho só. Um viver assim, dia após dias, criar os meninos, entregar ao mundo o espelho dos pais.


Colher aquilo que foi possível brotar na inconstância da terra. Se o inverno foi bom, então uma melancia, uma abóbora, uma mão de feijão, um punhado de milho. Somente com raridade o feijão colhido era espalhado defronte da casa para secar. Guardar um tanto para o dia a dia e o outro tanto vender para ajudar no que fosse necessário.
Café torrado no tacho e batido em pilão, depois peneirado e pronto para o uso ao amanhecer e anoitecer. Banha de porco juntada em lata pequena de alumínio. Não havia comida melhor do que aquela preparada na banha de porco. Pimenta da forte avermelhada em garrafa. Tem gente que não come sem uma pimentinha.
O vento soprando pelo varal e as poucas roupas querendo voar. Folhagens secas chegando e se espalhando pelos cantos de barro. Folha seca e homem num só destino de outono. O viço e o verdor apenas na força e na vontade de sobrevivência. Um ânimo tão alentador que torna em esquecimento todo o sofrimento.
O chapéu de couro pendurado no armador de rede. O roló esperando ser calçado a qualquer. Os apetrechos de montaria e de trabalho na terra também juntados num canto. Uma velha espingarda de jogar espoleta em caça miúda. Tudo fazia para evitar caçar preá, nambu, codorna e todo bicho de mataria, mas não havia jeito quando a fome apertava.
Assim um viver nos tempos idos. Na pobreza e na riqueza maior da paz. O sol queimava, mas a lua descia molhando tudo. Quando o poleiro silenciava, já quase hora também de fechar a porta. A noite fechada nunca encontrava uma porta sertaneja totalmente aberta. Dormia-se cedo para que o galo não tivesse o prazer de ser o primeiro. Ainda na madrugada, então a lenha espalhada no fogão. Depois da prece, do avistamento da cor da barra, o novo dia que nascia naquele sertão antigo.
E o que resta hoje? Apenas uma casinha. Uma casinha em escombros, despencando aos pedaços. O retrato de um passado e de uma vida inteira no que ainda resta na estaca, no cipó e no barro. No dia e dia assim, apenas o silêncio e a solidão na moldura do tempo.

Escritor
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LIVRO “O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO”, DE LUIZ SERRA


Sobre o escritor

Licenciado em Letras e Literatura Brasileira pela Universidade de Brasília (UnB), pós-graduado em Linguagem Psicopedagógica na Educação pela Cândido Mendes do Rio de Janeiro, professor do Instituto de Português Aplicado do Distrito Federal e assessor de revisão de textos em órgão da Força Aérea Brasileira (Cenipa), do Ministério da Defesa, Luiz Serra é militar da reserva. Como colaborador, escreveu artigos para o jornal Correio Braziliense.

Serviço – “O Sertão Anárquico de Lampião” de Luiz Serra, Outubro Edições, 385 páginas, Brasil, 2016.

O livro está sendo comercializado em diversos pontos de Brasília, e na Paraíba, com professor Francisco Pereira Lima.

Já os envios para outros Estados, está sendo coordenado por Manoela e Janaína,pelo e-mail: anarquicolampiao@gmail.com.

Coordenação literária: Assessoria de imprensa: Leidiane Silveira – (61) 98212-9563 leidisilveira@gmail.com.

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DALVA STELLA NOGUEIRA FREIRE

Por Kydelmir Dantas

Cearense de nascimento e Cidadã Mossoroense, por título conferido pela Câmara Municipal em 20 de fevereiro de 1981. Aqui estudou desde o curso Primário até a Escola Normal. 


Estudou Música em Natal e fez graduação em Letras Neolatinas na Faculdade Católica de Filosofia do Ceará. Pós-graduação em Música no Instituto Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Foi a única mulher a participar da fundação do Instituto Cultural do Oeste Potiguar – ICOP, no ano de 1957. 


Dentre os vários trabalhos publicados citamos A HISTÓRIA DA ARTE MUSICAL EM MOSSORÓ. Editora Comercial S.A., 1957. (in: ICOP: Dados biográficos dos Fundadores. BRITO, R.S. & DANTAS, K. - Oeste: Revista do Instituto Cultural do Oeste Potiguar, nº 12, setembro de 2010).


Uma visita mais que especial a casa da querida Dalva Stella, figura muito importante para o desenvolvimento da música na UERN. Muita alegria em poder reencontrar uma pessoa que irradia vida e luz. E para fechar com chave de ouro, nossa visita foi no dia de seu aniversário.

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CARIRI CANGAÇO POÇO REDONDO 2018: TODO MUNDO CONVIDADO

Por Rangel Alves da Costa

Severo mandou convidar gente de todo lugar. Por aqui estarão Lili, Ivanildo e Kydelmir. Abraçar com cortesia Quirino e Célia Maria. Aplaudir em alto som Pedro Lucas, Pedro Popoff e Cecília do Acordeon. Vem gente de baixo de cima, Edivaldo, Aninha e João de Souza Lima. Levantando a poeira, Ingrid, Juliana e Professor Pereira. Desfolhando a quixabeira, chegando Coló de Arneiroz e Aderbal Nogueira. Cortando pelo estradão, avista-se Oleone, Múcio e José Bezerra Irmão. Pra ler a poesia que fiz, vem o poeta Assis. Vem Júnior Almeida e Ranaise, Franci Mary e Ana Lúcia, mas ninguém de mais astúcia neste mundo tão pequeno que o Tássio Sereno. Vilma Ferreira Leite arrume a mala e se ajeite pra festança ser deleite. Despontando na cancela, vem no passo o Vilela, correndo pra ser primeiro lá vem o Kiko Monteiro. Jorge Remígio, Narciso Dias, Archimedes e Elane, pra tudo correr sem pane. Luiz Ruben, Leandro Cardoso, Emanuel Arruda e Meneleu e o belo mundo tabaréu. Aline e Noádia Costa, um povo que a gente gosta. E vem Ricardo Ferraz, Luiz Augusto e muito mais. Vem Marcos de Carmelita, chega a caatinga se agita. Celsinho Rodrigues e Inácio, Jairo e o amigo Afrânio, todo mundo vai chegar para Poço Redondo abraçar. Bismarck e Paulo Gastão, o cangaço em coroação. Robério, Louro Teles e Divanildo, Ney Vital e Custódio, tudo paz sem ter ódio, além de Aretuza Simonetta, que carregando beleza desarma a baioneta. Camilo traz violão e Léo Cangaceiro um gibão, enquanto Verluce Ferraz de cantar será capaz. Irari vem por aqui, isso eu sei, até senti, anunciando Geovane e o poeta Verí. Sandro Alencar vai chegar e um xaxado dançar, com Lili a se rebolar até a lua brilhar. Coronel Fudenço matreiro, talvez chegue logo primeiro, assim imagino e penso. Mas Stelinha Lobão, que não é brinquedo não, já se diz com pé no sertão. Westerland também irá e todo mundo a esperar. Toda família Pandini junto ao Sertão Nordestino, desde velho a menino lá nas terras de Alcino. E mais gente e mais nome, tendo no sertão sobrenome, na festa de zuada e estrondo: Cangaço em Poço Redondo!

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A FASCINANTE HISTÓRIA DO CANGAÇO.

Do livro: Lampião, nem herói nem bandido, a história
De: Anildomá Willans de Souza

Essa é uma daquelas histórias que prende o leitor do começo ao fim e demonstra com exatidão de detalhes o verdadeiro universo cangaceiro. Leiam.

DAVID GOMES JURUBEBA “DAVID JURUBEBA”.

Um dos mais tenazes perseguidores/inimigos de Lampião. David Jurubeba durante muitos anos fez parte da Força Volante oriunda do então povoado de Nazaré, cujos integrantes eram conhecidos como Nazarenos ou ainda como os “Cabras de Nazaré”. Os Nazarenos sem sombra de dúvidas formavam a mais temível e implacável força de combate e repressão ao cangaceirismo/banditismo e em especial à Lampião e seus comandados.

David Jurubeba teve seu irmão Olímpio Gomes Jurubeba morto no dia 20 de novembro de 1924, durante um tiroteio entre os Nazarenos e o bando de Lampião na Fazenda Baixas, localizada no município de Floresta/PE. A partir de então David Jurubeba passou a ter uma dívida de sangue para ser cobrada a Lampião. A morte de Olímpio Jurubeba contribuiu para o aumento ódio e da sede de vingança por parte da população da pequena Nazaré de onde saíram os maiores perseguidores e inimigos de Lampião. Tendo inclusive o próprio Lampião reconhecido a bravura e valentia por parte dessa gente.

A caça ao chefe supremo do cangaço e ao seu bando apenas encerrou no dia 28 de julho de 1938 quando a tropa comandada pelo então Tenente João Bezerra da Força Policial Volante alagoana encerrou definitivamente a trajetória do maior cangaceiro de todos os tempos.

A morte de Lampião foi recebida com certo contentamento e ao mesmo tempo com indignação por parte dos Nazarenos por não terem conseguido alcançar tal proeza, apesar dos esforços empreendidos nos vários anos em que caçaram Lampião e seus comandados por vários estados do Nordeste.

David Gomes Jurubeba e os Nazarenos entram para a história do cangaço com méritos por terem combatido exaustivamente o cangaceirismo e o banditismo de um modo geral que naquela época, além da seca e dos desmandos dos detentores do poder, eram algumas das mazelas que assolavam os sertões do Nordeste.

David Gomes Jurubeba faleceu no dia 07 de janeiro de 2001 vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral) no Hospital da Policia Militar na capital pernambucana. Na ocasião Davi Jurubeba contava com a idade de 99 anos e 45 dias. Seu corpo está sepultado no Cemitério Público Municipal de Serra Talhada/PE. (Geraldo Antônio de Souza Júnior)

O TIROTEIO DAS BAIXAS

Perguntado sobre qual teria sido o momento mais marcante e difícil pelo qual passou em confrontos contra Lampião. David Jurubeba respondeu:

"- Foi no tiroteio das Baixas - onde morreu meu irmão Olímpio - e o de um lugar denominado Jacaré, onde constatei a bravura e resistência de Lampião, vendo a hora eu e minha gente partir desse mundo pelas balas dos cangaceiros. Mas que mesmo assim, botamos os bandidos para correrem".

Continua David Jurubeba:

" - Fazia um tempão que ninguém ouvia falar de Lampião. As noticias eram as mais desencontradas possíveis. Falar se falava, mas ver o homem mesmo, pra peitar, isso não.

Até que um dia ele apareceu de supetão, próximo a Nazaré, na fazenda Paus dos Leite, onde, no momento, um parente meu, Pedro Tomáz, estava dando uns mergulhos no açude. O coitado saiu na maior carreira, nu, debaixo de pilherias e galhofas dos cangaceiros, em direção à Nazaré.

Aí se juntou um punhado de homens armados, inclusive eu, Tomáz e seu pai, Tomáz Gregório. Seguimos os rastros. Constatamos pelas pegadas serem quinze homens que rumaram em direção da fazenda Baixas, uns doze quilômetros do povoado. Chegamos na frente da casa da fazenda, nos posicionamos nos currais que ficavam depois do grande terreiro.

Esperei um pouco, nenhum movimento ou voz, aí gritei:

" - Lampião, filho da puta!".

Aí foi tiro pra todos os lados. Nós eramos apenas cinco. Mas mostramos que nazareno que se preza, um vale por dez.

Enquanto a gente amolegava o dedo no gatilho, gritava impropérios. Aí comecei a puxar um assunto que apoquentava Lampião:

" - Lampião, bem que Zé Saturnino dizia que você não é homem bosta nenhuma".

Menino, o cabra ficou mais azedo ainda! Aí gritava mais alto:

" - Num fale daquele cabra safado. Aquele sim, é um ladrão de bode, desordeiro e mentiroso".

E tome bala. Tome gritos. Desaforos. Já eram duas horas da tarde quando resolvemos cair fora do local da luta. Estávamos com muita sede, pouca munição, os olhos ardendo com o fedor e o fumaceiro da pólvora, e a vantagem era dos cangaceiros.

Eles, dentro de casa, com mais homens. Nós, protegidos pela cerca do curral e com apenas cinco nazarenos. Saímos de fininho. Um a um.

A certa distância nos encontramos todos os companheiros no ponto previamente combinado e íamos em direção a Nazaré, com muita fome e sede, mas com vontade de brigar. De repente vimos chegando ao nosso encontro sete homens, eram eles: meu tio Gomes Jurubeba, Manoel Flor, Manuel Jurubeba, Euclides Flor, Inocêncio, meu irmão Olímpio e outro parente. Meu tio foi logo dizendo:

" - Vamos brigar! "

Comemos uns pedaços de queijos e rapadura. Tomamos bastante água. Reabastecemos as armas. Criamos alma nova e partimos mais uma vez pro palco das brigas. Já havia se passado quase duas horas do primeiro fogo. Agora éramos doze nazarenos.

Ninguém percebia nossa presença se arrastando rente ao chão, tomando as posições no mesmo curral para liquidarmos com os cangaceiros que continuavam ocupando a mesma casa como se nada tivesse acontecido.

De cara vi logo Lampião.

Estava meditativo, encostado na janela, alheio ao tempo, com a cabeça nas nuvens.

Fiquei olhando pra ele e vi, não apenas o cangaceiro meu inimigo, mas o cabra macho que ele era, altivo, jamais dobrou o lombo pra quem quer que seja.

Tinha palavra. 
O que falava era lei. 
Cumpria o prometido. 
Acima de tudo, era valente.

Ele continuava vagando nos pensamentos. Aí me organizei pra atirar. Pus a cabeça dele bem dentro da alça da mira do meu rifle.

Era o fim de Lampião.

Quando espremi o dedo no gatilho, vi que estava travada.

Mentalmente soltei um palavrão.

Fui destravar a arma silenciosamente, mas teve o " clic "inevitável.

Nesse exato momento Lampião deu uma cambalhota pra trás, correu ziguezagueando, e nós atirando no homem que mais parecia um gato acuado fazendo todo tipo de pirueta, quando chegou no pé da porta da casa, pulou pra dentro numa velocidade impressionante.

A estas alturas, os cangaceiros respondiam o tiroteio.

Por um instante pensei ter eliminado com Lampião. Perdi a ilusão quando escutei sua voz:

" - Tá vendo David, todos os homens de Nazaré não vale um só de minha marca".

Aí respondi:

" - Mas ainda hoje mando você roubar bode no inferno".

Era tanto palavrão com a gente e com nossas mulheres, que muitas vezes não vale a pena repetir.

Mas o tiro corria frouxo. Era uma barafunda infernal.

Os cangaceiros tanto atiravam como gritavam arremedando os animais, cantando, parecia até que não tinham medo e a coragem pra brigar ia às bordas da insanidade.

De repente Pedro Tomáz me puxou pelo braço e mostrou-me meu irmão Olímpio, ferido, com um tiro na espinha, mesmo no meio das costas. Foi um banho gelado em mim, fiquei mudo, com medo do pior acontecer.

Sentei-me ao seu lado, pus sua cabeça na minha perna. Nunca pensei na minha vida vê um irmão meu naquele estado, deitado no chão, se esvaindo em sangue, dizendo coisa por coisa. Cada vez mais pálido e gelando. Para desfechar com mais dor este momento, uma bala lhe atingiu a cabeça, quase me ferindo também.

Fiquei louco.
Não enxerguei mais nada.
Cego de dor e ódio, gritei:
"- Lampião, Olímpio morreu! "

Todo mundo parou de atirar. Tanto os cangaceiros como nós.

Saltei de peito aberto pro meio do terreiro, gritando pra o sertão inteiro escutar:

" - Lote de cangaceiros filhos da puta! Lampião, seus tiros acabou com a vida do meu irmão. Vamos agora, nós dois, decidir nossas vidas na ponta do punhal. Venha Lampião, vamos disputar num duelo".

Lampião calmamente respondeu:

" - Sinto muito pela vida de Olímpio. Conheci bem de muito tempo. Era um menino, noivo, trabalhador. Eu, David, comecei a lutar mais novo do que ele, mas nunca disse que era novinho e bonzinho. Quando mataram meu pai eu tinha a idade do Olímpio... Quem sai pra chuva vai se molhar. Quem parte pra briga, corre o risco de morrer".

Voltei a insistir:

" - Vamos decidir na faca, só nós dois".

Mais uma vez recuou:

" - David, não brigo com quem está querendo morrer.

Você está desesperado.

Se está querendo morrer, empurre a faca na sua barriga.

Agora mesmo estou com dois refles apontados pra você. Se mandar os meninos atirar, eles atiram. Volte para seu lugar e recomeçaremos a briga".

Sair andando para minha posição, cada passo que dava era um tiro que disparava em direção a porta que Lampião estava. Ao chegar no local que me entrincheirava, recomeçou o tiroteio.

Pouco mais de vinte minutos depois, tomba morto outro dos nossos, foi Inocêncio. Jovem como Olímpio.

A partir daqui estávamos com gosto de derrota na boca.

Os tiros não tinham piedade.

A tarde estava cedendo lugar pra noite, quando saímos das Baixas levando os dois corpos dos companheiros, mais do que isso, um irmão e um primo.

Foi luto em Nazaré e na minha alma, até hoje. Isso foi no ano de 1924, o mês não me recordo direito, tenho anotado, no óbito e nos documentos, mas não me lembro assim de cor, só sei que era tempo de safra de umbu.

Do livro: Lampião, nem herói nem bandido, a história
De: Anildomá Willans de Souza
Geraldo Antônio de Souza Júnior

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UMA PERSPECTIVA INTERESSANTE SOBRE O CANGACEIRO CHICO PEREIRA

Por Geziel Moura

É com grata satisfação que li e recomendo a obra "Nas redes das memórias: As múltiplas faces do cangaceiro Chico Pereira", de Guerhansberger Sarmento, e para justificar este estado de satisfação, gostaria de tecer alguns poucos comentários sobre o texto acima mencionado, na qualidade de leitor.

Em primeiro lugar é flagrante que o texto é produção acadêmica, mas não consta academicismo exacerbado, a linguagem é leve e inteligível, fruto de pesquisa com todos os elementos que a caracteriza (objeto de investigação, questões de pesquisa, metodologia utilizada, objetivos do estudo e referenciais teóricos que dão aporte para a análise), estão todos bem delineado na narrativa do texto. Portanto, o movimento de escrita é bem realizado, dentro do que se espera da pesquisa séria, tais como: Os confrontos de fontes utilizadas, as referências consultadas além da organização da/na escritura.


Do ponto de vista, do recorte histórico que o autor analisou, cujo cerne está, nos lugares ocupados, em termos de discursos produzidos, na trajetória do cangaceiro paraibano Chico Pereira, é possível flagrar que o texto rompe com o lugar comum, muito usual na literatura do cangaço, cuja característica é a mera transcrição de acontecimentos e episódios, sem o cuidado de estabelecer conexões com outros eventos da história, é o causo pelo causo, começa e termina nele próprio.

Quanto as análises propostas por Guerhansberger, parece-me adequada principalmente, na operação dos conceitos do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984), que nos ajuda a pensar a história do pensamento, a partir da fabricação do autor, condições de possibilidades, para a existência de dado discurso, a relação de poder e saber, sem no entanto, abjurar dos limites que as análises podem favorecer, isto é, o texto situa-se numa perspectiva do autor, muito bem costurada e cheias de possibilidades, porém sem desvincular das incertezas possíveis, preconizada por Foucault.

Finalmente, quero parabenizar Guerhansberger, pelo trabalho, confesso que pensava que os textos analíticos sobre o cangaço, na forma de livro, estariam apenas concentrados a poucos autores, como: Frederico Pernambucano de Mello e André Carneiro de Albuquerque, dentre outros.

Informação do logdomendesemendes.blogspot.com - O autor deste artigo não colocou o endereço para aquisição deste exemplar, mais acreditamos que poderá ser adquirido através deste e-mail: franpelima@bol.com.br.

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O PREFEITO QUE ENFRENTOU LAMPIÃO PARTE I

Por Ana Paula Cardoso

Rodolpho Fernandes negou ceder À chantagem do bando de cangaceiros e marcou a história de Mossoró e do cangaço.

Até hoje celebrada história da resistência de Mossoró, Rio Grande do Morte, ao ataque do bando de Lampião, há 90 anos, tem um personagem central que muito divergia da figura dos cangaceiros: o então prefeito da cidade Rodolpho Fernandes. 

Ele nasceu em Portalegre(RN) no dia 24 de maio de 1872, casou-se no ano de 1900 com Isaura Fernandes Pessoa, com quem teve quatro filhos: José, Julieta, Paulo e Raul. Elegeu-se prefeito de Mossoró em 1926. Àquela época, a cidade contava com média de 20 mil habitantes e era exemplo de economia pujante graças ao ciclo do algodão e do comércio. A história do prefeito e do município, porém, seria marcada pela notícia de que o bando de Lampião iria invadir Mossoró.

Mesmo com baixo efetivo policial e diante da fama do cangaceiro mais temido do Nordeste, Rodolpho Fernandes se manteve firme e organizou o esquema de defesa que conseguiu expulsar os criminosos sem registrar nenhuma baixa do lado mossoroense. O aviso sobre os planos de invasão veio, conforme o historiador Raimundo Nonato, através de uma carta enviada ao prefeito por um representante de uma empresa mossoroense. O documento alertava sobre boatos da presença de Lampião nas proximidades e da possibilidade de ataque.

No período de um mês, que se passou entre o aviso e o ataque dos cangaceiros, Rodolpho Fernandes conseguiu aprovar na Câmara de Vereadores a criação de guarda Municipal. O prefeito também pediu auxílio do Estado do Rio Grande do Norte e dos Estados vizinhos Ceará e Paraíba. No entanto, o então governador cearense negou a ajuda requerida. Já o governador da Paraíba respondeu não acreditar na possibilidade de o bando de Lampião atacar Mossoró, uma vez que a cidade de menor porte e distantes do litoral.

Do governo do Rio Grande do Norte, Mossoró recebeu rifles. Diante da insuficiência de armas para combater os cangaceiros. Rodolpho Fernandes comprou com a ajuda de comerciantes mais armamentos e reuniu ainda voluntários para defender a cidade no esquema de trincheiras estrategicamente posicionadas em diversos pontos. Saber do ataque mais de um mês antes de ocorrer possibilitou a elaboração de um plano de defesa eficiente, que marcou a história de Mossoró e do chamado cangaceirismo.

Fonte: 
Revista: BZZZ
Ano: 4
N.: 51
Mês: Setembro de 2017.
Digitado por José Mendes Pereira

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UMA FOTO HISTÓRICA....E, A SUA VENDA NAS FEIRAS DOS SERTÕES..!

Por Voltaseca Volta

A passagem de Lampião pelos lugarejos, nos Estados em que atuou, foi motivo de medo, fascínio e, algumas vezes, admiração de alguns sertanejos, ante a figura do bandoleiro e de seus asseclas.

Em diversas oportunidades, o rei dos cangaceiros foi fotografado, e, suas poses, foram vendidas nas feiras, botecos e etc.


O árabe benjamim Abrahão utilizou muito dessa prática, sobretudo no Estado de pernambuco, e vizinhança, com a finalidade de ganhar dinheiro.

Acima, uma "cópia do original", de uma foto de Lampião e seu assecla " Jurity ".

Data: 1936/37
Foto: compartilhada de Jeovane Alves da Rocha

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VELÓRIO DO CORONEL DELMIRO GOUVEIA

Por Voltaseva Volta
Fonte da foto: facebook

Considerado um dos precursores da industrialização do Nordeste, pois, aproveitou a água do rio São Francisco, para gerar a energia (Usina de Angiquinho - Paulo Afonso/BA)...,era natural de Ipú-CE.

Criou a Fábrica de Linhas da Pedra. Posteriormente, com a morte do mesmo, o município passou a se chamar, Pedra de Delmiro-AL.

Foi assassinado por pistoleiros em 10 de outubro de 1917, enquanto lia jornal, em uma cadeira, em sua residência.

Até hoje, se discute, quem foi o mandante e executores do assassinato.

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