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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

REVENDO - Assassinato de Delmiro: Uma trama estrangeira ou... Cangaceira?

Por Gilmar Teixeira
Gilmar Teixeira, Livio Ferraz, Aderbal Nogueira

No ano de 2008 iniciei um projeto para realizar um documentário sobre a Usina Hidroelétrica do Angiquinho, encomendado pela Fundação Delmiro Gouveia, que administra o sítio histórico. Durante a organização do acervo histórico enviado de várias partes do Brasil e do mundo, como objetos, jornais, cartas, livros, vídeos e fotografias, tive acesso a algumas informações sobre o assassinato do empresário Delmiro Gouveia, que ocorreu em 1917.


Como historiador e pesquisador do cangaço deparei-me com algumas informações até então desconhecida de todos as literaturas que havia tido acesso. Não que os historiadores do cangaço e biógrafos de Delmiro Gouveia tenham se omitido aos fatos, mas diga-se que os mesmos não tiveram em seu tempo a reunião destas informações como foi a mim oportunizado. E foi destas revelações, obscurecidas pela pouca preocupação no nosso país em preservar a história, que resolvi escrever este livro, fruto da pesquisa e do amor pela cultura e memória do sertanejo.

Pois bem. Ao ler uma matéria do jornal carioca Última Hora que fez a cobertura da saída da prisão do principal acusado e sentenciado pelo assassinato de Delmiro, o pistoleiro Róseo, que concedeu entrevista ao impresso. Na entrevista destacou que quando foi a Água Branca-AL fazer o acerto para assassinar Delmiro, já estavam lá os cangaceiros 


"Luiz Pedro e Sebastião Pereira" na casa da baronesa Dona Joana Vieira Sandes de Siqueira Torres, prontos para matar o empresário da Pedra.


Porém, antes do serviço os mesmos são mandados para Sergipe para fazer um serviço para o Coronel Neco de Propriá, mas chegando lá o serviço é suspenso e ficam por lá trabalhando na usina do coronel.

Como pesquisador do cangaço imediatamente liguei os nomes dos dois cangaceiros citados por Róseo, e através de uma foto tirada na cidade da Pedra, datada de 1917 (ano da morte de Delmiro)...

eram eles Sinhô Pereira e seu primo Luiz Padre; Sinhô foi o chefe de Lampião. A foto em questão foi a única foto destes dois cangaceiros que se tem registro.

Continuando a pesquisa, descubro que os dois cangaceiros são primos do Capitão Firmino, e estiveram hospedados em sua fazenda na Pedra-AL, que havia sido vendida a Delmiro. Não por coincidências os dois cangaceiros saem em fuga para o Estado de Goiás na companhia de Zé Gomes, cunhado de Firmino, logo após o assassinato. O compadre de Delmiro Cap. Firmino é então acusado de ser o mandante do assassinato do amigo, visto a relação com Gomes e sua fuga, e foi preso. A sua prisão e soltura rápida com a influência de Lionelo Iona, sócio de Delmiro, e membros da família Torres, revelou um grande complô, que esse livro, através de documentos, reportagens e fotos da época busca retratar quase um século depois, as motivações, encenações e tramas para o assassinato de Delmiro Gouveia.

Teriam sido eles autores de um dos crimes que abalaram o país no início do século 20?

Os fatos documentados apontam que membros da família Torres e Lionelo Iona orquestram uma trama espetacular, fazendo com que vários desafetos de Delmiro Gouveia se interessassem após uma reunião, por assassiná-lo, criando diversos álibis para os interesses escusos envolvidos neste crime. Partindo do princípio de que, realmente os assassinos foram os cangaceiros Luiz Pedro e Sebastião Pereira, a sequência dos fatos a seguir permitirão ao leitor identificar em meio aos fatos, o desenrolar deste mistério secular, tornando cada um dos leitores investigadores e, certamente, novos elementos serão revelados a cada leitura. Nesta investigação histórica deve ser observado pelos leitores as seguintes condições:

1. Lionelo Iona, sócio e administrador das empresas de Delmiro, que antes de sua morte deixa testamento, onde Iona seria o tutor da herança deixada para os filhos de Delmiro até completar a maioridade, além de um seguro onde eras beneficiários. Essa fortuna seria administrada por ele. Veja que os filhos de Delmiro eram crianças na época, então imagine quanto tempo o mesmo teria até passar o controle aos herdeiros. Quando finalmente os filhos assumem os bens, depois de anos, Iona volta rico para Itália.

2. A família Torres tem seu poder político na região ameaçado pela presença forte de Delmiro que detém grande poder econômico e influência política. Os Torres participam e influem no julgamento dos acusados, o Juiz era membro da família e facilita para os interessados a condenação dos réus.

3. O Capitão Firmino, amigo e compadre de Delmiro tem sua filha difamada na cidade por conta da sedução de sua filha por Delmiro, e fica responsável pela contratação dos cangaceiros já famosos no Pajéu, Sinhô Pereira que vem a ser chefe de Lampião depois dessa morte junto com seu primo Luiz Padre (pai do deputado federal Hagaus de Tocantins). Seu futuro genro falava para todo mundo que só voltava para casar com sua filha, se ele matasse Delmiro, após a morte ele retorna e se casa. O Cap. Firmino estava na hora do crime com Delmiro e usava uma camisa escura, pois Delmiro só usava branco isso facilitou o alvo, só Firmino viu os três assassinos. Por que três? Era a quantidade que interessava, mas foram cinco, pois dois davam cobertura aos executores.

4. Herculano Soares (fazendeiro) apanhou de Delmiro no meio da rua e prometeu vingança, foi ele juntamente com seu cunhado Luiz dos Anjos que deram cobertura aos criminosos a mando do Cap. Firmino, pois eram amigos e o capitão já havia morado por muitos anos em Água Branca, terra de Herculano.

5. Zé Gomes (cunhado do Cap. Firmino), além de adversário político de Delmiro, tinha uma grande rixa com o empresário que apoiava em Jatobá (hoje Petrolândia) seu inimigo político Lero, que veio a derrotá-lo em eleição para prefeito. Após o crime foge para Goiás na mesma data que os cangaceiros e, passa a morar na mesma cidade.

A partir dos fatos aqui relatados, onde muitas coincidências se tornam suspeitas, toda a relação entre estas famílias e a acusação recaindo sobre Rósea é possível perceber que caso esta história revelada hoje, houvesse sido na época do assassinato muitos interesses políticos econômicos, que perduram até hoje, teriam os rumos alterados. Outros nomes ainda podem ser incorporados a trama, mas ao fim se revela que Rósea não foi o único executor, nem tão pouco o Cap. Firmino o único interessado nessa morte.


Gilmar Teixeira
Pesquisador, escritor e documentarista
Feira de Santana - Bahia


Clique nos links abaixo:

AS CANGACEIRAS "ARISTÉIA” E "ELEONORA"


Fotos: Cortesia do escritor João de Sousa Lima
A fazenda Lajeiro do Boi, em Canapí, Alagoas, era sempre visitada tanto por cangaceiros quanto por policiais. Os proprietários desta fazenda era o casal José soares e Maria dos Santos Lima. Eles tiveram os seguintes filhos: Eleonora, Benedita, Dasdôres, Valdemira, Luiza, Maria, Aristéia e Antenor. Todos nascidos no Capiá da igrejinha, local onde fica a fazenda Lajeiro do Boi.

Das filhas do casal José Soares e Maria Santos Lima, duas engrossaram as fileiras do cangaceirismo. Uma indo por prazer, outra sendo forçada. A primeira entrar no bando foi Eleonora. Ela seguiu o cangaceiro Serra Branca.

Aristéia Soares de Lima nasceu em 23 de junho de 1916 (portanto, no próximo dia 23, fará 96 anos de idade) e lembra-se bem da passagem dos cangaceiros Corisco, Virgínio e Luiz Pedro em sua casa, sendo que por diversas vezes, outros cruzaram o terreiro da fazenda Lajeiro do Boi.

Tendo seu nome envolvido como coitera de cangaceiros e temendo a ação vingativa dos policiais, Aristeia fugiu para fazenda alto vermelho, entre lajinha e campo, próximo a Santana do Ipanema, indo refugiar-se na casa das tias Mariinha, Zifina, Santa e Maria grande. Por essa época, Eleonora, sua irmã, já se cobria com a mescla azul e os bornais enfeitados com os desenhos de flores coloridas.
Cícero Garrincha já tinha certa queda por Aristéia e assim que abraçou a nova vida do cangaço começou a rondar a fazenda da família da moça. Em uma dessas passagens, ele foi avisado pela amiga Celina, da localização de Aristéia. Cicero seguiu para fazenda Alto Vermelho e depois de conversar com a escolhida, sem usar a força, conseguiu que ela, mesmo contra sua vontade, acompanhasse o cangaceiro.

O novo casal seguiu ao encontro do grupo de Moreno que os aguardava no coito conhecido por Pilão das Pêia Junta, próximo à casa de Aristéia.

No esconderijo, Aristéia foi festivamente recebida. Durvalina manejou a velha máquina de costura e fez um vestido para nova amiga, completando o figurino com bornais floridos e um chapéu de feltro. Logo após a entrada de Aristéia, suas primas Sebastiana e Quitéria seguiram os cangaceiros Moita Brava e Pedra Roxa.
ARISTÉIA CHORA A MORTE DA IRMÃ, A CANGACEIRA ELEONORA.

Eleonora vivia com o cangaceiro Serra Branca, que chefiava um grupo de aproximadamente cinco cangaceiros. Grupo esse pouco conhecido por viver sempre escondido nas terras alagoanas. Os cangaceiros desse bando não ganharam destaque em combates, saques e nem crimes, fugindo da realidade do mundo que cercava os caminhos do cangaceirismo, vida cheia de entrechoques perigosos e violentos.

No dia 20 de fevereiro de 1938, com as rodagens cercadas por policiais, que davam segurança e proteção ao interventor Dr. Osmar Loureiro, de viagem pelos sertões alagoanos, o tenente João Bezerra deixará sua volante nas proximidades do Inhapí, ao cômodo do soldado Juvêncio, totalizando nove homens no grupo, que estavam arranchados perto de uma cacimba.
Os soldados estavam bem á vontade ao redor da cacimba, desarreados dos bornais, chapéus e cartucheiras, estando alguns sem alparcatas.

Com o amanhecer, entre nove dez horas, enquanto Antonio Jacó tirava água do riacho, ele observou um cachorro que se aproximou da cacimba e desconfiou que, pela ornamentada coleira que possuía, só podia ser cachorro de cangaceiro. Os soldados tinha realmente razão, era o grupo de Serra Branca que vinha se aproximando.

O chefe trazia nas costa, uma banda de bode, sendo seguido pela mulher Eleonora e mais dois companheiros, entre eles o Ameaça. Antonio Jacó viu quando o soldado Cornélio levantou-se e empunhou o fuzil, se preparando para atirar, enquanto ele ajeitava, na cintura, suas cartucheiras com vinte e cinco cartuchos. O tiro zoou, partindo da arma de Cornélio Jacó correu em perseguição aos cangaceiros, sendo acompanhado pelo soldado Zé Gomes. Na frente de Antonio Jacó corria o cangaceiro Serra Branca e na frente tentava fugir Eleonora. Jacó gritou:

-Se vira cabra, pra brigar. Se vira pra brigar!

(Acompanhem a perseguição sendo relatada pelo próprio Antonio Jacó):

"-Eu atirando, atirando e correndo. Aqui e acolá ele (o cangaceiro) se virava, dava um tiro e corria. Até que ele se apadrinhou numa catingueira, mas ficou assim meio de fora eu tive a oportunidade de atirar bem nele. A bala pegou assim na altura da pá com as costelas e saiu do outro lado. Ele se torceu, jogou a banda de bode prum lado e correu. Aí eu vi que tinha ferido ele, porque das costas saia sangue. Quando ele saiu correndo eu sai na carreira atrás dele de novo. Adiante tinha um riacho, ele pulou embaixo, já com pouca força.
O riacho tinha assim um metro e meio de fundura, mais tava seco. Na carreira que eu ia nem deu para parar na ribanceira do riacho. Ele tava com o rifle armado e pronto para atirar e como não deu pra mim parar eu pulei encima dele. Ele assombrou-se com o que viu e correu. Quando ele virou as costas, ai eu aproveitei e pá. Ele caiu debruçado. Mais eu vi que ele não tinha morrido. Quando ele caiu, a mulher (Eleonora) que ia na frente dele viu que ele não podia mais correr, virou-se abriu os braços.

Não sei porque ela abriu os braços assim, porque foi tudo rápido, não deu para pensar em nada. Naquele instante, Zé Baixinho vinha atrás de mim e eu não sabia que ele vinha atrás de mim, acompanhando aquela correria toda. Zé Baixinho que vinha correndo mirou o mosquetão e atirou na mulher de braços abertos (Eleonora) e acertou bem no meio da testa . Foi um tiro só. A mulher (Eleonora), tombou no chão na mesma hora.


O soldado Zé Baixinho aproximou-se de Serra Branca . O cangaceiro apesar do tiro que havia tomado, levantou-se e atirou. Zé Baixinho caiu entre os matos. 
Antonio Jacó atirou no estômago do cangaceiro acabando de matá-lo. Zé Baixinho levantou-se apenas atordoado pelo susto do tiro, sem ser ferido.
Antonio Jacó cortou a cabeça do casal, amarrou um crânio no outro pelos cabelos e retomou trazendo os dois troféus, na direção da cacimba, onde estavam arranchados.

Na cacimba, Cornélio estava com a cabeça do cangaceiro Ameaça, separada do corpo cortada por facão. O tenente João Bezerra que estava um pouco distante na hora do tiroteio, mas que havia ouvido os tiros, já se encontrava na cacimba quando Antonio Jacó foi avistado seguindo por dentro do riacho, trazendo as cabeças e os pertences dos cangaceiros.
Os soldados levantaram as cabeças cortadas mostrando-as aos amigos. Depois de alguns minutos de conversa, diante da observação do tenente João Bezerra, foi que eles foram ver que Antonio Jacó tinha perseguido os cangaceiros, estando descalço, sem camisa e sem chapéu .

Os soldado retornaram pra Piranhas/AL, transportando as cabeças. De Piranha foram pra pedra de Delmiro e de lá seguiram pra Santana di Ipanema, onde entregaram as cabeças aos coronéis Zé Lucena e Teodoreto de Camargo Nascimento . Os coronéis deram a patente de cabo a Antonio Jacó que repassou a patente para o amigo Juvêncio.
Em Santana do Ipanema, os soldados Cornélio, Zé Baixinho, Elias, Octácilio, Zé Gomes e mais alguns companheiros, prestaram contas aos seus superiores hierárquicos, tendo por provas os crânios das vitimas abatidas em combate.

Entre as macambiras espinhentas da caatinga, três corpos alimentavam animais selvagens, enquanto na fazenda Lajeiro do Boi, os pais de Eleonora sofriam a perda de uma filha querida .

ARISTÉIA soube através dos coiteiros da morte da irmã e por ela verteu lágrimas sentidas.

O padre Demuriês, que celebrava a missa na região de Mata Grande, Canapí, Inhapí e nas fazendas circunvizinhas,criava em segredo o filho de Eleonora e Serra Branca, um menino chamado Francisco de Sá .
Assim que o padre ficou sabendo da morte da amiga cangaceira, convocou alguns fiéis e foi, em segredo, enterrar ELEONORA.

O padre chegou com facilidade onde estava o corpo, sendo auxiliado por vaqueiros conhecedores da região. No local, o Ministro de Deus encomendou o corpo e o enterrou em cova rasa, aberta na urgente necessidade do momento e coberta por facheiros e macambiras, deixando sepultada uma vitima que antes de tudo fazia parte de sua vida, ficando, por recordação da amiga, um filho deixado por ela .
ABAIXO, FOTO DA VOLANTE do Ten. JOÃO BEZERRA, com as cabeças dos cangaceiros: Serra Branca, Eleonora e Ameaça

A MORTE DOS CANGACEIROS ZÉ VEIO E CÍCERO GARRINCHA 
Moreno e seu grupo empreenderam uma viagem em direção á Santana do Ipanema, saindo das proximidades da fazenda Lajeiro do Boi. No percurso, os catingueiros tiveram que passar nos pastos, fazenda com o mesmo nome do local onde morreram Eleonora, Serra Branca e Ameaça . Cícero Garrincha e Aristéia seguiam um pouco na frente do grupo, atravessando as veredas, soltando sorrisos de contentamento, curtindo a festividade da aparente gravidez, de poucos meses, da cangaceira.

Moreno, , seguia concentrado no caminho e preparado para as surpresas que pudesse aparecer ( e elas sempre apareciam ).

Apesar de cedo do dia, o sol alardeava seus raios trêmulos sobre a terra, castigando os galhos pontiagudos e as folhas secas da caatinga. Os cangaceiros riscava com suas “ percatas “ ferradas, os empoeirados atalhos alagoanos.

Os risos de Aristéia disfarçava a triste dor que perpassava a condição de sofrimento da ida bandoleira do cangaço, feito sentença cumprida na solidão e no abandono dos carrascais poeirentos dos materiais lúgubres, que geravam as ações continua de fuga, onde se igualavam atacantes e atacados.

Um pouco mais na frente, fechando a passagem de vereda por onde seguiam os cangaceiros, soldados armavam uma emboscada. Escondidos e protegidos entre as pedras e as vegetações mais salientes, eles aguardavam o momento de atacar os inimigos.

Os cangaceiros seguiam em direção á armadilha, sem desconfiar da cilada armada. Poucos passos depois, na aparente serenidade da caminhada, tiros ecoaram, calando risos e gerando tumultos. Moreno e João Garrinchaagacharam-se e retribuíram os disparos, colocando as mulheres em suas retas-guardas, longe dos possíveis ferimentos.
Travou-se acirrado tiroteio.
Um pouco á frente de Moreno, um cangaceiro atingido pelos primeiro disparos, agonizava. Pouco segundos depois, o cangaceiro Zé Velho, apelidado de "pontaria" , dava seus derradeiros suspiros.
Um pouco atrás de Zé Velho, Cícero Garrincha, o Catingueira, também tombava crivado por balas .

ARISTÉIA avistou Cícero Garrincha se arrastando, procurando sair do raio de ação dos disparos realizados pelos policiais .

Aos poucos, o matraquear intermitente das armas foram ficando compassados. Os soldados foram silenciando seus armamentos e fugindo do campo de batalha. Zé Velho tombara morto, crivado pelas minúsculas ogivas de chumbo disparadas.

Cícero Garrincha levantou-se depois de muito esforço. Suas roupas estava completamente encharcadas de sangue. Moreno se aproximou de Cícero Garrincha e, junto com João Garrincha, o transportaram para um local mais seguro.
ARISTÉIA lembrou-se do velho ditado sertanejo: “ Muito riso é prenúncio de muita dor “ .

Os cangaceiros seguiram a trilha de volta, buscando socorrer o amigo que cambaleava apoiando nos ombros dos dois fiéis amigos. Com algumas centenas de metros, já exaustos, os cangaceiros pararam. Cícero Garrincha foi colocado em uma sombra e sua camisa foi aberta dando visão ao estrago causado pelo tiro. A caixa torácica foi parcialmente destruída pelos estilhaços de uma mortal bala. Os companheiros assustaram-se diante da visão do ferimento, onde viam o coração pulsando .
A respiração ofegante do baleado, expulsava jatos de sangue, pelo largo orifício da contusão. O cangaceiro pediu água, Moreno argumentou que água naquele momento causaria danos piores, podendo levá-lo rapidamente á morte. Durvalina tirou de dentro de um dos bornais um vidro de “ saúde da mulher “ um composto usado quando das cólicas menstruais. Um capucho de algodão foi ensopado por Durvalina na solução e passado nos lábios do moribundo cangaceiro, por seguinte vezes o chumaço de algodão foi embebido no remédio e aliviado a secura dos lábios de Cícero Garrincha, enquanto seu coração arquejava descompassado, expulsando sangue borbulhante cada vez que respirava, sendo assistido por olhares assustados com a gravidade da lesão. Moreno sabia que a morte do amigo era questão de tempo. Cícero Garrincha também pressentiu o momento difícil porque estava passando. Ao lado do cangaceiro, Aristéia chorava sua angústia . Moreno olhou nos olhos do cangaceiro e perguntou:

- O que você quer que eu faça com sua mulher?

- Faça o que Deus quiser!Se pudé deixe ela com a família!

- Eu deixo!

A respiração de catingueira foi ficando insuficiente, o sangue banhava cada vez mais as mãos que segurava o corpo inquieto. O coração pulsava frágil e visível. O cangaceiro apertou com a mão, o braço de Moreno, pendeu a cabeça pro lado e expirou. As lágrimas rolaram nas faces angustiadas dos companheiros. João Garrincha assistiu, contrariado, a morte do irmão. ARISTÉIA chorou amargamente sua perda, ostentando em sua barriga saliente, um órfão prestes a nascer .
Moreno cavou, junto com a ajuda dos amigos, uma cova rasa e enterrou o companheiro, cobrindo a sepultura, com macambira e xique-xique cactáceos que enfeitam a paisagem rara do Sertão Nordestino.
Fonte:

O pesar de ser cangaceiro

Aline Karla

A partir de Maria Bonita, há registros de quase duzentas mulheres que passaram pelo cangaço. Mesmo vivendo um cotidiano fora dos padrões da época, uma vez que as mulheres do cangaço não eram responsáveis pelas atividades domésticas, por exemplo, elas ainda estavam presas a uma dinâmica centrada num universo preconceituoso e dominado pelo homem. A própria justificativa da presença feminina no movimento era um exemplo disso: elas eram as companheiras dos cangaceiros.
Para poder ingressar no bando, as mulheres tinham que ser casadas (ou roubadas) com algum cangaceiro. Não houve registro histórico de nenhuma que tivesse entrado no movimento por simpatia à causa, desejo de vingança ou qualquer outro motivo que não um casamento. Todas foram levadas por um companheiro fixo - cada um era responsável por sua esposa.
Para o pesquisador João de Souza Lima, a principal função das mulheres no cangaço era a de cuidar dos companheiros. No entanto elas também podem ser interpretadas como um  ornamento deles – afinal, andavam com roupas enfeitadas, cobertas com perfumes e jóias em ouro: “A mulher era um enfeite, um símbolo sexual. E cada cangaceiro queria ter a mulher mais bonita, mais enfeitada”, explica o estudioso.
Uma vez enxergadas como pertences de seus companheiros, a vida e a morte destas mulheres também ficava sob o domínio dos maridos. A infidelidade delas, por exemplo, era punida com a morte.
Caso da cangaceira Lídia, considerada uma das mulheres mais belas do cangaço. Ela ingressou no bando aos 18 anos, casada com o cangaceiro Zé Baiano.
Ao ser descoberta que traía o marido com  o companheiro de bando Bem Te Vi, Lídia foi torturada e morta a pauladas. Outra vítima da violência foi a cangaceira Lili, casada com o cangaceiro Moita Brava. Ele não perdoou o flerte entre a esposa e o colega de bando Pó Corante, e assassinou Lili com seis tiros à queima roupa, no meio do acampamento.
Nos casos acima, apenas as mulheres foram julgadas e punidas com a morte. Porém a postura era bem diferente quando a traição acontecia de maneira inversa. 


Como ocorreu com a cangaceira Antônia, que abandonou o grupo após descobrir que o marido, o cangaceiro 

Gato, havia trocado-a por outra. Antônia ainda reclamou e reivindicou, mas o que prevaleceu foi a vontade do cangaceiro.
A ex-cangaceira Aristéia Soares, 97 anos, também foi devolvida para a família a pedido do companheiro. Ela passou oito meses casada com o cangaceiro Catingueira, morto num confronto entre o bando e as volantes do governo. Gravemente ferido, Catingueira orientou os companheiros que encaminhassem Aristéia, que estava com a gravidez avançada, de volta à casa dos pais. E assim foi feito. Mais uma vez, a vontade do companheiro determinou o destino da mulher.
Uma - Vários nomes
Maria Bonita não era chamada assim por Lampião. No batismo, era Maria Gomes de Oliveira, mas em casa, com os pais, irmãos e outros mais próximos era conhecida como Maria de Déa, numa alusão ao nome da mãe, Dona Déa. Já nas veredas do Sertão afora era a D. Maria, Maria do Capitão ou Maria de Lampião, para todos os companheiros decangaço. Apenas foi batizada com o nome que a imortalizaria já nos últimos anos de cangaço, por meio da polícia e da imprensa da época – provavelmente pela fama já conquistada pela sertaneja de olhos claros, pernas grossas, cabelos castanhos e personalidade forte.
Fonte:

Guilherme Machado Entrevista: O Escritor, Pesquisador e Coordenador Cultural. Rubervânio Rubinho Lima; Em Conversa de Cabras!!!


Rubervânio Rubinho Lima,  nasceu em Paulo Afonso - Bahia, no dia 4 de Janeiro de 1979.
Rubinho é autor de vários livros e trabalhos relacionados à Cultura do Povo Nordestino.
Um dos seus melhores trabalhos literários  é: Conversa do Sertão “contos regionais nordestino”, Rubinho está terminando um outro trabalho a ser lançado no futuro próximo.  
O  cabra também é apaixonado pela saga do cangaço e tudo que é relacionado ao tema tão polêmico. Rubinho  tem participação,  em vários trabalhos literários de diversos  autores.
Atualmente,  trabalha para a Secretaria de Cultura e Turismo da cidade de Paulo Afonso -  Bahia. Oásis do sertão às margens do São Francisco. Guilherme e Rubinho tiveram longas horas de bate-papo, no Memorial da Companhia Chesf, local  antiga guarita de visitantes, onde  hoje funciona a Coordenação de Turismo do Município de Paulo Afonso - Bahia.

Extraído do Blog: Portal do Cangaço de Serrinha - BA, do amigo Guilherme Machado

Guilherme Machado entrevista Antonio Galdino, coordenador de Cultura e Turismo da cidade de Paulo Afonso. De Monteiro - Paraíba para a Bahia, com muita alegria!!!


Antonio Galdino nasceu em Monteiro, na Paraíba, no dia 18 de Janeiro de 1948. Chegando a Paulo Afonso - Bahia, ainda nos anos 70. Galdino é jornalista formado -  sócio fundador do Jornal Folha Sertaneja, de Paulo Afonso.
Também é responsável pelo famoso site "Mais Festa". Professor, escritor, pesquisador, foto Jornalístico. Galdino é de tudo um pouco. Atualmente Antonio Galdino assume a Coordenação de Turismo do Município de Paulo Afonso.
Coordena vários eventos políticos educacionais e culturais do município de Paulo Afonso, e cidades círculo vizinhas do semi-árido do Velho Chico. Galdino também é apresentador de programas de auditórias e de animações audiovisuais. Abênção ao Mestre Galdino com tantos anos de experiências e bagagens de vidas vividas.

Extraído do blog: Portal do Cangaço de Serrinha - Bahia, do amigo Guilherme Machado.

Existia amor no Cangaço?

Por: Aderbal  Nogueira
Amigos, como sabem, o tema de nossa última reunião do Cariri Cangaço - GECC, aqui em Fortaleza foi "Sila". Pois bem, venho agora trazer um pequeno fragmento de alguns depoimentos que tem muito a ver com o que discutimos, bem como com minhas palavras sobre "A ILUSÃO DO CANGAÇO". Prestem bem atenção aos detalhes do que é dito nesses depoimentos. Quando falo que não existia amor no cangaço, é por causa do que ouvi.  Aí estão algumas provas.
Sila e Adília, com o grupo de Zé Sereno
Vejam como Adília se apresenta quando foi se entregar à polícia. Reparem no semblante de Sila enquanto Adília está narrando sua história. Escutem bem o que ambas falam de seus companheiros. Notem os detalhes do que Sila diz lá na grota de Angico sobre o tempo que durou o tiroteio. Será que isso é coisa de quem mente? Vejam o depoimento de Candeeiro nos detalhes. Por que será que Aristéia reagiu dessa forma quando soube da morte de Lampião?
Ex-cangaceira Aristéa; ainda viva, morando em Delmiro Gouveia
Concordo que as mulheres não tiveram papel importante na história do cangaço, mas Sila estava presente em um dos combates mais importantes de Lampião, pois afinal foi lá que o grande chefe morreu. O que dizer do programa da TV Bandeirantes, gravado se não me falha a memória, em 2001, corroborando com o que o Prof. Frederico explicou há pouco tempo, sobre a origem do apelido de Maria Bonita?
Por favor, desculpem as falhas nesse vídeo. Durante algumas das gravações tivemos problemas de muita chuva e falta de energia elétrica, também não tive tempo de consertar algumas coisas, vale mais pelo registro das palavras. Nos próximos dias passarei para o blog o debate de nossa reunião, na íntegra que, por sinal, foi muito bom, e esperamos que os próximos sejam melhores ainda. Quanto mais discutirmos, mais aprenderemos.



Aderbal Nogueira
Sócio da SBEC, Diretor do GECC
Conselheiro Cariri Cangaço

Sila, um recorte na história !

Por: Laser Video


Laser Vídeo
Aderbal Nogueira

Guilherme Machado: entrevista João de Sousa Lima, para o Portal do Cangaço da Bahia.


Mostrando a Biografia do Escritor e Pesquisador, Poeta e Coordenador Cultural: João de Sousa Lima.

João de Sousa Lima nasceu em São José do Egito, Pernambuco, no dia 20 de Dezembro de 1964.   


Chegou  a Paulo Afonso com poucos anos de nascido, por isto tornou-se filho adotivo das doces e amáveis  terras baianas. É filho de Raimundo José de Lima  e de Dona Rosália de Sousa Lima. João tem três irmãos: José, Manuel, e Maria Bernadete. 


João é casado com Joelma da Silva Sousa Lima.  Com ela tem duas filhas: Stéfany e Letícia...  Ganhou notoriedade   no meio artístico  através dos elogiados livros: Lampião em Paulo Afonso,  A Trajetória Guerreira Maria Bonita a Rainha do Cangaço e Moreno e Durvinha,  Sangue, Amor e Fuga no Cangaço. Três  magníficas e plausíveis obras, fruto de excelente trabalho de pesquisa Histórica.

  

João participou como co-autor  dos Livros: Ecologias de Homens e Mulheres do semi-árido (Uneb-Campos VIII-2005); Ecologias do São Francisco (UNEB Campos VIII) AGENDHA-2006); As Caatingas: Debates Sobre a  Eco região   do Raso da Catarina (Governo da Bahia/Uneb Campos-2007); Na Mala do Poeta, Antologia Poética-2009). É autor da cartilha fotográfica sobre a restauração da Casa de Maria Bonita e criador do projeto que transformou  essa  Casa em Memorial. 

João é o criador do NEC- Núcleo Experimental de Cinema de Paulo Afonso, aonde vem produzindo alguns vídeos documentários.  J.S.L. ministra palestras em Faculdades, Universidades, Seminários  e encontros voltados para a Educação e a Cultura Popular Nordestina. 

A poesia é uma de suas paixões, fazendo emergir nos versos o que há de mais sublime na alma, fazendo revelar no eu poético toda a margia que doces palavras podem fazer: refletir e inspirar  leitores. 

João é imortal da ALPA-Academia   de Letras de Paulo Afonso (ocupa a cadeira de número 06). Sócio permanente da SBEC- Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço. João também  é  membro e secretario da UNEHS- União Nacional de Estudos Históricos. Membro fundador do IGH-MSPA - Instituto Geográfico e Histórico da Microrregião do Sertão de Paulo Afonso. Membro do CECA/NECTAS-Centro de Estudos da Memória do Cangaço-UNEB/Campos VIII.


Como Profissional é elogiado em suas diversas atividades realizadas. Afirma sempre que seus trabalhos literários deram novo sentido à vida, deixando para a posteridade um legado de fieis informações históricas,   contribuindo com uma infindável legião de leitores e estudiosos dos temas relacionados ao sertão nordestino.

Este é o belo currículo profissional  Histórico  deste Baluarte  da Cultura Nordestina o meu amigo Irmão: João de Sousa Lima, escritor, pesquisador, coordenador, e acima de tudo, poeta popular Nordestino. Palavras do amigo: Guilherme Machado: curador e pesquisador do acervo do Gonzagão e do Portal do Cangaço da  Bahia.  
     
Do blog Portal do Cangaço de Serrinha - BA, do amigo Guilherme Machado 

Fonte:

A visita de Lampião em "Jardim" - Ceará

Por: Hélio Jorge dos Santos

A história de Jardim ficou marcada também pelo fenômeno do cangaço que predominou no sertão nordestino do final do século XIX para o início do século XX. Fenômeno este caracterizado especialmente pela a atuação de Lampião e seu bando. Muitos jardinenses , que hoje estão com cerca de 75 ou  80 anos de idade, lembram bem a passagem   por essa região. 

Foi no ano de 1926 que Lampião enviou mensagem ao coronel Dudé (Daudet Gondim), então prefeito do município, comunicando que vinha lhe fazer uma visita.  Para não afrontar o chefe dos cangaceiros, o prefeito acatou a visita do bando. Ao chegaram em Jardim os cangaceiros se arrancharam no sítio Engenho D’água, na casa de um senhor de nome Zuza Livino que se localizava entre as propriedades dos senhores Barretinho e Pedro Antônio da Silva. 

Durante a permanecia do bando na propriedade do senhor Zuza, de vez em quando visitavam a cidade em missão de paz. Tudo teria ocorrido na mais perfeita tranqüilidade se não fosse a desobediência de um dos “cabras” de Lampião. O fato aconteceu da seguinte maneira: todas as noites na hora do recolhimento do bando Lampião fazia a chamada nominal para verificar se não estava faltando ninguém. Numa certa noite deu por conta da ausência de um deles, ao indagar pelo paradeiro do “cabra”, Lampião foi informado que o mesmo havia ficado na cidade. Numa reação de raiva, Lampião ordenou que outro “cabra” fosse imediatamente   chamar o companheiro. Este foi encontrado  e não acatou o chamado do chefe.  Furioso com o desacato, Lampião mandou selar um cavalo e seguiu rumo à cidade e, ao encontrar seu “cabra” começou a chicoteá-lo em público e seguiu da mesma forma até chegar no sítio Engenho D’água onde deixou-o amarrado para ser chicoteado de vez em quando.     


De Jardim o  “rei do cangaço”, seguiu para Juazeiro do Norte, onde foi receber as bênçãos  do padre Cícero Romão Batista. Foi nesta ocasião que possivelmente Lampião tenha recebido o título de Capitão, o qual passou a ostentar orgulhosamente. 

No entanto o que mais marcou a passagem de Lampião e seu bando nessa região foi a morte de Pedro Vieira Cavalcante. Este era  natural do sitio Apertada Hora, no município de Serrita Pernambuco e  encontrava-se na ocasião no sítio Cacimbas no município de Jardim, onde cuidava de um rebanho de gado que ali pastava quando foi capturado, juntamente com seu companheiro Vicente Venâncio. Em seguida o bando enviou um portador à Jardim a fim de arrecadar uma importância de quatro contos de reis para que Pedro Vieira pudesse ser liberado. 

Em um descuido dos cangaceiros Venâncio conseguiu escapar, mas Pedro Vieira preferiu ficar para aguardar sua liberação. Enquanto alguns cangaceiros guardavam o prisioneiro, Lampião e  o restante do bando se dirigiu à Ipueira dos Xavier, próximo ao  povoado de Ori, no município de Serrita/PE , onde foram recebidos à bala pelos Xavier. Desapontados com a desvantagem levada  no conflito retornam à Cacimbas. Movido pela raiva, Lampião pergunta pelo dinheiro do resgate de Pedro Vieira e este  informa que sua família ainda não tinha conseguido a quantia exigida mas que em breve o dinheiro iria  chegar. Lampião, então, ordenou que  o prisioneiro o acompanhasse e, ao entrar no Estado de Pernambuco, deu ordens para  que um cangaceiro de nome José Balão matasse Pedro Vieira. Sendo seu corpo sepultado no mesmo local da morte.

Outros cangaceiros menos conhecidos também deixaram aqui suas marcas. Um deles foi Chico Chicote, natural de Porteiras/CE, conhecido por sua valentia e crueldade,  foi muito perseguido pela polícia. Conta-se que em uma das lutas desse cangaceiro contra as forças policiais, um soldado jardinense chamado Louro Alves Feitosa morreu. De acordo com o senhor Luiz Ferreira Gorgônio este soldado era corneteiro e subiu numa árvore     e tocou uma  corneta ordenando o início do ataque, tendo, em seguida, recebido  um tiro vindo do lado dos cangaceiros.

Tinha ainda Deco Batista, conhecido por Ferrugem, que era natural de Jardim e entrou para o cangaço em 1912. Este tinha fama de briguento e uma de suas desavenças foi com o ferreiro João Turbano, homem conhecido pela sua bravura e valentia.  Na briga Ferrugem levou desvantagem e se retirou de Jardim para a região do Pajeú, no entanto, jurou retornar para fazer sua vingança. 

Cumprindo sua promessa Ferrugem retornou com outros cangaceiros e invadiu a casa de João Turbano, assassinando-o violentamente. Na volta matou também  seu próprio padrinho, no sítio Bom Sucesso e   de lá seguiu para o sítio Algodões onde fez Senhor Pereira de refém, exigindo uma alta quantia de resgate. Senhor Pereira, temendo pela sua vida,  mandou arrecadar a quantia exigida - quatrocentos mil reis, pagou o resgate e ficou livre do cangaceiro.

De algodões Ferrugem retornou ao Pajeú e,  no ano de 1915,  os governadores nordestinos intensificaram a perseguição ao banditismo. Com isso, Ferrugem foi capturado e trazido à  Jardim para em seguida ser levado à prisão de  Juazeiro do Norte. No entanto, durante o trajeto a policia executou Ferrugem nas proximidades do sitio Cumbe.

Tem-se notícias  ainda dos cangaceiros Marcelino e Bom de Vera. Estes moravam no Caririzinho, hoje Caririmirim, no município de Moreilândia Pernambuco. Era costume dos cangaceiros  freqüentar o Jardim. Certo dia , chegaram ao sitio Gravatá onde estava havendo o casamento    de um membro da família Souza. Os cangaceiros assaltaram os convidados do casamento, levando todos os pertences dos mesmos, principalmente as jóias. Depois deste acontecimento foram presos, levados para Juazeiro do Norte e mortos entre as cidades de Barbalha e Juazeiro.

As mortes de Marcelino e Bom de Vera fecham o ciclo do cangaço na região do Cariri. As instituições de força e poder do Estado venceram a guerra contra o fenômeno. No entanto, transformações sociais não foram sentidas na região. Do cangaço restou a prática de se fazer justiça com as próprias mãos e o Estado não conseguiu, até hoje, amenizar as desigualdades e injustiças que certamente contribuíram para o aparecimento do   cangaço.   

Fonte:
http://blogdomendesemendes.blogspot.com/2012/01/tonni-lima_26.html

A ESPINHENTA VIDA DO CACTO (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

A ESPINHENTA VIDA DO CACTO

Tudo que nasce na terra sertaneja já vem ao mundo com a sina do padecimento. Felicidade há muita, contentamento também, mas sempre prevalecem a dor e o sofrimento pelas próprias características da geografia sertaneja.

Nesse contexto de angústia e aflição que tomam conta dos homens, das plantas e dos bichos, sobressaem-se as secas inclementes que de vez em quando parecem querer se perpetuar de canto a outro, o abandono a que ficam relegados pelos órgãos governamentais e o preceito e discriminação tão visíveis nos olhos de muitos sulistas e citadinos.

Mas o sertanejo é acima de tudo um forte, já escreveu o desventurado jornalista. E tal força pode ser exemplificada no homem que não larga nunca sua persistência e esperança e nas plantas cactáceas que tanto representam a firmeza, a perseverança e a permanência inflexível na terra, mesmo que todas as outras plantas já tenham sucumbido às estiagens.

Parece mesmo que os seus espinhos são como escudos pontiagudos que conseguem afastar dos seus corpos as mais terríveis ameaças do tempo. De repente, quando tudo já está devastado e desolado, na terra só há rachadura e a aridez do abandono, o cacto serve como único e último alimento para salvar os bichos. Cortado, recortado, afastados os espinhos, é manjar para o gado faminto. A palma se mastiga e engole com espinho e tudo.

Assim, enquanto tudo entristece e murcha, a palma, o mandacaru, o xiquexique, o facheiro, a cabeça-de-frade e outras espécies espinhentas continuam imponentes, com suas cores ainda verdejantes, seus braços firmemente erguidos, cujos semblantes parecem candelabros ao entardecer. E os espinhos apontam para o norte e para o sul, ameaçam os invasores, acolhem os passarinhos, mas acima de tudo confirmam a força da vida num tempo de destruições.

Contudo, o que seria fator muito positivo para a vida no sertão de repente pode se transformar num problema difícil de ser resolvido. Não se sabe ao certo os motivos, mas a verdade é que os cactos possuem muitos inimigos, são vistos com maus olhos por muitos, são tidos como espécies que deveriam desaparecer de vez. E talvez seja sua força e resistência que provocam tantas inimizades.

Muitas plantas próprias da caatinga, as mesmas que quando muito possuem apenas alguns espinhos nas suas galhagens e ainda assim não estão protegidas contra os constantes ataques dos bichos e do pisoteamento e destruição por parte dos caçadores e mateiros, certamente que ficam com uma inveja danada daquelas outras espécies cujos corpos são totalmente tomados por armas de eficazes defesas.

Igualmente a cansanção e a urtiga que são odiadas por conterem nas suas folhas substâncias que causam queimações e coceiras, as cactáceas são detestadas exatamente porque são tomadas de espinhos ao invés de folhas. Se fossem folheadas seriam mais frágeis e estariam no mesmo patamar de destruição das outras plantas, sempre à mercê dos predadores.

Mas não somente isso, pois plantas inimigas espalham que os cactos não passam de vaidosos, egoístas, querendo ser mais do que realmente são, mas, principalmente que são as mais perigosas das espécies, vez que vivem abertamente, e dia e noite, portando perigosas armas pontiagudas e ameaçando as plantas e os bichos inofensivos.

Não sabem, contudo, o verdadeiro significado dos espinhos dos cactos nem do sofrimento que estas plantas têm no seu dia a dia, principalmente em épocas de grandes estiagens, ainda que sejam os últimos a serem afetados pela destruição. Dizem até que quando o cacto não suporta a seca é porque o homem corre o risco de também perecer.

Ora, os sertanejos mais velhos dizem que cada mandacaru ao se portar no meio do tempo de braços abertos não está fazendo outra coisa senão orando para que as nuvens carregadas de chuvas cheguem logo ao sertão. E a sua esperança é tanta que já fica apontando espinhos naquela direção, esperando apenas furar o corpo da nuvem quando ela estiver ao alcance e deixar as águas caírem em abundância.

Por isso mesmo que possuem a sina de serem as últimas a perderem a cor, o verdor, a secarem e a murchar quando todas as preces e orações não fazem efeito. E como sofrem nesse percurso, olhando pra trás e vendo suas companheiras de mato já misturadas à terra escaldante. Depois se dobram e também morrem.

Rangel Alves da Costa*
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com