Por: Hélio Jorge dos Santos
A história de Jardim ficou marcada também pelo fenômeno do cangaço que predominou no sertão nordestino do final do século XIX para o início do século XX. Fenômeno este caracterizado especialmente pela a atuação de Lampião e seu bando. Muitos jardinenses , que hoje estão com cerca de 75 ou 80 anos de idade, lembram bem a passagem por essa região.
Foi no ano de 1926 que Lampião enviou mensagem ao coronel Dudé (Daudet Gondim), então prefeito do município, comunicando que vinha lhe fazer uma visita. Para não afrontar o chefe dos cangaceiros, o prefeito acatou a visita do bando. Ao chegaram em Jardim os cangaceiros se arrancharam no sítio Engenho D’água, na casa de um senhor de nome Zuza Livino que se localizava entre as propriedades dos senhores Barretinho e Pedro Antônio da Silva.
Durante a permanecia do bando na propriedade do senhor Zuza, de vez em quando visitavam a cidade em missão de paz. Tudo teria ocorrido na mais perfeita tranqüilidade se não fosse a desobediência de um dos “cabras” de Lampião. O fato aconteceu da seguinte maneira: todas as noites na hora do recolhimento do bando Lampião fazia a chamada nominal para verificar se não estava faltando ninguém. Numa certa noite deu por conta da ausência de um deles, ao indagar pelo paradeiro do “cabra”, Lampião foi informado que o mesmo havia ficado na cidade. Numa reação de raiva, Lampião ordenou que outro “cabra” fosse imediatamente chamar o companheiro. Este foi encontrado e não acatou o chamado do chefe. Furioso com o desacato, Lampião mandou selar um cavalo e seguiu rumo à cidade e, ao encontrar seu “cabra” começou a chicoteá-lo em público e seguiu da mesma forma até chegar no sítio Engenho D’água onde deixou-o amarrado para ser chicoteado de vez em quando.
De Jardim o “rei do cangaço”, seguiu para Juazeiro do Norte, onde foi receber as bênçãos do padre Cícero Romão Batista. Foi nesta ocasião que possivelmente Lampião tenha recebido o título de Capitão, o qual passou a ostentar orgulhosamente.
No entanto o que mais marcou a passagem de Lampião e seu bando nessa região foi a morte de Pedro Vieira Cavalcante. Este era natural do sitio Apertada Hora, no município de Serrita Pernambuco e encontrava-se na ocasião no sítio Cacimbas no município de Jardim, onde cuidava de um rebanho de gado que ali pastava quando foi capturado, juntamente com seu companheiro Vicente Venâncio. Em seguida o bando enviou um portador à Jardim a fim de arrecadar uma importância de quatro contos de reis para que Pedro Vieira pudesse ser liberado.
Em um descuido dos cangaceiros Venâncio conseguiu escapar, mas Pedro Vieira preferiu ficar para aguardar sua liberação. Enquanto alguns cangaceiros guardavam o prisioneiro, Lampião e o restante do bando se dirigiu à Ipueira dos Xavier, próximo ao povoado de Ori, no município de Serrita/PE , onde foram recebidos à bala pelos Xavier. Desapontados com a desvantagem levada no conflito retornam à Cacimbas. Movido pela raiva, Lampião pergunta pelo dinheiro do resgate de Pedro Vieira e este informa que sua família ainda não tinha conseguido a quantia exigida mas que em breve o dinheiro iria chegar. Lampião, então, ordenou que o prisioneiro o acompanhasse e, ao entrar no Estado de Pernambuco, deu ordens para que um cangaceiro de nome José Balão matasse Pedro Vieira. Sendo seu corpo sepultado no mesmo local da morte.
Outros cangaceiros menos conhecidos também deixaram aqui suas marcas. Um deles foi Chico Chicote, natural de Porteiras/CE, conhecido por sua valentia e crueldade, foi muito perseguido pela polícia. Conta-se que em uma das lutas desse cangaceiro contra as forças policiais, um soldado jardinense chamado Louro Alves Feitosa morreu. De acordo com o senhor Luiz Ferreira Gorgônio este soldado era corneteiro e subiu numa árvore e tocou uma corneta ordenando o início do ataque, tendo, em seguida, recebido um tiro vindo do lado dos cangaceiros.
Tinha ainda Deco Batista, conhecido por Ferrugem, que era natural de Jardim e entrou para o cangaço em 1912. Este tinha fama de briguento e uma de suas desavenças foi com o ferreiro João Turbano, homem conhecido pela sua bravura e valentia. Na briga Ferrugem levou desvantagem e se retirou de Jardim para a região do Pajeú, no entanto, jurou retornar para fazer sua vingança.
Cumprindo sua promessa Ferrugem retornou com outros cangaceiros e invadiu a casa de João Turbano, assassinando-o violentamente. Na volta matou também seu próprio padrinho, no sítio Bom Sucesso e de lá seguiu para o sítio Algodões onde fez Senhor Pereira de refém, exigindo uma alta quantia de resgate. Senhor Pereira, temendo pela sua vida, mandou arrecadar a quantia exigida - quatrocentos mil reis, pagou o resgate e ficou livre do cangaceiro.
De algodões Ferrugem retornou ao Pajeú e, no ano de 1915, os governadores nordestinos intensificaram a perseguição ao banditismo. Com isso, Ferrugem foi capturado e trazido à Jardim para em seguida ser levado à prisão de Juazeiro do Norte. No entanto, durante o trajeto a policia executou Ferrugem nas proximidades do sitio Cumbe.
Tem-se notícias ainda dos cangaceiros Marcelino e Bom de Vera. Estes moravam no Caririzinho, hoje Caririmirim, no município de Moreilândia Pernambuco. Era costume dos cangaceiros freqüentar o Jardim. Certo dia , chegaram ao sitio Gravatá onde estava havendo o casamento de um membro da família Souza. Os cangaceiros assaltaram os convidados do casamento, levando todos os pertences dos mesmos, principalmente as jóias. Depois deste acontecimento foram presos, levados para Juazeiro do Norte e mortos entre as cidades de Barbalha e Juazeiro.
As mortes de Marcelino e Bom de Vera fecham o ciclo do cangaço na região do Cariri. As instituições de força e poder do Estado venceram a guerra contra o fenômeno. No entanto, transformações sociais não foram sentidas na região. Do cangaço restou a prática de se fazer justiça com as próprias mãos e o Estado não conseguiu, até hoje, amenizar as desigualdades e injustiças que certamente contribuíram para o aparecimento do cangaço.
Fonte:
http://rji.webnode.com.pt/news/monografia-engenhos-de-jardim-ce-por-helio-jorge-dos-santos/
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Excelente texto. É sempre bom relembrar os fotos históricos que fizeram parte de nossa história.
ResponderExcluirMaria
peço ao autor que corrija o local da morte de pedro vieira , pois sou bisneto do mesmo ,e afirmo que ele foi morto na fazenda ipueiras ,Serrita-PE,onde hoje existe um cruzeiro em sua homenagem, e são realizadas missas anuais.
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