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quarta-feira, 6 de junho de 2012

Estilo Cangaceiro

Corisco, marido de Dadá (1936).

Abaixo, o pente com o qual Corisco alisava a cabeleira.


Os aneis do casal de cangaceiros: Dadá e Corisco

  
Mesmo sem nenhuma idéia do que viria a ser o mundo fashion de hoje, as cangaceiras tinham estilo e lançaram tendência - a coleção outono/inverno 2001 da marca Forum, por exemplo, é inspirada nas vestimentas do cangaço. Elas adoravam cores fortes, todas misturadas. Laranja com azul, verde com vermelho, amarelo com azul, enfim, quanto mais chamativo melhor. Tudo isso bordado ou costurado nos bornais, chapéus e cantis.

Dadá - esposa de Corisco

Caía bem uma ou outra costura com linhas brilhosas nos bolsos e lapelas. Bem diferente daquele cáqui e marrom que imaginamos. Aliás, Dadá, que era quem inventava os bordados mais bacanas, chegou a contar que o marrom só era vestido pela polícia


Os desenhos podiam ser de formas geométricas ou flores. As roupas eram simples. Confeccionadas em gabardine ou mescla - tecidos grossos que resistiam aos espinhos do mato, os vestidos eram retos, feitos em azul ou cinza.

Traje completo de um cangaceiro. As faixas transversais, quando abertas, eram usadas como tenda e coberta para dormir



Agradecimento especial: a Antonio Amaury, o maior pesquisador do cangaço do Brasil. Ele escreveu seis livros (entre eles "De Virgolino a Lampião", ed. Idéia Visual) e possui um rico acervo de fotografias e objetos sobre o assunto, como os que estão nestas páginas.
Vai lá:

Dagmar Lídio Almendro
tel.11 6731 9855.
Qualquer peça sai por R$ 50 (bornais, vestidos, calças, capas para cantis etc).

O coiteiro Joca Bernardo

Foto do acervo do Dr. Ivanildo Alves Silveirapublicado no blog: "Lampião Aceso"

Segundo o filho dos cangaceiros Corisco e Dadá, o economista Sílvio Bulhões, em uma entrevista que cedeu aos pesquisadores do cangaço,


Paulo Gastão e Aderbal Nogueira, o único culpado das mortes que aconteceram na casa do vaqueiro e coiteiro Domingos Ventura, inclusive ele, todos assassinados pelo perigoso facínora Corisco,  foi o Joca Bernardo, por ter responsabilizado o vaqueiro como traidor de Lampião, quando este foi morto na Grota de Angico, na madrugada de 28 de julho de 1938, em Poço Redondo, no Estado de Sergipe.

OBS: participação especial do nosso querido Alcino Costa.



 Documentário produzido pela Laser Vídeo do cineasta
Aderbal Nogueira

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2010/12/silvio-bulhoes-o-filho-de-dada-e.html

A verdadeira história da morte de Lampião e Maria Bonita


Bom para quem não conhece a história faz 73 anos da morte de Lampião e seu bando, justamente no dia 28 de julho de 1938.  É uma grande história com grandes curiosidade que vamos contar a você.

O sol ainda não tinha nascido quando os estampidos ecoaram na Grota do Angico, na margem sergipana do Rio São Francisco. Depois de uma longa noite de tocaia, 48 soldados da polícia de Alagoas avançaram contra um bando de 35 cangaceiros. Apanhados de surpresa – muitos ainda dormiam -, os bandidos não tiveram chance. Combateram por apenas 15 minutos. Entre os onze mortos, o mais temido personagem que já cruzou os sertões do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.


A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepou a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando foi degolada.

Feito isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.


Era o fim da incrível história de um menino que nasceu no sertão pernambucano e se transformou no mais forte símbolo do cangaço. Destemido, comandava invasões a sítios, fazendas e até cidades.Dinheiro, prataria, animais, jóias e quaisquer objetos de valor eram levados pelo bando.

Da esquerda para direita:
Maria Bonita, Luiz Pedro e Lampião abaixo

A situação chegou a tal ponto que, em agosto de 1930, o Governo da Bahia espalhou um cartaz oferecendo uma recompensa de 50 contos de réis para quem entregasse, “de qualquer modo, o famigerado bandido”. “Seria algo como 200 mil reais hoje em dia”, estima o historiador Frederico Pernambucano de Mello. Foram necessários oito anos de perseguições e confrontos pela caatinga até que Lampião e seu bando fossem mortos.

Essa incrível história de luta no sertão do nordeste é até hoje lembrada e contada por muitas pessoas.

Fontes:

Wikipedia

As fotos e o mito do Cangaço

Uma outra versão desta exposição – Os Cangaceiros – será inaugurada dia 29 de novembro, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, também supervisionada pela historiadora Elise Jasmin.  Foto: Benjamin Abrahão: Dadá e Corisco. Collection AbaFilm/Sociedade do Cangaço
Elise Jasmin. Foto: Benjamin Abrahão: Dadá e Corisco. Collection - AbaFilm/Sociedade do Cangaço

A exposição de fotografias – Os cangaceiros - na casa da América Latina, em Paris, é a primeira grande retrospectiva de clichês dos personagens que aterrorizaram o sertão brasileiro nas décadas de 20 e 30.

Organizada pela historiadora francesa, Elise Jasmin, que há quinze anos se interessa pelo tema, a exposição apresenta 90 fotografias, nas quais 

Lampião e Maria Bonita

Lampião, Maria Bonita, Corisco e Dadá, e muitos de seus companheiros, posam diante da câmera com suas roupas e chapéus inconfundíveis.

Elise assinala esse paradoxo da indumentária excessivamente folclórica e da vida de foragidos, que ela chama declandestinidade exibida. Além das imagens que provam que os Cangaceiros sabiam explorar a mídia da época para desafiar os inimigos e provocar a polícia, os documentos de cordel e o pequeno documentário reunidos na Casa da América Lartina negam as interpretações de que Lampião teria tido intenções políticas. Sua motivação era a vingança contra as injustiças.

UMA CICATRIZ POR VINGANÇA

Por: João de Sousa Lima

A Rainha do Cangaço, Maria Bonita, acabara de perder seu primeiro filho. A natureza lhe negara naquele instante o direito de perpetuação da espécie humana. As lágrimas da triste mãe encharcaram a cova rasa e solitária do filho que não viu o mundo, enquanto o leite materno, fonte divina da vida, secava na dor da trágica perda. No seu sofrido silêncio desaparecera a ansiedade antes vivida. A sua angústia se apagara durante o resto do dia frustrante e da noite mal dormida.

O consolo virá na serenidade da alvorada. Com o novo amanhecer, renascerão novas esperanças e só as esperanças curam os traumas doloridos do dia a dia.

Durante as próximas noites, sob as tendas dos esconderijos e a luz das inúmeras fogueiras, velhos companheiros e seguidores de lutas alegrarão os corações tristes dos Reis do Cangaço.

Maria Bonita, Juriti, Sabonete e Lampião

O velho e fiel coiteiro, Venceslau, cobriu a criança em um lençol e a enterrou a poucos metros da sua residência, nos fundos da sua propriedade, no povoado Campos Novos. A parteira Aninha regressou ao povoado Nambebé. Lampião e Maria Bonita agradeceram ao fiel coiteiro Lau pelo apoio recebido e com o restante do bando partiram caminhando lentamente, em silêncio, na direção da casa do casal Aristéia e Quinca, no povoado Várzea.

Nas proximidades do Nambebé os cangaceiros ouvem o barulho de um animal de montaria e buscam rapidamente os arbustos e pedras existentes no local e se entrincheiram. Todos apontam suas armas para o lado aonde vinha o som do tropel. Entrincheirados e prontos para o combate Lampião reconhece o cavaleiro que se aproxima. Era mais um dos seus incontáveis coiteiros. O burro pára bruscamente. O homem desce rápido do animal, pois tem pressa em revelar o segredo de sua urgente viagem, mais uma notícia de traição:

- Capitão, pur pouco vocês num fôro atacados. Assim que vocês saíro dos Campos Novos, lá chegou uma força do guverno, cum mais de trinta hômim.

- Alguém me traiu! Você sabe quem foi que denunciô nosso coito?

- Sei sim; foi Pimba, do Nambebé.

- Ta bom, pode ir.

Virgolino pagou a informação e por alguns
minutos
se perdeu nos seus pensamentos, formulando sua defesa contra a volante e sua vingança contra o delator.

O traidor era velho conhecido dos cangaceiros, o verdadeiro
nome
de Pimba era Francisco Teixeira Lima e era irmão do fiel coiteiro Lixandrão, pai dos cangaceiros Bananeira e Tutu.

Poucos minutos depois, Lampião chega ao Nambebé e cerca a casa de Pimba, os cangaceiros invadem a residência e vasculham todos os cômodos, não encontrando o traidor.

A velha casa de taipas é revirada. A esposa do homem sentenciado a morrer protege os filhos com o escudo do próprio corpo. Dona Maria e os filhos João Preto, Zé de Pimba, Anacota, Jeoventina, Júlia, Elvira e Rita se abraçam enquanto os cangaceiros quebram alguns móveis e pratos.

Naquela ocasião eram duas Marias, frente a frente, ligadas por sentimentos diferentes, lutando por um objetivo comum: a sobrevivência.

A Maria mãe, aflita, pede ajuda a outra Maria, a Rainha do Cangaço. Já se conheciam de outras vezes, em circunstâncias menos violentas. A mãe desesperada implora e pede clemência para aquela que ainda não havia amamentado mais que havia sentido a dor do parto e a infelicidade da perda do filho pela morte traiçoeira.

- Maria, peça a Lampião pra não matar a gente!

- Quem mata vocês é a língua!

Nesse momento chega o irmão de Pimba, o fiel coiteiro Lixandrão.

O velho conhecido cumprimenta Lampião com um aperto de mão e fala:

- O sinhô me cunhece e sabe que eu sô um hômim interado e cumigo num tem falsidade. O que meu irmão fez não tá certo e eu prometo que não acontecerá outra vez. Por isso estou aqui pra lhe pedir que não mate ele e nem a sua família.

- Muito bem, Lixandre, diga aquele safado que erre o meu caminho e tenha cuidado com o que fala.

Lampião sai da casa e se reúne com seus comandados no terreiro. Quando s
e preparavam para seguir viagem, chega outra Maria, a esposa de Lixandrão e diz a Lampião que um dos cangaceiros invadiu sua residência e tomou seu xale. Lampião não procurou saber quem tinha sido, apenas colocou a mão no bornal, puxou algumas notas e pagou o prejuízo à mulher.

Lixandrão agradeceu por Lampião ter atendido ao seu pedido de não matar o irmão Pimba e desejou boa sorte aos cangaceiros. Lampião ainda movido pela ira, mal respondeu e começou a seguir seu itinerário.

Quando os últimos telhados das casas do Nambebé desapareceram no emaranhado dos galhos secos, eis que surge na frente dos cangaceiros a presa tão procurada: Pimba.

O angustiado sertanejo é envolvido em um cordão humano. Lampião fala:

- Caba safado, anda dando difinição de cangaceiro pras volantes!

O homem esmorece, sente a indesejável morte aproximando-se e ajoelha-se chorando, pedindo por tudo quanto é santo para que não o matassem.

- A sua sorte, caba sem vergonha, é que hômim de minha qualidade tem palavra e eu prometi num lhe matar, mais vou dexá uma lembrança minha, pra que você nunca mi esqueça. Da próxima veiz que você mi denunciá num tem disculpa, você mim paga com sua vida.

Enquanto o aflito sentenciado era seguro por Luís Pedro, Lampião puxa um canivete de um dos bolsos e se aproxima do trêmulo catingueiro. Pimba chora e clama por todos os santos. 
 

 O cangaceiro Luiz Pedro

O Rei do Cangaço, impiedosamente, abre uma ferida em forma de cruz na testa do moribundo sertanejo, deixando uma eterna cicatriz como pagamento pelo vacilo de sua denúncia e traição. O grito de Pimba é abafado por mãos fortes e firmes. O sangue escorre por sobre o nariz e a boca, ensopando a gola da camisa. Os cangaceiros soltam a vítima quase desfalecida, muito mais pelo medo que pela dor. O grupo pega uma das veredas que dava acesso a mataria fechada e some rapidamente. Pimba, ainda de joelhos, puxa um lenço do bolso, cobre o ferimento, levanta-se e, apressadamente, segue para sua casa.
O preço cobrado pela traição de Pimba saiu de bom tamanho, em outras circunstâncias, para preservar a vida dos cangaceiros, o traidor não teria sido poupado.

Durante
muitos anos Pimba teve que usar chapéu de couro com uma lapela cobrindo a permanente tatuagem. Uma cruz por lembrança, uma eterna marca por castigo.

OBS: para conhecer mais sobre a passagem de Lampião na região de Paulo Afonso, em agosto, lançamento da segunda edição, não percam, adquiram, divulguem!!!!
  
Autor:   João de Sousa Lima

Extraído do blog: "
O Cangaço em Foco" do Dr. Archimedes Marques

uma+cicatriz+por+vinganca

O cangaceiro Volta Seca

Ivanildo Alves Silveira

Lembrando ao leitor que este material pertence ao acervo do pesquisador e colecionador do cangaço: Dr. Ivanildo Alves da Silveira, publicado no blog "Lampião Aceso


Foi o cangaceiro que mais cumpriu pena: 20 anos de reclusão. Entrou na cadeia, quando ainda era um menino (Violência do Estado?)

Um pouco da entrevista do cangaceiro Volta Seca, cedida ao Jornal "O Pasquim"


Benjamim Abraão, Maria Bonita e Lampião

Ziraldo - Cê lembra quando ele (Lampião) conheceu Maria Bonita? 
Volta Seca - Lembro. Foi em Santa Brisa. (Santa Brígida)

Jaguar - Santa Brisa (Santa Brígida) fica onde?  

Volta Seca - Em Sergipe. (Bahia)

Ziraldo - Cumé que foi a história, ela é sergipana também? (Baiana) 

Volta Seca - É. Ela estava, nós estava hospedado lá na Maiada da Caiçara. Então, nós tava lá, aí a mãe dela disse assim: "Capitão, a única pessoa que teria mais prazer de conhecer o senhor era a minha filha". Aí ele disse: "Não é nada difícil, eu ando por aqui, ela mora aqui"? Ela disse: "Não, ela é casada e mora em Santa Brisa". Ele disse: "Se a senhora pode mandar chamar ela, eu estou aqui, até amanhã. Mas só fala com ela, que eu estou aqui. Mais ninguém, tá certa"? Aí ela mandou um irmão dela chamar. O menino chegou lá, chamou ela e ela veio. Quando chegou, a própria mãe levou ela lá onde nós estava, todo mundo acampado.

Ziraldo - Era longe? 

Volta Seca - Não, era um pedacinho bom. Eram três léguas. Aí, ela chegou, ela apresentou a ele, ele também tratou ela muito bem e daí ficou por ali.

Millôr - Era bonita realmente? 

Volta Seca - Era bonita.

Millôr - Era baixinha, alta? 

Volta Seca - Era baixinha.

Millôr - Ela tinha que idade mais ou menos, nessa época? 

Volta Seca - Ela podia ter uns 18 anos, não tinha mais do que isso, não. Então ele disse: " Ah, eu vivo essa vida mas eu num gosto não. Mas eu num tô com mais jeito. O meu jeito é esse mesmo. Então, eu tenho que seguir até morrer". Então ela disse: "Eu sou casada" e tal... E conversaram, aquele negócio, né? Ai ela disse: "Capitão, sabe que eu lhe acompanho"? Ele disse: "Não, você ê casada, vive sossegada". E começou a rir...

Millôr - O que que fazia o marido dela?

 Volta Seca - Era sapateiro. Então ele disse: "Mas você tem coragem de acompanhar um sujeito como eu? Um homem perdido da sociedade. Eu num tenho sociedade, num tenho nada. Vivo perdido, como um bicho, pro mundo..." Ela disse: "Num tem problema, eu tenho coragem". "Não, você deve ir pra onde tá o seu marido, você é casada. Se você tá querendo que eu crie mais um inimigo, Deus me livre; eu num quero mais uma coisa dessas". Ela disse: "Não, mas eu vou. Eu vou agora, nem mais lá, eu vou".

Millôr - Ela não tinha filho não, né? 

Volta Seca - E num foi mesmo. Aí, ele começou a dar conselho pra ela, que num tava bem, que ele podia tá morto a qualquer momento... Aí, ele disse: "Bom, o seguinte é esse: você não pode ir comigo, minha vida é a pé, é a cavalo, é de todo jeito, é pelos matos..." Ela disse: "Eu vou também". "Mas eu posso morrer hoje, amanhã..." Ela teimava: "Eu morro junto com você. Mas num lhe deixo mais". E num deixou mesmo, terminou morrendo junto com ele mesmo.

Ziraldo - Ela atirava também? 

Volta - Atirava. Eu queria tá com ela e não queria tá com dez homens da marca dos que eu conheço por aqui. Tava mais satisfeito.

Sérgio Cabral - Ela aprendeu a atirar no bando do Lampião?

 Volta Seca - Aprendeu e atirava bem, mesmo. Era uma mulher de raça...

Ziraldo - Escuta, depois que ela, entrou no bando, ela era a única mulher do bando? 

Volta Seca - Era. Num tinha mais nem uma; só ela.

Ziraldo - E ela cozinhava pra vocês?

 Volta Seca - Não. Ela cozinhava pra ele lá.

Ziraldo - Vocês tinham cozinheiro no bando? 

Volta Seca - Não, cada um fazia o que é seu.

Jaguar - E não houve tentativa de ninguém no bando dar uma cantada nela, não?

 Volta Seca - Cê tá maluco, rapaz? Dava uma cantada e já era.

Millôr - Escuta, ela falava com vocês, brincava. 

Volta Seca - Brincava com nós como se brinca com uma criança dessa e outra qualquer. A mesma coisa.

Jaguar - E ninguém se engraçava com ela? 

Volta Seca - Não.

Jaguar - E ele gostava muito dela? 

Volta Seca- Gostava, se ela...

Millôr - Ele tinha mulher e não permitia que os outros tivessem? 

Volta Seca - Ele não importava. A que quisesse acompanhar e ir de vontade, podia acompanhar. Agora, tinha muito nego que não queria.

Sérgio Cabral - Aconteceu alguma vez de uma mulher acompanhar o homem?  

Volta Seca - Tinha muita.

Jaguar - Mas não como Maria Bonita, né? Não combatia nem nada. né? Volta Seca - Não.

Ziraldo - Agora, esse nome, Maria Bonita, foi o pessoal do bando que botou nela, ou foi a lenda? Vocês não a chamavam de Maria Bonita, não né? Era só Maria?  

Volta Seca - Não, o nome dela legítimo era Maria Déia. Não Maria Bonita, Maria Bonita quem botou foi o pessoal deles lá da polícia mesmo. Maria Bonita, porque ela era bonita mesmo, e tal. Então foi que eles deram esse título a ela de Maria Bonita. Mas lá no bando não tinha disso não.

Ziraldo - Os filhos do Lampião eram filhos dele com Maria Bonita, ou ele, era casado com outra, anteriormente? 

Volta Seca - Não. É filho dela mesmo.

Ziraldo - Ele ainda tem os filhos vivos, não tem?

 Volta Seca - Tem. Os filhos com Maria Bonita nasceram lá no Cangaço. A Expedita...
 

Millôr - Cê num chegou a ver ela grávida não, né?  
Volta Seca - Ó rapaz, eu fui servir de sentinela pra ela ganhar a criança.

Jaguar - Quando é que foi isso, hein? 

Volta Seca - Isso foi lá mesmo, na Mata da Caiçara.

Aparício - Quem atendeu a Maria Bonita como parteira? 

Volta Seca - Foi a mãe dela mesmo.


Se você quiser ler a entrevista completa do cangaceiro Volta Seca, clique no link abaixo:

"Matar a perfessora de Tracupá!"

Por: Rubens Antonio
[Rubens+2.jpg]

"No vilarejo de Tracupá lecionava a professora Mariana, um dos alvos de Lampião. Momentos sofridos vivenciou ali a dedicada professora Mariana Borges Cabral...

Professora Mariana Borges Cabral 

Encontrava-se a professora no oitavo mês de gestação, quando foi avisada pelo então prefeito doutor Theotônio Martins que


Lampião se aproximava de Tucano... E, dentre os objetivos do cangaceiro, um deles era matar a professora responsável pela escola de Tracupá...
Imaginemos o medo, o pavor sentido pela professora! Na ausência de seguranças, fez dos alunos seus protetores e, como a escola estava localizada no alto, os alunos ficavam observando quem entrava no lugarejo... Como o grupo dos cangaceiros tinha características próprias, foi fácil a identificação e o aviso imediato à professora, que, ao narrar este dia, costumava dizer:
- Que dia de agonia! Eu grávida, quase na hora de dar à luz, tendo que correr e me esconder em uma caatinga tão castigada pela seca, com poucas folhagens... Como ficar escondida? Onde me abrigar? Andei mais rápido que podia e caí junto aos paus-de-rato... Fiquei ali. Rezei muito. Pedi a Deus que eles não me enxergassem. Momentos depois, todo o bando chegava ao local que eu estava. As patas dos animais estavam em minha frente e eles não me enxergavam... Agradeci a Deus. Minha oração foi forte. Ao retornar à escola, com todo o mobiliário destruído, encontrei o recado que o rei do Cangaço havia escrito na parede, usando como caneta o dedo sujo de sangue:

"PERFESSORA FOI QUE VIU QUE CORREU! NÃO FOI DESTA VEZ, MAS VAI SER DE OUTRA"

Escolinha de Tercupá, construída em 1926, conservada como era à época do ataque de Lampião
Dias depois, meu bebê nasceu, mas nasceu morto, em consequência de tudo que passei. Fiquei com uma perna inchada, arroxeada, durante toda minha vida... O tempo passou. Pensei que estava livre do ódio de Lampião. Grande engano! Voltei a enfrentar a mesma situação pavorosa. Tudo se repetiu. Recebo novamente aviso de doutor Theotônio. Meus alunos voltam a ser meus seguranças e Lampião invade Tracupá pela segunda e última vez... Deixo a escola em disparada. Corro muito, pois, desta vez, não estava grávida.... Tinha mais forças... Encontrei um casebre com uma senhora bem idosa, vestida de preto, sentada nos degraus... Pedi ajuda e falei:
- Estou perseguida
por Lampião! Não tenho onde me esconder! Preciso me disfarçar!
Ela me ajudou. Vesti um vestido preto. Enrolei um pano preto na cabeça. Peguei o cachimbo e esperei Lampião chegar sentada no degrau da casinha, em companhia da outra senhora.
Aparentemente, éramos duas viúvas na casinha de caatinga, fumando seus cachimbos e pensando na vida.
Ele chegou e perguntou:
- Minhas véia viu o diabo da perfessora passar por
aqui?
- Não, senhor... Não vimo...
... E, assim, enganei Lampião..."


Estes fatos sobre a perseguição de Lampião à professora Mariana me foram narrados por sua neta, Maria Miriam de Miranda Prado... Ela jamais esquece..."
  
Contado por Rubens Rocha, de Tucano, em seu livro "Caminhos de Lampião", de 2009.


Professor Rubens Rocha mostrando o lugar em que caiu morto o tenente Geminiano, em Tucano. 

Enviado pelo professor e pesquisador do cagaço:
Rubens Antonio

Aderbal Nogueira hoje no Cine Ceará !

 
Aderbal Nogueira, hoje no Cine Ceará

Cine Ceará apresenta:
O Último Apito
de, Aderbal Nogueira

Será exibido nesta quarta-feira, dia 06 de Junho, em sessão especial da Mostra Olhar do Ceará do Cine Ceará 2012, às 15 horas; no Auditório João Frederico Ferreira Gomes, Anexo II da Assembleia Legislativa do Ceará, o documentário O Último Apito de nosso confrade Aderbal Nogueira, uma produção da Laser Vídeo.

Na ponta do pincel - Jô Fernandes expõe em Fortaleza "O Cangaço, sua Influência e Estética"


Indumentárias, acessórios e o legado do bando de Lampião na literatura e no cinema são alguns dos elementos explorados pelo artista na exposição

O artista plástico paranaense radicado no Ceará, Jô Fernandes, realiza a partir de hoje a exposição "O Cangaço, sua Influência e Estética". A mostra acontece na galeria BenficArte, no shopping Benfica, e fica aberta à visitação até 26 de junho.

A coleção faz um passeio pelo mundo do cangaço a partir de elementos que simbolizam o movimento e que interferiram nele: indumentárias, personagens, tradições, costumes e a herança deixada pelos cangaceiros compõem as cenas dos 16 quadros, pintados em tinta acrílica sobre tela.

"A intenção foi representar além de elementos como os trajes e utensílios dos dia a dia, o legado deixado pelos personagens do cangaço, como a influência no cinema, na literatura, na música, nas tradições e no imaginário popular", explica Jô Fernandes.
Origens

"Paranaense nordestinado", como ele se considera, Fernandes


A série começou a ser pesquisada em dezembro de 2010 e finalizada em setembro de 2011, mas esteve inédita até agora. Segundo Fernandes, o material está cotado para seguir para a França depois desta passagem por Fortaleza.

Estilo
diz que o apreço pelo cangaço vem desde pequeno, quando se dedicava a assistir filmes e ter contato com livros sobre o bando de Lampião.

"Não faço apologia à violência, o que me encanta nos cangaceiros é a liberdade que tinham, que era também a causa pela qual lutavam", argumenta. A decisão de vir para o Nordeste aumentou ainda mais o vínculo do artista com o tema. "Morei muito anos na Bahia, mudei bastante de estado por causa da publicidade. Fui
diretor de arte por 33 anos. Já havia morado no Ceará antes, em 1978, quando nasceu meu filho. Então, depois que deixei as agências, resolvi me mudar para Fortaleza", esclarece o artista.


Um dos destaques da obra de Jô Fernandes é o traço angular, limpo, quase vetorizado, que o artista consegue reproduzir sobre a tela, como se contasse com a ajuda de recursos digitais.

"Um amigo publicitário viu meus desenhos, dia desses, e comentou sobre
isso. Ele disse: ´Jô, seu traço parece Corel Draw!´. Eu ri e até me chateei depois, mas hoje eu acho legal. Não é uma tarefa fácil reproduzir esse traço, então me orgulho disso!", comenta.

De fato, Fernandes leva de três semanas a um mês para finalizar cada quadro e desconfia que seu estilo
tenha sido "a sequela boa que a publicidade deixou!", brinca.

A exposição "O Cangaço, sua Influência e Estética" tem curadoria do arquiteto João Jorge Melo. A abertura acontece hoje, às 19 horas e a visitação é gratuita.
Mais informações:
Abertura da exposição "O Cangaço, sua Influência e Estética", hoje, às 19h, na Galeria BenficArte, no Shopping Benfica (Av. Carapinima, 2200). Gratuito. Em cartaz até 26 de junho. Contato: (85) 3243.1000


Quem soprou foi o coroné Osmiro daí pesquei no: Diário do Nordeste no Meu Ceará e no  Blog do Jô

Joquinha Gonzaga realiza show memorável em Paulo Afonso.

Por: João de Sousa Lima

Joquinha Gonzaga, sobrinho e herdeiro musical do Rei do Baião, realizou em Paulo Afonso um show memorável em homenagem aos 100 anos de Luiz Gonzaga.

O show aconteceu na Praça das Mangueiras e os apaixonados pelo verdadeiro forró pé de serra pode curtir as boas músicas do artista.

Na plateia estava alguns fanáticos do Rei do Baião, entre eles Deca do Acordeom, Elias Nogueira, Dr. Luis Alberto, Voldi Ribeiro e padre Celso Anunciação.


O show em homenagem aos 100 anos do Rei do Baião.


O jornalista Zuca entrevista Joquinha Gonzaga

Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço:
 João de Sousa Lima

O FIM DO MUNDO, PASSO A PASSO (Crônica)

Por: Tangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Que não se imagine que o fim do mundo será no dia 12 de dezembro, como preveem aqueles aficionados pelas profecias maias, e muito menos através de bolas de fogos que caiam dos céus, rios de lava que vão destruindo tudo ou outros cataclismos que destrocem de vez essas frágeis formas de vida que pairam sobre a terra.

O fim do mundo não será um espetáculo de destruição, um fogaréu iluminando tudo e em seguida reduzindo cada ser a brasa, carvão ou coisa nenhuma. O fim dos dias não terá a suntuosidade catastrófica apregoada no Apocalipse nem virá como algo marcado num calendário, como data que marcará o fim das civilizações.


O próprio Nostradamus nunca se predispôs a dar sinais evidentes de uma época para o fim do mundo. Quando suas profecias falam no fim dos dias o fazem através de sinais, numa junção de elementos e fatores que se constatados vão evidenciando aos poucos o desfecho da humanidade. Assim, o profeta não traz uma revelação acabada, mas fatos que poderão acontecer e neles as evidencias dos perigos cada vez maiores que o mundo passa.

Como não diz qual será o ato último da humanidade, pressupõe-se que aponta o seu fim a partir de uma consequencia de ações que culminarão não num fim, mas na perda total e absoluta da razão de ser, de continuar existindo enquanto planeta. E tais evidencias já podem ser vistas, por exemplo, na degradação desenfreada dos recursos naturais do meio ambiente.

Sou daqueles que creem cegamente que o mundo jamais será destruído por qualquer evento especial, por algo que a ele esteja destinado como castigo pela ação humana. Aliás, neste aspecto é preciso deixar bem claro que o planeta terra não tem absolutamente nada a ver com o malfeito dos seus habitantes. E então seria desonesto destruir o planeta para acabar de vez com o homem.

Igualmente ao filho que alcança a maioridade ou se emancipa, a terra não tem nada a ver com as ações irresponsáveis dos seus filhos tão emancipados em tudo, principalmente no progresso científico. Se os habitantes do planeta erram ainda que tenham discernimento suficiente para saber das consequencias de suas ações, não seria correto que o seu berço fosse chamado a arcar pelos seus erros.


Será preciso, pois, que qualquer destruição que houver alcance somente o homem, de modo a deixar o planeta para futuros habitantes, para seres de qualquer espécie que sejam mais responsáveis pelas suas próprias vidas. A casa fica, a construção continua, cabendo aos novos habitantes respeitá-la e preservá-la. O que os humanos inegavelmente não sabem fazer.

Por ingratidão, por descuido, descaso, por brincar de viver, o homem se tornará poeira e levado pela tempestade que tanto semeou durante o tempo que lhe foi permitido fazer o bem, construir o melhor. Certamente que outros seres serão mais inteligentes para saber que realmente toda ação nefasta produz uma reação de igual valor ou mais acentuada.

Essa destruição, esse fim de mundo, já vem ocorrendo desde muito tempo. Na razão de Nostradamus, os eventos ocorrem quase que imperceptivelmente, sem precisar de um grandioso evento para abalar as estruturas do berço da humanidade. São vistos como fatos rotineiros, cotidianos, ações refletindo o progresso, contudo são verdadeiros sinais de que o ser humano caminha para o abismo.

Ora, impossível que não se tenha a devastação do meio ambiente e dos recursos naturais como eventos extremamente nocivos para a humanidade. Não se pode negar que os valores negativos do homem se aprimoraram a tal ponto que ninguém confia mais em ninguém, não há o desejável respeito para com o próximo, o homem está cada vez mais sendo lobo do próprio homem.


A família enquanto sólida instituição de formação do indivíduo não existe mais; as relações familiares se fragilizaram a tal ponto que os maiores inimigos carregam o mesmo sobrenome; os pais não conseguem mais serem ouvidos pelos próprios filhos, e estes agem como se não devessem mais dar satisfação a ninguém. Por consequência, o aumento da violência, do uso de drogas, da prostituição, da entrega absoluta aos nefastos modismos.

A cada evento desses o mundo vai perdendo sua razão de ser, as pessoas vão se afirmando como incapazes de continuar existindo. E chegará o dia em que não precisará mais de um fim do mundo, mas apenas o fim de tudo que foi plantado por essa humanidade ingrata e suicida.

Poeta e cronista
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