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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Jornal da Tarde (O estado e São Paulo) 31 de Julho de 1973

Por: Claudio Bojunga


A História que nos perdoe. Mas por que não se conta de uma vez a verdade sobre o Cangaço? 

Por: Claudio Bojunga

Dizer que Padim Ciço, um santo, fez Virgolino Ferreira um bandido é um sacrilégio. Mas o santo fez o bandido virar capitão, sim, embora historiadores do cangaço omitam esse episódio em seus livros. Há outras omissões. Embora os personagens da História ainda estejam dispostos a depor para a História. Por enquanto, porque estão todos muito velhos.

O coronel aposentado Higino José Belarmino, o homem que mais combates travou com Lampião e seu bando, durante a primeira fase do cangaço, até 1928, desistiu de ler qualquer livro, jornal ou revista que trate desse assunto. Tem dois motivos para isso. O primeiro é pessoal: até hoje, segundo ele, ninguém descreveu corretamente a morte dos dois irmãos de Virgulino Ferreira, Antônio e Livino, considerados por todos como mais violentos, ferozes e ousados do que o irmão. Prova é que morreram logo, em combates com o então tenente Higino.



Cel. Higino José Belarmino - Foto: Josenildo Tenório  

O segundo motivo – e o que mais irrita o coronel – é a sua obsessão pela minúcia. “Já perdi a conta dos doutores (escritores, jornalistas, sociólogos) que vieram aqui falar comigo. E esta é a segunda vez que trazem a maquininha (gravador)”. A maioria dos entrevistadores do coronel conversava horas – até dias – com ele, anotando um dado ou outro, geralmente datas. “Um negócio feito assim só pode sair torto”, diz ele. O coronel está alertando, com muita seriedade, todos os estudiosos do assunto. 

A maioria dos livros históricos – que fique claro: a maioria – ou ensaios sobre cangaceirismo parte de premissas discutíveis (alguns até partem de preconceitos) ou escolhem, a esmo, um determinado ângulo do fenômeno. Então temos livros que, sem maiores explicações, rotulam Lampião de “revolucionário”, vestem-no de Robin Hood, tratam as volantes como “forças opressivas” e, no fundo, descrevem o velho lugar comum que leva o leitor a identificar o bandido como mocinho e vice-versa. Se a intenção é politica, esses escritores perdem, nos seus preconceitos, ótimos detalhes que até ajudariam a defesa de suas teses; que, por exemplo, os métodos usados pela polícia na luta, em nada, mas em nada mesmo, se diferenciam dos métodos dos cangaceiros.

Quando o coronel Higino diz que “eu era um boi”, fica claro sua identificação com os inimigos. A volante, enfim, seria um grupo de cangaceiros funcionários públicos. Igualmente ferozes e ingênuos. Outros pontos: não é possível pesquisar o cangaço sem o conhecimento profundo da República Velha, das condições socioeconômicas do Nordeste, na época, da psicologia do seu povo, das complicadíssimas árvores genealógicas, os clãs, os feudos, as pequeninas máfias. Como falar de cangaço sem o entendimento das relações estado-igreja-povo? A função dos beatos, o messianismo, o compadrismo político, tudo isso contribuindo direta e indiretamente para a formação dos bandos sanguinários, na verdade manuseados por uma série de elementos que vão desde o cínico senhor feudal às relações econômicas do Nordeste com o Centro-Sul. Há um exemplo edificante, de um homem que pesquisa o assunto há mais de vinte anos e ainda não escreveu o seu livro: o paulista Antônio Amaury C. Araújo.


O jovem Amaury- (Cortesia do mestre para ilustrar o artigo)  

À medida que ele avança no conhecimento do cangaceirismo, mais dados lhe são exigidos. Talvez uma pesquisa dessas, que além de muita cultura e paciência, obriga a gastos inestimáveis de dinheiro, nunca venha a ser feita no Brasil. A solução poderia estar num trabalho de equipe, financiado por uma riquíssima instituição cultural. E alguém teria realmente interesse de esmiuçar tão obsessivamente um período regional da História do Brasil? É fácil concluir que um trabalho assim é impossível, mas não se pode perdoar a desonestidade (ou o despreparo, vá lá) de alguns autores. Como é possível perdoar um “historiador” que, pelo simples fato de venerar o Padre Cícero do Juazeiro, omita da sua “história do cangaço” o episódio da “promoção” de Virgulino Ferreira a “capitão”?

Alguns personagens desta página – todos da primeira fase do cangaço, a mais desconhecida, que vai de 1924 a 1928, quando Virgulino atravessou o rio são Francisco e foi brigar na Bahia – estão dispostos a testemunhar, depor. Ainda podem chegar à minúcia. Mas os historiadores bem intencionados devem se apressar: a média de idade dessa primeira fase está por volta dos oitenta anos.

A arteriosclerose começa a apagar a memória de muitos. A morte natural está bem próxima. E logo agora que se descobre que cangaceirismo está longe de ser um assunto esgotado pela História, como dão a entender os representantes do sensacionalismo escrito, falado, filmado e televisionado. 

Créditos para Antônio Correa Sobrinho 

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br

O Ceará de Nogueira Accioly Parte 1

Por: Manoel Severo

Manoel Severo e Antonio Amaury

A mais longa e emblemática oligarquia da velha república no Ceará teve como principal protagonista Antônio Pinto Nogueira Accioly, que durante mais de dezesseis anos comandou com mão de ferro e um aguçado senso de sobrevivência política os destinos do Ceará em um dos mais conturbados e violentos períodos políticos da república.

Nogueira Accioly

Nogueira Accioly, nasceu na cidade cearense de Icó em outubro de 1840, era filho de portugueses e casou com dona Maria Teresa de Sousa, filha do casal, Tomas Pompeu de Sousa Brasil; senador e sacerdote; e dona Felismina Filgueiras; uma das mais tradicionais famílias do estado.

Em 1864 formou-se em direito em Recife e acrescentou o Accioly , da avó materna a seu nome. A partir do prestígio de seu sogro, senador Pompeu, tomou gosto pela política, ao qual quase veio a suceder na cadeira senatorial cearense, logo após o império, fato que não se concluiria em função da proclamação da república.

D. Felismina Filgueiras, matriarca da família Souza Brasil, e sogra de Nogueira Accioly
Senador Pompeu, sogro de Accioly

Logo após a proclamação da República assume o governo do Ceará o General Bezerril Fontenelle tendo como seu vice, Nogueira Accioly que acabou o sucedendo, à frente do governo cearense a partir do ano de 1896, inciando ali uma das mais fortes e significativas oligarquias da velha república no nordeste.

Em seu primeiro governo o estado do Ceará foi castigado por uma seca cruel entre os anos 1898 e 1900 e uma forte epidemia de varíola. Ao final de seu governo assumiu o comando do Ceará seu sucessor, Dr. Pedro Borges que durante o quadriênio 1900 a 1904 continuou recebendo forte influência política de Accioly fazendo com  que o governante retornasse à frente dos destinos do Ceará novamente a partir de 1904 e novamente em 1908, iniciando seu último governo que foi marcado por sua deposição em 1912.

Nogueira Accioly, de pé, recebendo no Ceará a visita do Presidente Afonso Pena em 1906
Barricadas contra Accioly em 1912

Os desmandos; como violentas repressões à imprensa e a adversários políticos, o conjunto de privilégios sempre envolvendo parentes e apadrinhados de Accioly unidos às manobras que envolviam fraudes eleitorais contando com o apoio da política dos governadores, vinham criando constantes insatisfações junto a sociedade cearense.

Em 1911 iniciou no Brasil ; a partir da necessidade do Presidente Hermes da Fonseca conter sua forte oposição nos estados; o movimento encabeçado por setores militares e alguns segmentos da sociedade civil denominado de "Salvacionismo". O objetivo seria o de defenestrar do estado brasileiro as oligarquias espalhadas por todo território nacional que ameaçavam Fonseca . Esse movimento com forte apoio do governo federal acabou vindo a calhar e foi aproveitado pela oposição aciolyna em Fortaleza, quando foi lançada a candidatura do coronel Franco Rabelo, personalidade "salvacionista" para as eleições de 1912 ao governo estadual , contra o candidatura de Nogueira Accioly.

Franco Rabelo

A capital cearense conheceu ali, as primeiras grandes passeatas de sua história, o ineditismo da iniciativa, envolvendo as moças e as crianças, acabaram cristalizando e fortalecendo o sentimento de ruptura da sociedade de Fortaleza com Accioly.

Particularmente na Passeata das Crianças, no dia 21 de janeiro de 1912, a polícia militar investiu sobre os manifestantes comextrema violência resultando na morte de uma criança, sendo o estopim de uma verdadeira batalha campal de três dias, com manifestações, combates e muitos mortos pelas ruas de Fortaleza, terminando no dia 24, com a derrocado do governo Acciolista.

Passeata das Crianças, 21 de janeiro de 1912 

O salvacionista Coronel Franco Rabelo viria a ser eleito, inaugurando o período de libertação do Ceará da oligarquia de Accioly, entretanto, por ironia do destino, as mesmas manobras federais que o haviam favorecido , agora se colocariam contra ele e dois anos depois de sua eleição, Franco Rabelo seria deposto no ápice do que viríamos a chamar de a Sedição de Juazeiro.

Continua...

Manoel Severo - Cariri Cangaço 

http://cariricangaco.blogspot.com.br
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Lampião em Mossoró


Entre todos os desafios que existem, o maior é quando está em risco a vida de qualquer ser humano, principalmente quando é provocado por delinquentes, quando ninguém consegue mudar para melhor os seus pensamentos.


Este bilhete enviado ao então prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes de Oliveira, pelo o famoso e sanguinário cangaceiro o capitão Lampião, representa em toda histórias do seu povo, o mais desafiador dos insultos. Foi respondido com o primeiro "Não", recebido em toda trajetória do cangaço, no dia 13 de Junho de 1927.

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