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terça-feira, 7 de maio de 2013

Com Casa das lâmpadas, David de Medeiros retorna à prosa

Por: Gazeta do Oeste
David de Medeiros Leite: ‘Na Mossoró do século passado, Casa das Lâmpadas era uma loja comercial’

O professor e cronista David de Medeiros Leite acaba de publicar, pela Sarau das Letras, editora da qual é sócio, juntamente com o engenheiro 

Clauder Arcanjo

Clauder Arcanjo, o livro Casa das lâmpadas, uma reunião de crônicas escritas com o objetivo de não deixar a memória de lugares, fatos e pessoas simplesmente se perder. “Já publiquei um trabalho similar a este Casa das lâmpadas, que foi o livro 


Ombudsman Mossoroense”, destaca o escritor, ressaltando que, na Mossoró do século passado, Casa das lâmpadas era uma loja comercial. “Digo no livro que seu proprietário, Luiz Fernandes, nem teve marqueteiro para denominar seu comércio, tenho certeza. Sempre considerei


“Casa das lâmpadas” uma expressão poética, sugestiva para batizar uma série de coisas, inclusive um livro. Trata-se de uma reunião de textos sobre pessoas e fatos mossoroenses.

Manoel Onofre Jr.

Como diz Manoel Onofre Jr., em texto para as “orelhas”, tentamos, com o livro, “resgatar da transitoriedade do jornal”. Em verdade, alguns foram publicados e outros, não”, explica David. “Apesar de ser um estabelecimento simples, sem a suntuosidade dos atuais, não me esqueço de que, na decoração, a diversidade das luminárias despertava a atenção. O longo balcão de madeira se estendia em paralelo à parede lateral, correspondendo com antigas prateleiras. Até hoje, quando entro em um comércio similar, me vêm à lembrança as instalações da loja de seu Luiz”, relembra, no primeiro texto do livro.

Apesar do belo trabalho literário – a reunião, em si, dos textos, traz um novo momento na obra de David Leite – e do cuidado com o visual gráfico do livro (desde as escolhas do papel, ilustrações e da própria capa), David não lançará o livro. “Como tenho dito, não farei lançamento do Casa das lâmpadas. Deixei alguns exemplares em livrarias de Mossoró e Natal para alguns interessados”, comenta o autor, que hoje reside em Natal e onde mantém seus trabalhos, bem como a representação da editora Sarau das Letras na cidade. “Sonho nosso (Clauder e meu) em dotar Mossoró e o RN com mais uma forma de incentivo à publicação... A Sarau das Letras já conta com considerável número de títulos publicados. E, vale ressaltar, sem dinheiro público de espécie alguma”, explica.

Em contato com a leitura desde cedo, o autor salienta que o gosto pelo livro começou a partir dos incentivos recebidos no Instituto Alvorada. “Ainda na época do ensino elementar, como, também, nos colégios Eliseu Viana e Abel Coelho, onde tive bons professores. E, claro, as leituras foram as correspondentes de cada período, ou seja, no primeiro momento,


Monteiro Lobato, 

Machado de Assis

depois Machado de Assis, José de Alencar, etc”, diz, sorrindo.

José de Alencar

Segundo ele, de leitor interessado aos primeiros passos no caminho da escrita, foi um percurso meio natural. “Do “alto” dos “meus vinte e poucos anos”, em meados da década de noventa, comecei a publicar textos nos jornais mossoroenses. Nem sei se poderia classificá-los como crônicas... Seriam mesmo descomprometidos escritos de um iniciante rabiscador de província”, fala.

David de Medeiros se divide entre a Uern e o trabalho de editor. “São campos de atuação diferentes, é verdade. Na área de Direito Administrativo, lidamos com aspectos jurídicos que, na maioria das vezes, são distantes dos temas literários. E como editor da Sarau das Letras (em parceria com Clauder Arcanjo), exercitamos nosso “diletantismo”, vamos assim dizer, considerando que não auferimos ganho financeiro, contribuindo com o fomento e o incentivo a novos escritores”, destaca, ressaltando que, no que concerne aos apoios, “na alçada pública ainda não existe uma política editorial bem definida que possamos considerar como apoio ou incentivo aos nossos autores. O que vemos são ações esporádicas e pontuais que, devo dizer, pouco impulsionam, já que se reduzem a momentos”, aponta.

Apesar da falta de apoio aos autores, ou de uma política cultural mais efetiva, David de Medeiros crê que os escritores estão mais “profissionais”. “Podemos observar isso no esmero das obras, desde o aspecto gráfico e até mesmo em relação às questões literárias. E também que existem bons divulgadores dos autores potiguares, com destaque para um ou outro “Quixote das letras” (como Thiago Gonzaga, do blog que divulga autores potiguares: 101 livros do RN que você precisa ler). Em alguns lançamentos de livro, fico a lembrar de 

Dr. Vingt-un Rosado

Vingt-un, quando, espantado pelo reduzido público em determinado evento, perguntou: em que estrelas andavam os alunos e professores universitários que não comparecem aos eventos literários?”, destaca.

http://www.gazetadooeste.com.br/noticias-com-casa-das-lampadas-david-de-medeiros-retorna-a-prosa-10670

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UM PLANETA EM EVOLUÇÃO, APESAR DA CONSTANTE EXPOSIÇÃO MIDIÁTICA DA VIOLÊNCIA


Publicado em 07/05/2013 por Rostand Medeiros

A violência ocupa cada vez mais espaços na mídia
Por Flávio Rezende*

Todos os dias, quase oito bilhões de seres em passagem material no planeta Terra, experimentam uma rotina radicalmente igual, existindo 24 horas de maneiras diferentes e em locais diversos, mas, cumprindo rigorosamente uma estadia isonômica por aqui em termos horários.

Levando em conta que a existência média está em torno de 70 anos atualmente, vivemos então 25.550 dias, o que dá 613.200 horas, um bocadão de tempo né? Pois então, perceba que a grande maioria vive esse tantão de tempo, sem presenciar ou sofrer algum tipo de violência mais significativo.

Peguemos como exemplo uma cidade como Natal, onde vivem uns 800 mil habitantes. Num dia qualquer essas 800 mil pessoas podem ser vistas indo para o trabalho, colégio, pegando ônibus, andando de carro, etc. A violência decorrente de assaltos, assassinatos, estupros, roubos e outros mais, podem chegar a atingir 0,12% da população, o que dá mil ocorrências, já considerando esse número fora da realidade.

Perceba que a criminalidade foi relativamente pequena diante da normalidade da vida dos demais habitantes, mas, se você for ligar uma TV ou ler algum impresso, perceberá no conjunto do tempo televisivo ou dos jornais, que o tema violência, ocupa cerca de 30% ou até mais, dissolvido em telejornais, filmes e em outros momentos, passando a falsa impressão que estamos vivendo num mundo bárbaro, num mundo sem jeito e que basta sair às ruas, para acontecer algo negativo.


Campanhas surgem tentando minimizar a grande exposição da violência na mídia

Entenda bem que não estou negando a violência e os fatos reais que gravitam em torno da questão, apenas exponho aqui com dados, que eles não são tão grandes como estão falando, ocorrendo isso, pelo desproporcional espaço concedido aos fatos negativos pela imprensa em geral e, não vai aqui julgamento de valor sobre isso, pois sei que o próprio povo gosta de ver a desgraça alheia, até como forma de aliviar suas agruras pessoais e seus sofrimentos materiais e emocionais, sendo isto, prato cheio para outros artigos.

Apesar dos crimes, assaltos, atos terroristas, estupros e demais barbáries, o planeta Terra evolui. As leis são feitas no sentido da sociedade não aceitar mais a escravidão, a discriminação, atos de guerra absurdos, sendo que cada país, levando em conta questões religiosas, políticas ou culturais, decide com certas particularidades, como regular isso e aquilo.

Um olhar histórico e isento deixa bem claro que muitas coisas já foram bem piores. Que determinadas posturas violentas foram sendo lentamente modificadas e, até questões comportamentais relacionadas à sexualidade e ao livre pensamento, são respeitadas e amparadas por legislações mais humanistas.

A imprensa bem que podia dar mais espaço para documentários que mostrem os países e suas coisas boas, os campos, os lugares turísticos, a vida animal, as raças, as religiões, os rios, mares e a linda vegetação terráquea.

Tantas coisas boas para assistirmos e lermos em grandes veículos, as ações das pessoas do bem, belas imagens de gestos solidários, decisões políticas que incluíram milhões de pessoas em um universo de contentamento.

São tantos os acontecimentos fantásticos que nos remetem ao mundo mágico do coração sadio e feliz, que oro silenciosamente para que o véu da ignorância possa ser cada vez mais removido e, mergulhados na luz, possamos valorizar nosso lado pacífico, nosso comportamento adequado, deixando de lado cada vez mais esses seres momentaneamente desvirtuados e que, sem tanta publicidade sobre seus atos, mudem e, enfim, o paraíso, o planeta que evolui, possa chegar a tão esperada Era de Aquarius, onde o certo é que vai ter ibope e, o ser equivocado, será corrigido com amor, causando efeito prático e modificando a rota dos que ainda precisam de perdão e nova oportunidade de correção.

É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com).


Extraído blog do historiógrafo e pesquisador do cangaço: 
Rostand Medeiros


http://tokdehistoria.wordpress.com


AMOROSO JOÃO, AMARGA MARIA (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)

AMOROSO JOÃO, AMARGA MARIA

E João, pacientemente dizia: Assossegue Maria, tudo há de miorá, mai adiante tudo há de ser diferente, munto mió. E ela retrucava: Carma uma gota serena. Vai miorá cabrunco ninhum. Que peste de tempo mió que nada...

Ele: Maria, minha fia, é perciso ter fé, esperança e acreditar numa vida bem mió. E ela: Vai-te pa peste com sua fé e esperança. Essa disgrama de vida vai ser disso pa pió...

Ele: Você hoje tá tão bonita Maria, pareceno uma frô peufumada. E ela: Guarde suas porcaria pa lá. E vá pa baixa da égua, pa puta que pariu com seu elogio de merda, pois bem sei a frô de cimitero que sou...

Ele: Vou pa feira e juro trazer um pano de chita bonito, um diadema e uma loção bem cherosa. E ela: Soque tudo no fiofó. Num preciso que me traga peste ninhuma de nada. Pode comprar o que quiser, mas soque tudo no fiofó...

Ele: Num gosto de ver você ansim não. Juro que perfiro ver seu sorriso disfaçado. Entonce sei que tá cum bom coração. E ela: Que conveusa de fi da égua é essa. Num venha com treita quereno disfarçar o bote, seu fi da molesta...

Ele: Arme a rede na varanda e vamo se deitar juntinho. Nunca mai a gente fez ansim. E ela: Deixa de raparigagem seu gota serena. Tá me achano muié que gosta de futricage pru riba da rede. Vai-te percurar uma quenga pa vadiar...

Ele: Sabe duma coisa, faço de conta que nem me importo mai cum seus enraivecimento. Mai saiba que num gosto de ver você ansim não. Quem já viu dizer uma pessoa viver apimentada dia e noite desse jeito? Ela: Os incomodado é que se muda. Jararaca ou cascavel sou assim mermo. E se tiver achano ruim que venha ixprimentar meu veneno, seu frouxo do cabrunco...


Ele: Maria, Maria, nóis casamo foi pa viver em paz. Eu gosto de você e do mermo modo você gosta de eu. Por isso é mió parar com arreliamento. E ela: Ante eu tivesse casado com um jumento ou uma peda. Que destino fio da peste foi esse que me atravessou essa coisa ruim no meu caminho...

Ele: Vamo sair pa fora, caminhar por aí, sentir a ventania bateno na gente. Vamo? Uma fresquinha vai fazer tudo miorá. E ela: Acha que eu num tenho o que fazer não, é seu fio de uma vaca troncha? Vê se arruma arguma coisa pa fazer seu disgraçado...

Ele: Maria, nunca mai nós fez um cafuné um no outro nem fez cosquinha de fazer gaitá. Tô com uma sordade danada de brincar cuma a gente brincava noutos tempo pa traiz. E ela: Pode ir tirano seu cavalinho da chuva seu jumento sarnento. Vai-te lascar cum sua cosquinha, vai-te pra baixa da égua cum seu cafuné. Mai menino, uma muié cuma eu fazeno cafuné num desavergonhado duma figa. Só fartava essa...

Ele: Tudo fiz e tudo faço pa ver se você miora. Mai não, cada vez mai só fala coisa que desagrada. Tudo tem o seu limite Maria. E ela: Quer que eu arrume suas coisa, quer? Num ameace não, deixe de ser frouxo e saia por aquela porta...

Ele: Mai é isso mermo que vou fazer. Num queria não, mai é você merma que tá pedino. E ela: Vá simbora logo e nem olha pra traiz. Xô, xô, chispa daqui...

Ele: Mai você tá chorano Maria. Pruquê? E ela: Nada não, nada não. Foi um arqueiro que caiu nos meu óio. Vá, a porta tá aberta...

Ele: Mai cuma posso ir embora cum você desse jeito. Chega a soluçar de tanto chororô. Tá doente Maria? E ela: ....................

Ela não conseguia falar. Chorando, arrependida demais, mas não queria dar o braço a torcer. Mas ele perguntou: Pruquê num fala mai Maria? De repente deixou de ter peda na boca pa jogar em cima deu e me atacar com sua ignorança de todo jeito?

Ela continuava silenciosa, agora de cabeça baixa. Então ele falou: Levante a cabeça e ói pa mim e diga tudo que tem a dizer. Eu sei perdoar Maria, eu sei perdoar. Você sabe se arrepender? Responda Maria.

Enfim, entristecida, ela voltou a falar: Parece que não. Mai tanto faz se você sabe me perdoar...

(*) Meu nome é Rangel Alves da Costa, nascido no sertão sergipano do São Francisco, no município de Poço Redondo. Sou formado em Direito pela UFS e advogado inscrito na OAB/SE, da qual fui membro da Comissão de Direitos Humanos. Estudei também História na UFS e Jornalismo pela UNIT, cursos que não cheguei a concluir. Sou autor dos seguintes livros: romances em "Ilha das Flores" e "Evangelho Segundo a Solidão"; crônicas em "Crônicas Sertanejas" e "O Livro das Palavras Tristes"; contos em "Três Contos de Avoar" e "A Solidão e a Árvore e outros contos"; poesias em "Todo Inverso", "Poesia Artesã" e "Já Outono"; e ainda de "Estudos Para Cordel - prosa rimada sobre a vida do cordel", "Da Arte da Sobrevivência no Sertão - Palavras do Velho" e "Poço Redondo - Relatos Sobre o Refúgio do Sol". Outros livros já estão prontos para publicação. Escritório do autor: Av. Carlos Burlamaqui, nº 328, Centro, CEP 49010-660, Aracaju/SE.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo: 

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De Salamanca a Mossoró

Por Chumbo Pinheiro

Uma declaração de amor em forma de crônicas, numa ponte aérea entre o novo e o velho mundo, com um pouso demorado e necessário, para o alcance de voos mais altos que cada um de nós almeja um dia alcançar. Uma declaração sem pieguice, à revelação de um sentimento de saudade aos de sua terra, de seu país, sua cultura e principalmente dos seus conterrâneos, dos amigos antigos e novos, da convivência literalmente calorosa de sua Mossoró.

David de Medeiros Leite

Assim nos sentimos ao saborear o belo livro Cartas de Salamanca, do escritor David Medeiros Leite. Através de suas crônicas, peregrinamos pela histórica cidade espanhola e seus arredores, passeamos pelas ruas e praças e quase chegamos a sentir o frio e a neve a tocar os dedos de nossas mãos. Ficamos deslumbrados, diante das fachadas dos prédios e andando pelas calçadas somos levados a imaginar-nos em companhia do autor a saborear um café, um vinho e a bater um bom papo.
    
David ainda vai mais longe, provoca-nos a emoção e a reflexão ao descrever as frases lapidares do

Frei Luis de Léon

Frei Luis de Léon, “Decíamos ayer...” e; de Miguel de Unamuno  “Venceréis, pero no converéis...” tão bem contextualizadas, ao relatar a marcante presença de Dom Helder Câmara nas terras salmantinas.

Dom Helder Câmara

Salamanca é pouso, é berço, é conhecimento, é labor, é sonho e realização. É parte da trajetória do autor que nos apresenta algumas das maravilhas do velho mundo, com Paris a cidade-luz, e a cidade portuguesa do Porto, que nos parece familiar. Transporta-nos também pelas ruas, cafés e livrarias de Mossoró, aproximando com a sua escrita, leve, simples e encantadora não só do velho e do novo mundo, mais também dos seus amigos de lá e de cá. Desta forma, revela e compartilha conosco sua admiração por poetas e ficcionistas como Paulo de Tarso Correia de Melo e Francisco Rodrigues da Costa, além de Alfredo Peréz de Alencart e tantos outros.
     
A riqueza das crônicas das Cartas de Salamanca torna-se ainda mais preciosa, por ultrapassar o valor literário para alcançar um valor histórico, e prova disto é a cópia da carta de 

Câmara Cascudo

Câmara Cascudo a Miguel de Unamuno, um documento que reafirma a grandeza humana do mestre potiguar e revela um espírito de pesquisador de David Medeiros Leite, que nos presenteia com seus belos textos.


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"Tenho muito orgulho de meu pai" Parte I

Expedita Ferreira

A única filha de Lampião e Maria Bonita, Expedita Ferreira, mora em Aracaju (SE), desde 1947. Ela nasceu em Porto da Folha (SE), à sombra de um umbuzeiro. Foi criada pelos fazendeiros Manuel e Aurora Severo.  Mas não foi registrada, como alguns pensam, com o sobrenome deles, e sim, com o dos pais verdadeiros, Virgulino Ferreira da Silva e Maria Gomes de Oliveiras. Juntamente com a sua filha, Vera Ferreira (uma das netas do "Rei do Sertão"), Expedita criou em Aracaju (em 1988), um Museu, com 54 peças, para homenagear Lampião e outros cangaceiros. Mas, poucos meses depois, foi fechado, por problemas na estrutura do prédio. Estamos pensando em reabri-lo em nossa própria casa", informa Vera Ferreira, que é repórter cinematográfica (já trabalhou na TV Manchete, em Brasília, TV Globo, em São Paulo, e numa TV de Sergipe).

Há dez anos, Expedita e Vera Ferreira abriram processo contra a ABA Filmes, que estava vendendo fotos de Lampião tiradas do documentário do sírio-libanês Benjamim Abrahão. Sem pagar à família um centavo sequer de direito de imagem. "O pior é que eles continuam vendendo. Esse comércio é revoltante. Foi da ABA que o Llyds Bank comprou as imagens que utilizou num comercial", diz Vera Ferreira . Ela informa que já ganhou o processo no Supremo Tribunal Federal e espera que em breve tudo se resolva. Quero também alertar para certos livros sobre o cangaço, que devem ser desmistificados. Embora pareçam verdadeiros, contém muita mentira", diz. Sobre Benjamin Abrahão ela diz que era um aventureiro fantástico. "Ele não entendia nada de fotografia, cortava as cabeças nas fotos que tirava, e encontraram filmes dele junto a rapadura e farinha".

Foi por telefone que Expedita e Vera Ferreira conversaram com o editor do Suplemento Cultural. Por quase meia hora. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva da filha de Lampião, Expedita.

CONTINUA...COM OUTRA FAMÍLIA DE EXPEDITA.

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

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"Antonio Silvino foi um covarde"

Por: Virgulino Ferreira da Silva(*)

Chamo-me Virgulino Ferreira da Silva, e pertenço à humilde Ferreira, do riacho de São Domingos, município de Vila Bela. Meu pai sendo constantemente perseguido pela família Nogueira e por José Saturnino, nossos vizinhos, resolveu retirar-se para o município de Águas Brancas - Estado de Alagoas. Nem por isso cessou a perseguição. Em Águas Brancas foi meu pai barbaramente assassinado pelos Nogueiras e Saturnino no ano de 1917. Não confiando na ação da Justiça Pública, resolvi fazer justiça por minha justiça por minha conta própria, isto é, vingar a morte de meu progenitor.

Adendo - O escritor Alcino Alves Costa em seu livro: Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico" afirma que os pais de Lampião faleceram no ano de 1920, e não em 1917, como afirma Lampião. (JMP)

Não perdi tempo e resolutamente arrumei-me e enfrentei a luta. Não escolhi gente das famílias inimigas para matar e efetivamente consegui dizimá-las consideravelmente. 

Sinhô Pereira - Primeiro e único patrão de Lampião

Já pertenci ao grupo de "Sinhô Pereira" a quem acompanhei durante dois anos. Muito me afeiçoei a este meu ex-chefe porque é um leal e valente batalhador, tanto que se ele voltasse ao cangaço iria ser seu soldado.

Tenho percorrido os sertões de Pernambuco, Paraíba e Alagoas e uma pequena parte do Ceará. Com as polícias desses Estados tenho entrado em vários combates. A de Pernambuco é uma polícia disciplinada e valente, que muito cuidado me tem dado; a da Paraíba, porém, é uma polícia covarde e insolente. Atualmente existe um contingente da força pernambucana de Nazaré que está praticando as maiores violências, mais parecendo a força paraibana. 

Não tenho tido propriamente protetores. A família Pereira de Pajeú é quem me tem protegido mais ou menos. Todavia, conto em toda parte com bons amigos que me facilitam tudo e me escondem eficazmente quando me acho muito perseguido pelos governos. Se não tivesse necessidade de procurar meios para manutenção dos meus companheiros, poderia ficar oculto indefinitivamente sem nunca ser descoberto pelas forças que me perseguem. De todos os meus protetores, só um me traiu miseravelmente.


Foi o Cel. José Pereira de Lima, chefe político de Princesa, homem perverso, falso, desonesto, a quem durante anos, servi, prestando os mais vantajosos favores de nossa profissão.

Consigo meios para manter o meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos usuários que miseravelmente se negam a prestar-me auxílios. Tudo quanto tenho adquirido na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultosas despesas do meu pessoal - aquisição de armas e munições, convindo notar que muito tenho gasto também com a distribuição de esmolas aos necessitados. 

Sobradinho de Juazeiro no Norte, (CE), em que Lampião ficou hospedado, em março de 1926 (hoje funciona uma oficina mecânica, mas foram mantidas as características da arquitetura original; Lampião ficou no solão. Da janela do canto, acima, ele jogava moedas para o povo, segundo informa Francisco Campos, pesquisador do cangaço e autor da foto (tirada em 1926).

Não posso dizer ao certo o número de combates eu que já estive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de 200. Também não posso informar o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira do meu rifle.  Entretanto, lembro-me perfeitamente de que além dos civis, matei três oficiais da polícia, sendo dois de Pernambuco e um da Paraíba, sargentos, cabos e soldados, era-me impossível guardar na memórias o número dos que foram levados para o outro mundo.

Tenho cometido violências e depredações, vingando-me dos que me perseguem e em represália a inimigos. Costumo, porém, respeitar as famílias, por mais humildes que sejam, e quando sucede a algum de meu grupo desrespeitar uma mulher, castigo severamente. 

Até agora não desejei abandonar a vida das armas com a qual já me acostumei e sinto-me bem. Mesmo que assim não fosse, não poderia deixar essa vida, porque os inimigos não esquecem de mim. E por isso não posso e nem devo deixá-los tranquilos. Poderia me retirar para um lugar longínquo, mas julgo que seria uma covardia e não quero nunca passar por covarde.

Gosto de todas as classe. Aprecio de preferência as classes conservadoras - agricultores  fazendeiros, comerciantes etc., por serem homens de trabalho. Tenho veneração e respeito pelos padres, porque sou católico; sou amigo dos telegrafistas porque alguns já me têm salvo de grandes perigos. Acato os juízes, porque são homens da Lei e não atiram em ninguém. Só uma classe eu detesto: é a dos soldados, que são meus constantes perseguidores. Reconheço que muitas vezes eles me perseguem porque são sujeitos a isso e é justamente por causa disso que ainda poupo alguns quando os encontro fora da luta.

A meu ver, o cangaceiro mais valente do Nordeste foi Sinhô Pereira. Depois dele, Luiz Padre. Penso que Antonio Silvino foi um covarde porque se entregou às forças do Governo em consequência de um pequeno ferimento. Já recebi ferimentos gravíssimos e nem por isso me entreguei à prisão. Conheci muito José Inácio de Barros. Era um homem de planos e o maior protetor dos cangaceiros do Nordeste em cujo convívio sentia-me feliz.

Já recebi quatro ferimentos graves. Dentre estes um na cabeça do qual só por milagre escapei. Os meus companheiros, também vários deles têm sido feridos. Possuímos no grupo pessoas habilitadas para tratar dos feridos, de modo que somos convenientemente tratados, por isso estou forte e perfeitamente sadio, sofrendo raramente de ligeiros ataques reumáticos.

Sempre respeitei e continuo a respeitar o Estado do Ceará porque nele não tenho inimigos, nunca me fizeram mal e ainda porque é o Estado do Padre Cícero.

Estou me dando bem no cangaço e não pretendo abandoná-lo. Não sei se vou passar a vida toda nele. Preciso "trabalhar" ainda uns três anos. Tenho que visitar alguns amigos, o que não fiz por falta de oportunidade. Depois, talvez me torne comerciante.

(*) Vulgo Lampião (7.7.1897 - 28.71938), o mais célebre líder do cangaço.

Fonte:

Diário Oficial
Estado de Pernambuco
Ano IX
Julho de 1995

Material cedido pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço:
Kydelmir Dantas

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Reunião hoje Cariri Cangaço - GECC


Hoje, quarta-feira, dia 07;
Reunião Ordinária do GECC - Cariri Cangaço
em Fortaleza.

GECC - Cariri Cangaço
Nesta quarta, dia 07 às 19:30h
Restaurante Chop Grill
Rua Julio Siqueira com Nunes Valente
Dionisio Torres - Fortaleza - Ce

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