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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

ARMAS QUE NÃO MATAM. INFORMAM E INSTRUEM!

Por Dr. Archimedes Marques

"Coragem... pequeno soldado do imenso exército. Os teus livros são as tuas armas, a tua classe é a tua esquadra, o campo de batalha é a terra inteira, e a vitória é a civilização humana." (Edmondo Amicis).

... E terminou de chegar diretamente de Cajazeiras, na Paraíba, para Aracaju, em Sergipe, esse grande lote de armas para fortalecer a minha esquadra nesse campo de batalha, dessa guerra interminável pelo aprimoramento do saber. Você, amigo Professor Francisco Pereira Lima, é dos principais responsáveis por isso. Um coiteiro a fornecer armas aos pequenos soldados!










Fonte: facebook
Página: Archimedes Marques

Nota do http://blogdomendesemendes.blogspot.com:

O Dr. Archimedes Marques não deu título para a sua postagem. Acho que o título que foi criado por mim será acatado por ele.

FILHO, NORA E NETAS DOS CANGACEIROS CORISCO E DADÁ


Descendentes dos cangaceiros Dadá e e o afamado Diabo Loiro (Corisco). Seu filho, Sílvio Hermano de Bulhões, esposa Maria de Lurdes e filhas.

Fonte: facebook
Página: Corisco Dadá

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Cariri - PROFESSOR DA UERN SERÁ CONFERENCISTA NO MAIOR EVENTO DO PAÍS SOBRE O CANGAÇO


A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) estará representada no Seminário Científico-Cultural Cariri Cangaço Princesa 2015, no município de Princesa Isabel no estado da Paraíba. O professor Ms. José Romero Araújo Cardoso, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais será conferencista dia 19 de março, no evento que é considerado o maior do gênero no país.

O professor Romero falará sobre “Território Livre de Princesa”, destacando diversos aspectos como a campanha política de Epitácio Pessoa para o Senado; o assassinato do Presidente João Pessoa e a ocupação de Princesa; a gestão João Suassuna, o início da guerra de Princesa e o território livre, além de outros temas ligados ao Cangaço.

O curador Manoel Severo Barbosa, disse que o convite ao professor Romero se justifica pela grandeza do empreendimento, quando se consolida o Cariri Cangaço, como o maior e mais sólido evento sobre a temática no Brasil, e a partir do Ceará se consolida em outros estados da federação. “E pelo reconhecido saber do professor da UERN em relação ao assunto a ser debatido”, completa.

Durante o seminário, o professor da UERN que também é pesquisador e escritor, lançará seu segundo e-book, intitulado “Notas para a História do Nordeste”. 


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Marcolino e Lampião: Ligações Perigosas...

 Por Romero Cardoso

Quando dos festejos do réveillon do ano de 1923, em Triunfo (PE), acalorada discussão envolvendo Marcolino Pereira Diniz e o magistrado local, de nome Dr. Ulisses Wanderley, resultou em tragédia, pois o primeiro, filho do poderoso "Coronel" Marçal Florentino Diniz, também sobrinho e cunhado do "Coronel" José Pereira Lima, chefe político de Princesa, alvejou o juiz, seguindo-se ainda disparo efetuado por homem da confiança do caboclo Marcolino, conhecido por Tocha. O magistrado ainda conseguiu reagir, atirando em Marcolino.

Marcolino Diniz, ao centro, sentado

Raciocinando sobre a dimensão do fato, não restou outra alternativa ao guarda-costas de Marcolino a não ser escapar da grande enrascada em que se meteram. Marcolino foi preso, sendo constantemente ameaçado pelos familiares e amigos do magistrado assassinado.

Pressentindo o imenso perigo que o filho corria, o "Coronel" Marçal Florentino Diniz recorreu aos préstimos de Virgulino Ferreira Lampião para retirar Marcolino da cadeia em Triunfo. Lampião e seu séquito composto de oitenta homens cercaram Triunfo e exigiram a imediata libertação do prisioneiro, o que foi prontamente atendido pelas autoridades locais.

Kydelmir Dantas, Múcio Procópio, Manoel Severo, Romero Cardoso e Antonio Vilela

Levado a Princesa, Marcolino recuperou-se do tiro que sofreu. Recrudescia a antiga amizade entre Lampião e Marcolino. Fotos históricas retrataram Lampião e seus "cabras", no ano de 1922, na Fazenda da Pedra, propriedade de Laurindo Diniz, irmão do "Coronel" Marçal Florentino Diniz. Portanto, era bem firmada a relação de coiterismo que foi estabelecida na região serrana, fronteira do Estado da Paraíba com o Estado de Pernambuco.

Nos meses seguintes, já no ano de 1924, houve combates intensos entre cangaceiros e volantes pernambucanas. Entre Conceição do Piancó (PB) e São José do Belmonte (PE) Lampião foi ferido no tornozelo, passando péssimos momentos em razão da gravidade do estrago que o projétil provocou. Dias se passaram até que chegou ao conhecimento de Marcolino a situação que o importante aliado estava passando. Foi enviado grupo de resgate, comandado por Sabino Gório, para resgatar o cangaceiro. Lampião foi levado para o reduto de Marcolino, o lugarejo de Patos de Irerê, localizado a cerca de 18 km de Princesa (PB), no sopé da serra do Pau Ferrado. Duas propriedades de Marcolino " a Manga e o Saco dos Caçulas " eram antigos valhacoutos de Lampião e seu bando, há tempos imemoriais.

O cangaceiro-mor, substituto de Sinhô Pereira no comando do grupo que liderava antes da retirada para o Estado do Goiás, foi tratado por dois médicos contratados por Marcolino. Chamavam-se Dr. José Cordeiro e Dr. Severiano Diniz, sendo este último parente próximo do homem que foi imortalizado com a esposa por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em belíssimo baião por título"Xanduzinha". Distante de princesa, a cidade de Sousa vivia clima de ebulição. Disputas políticas resultaram em tragédias, como a que envolveu o embate no barracão do "Coronel" João Pereira, em Nazarezinho (PB), então distrito sousense.
  
O cangaceiro Chico Pereira

Filho do "Coronel" João Pereira, de nome Francisco Pereira Dantas, sentiu o peso da moral sertaneja, desprezando conselhos do pai, o qual faleceu exigindo que não se vingassem. Assassinou o único sobrevivente dos que atacaram o velho patriarca em seu estabelecimento comercial. Conversas a boca miúda diziam que os mandantes da morte do "Coronel" João Pereira eram pessoas importantes da sociedadesousense, como o destacado e influente cidadão de nome Otávio Mariz.

Em um dia de feira em Sousa, Otávio Mariz notou animada conversa entre um bodegueiro de Nazarezinho (PB), de nome Chico Lopes, e "cabra" da inteira confiança de Chico Pereira, de nome Chico Américo. A duração da conversa despertou a desconfiança de Otávio Mariz. Nas bancas da feira procurou uma chibata para comprar, indo ao encontro dos dois palestrantes. Encontrou apenas Chico Lopes. Aplicou-lhe surra magistral e pediu-lhe para ir à fazenda Jacu, reduto dos Pereira Dantas, em Nazarezinho (PB), avisar a Chico Pereira que tinha outra prometida para ele.

No Jacu, Chico Lopes detalhou todo acontecido. A família do "Coronel" assassinado perguntou-lhe o que ia fazer, tendo Chico Lopes respondido estar decidido ir até Princesa, conversar com Lampião sobre o melindroso e humilhante assunto. Havia um irmão de Chico Lopes que integrava o bando de Lampião há alguns anos. Isso facilitou a decisão do chefe supremo do cangaço em enviar dezessete homens de sua confiança para Nazarezinho. Antônio e Levino Ferreira, bem como Meia-Noite e Sabino Gório, também integravam o grupo que iria se responsabilizar pela mais aviltante ação cangaceira no Estado da Paraíba.

Caravana Cariri Cangaço em visita a casa de Chico Pereira no Jacu - Nazarezinho, Paraíba

Notícias corriam céleres, dando conta da aproximação do grupo cangaceiro. Em Sousa alguns aventavam a hipótese de organizar defesa, mas como não acreditaram na possibilidade de tamanha ousadia, relaxaram completamente. Ao chegar ao Jacu, os dezessete homens foram recepcionados efusivamente. O número final de bandidos prontos a atacar Sousa, aumentado com muitos da região, somava oitenta e quatro quadrilheiros dispostos. Antes do amanhecer do dia 27 de julho de 1924, os bandidos cortaram a linha do telégrafo e invadiram Sousa, cuja maioria da população foi pega totalmente desprevenida. Pequena resistência partiu da residência de Otávio Mariz, principal alvo dos atacantes. Experiente e tarimbado sertanejo, Otávio Mariz escapuliu quando viu que não poderia resistir ao implacável ataque.

Tudo em Sousa virou alvo de saque, os cangaceiros roubaram o comércio, residências, tudo, prejuízo incalculável que marcou indelevelmente a história sousense. Feras endiabradas davam vazão a todos os instintos selvagens possíveis e imagináveis. O destacamento local, comandado pelo então Tenente Salgado, não conseguiu realizar qualquer ação de defesa em Sousa, verdadeiro suicídio se tivesse havido consumação.

Grupo composto de quase duas dezenas de bandidos, liderados por cangaceiro conhecido por "Paizinho", teve como alvo principal a residência do juiz local, de nome Dr. Archimedes Soutto Mayor. "Paizinho" tinha queixas pessoais contra o magistrado, a quem acusava de tê-lo condenando injustamente. Retirado ainda com roupas de dormir, o Juiz foi submetido a todo tipo de suplicia e humilhação, sendo forçado a andar de cangalha e em posição vexatória pelas ruas de Sousa. O ato final seria o assassinato do magistrado, mas Chico Pereira interveio e evitou a consumação do ato extremo. O magistrado, depois de tudo, no ensejo dos desdobramentos do audacioso ataque cangaceiro à cidade de Sousa, assumiu a responsabilidade de fazer merecida justiça contra àquelas feras que o atacaram.

Sabino Gomes

A rede de informações montada por Lampião era impecável e precisa. Logo ele ficou sabendo dos estragos em Sousa e, principalmente, do que fizeram com o juiz. Rodopiava nos calcanhares, ainda sentindo dores terríveis, empunhando Parabellum e raciocinando sobre o futuro dali para frente. Homem de raciocínio rápido, Lampião sabia que em breve enfrentariam duras batalhas contra as forças volantes paraibanas, extremamente tolerantes devido ao respeito ao "Coronel" José Pereira Lima e a Marcolino Pereira Diniz.

Lampião estava certo. A providência inicial do recém instalado governo de João Suassuna foi a instalação do segundo batalhão da Polícia Militar Paraibana na cidade de Patos das Espinharas, com absoluto aval para dar caça ininterrupta aos cangaceiros. A responsabilidade pela iniciativa maior de efetivar a campanha paraibana contra o cangaço liderado por Lampião coube, naturalmente, ao "Coronel" José Pereira Lima. Não obstante a proteção que Lampião desfrutou em Princesa, seria inadmissível que o chefe político das terras da lagoa da perdição tolerasse tamanha afronta, principalmente em razão da forma como o magistrado sousense foi humilhado pelos cangaceiros.

No ensejo da caçada movida contra os bandoleiros, há fato digno de registro, referente à resistência efetivada pelo cangaceiro Meia-Noite em uma casa de farinha no sítio Tataíra, fronteira entre os estados da Paraíba e de Pernambuco. Na companhia da esposa, Meia-Noite, embora a mulher não tenha participado do combate, enfrentou combinado de volantes, comandados pelo então Tenente Manuel Benício, e tropa de cachimbos (civis em armas) contratada pelo "Coronel" José Pereira. Meia-Noite lutou contra oitenta e dois homens, ferindo dezoito. Escapuliu do tiroteio, mas a esposa ficou no local em que se entrincheirara, sendo depois conduzida à cadeia de Princesa. No local, conforme Érico de Almeida, primeiro biógrafo de Lampião, autor do livro "Lampeão, sua história" (1926(1ª ed.), 1996(2ª ed.), 1998(3ª ed), foram encontradas quatrocentas e noventa e duas balas de fuzil mauser DWN, modelo 1912.

Cel José Pereira ai centro com chapéu na mão.

Em seguida, devido às volantes paraibanas estarem assanhadas com a ordem capital de darem combates violentos aos cangaceiros, inúmeros enfrentamentos foram registrados, como a batalha do Tenório, no ano de 1925, quando Levino Ferreira foi assassinado pelo volante Belarmino Morais, comandado pelo então cabo José Guedes. Como forma de se vingar do "Coronel" José Pereira, a quem culpava pela morte do irmão, Lampião e seu bando invadiram humildes propriedades em princesa, como a do Caboré, assassinando diversas pessoas, incluindo entre essas um ancião de provecta idade de noventa e dois anos e um garoto de apenas doze anos.

O governo paraibano invocou o convênio anti-banditismo, firmado no ano de 1922 em Recife (PE), obtendo permissão para que suas forças de segurança pública em perseguição aos bandoleiros adentrassem os territórios de outros estados nordestinos. O grupo cangaceiro, em certa ocasião no ano de 1925, foi localizado na região de Serrote Preto. Desprezando as mais elementares táticas militares, os volantes paraibanos atacaram irresponsavelmente o valhacouto de Lampião. As estratégias guerrilheiras foram implementadas impecavelmente pelos cangaceiros, resultando em horrível carnificina, na qual pereceram os comandantes Tenentes Joaquim Adauto e Francisco de Oliveira, além de mais de uma dezena de soldados.

Abalado com a perseguição tenaz que as volantes paraibanas realizavam, Lampião evitou a Paraíba, pois seus antigos protetores não estavam mais propensos a desafiar as ordens do governo paraibano, bem como a decisão irredutível do "Coronel" José Pereira Lima em buscar erradicar o cangaço liderado por Lampião, pelo menos em terras paraibanas. Para Chico Pereira não houve outra saída, em razão da gravidade dos fatos ocorridos em Sousa, a não ser acompanhar o grupo de Lampião pelas adustas plagas sertanejas. Travou combate em Areias do Pelo Sinal, entre Princesa e o distrito de Alagoa Nova (Hoje Manaíra), depois, vítima de picada de cascavel, em território pernambucano, amargou provações inenarráveis.

Lampião e seu irmão Antônio Ferreira

O extenso processo elaborado pelo Dr. Archimedes Soutto Mayor mostrou-se simpático a Chico Pereira, eximindo-o de algumas culpas e louvando diversas interferências realizadas quando do ataque cangaceiro do dia 27 de julho de 1924 à cidade de Sousa. Perseguido, embora tolerado discretamente, Chico Pereira era, no entanto, alvo de olhares vingativos, sobretudo em razão de suas práticas donjuanescas. Sedutor, Chico Pereira desafiava importante elemento da moral sertaneja. Ao que tudo indica, houve a sedução de uma sobrinha do governador norte-riograndense Juvenal Lamartine, em Serra Negra (RN).

Provavelmente houve um conluio entre Juvenal Lamartine e seu colega João Suassuna para eliminar Chico Pereira. João Suassuna, através de irmão de nome Antônio, empenhou a palavra sobre a total liberdade do homem que foi obrigado a se tornar cangaceiro devido à morte do pai, motivada pela política acirrada dos turbulentos anos da década de vinte do século passado.

Na festa da padroeira de Cajazeiras, no ano de 1928, Chico Pereira foi detido por oficiais da polícia militar paraibana. Manuel Arruda de Assis foi o responsável pela prisão. Conduzido a Pombal, onde tinha praticado crime, quando do cerco ao velho casarão de Antônio Mamede no sítio Pau Ferrado, Chico Pereira ia ser transferido para Princesa, onde havia assassinado soldado de nome Pierre. A escolta que o conduzia rumou em direção a Santa Luzia. Havia um crime atribuído a ele em Acari (RN), referente a um roubo praticado contra o velho "Coronel" Quincó da Ramada. Era parte do esquema estruturado por Juvenal Lamartine para liquidá-lo. Joaquim de Moura, famanaz executor de bandoleiros, foi o responsável pela morte de Chico Pereira.

O ataque do bando de Lampião à cidade de Sousa foi um dos mais ousado ato praticado pelos bandoleiros das caatingas, cuja marca indelével permaneceu por tempos e ainda resiste na memória de poucos que tiveram a infelicidade de presenciar a verdadeira baderna que os cangaceiros fizeram na simpática cidade sorriso no longínquo dia 27 de julho de 1924.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA " UERN). Contatos: E-mails: romerocardoso@uol.com.br. romero.cardoso@gmail.com. Endereço Residencial: Rua Raimundo Guilherme, 117 " Quadra 34 " Lote 32 " Conjunto Vingt Rosado " Mossoró " RN " CEP: 59.626-630 " Fone: 084-3312-0239. Autor:   José Romero Araújo Cardoso

E em março tudo isso e muito mais...

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ENQUANTO OS CANGACEIROS PULAM O CARNAVAL - 7 CASOS SURPREENDENTES DE ROUBOS DE OBRAS DE ARTE - PARTE VI


6. O caso dos três minutos

Ano: 2007

Valor: 180 milhões de reais

No dia 20 de Janeiro de 2007, duas das mais importantes obras dos Masp (Museu de Arte de São Paulo) foram roubadas – em apenas 3 minutos. Aproveitando o horário de troca de turno dos seguranças, os ladrões adentraram o museu no meio da madrugada. Entre 5h09 e 5h12, conseguiram levar as obras O Lavrador de Café, de Candido Portinari (1939) e Retrato de Suzanne Bloch, de Pablo Picasso (1904). Por sorte, as obras foram localizadas intactas apenas 18 dias depois, em Ferraz de Vasconcelos, Região Metropolitana de São Paulo. Ufa.


CONTINUA...



http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-casos-surpreendentes-de-roubos-de-obras-de-arte/

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“O GLOBO”- 29/11/1958 - PARTE FINAL

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho
 
Volta Seca

COMO SE FORJA UM CANGACEIRO

O SOFRIMENTO CONTINUA... ATÉ QUANDO?

Miséria e Ignorância de Mãos Dadas – Serviços Duros e Mal Pagos – Sonho Simples de um Homem Humilde – Razão Desta História.

EIS-ME chegado ao final desta narrativa. Foi quase tudo de minha vida e que eu contei, e se existe o “quase” é porque ainda tenho alguns anos pela frente para viver. Poucas pessoas, ao chegarem à minha idade – 39 anos –, têm tanta coisa para contar, e isso levando em conta que, dessa idade, ainda têm que ser descontados vinte anos de cadeia. Eu às vezes sinto a sensação de que já vivi demais, pois o sofrimento que o mundo me tem imposto envelheceu-me bastante.

Volta Seca

Minha vida, desde que deixei a cadeia, tem sido dura e até perigosa. Poucos meses depois de sair da penitenciária da Bahia, escapei por pouco de ser assassinado, e, o que é mais curioso, sem saber quem foi e por que me queriam matar. Devia, porém, ter sido uma vindita, remanescente do tempo do cangaço, que não tinha sido ainda de todo esquecida. Mas eu não tenho mais nada a me acusar na consciência, pois, o que tinha, os vinte anos de reclusão apagaram e me deixaram bem disposto, para enfrentar o mundo.

Volta Seca

FOME E HUMILHAÇÃO

INFELIZMENTE, tenho a impressão de que as contas com Deus ainda não estão de todo saldadas, pois tenho sofrido bastante. Desde que cheguei ao Rio, não faço outra coisa senão trabalhar nos piores serviços, percebendo os mais baixos salários... Tenho passado por momentos que jamais julguei capaz de suportar. Certa feita, estando desempregado e sem dinheiro, caí de cama com uma febre de quarenta graus. Fiquei inconsciente durante dois dias, e, quando comecei a melhorar, por obra e graça de meu organismo, despertei com o choro de meus filhos. Olhei em volta e tudo estava turvo, até que divisei o rosto de minha mulher, sentada na cama a me fitar com lágrimas nos olhos. Aos poucos fui recobrando a consciência, e perguntei o que se havia passado. Respondeu-me que eu dormia com febre havia dois dias, e então me apavorei. Como meus filhos não parassem de chorar, perguntei a razão daquilo, e minha mulher, baixando a cabeça, respondeu: 

“É fome, Antônio... Estão chorando de fome...”

Uma crise de choro me ficou entalada na garganta e eu disse baixinho para mim mesmo: 

“Está certo... Chorar de fome! E logo meus filhos...”

Levantei-me cambaleante e, embora minha mulher não me quisesse deixar sair, fui até à padaria e pedi pão ao padeiro, pois meus filhos queriam comer. Eu devia estar pavoroso, pois não esmolei, não supliquei, e o dono da padaria era homem de maus bofes, mas olhou-me meio desconfiado e deu-me um quilo de pão. E, mais, ofereceu-se delicadamente para que, se eu necessitasse de mais alguma coisa, não tivesse receio de pedir... Repito: eu devia estar medonho, devia parecer o homem mais perigoso do mundo, com meus filhos chorando de fome e eu pedindo pão fiado... Essa foi uma das maiores humilhações que já passei na minha vida.

Volta Seca

A DESGRAÇA DO ANALFABETISMO

DE quando em vez encontro uma alma caridosa que se compadece de minha miséria, mas é sempre difícil arranjar alguma coisa para mim. Embora eu seja um homem honesto, não sei ler, e isso tem sido a minha maior desgraça. Sei fazer tanta coisa, menos ler... E dizer que perdi vinte anos de vida numa cadeia sem que ninguém se interessasse em me alfabetizar! Bastava que me ameaçassem de que eu não sairia de lá sem saber ler, e eu me teria esforçado bastante. Mas não existe grande interesse nas prisões pela alfabetização dos presidiários, e, assim, o máximo que faço até hoje é assinar muito lentamente o nome. E não digam os leitores que ainda há tempo, pois o que me sobra do trabalho é um cansaço terrível. Depois, papagaio velho não aprende mais a falar...

Filho meu, porém, não passará por essa desgraça de não saber ler, nem que eu tenha que sofrer o dobro do que já sofri...

TRABALHO SERVIL

QUEM vê meu retrato quando eu andava no cangaço e me vê atualmente, bem pode avaliar o que tenho passado. Dos empregos que tenho ocupado, com exceção do último, no qual me encontro (na Estrada de Ferro Leopoldina), todos os demais foram com salários abaixo da tabela mínima. E isso sem comida ou qualquer outra vantagem. Cheguei a trabalhar ganhando dois mil cruzeiros mensais, sendo o salário-mínimo de três mil e oitocentos. Além do trabalho, sempre ia fazendo nas horas de folga minhas figas de chifre e vendendo-as a preço vil. Como moro longe, muitas vezes só ia em casa uma ou dias vezes por semana, pois só quem sabe o que é a condução de trem para Santa Cruz pode avaliar o que eu até hoje passo para regressar ao lar...

Volta Seca

UM SONHO: SER GUARDA-FREIO

TODAVIA, a tentação para o que não presta sempre tem aparecido. Não me faltaram as repostas para participar de ações desonestas, o que eu sempre repeti com energia. Nunca aceitei nada que minha consciência condenasse, nem mesmo as inúmeras propostas a que me referi para ser capanga de gente importante. Preciso trabalhar e ganhar dinheiro, mas tem que ser em coisa honesta. E, depois, só há uma forma de provar que, conscientemente, eu jamais seria cangaceiro: é proceder honestamente.

No emprego em que estou, vou indo bem, sendo meu maior desejo, no momento, ser guarda-freio. Não é muito, é o sonho de tanta gente vai tão longe, que, creio, querer ser um simples guarda-freio não é querer ser muito.

CANTOR E COMPOSITOR

ALÉM disso tudo, aqui no Rio adquiri uma nova profissão: sou compositor de músicas populares. Sempre gostei de música e já disse como o bando em peso gostava de cantar. Desde menino eu tinha a mania de pôr em música o que se passava comigo, e não tinha dificuldade em fazer versos.

Certa feita, o diretor artístico de uma fábrica de discos pediu-me que eu gravasse algumas músicas que o bando cantava. A ideia seduziu-me e eu cantei várias, das quais foram escolhidas oito. Fizeram um long-playing e a gravação foi narrada pelo Dr. Paulo Roberto. Antes do canto por um ótimo coro, eu cantava sem acompanhamento, e na gravação evitaram-se ao máximo arranjos modernos, razão pela qual tudo ali é autêntico, tudo é puro. Tenho ouvido muitos elogios à gravação, e é pena que o dinheiro proveniente dos discos não equivalha aos elogios... Enfim, como já me explicaram que o compositor é o que menos ganha na fabulosa indústria do disco, já vi que me espera um triste futuro. Nada mais justo para quem sempre viveu na miséria do que ingressar numa classe que faz da miséria a sua inspiração...

VÍTIMA DO DESTINO

ASSIM é que espero chegar aos meus últimos dias como guarda-freio, fazendo figas e músicas nordestinas. Conforme disse o Dr. Paulo Roberto na gravação, “aos poucos vou pagando a minha dívida com Deus”. Espero que reste muito pouco para saldá-la.

Com a presente narrativa, eu queria tirar um pouco da lenda e das mentiras que existem em torno de mim. Não sou tão ruim como me pintam, e frequentemente encontro gente pior do que eu, pelo menos fazendo coisas que nem no tempo do cangaço eu teria coragem de fazer. Se consegui atingir meu objetivo, sinto-me feliz, e só faço questão que todos compreendam de que fui vitima do destino: nasci numa localidade brasileira onde a miséria fez das suas com os homens.

Não estamos livres de ver casos como o meu se repetirem. Há muito Volta-Seca pelo Nordeste, meninos com onze anos de idade, longe da família, sem saberem ler e prontos para ingressar no crime. Pois se aqui mesmo, nas favelas cariocas, tenho visto coisas horrorosas, o que se dizer dos que vivem nas regiões assoladas pelas secas, onde um sargento de polícia tem autoridade para se apossar à bala das terras dos outros?... E se esta narrativa não trouxer para mim lucro algum, que fique como modesta contribuição para uma das piores fases porque o Nordeste já passou, o reinado do cangaço de Virgulino Ferreira, o famigerado Lampião.

FIM
Imagens do cangaceiro Volta-Seca, que ilustraram a presente matéria.

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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LIVROS SOBRE "CANGAÇO"


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