Por Romero Cardoso
Quando dos
festejos do réveillon do ano de 1923, em Triunfo (PE), acalorada discussão
envolvendo Marcolino Pereira Diniz e o magistrado local, de nome Dr. Ulisses
Wanderley, resultou em tragédia, pois o primeiro, filho do poderoso
"Coronel" Marçal Florentino Diniz, também sobrinho e cunhado do
"Coronel" José Pereira Lima, chefe político de Princesa, alvejou o
juiz, seguindo-se ainda disparo efetuado por homem da confiança do caboclo
Marcolino, conhecido por
Tocha. O magistrado ainda conseguiu reagir, atirando em Marcolino.
Marcolino Diniz, ao centro, sentado
Raciocinando sobre a dimensão do fato, não restou outra alternativa ao guarda-costas de Marcolino a não ser escapar da grande enrascada em que se meteram. Marcolino foi preso, sendo constantemente ameaçado pelos familiares e amigos do magistrado assassinado.
Raciocinando sobre a dimensão do fato, não restou outra alternativa ao guarda-costas de Marcolino a não ser escapar da grande enrascada em que se meteram. Marcolino foi preso, sendo constantemente ameaçado pelos familiares e amigos do magistrado assassinado.
Pressentindo o imenso perigo que o filho corria, o "Coronel" Marçal Florentino Diniz recorreu aos préstimos de Virgulino Ferreira Lampião para retirar Marcolino da cadeia em Triunfo. Lampião e seu séquito composto de oitenta homens cercaram Triunfo e exigiram a imediata libertação do prisioneiro, o que foi prontamente atendido pelas autoridades locais.
Kydelmir
Dantas, Múcio Procópio, Manoel Severo, Romero Cardoso e Antonio Vilela
Levado a
Princesa, Marcolino recuperou-se do tiro que sofreu. Recrudescia a antiga
amizade entre Lampião e Marcolino. Fotos históricas retrataram Lampião e seus
"cabras", no ano de 1922, na Fazenda da Pedra, propriedade de
Laurindo Diniz, irmão do "Coronel" Marçal Florentino Diniz. Portanto,
era bem firmada a relação de coiterismo que foi estabelecida na região serrana,
fronteira do Estado da Paraíba com o Estado de Pernambuco.
Nos meses seguintes, já no ano de 1924, houve combates intensos entre cangaceiros e volantes pernambucanas. Entre Conceição do Piancó (PB) e São José do Belmonte (PE) Lampião foi ferido no tornozelo, passando péssimos momentos em razão da gravidade do estrago que o projétil provocou. Dias se passaram até que chegou ao conhecimento de Marcolino a situação que o importante aliado estava passando. Foi enviado grupo de resgate, comandado por Sabino Gório, para resgatar o cangaceiro. Lampião foi levado para o reduto de Marcolino, o lugarejo de Patos de Irerê, localizado a cerca de 18 km de Princesa (PB), no sopé da serra do Pau Ferrado. Duas propriedades de Marcolino " a Manga e o Saco dos Caçulas " eram antigos valhacoutos de Lampião e seu bando, há tempos imemoriais.
O cangaceiro-mor, substituto de Sinhô Pereira no comando do grupo que liderava antes da retirada para o Estado do Goiás, foi tratado por dois médicos contratados por Marcolino. Chamavam-se Dr. José Cordeiro e Dr. Severiano Diniz, sendo este último parente próximo do homem que foi imortalizado com a esposa por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em belíssimo baião por título"Xanduzinha". Distante de princesa, a cidade de Sousa vivia clima de ebulição. Disputas políticas resultaram em tragédias, como a que envolveu o embate no barracão do "Coronel" João Pereira, em Nazarezinho (PB), então distrito sousense.
Nos meses seguintes, já no ano de 1924, houve combates intensos entre cangaceiros e volantes pernambucanas. Entre Conceição do Piancó (PB) e São José do Belmonte (PE) Lampião foi ferido no tornozelo, passando péssimos momentos em razão da gravidade do estrago que o projétil provocou. Dias se passaram até que chegou ao conhecimento de Marcolino a situação que o importante aliado estava passando. Foi enviado grupo de resgate, comandado por Sabino Gório, para resgatar o cangaceiro. Lampião foi levado para o reduto de Marcolino, o lugarejo de Patos de Irerê, localizado a cerca de 18 km de Princesa (PB), no sopé da serra do Pau Ferrado. Duas propriedades de Marcolino " a Manga e o Saco dos Caçulas " eram antigos valhacoutos de Lampião e seu bando, há tempos imemoriais.
O cangaceiro-mor, substituto de Sinhô Pereira no comando do grupo que liderava antes da retirada para o Estado do Goiás, foi tratado por dois médicos contratados por Marcolino. Chamavam-se Dr. José Cordeiro e Dr. Severiano Diniz, sendo este último parente próximo do homem que foi imortalizado com a esposa por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em belíssimo baião por título"Xanduzinha". Distante de princesa, a cidade de Sousa vivia clima de ebulição. Disputas políticas resultaram em tragédias, como a que envolveu o embate no barracão do "Coronel" João Pereira, em Nazarezinho (PB), então distrito sousense.
O cangaceiro
Chico Pereira
Filho do
"Coronel" João Pereira, de nome Francisco Pereira Dantas, sentiu o
peso da moral sertaneja, desprezando conselhos do pai, o qual faleceu exigindo
que não se vingassem. Assassinou o único sobrevivente dos que atacaram o velho
patriarca em seu estabelecimento comercial. Conversas a boca miúda diziam
que os mandantes da morte do "Coronel" João Pereira eram pessoas
importantes da sociedadesousense,
como o destacado e influente cidadão de nome Otávio Mariz.
Em um dia de
feira em Sousa, Otávio Mariz notou animada conversa entre um bodegueiro de
Nazarezinho (PB), de nome Chico Lopes, e "cabra" da inteira confiança
de Chico Pereira, de nome Chico Américo. A duração da conversa despertou a
desconfiança de Otávio Mariz. Nas bancas da feira procurou uma chibata
para comprar, indo ao encontro dos dois palestrantes. Encontrou apenas Chico
Lopes. Aplicou-lhe surra magistral e pediu-lhe para ir à fazenda Jacu, reduto
dos Pereira Dantas, em Nazarezinho (PB), avisar a Chico Pereira que tinha outra
prometida para ele.
No Jacu, Chico
Lopes detalhou todo acontecido. A família do "Coronel" assassinado
perguntou-lhe o que ia fazer, tendo Chico Lopes respondido estar decidido ir
até Princesa, conversar com Lampião sobre o melindroso e humilhante assunto.
Havia um irmão de Chico Lopes que integrava o bando de Lampião há alguns anos.
Isso facilitou a decisão do chefe supremo do cangaço em enviar dezessete homens
de sua confiança para Nazarezinho. Antônio e Levino Ferreira, bem como
Meia-Noite e Sabino Gório, também integravam o grupo que iria se
responsabilizar pela mais aviltante ação cangaceira no Estado da Paraíba.
Caravana
Cariri Cangaço em visita a casa de Chico Pereira no Jacu - Nazarezinho, Paraíba
Notícias
corriam céleres, dando conta da aproximação do grupo cangaceiro. Em Sousa
alguns aventavam a hipótese de organizar defesa, mas como não acreditaram na
possibilidade de tamanha ousadia, relaxaram completamente. Ao chegar ao
Jacu, os dezessete homens foram recepcionados efusivamente. O número final de
bandidos prontos a atacar Sousa, aumentado com muitos da região, somava oitenta
e quatro quadrilheiros dispostos. Antes do amanhecer do dia 27 de julho de
1924, os bandidos cortaram a linha do telégrafo e invadiram Sousa, cuja maioria
da população foi pega totalmente desprevenida. Pequena resistência partiu da
residência de Otávio Mariz, principal alvo dos atacantes. Experiente e tarimbado
sertanejo, Otávio Mariz escapuliu quando viu que não poderia resistir ao
implacável ataque.
Tudo em Sousa
virou alvo de saque, os cangaceiros roubaram o comércio, residências, tudo,
prejuízo incalculável que marcou indelevelmente a história sousense. Feras
endiabradas davam vazão a todos os instintos selvagens possíveis e imagináveis.
O destacamento local, comandado pelo então Tenente Salgado, não conseguiu
realizar qualquer ação de defesa em Sousa, verdadeiro suicídio se tivesse
havido consumação.
Grupo composto
de quase duas dezenas de bandidos, liderados por cangaceiro conhecido por
"Paizinho", teve como alvo principal a residência do juiz local, de
nome Dr. Archimedes Soutto Mayor. "Paizinho" tinha queixas pessoais
contra o magistrado, a quem acusava de tê-lo condenando injustamente. Retirado
ainda com roupas de dormir, o Juiz foi submetido a todo tipo de suplicia e
humilhação, sendo forçado a andar de cangalha e em posição vexatória pelas ruas
de Sousa. O ato final seria o assassinato do magistrado, mas Chico Pereira
interveio e evitou a consumação do ato extremo. O magistrado, depois de
tudo, no ensejo dos desdobramentos do audacioso ataque cangaceiro à cidade de
Sousa, assumiu a responsabilidade de fazer merecida justiça contra àquelas
feras que o atacaram.
Sabino Gomes
A rede de
informações montada por Lampião era impecável e precisa. Logo ele ficou sabendo
dos estragos em Sousa e, principalmente, do que fizeram com o juiz. Rodopiava
nos calcanhares, ainda sentindo dores terríveis, empunhando Parabellum e
raciocinando sobre o futuro dali para frente. Homem de raciocínio rápido,
Lampião sabia que em breve enfrentariam duras batalhas contra as forças
volantes paraibanas, extremamente tolerantes devido ao respeito ao
"Coronel" José Pereira Lima e a Marcolino Pereira Diniz.
Lampião estava
certo. A providência inicial do recém instalado governo de João Suassuna foi a
instalação do segundo batalhão da Polícia Militar Paraibana na cidade de Patos
das Espinharas, com absoluto aval para dar caça ininterrupta aos cangaceiros. A
responsabilidade pela iniciativa maior de efetivar a campanha paraibana contra
o cangaço liderado por Lampião coube, naturalmente, ao "Coronel" José
Pereira Lima. Não obstante a proteção que Lampião desfrutou em Princesa,
seria inadmissível que o chefe político das terras da lagoa da perdição
tolerasse tamanha afronta, principalmente em razão da forma como o magistrado
sousense foi humilhado pelos cangaceiros.
No ensejo da
caçada movida contra os bandoleiros, há fato digno de registro, referente à
resistência efetivada pelo cangaceiro Meia-Noite em uma casa de farinha no
sítio Tataíra, fronteira entre os estados da Paraíba e de Pernambuco. Na
companhia da esposa, Meia-Noite, embora a mulher não tenha participado do
combate, enfrentou combinado de volantes, comandados pelo então Tenente Manuel
Benício, e tropa de cachimbos (civis em armas) contratada pelo
"Coronel" José Pereira. Meia-Noite lutou contra oitenta e dois
homens, ferindo dezoito. Escapuliu do tiroteio, mas a esposa ficou no local em
que se entrincheirara, sendo depois conduzida à cadeia de Princesa. No local,
conforme Érico de Almeida, primeiro biógrafo de Lampião, autor do livro
"Lampeão, sua história" (1926(1ª ed.), 1996(2ª ed.), 1998(3ª ed),
foram encontradas quatrocentas e noventa e duas balas de fuzil mauser DWN,
modelo 1912.
Cel José
Pereira ai centro com chapéu na mão.
Em seguida,
devido às volantes paraibanas estarem assanhadas com a ordem capital de darem
combates violentos aos cangaceiros, inúmeros enfrentamentos foram registrados,
como a batalha do Tenório, no ano de 1925, quando Levino Ferreira foi
assassinado pelo volante Belarmino Morais, comandado pelo então cabo José Guedes.
Como forma de se vingar do "Coronel" José Pereira, a quem culpava
pela morte do irmão, Lampião e seu bando invadiram humildes propriedades em
princesa, como a do Caboré, assassinando diversas pessoas, incluindo entre
essas um ancião de provecta idade de noventa e dois anos e um garoto de apenas
doze anos.
O governo
paraibano invocou o convênio anti-banditismo, firmado no ano de 1922 em Recife
(PE), obtendo permissão para que suas forças de segurança pública em
perseguição aos bandoleiros adentrassem os territórios de outros estados
nordestinos. O grupo cangaceiro, em certa ocasião no ano de 1925, foi
localizado na região de Serrote Preto. Desprezando as mais elementares táticas
militares, os volantes paraibanos atacaram irresponsavelmente o valhacouto de Lampião.
As estratégias guerrilheiras foram implementadas impecavelmente pelos
cangaceiros, resultando em horrível carnificina, na qual pereceram os
comandantes Tenentes Joaquim Adauto e Francisco de Oliveira, além de mais de
uma dezena de soldados.
Abalado com a
perseguição tenaz que as volantes paraibanas realizavam, Lampião evitou a
Paraíba, pois seus antigos protetores não estavam mais propensos a desafiar as
ordens do governo paraibano, bem como a decisão irredutível do
"Coronel" José Pereira Lima em buscar erradicar o cangaço liderado
por Lampião, pelo menos em terras paraibanas. Para Chico Pereira não houve
outra saída, em razão da gravidade dos fatos ocorridos em Sousa, a não ser
acompanhar o grupo de Lampião pelas adustas plagas sertanejas. Travou combate
em Areias do Pelo Sinal, entre Princesa e o distrito de Alagoa Nova (Hoje
Manaíra), depois, vítima de picada de cascavel, em território pernambucano,
amargou provações inenarráveis.
Lampião e seu
irmão Antônio Ferreira
O extenso
processo elaborado pelo Dr. Archimedes Soutto Mayor mostrou-se simpático a
Chico Pereira, eximindo-o de algumas culpas e louvando diversas interferências
realizadas quando do ataque cangaceiro do dia 27 de julho de 1924 à cidade de
Sousa. Perseguido, embora tolerado discretamente, Chico Pereira era, no
entanto, alvo de olhares vingativos, sobretudo em razão de suas práticas
donjuanescas. Sedutor, Chico Pereira desafiava importante elemento da moral
sertaneja. Ao que tudo indica, houve a sedução de uma sobrinha do governador
norte-riograndense Juvenal Lamartine, em Serra Negra (RN).
Provavelmente
houve um conluio entre Juvenal Lamartine e seu colega João Suassuna para
eliminar Chico Pereira. João Suassuna, através de irmão de nome Antônio,
empenhou a palavra sobre a total liberdade do homem que foi obrigado a se
tornar cangaceiro devido à morte do pai, motivada pela política acirrada dos
turbulentos anos da década de vinte do século passado.
Na festa da
padroeira de Cajazeiras, no ano de 1928, Chico Pereira foi detido por oficiais
da polícia militar paraibana. Manuel Arruda de Assis foi o responsável pela
prisão. Conduzido a Pombal, onde tinha praticado crime, quando do cerco ao
velho casarão de Antônio Mamede no sítio Pau Ferrado, Chico Pereira ia ser
transferido para Princesa, onde havia assassinado soldado de nome
Pierre. A escolta que o conduzia rumou em direção a Santa Luzia. Havia um
crime atribuído a ele em Acari (RN), referente a um roubo praticado contra o
velho "Coronel" Quincó da Ramada. Era parte do esquema
estruturado por Juvenal Lamartine para liquidá-lo. Joaquim de Moura, famanaz
executor de bandoleiros, foi o responsável pela morte de Chico Pereira.
O ataque do
bando de Lampião à cidade de Sousa foi um dos mais ousado ato praticado pelos
bandoleiros das caatingas, cuja marca indelével permaneceu por tempos e ainda
resiste na memória de poucos que tiveram a infelicidade de presenciar a
verdadeira baderna que os cangaceiros fizeram na simpática cidade sorriso no
longínquo dia 27 de julho de 1924.
(*) José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia
da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB) e em
Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
(PRODEMA " UERN). Contatos: E-mails: romerocardoso@uol.com.br.
romero.cardoso@gmail.com. Endereço Residencial: Rua Raimundo Guilherme, 117
" Quadra 34 " Lote 32 " Conjunto Vingt Rosado " Mossoró
" RN " CEP: 59.626-630 " Fone: 084-3312-0239. Autor:
José Romero Araújo Cardoso
E em março
tudo isso e muito mais...
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário