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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

CANGAÇO NO PIAUÍ

Por Ângelo Osmiro

Em breve mais um livro do meu amigo, fundador e ex- Presidente da SBEC -  (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) Paulo Gastão.


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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - LAMPIÃO EM PATOS - PARTE III


LAMPIÃO EM PATOS

Em março de 1924, Lampião e nove de seus homens seguem em direção a serra do Catolé, nos limites de Vila Bela (Serra Talhada) com a Paraíba e ficam ali acampados. Informados de operações dos cangaceiros naquela região, várias volantes começam a reunir-se nas imediações da Lagoa do Vieira (PE), com o objetivo de intercepta-los. Ali estavam três volantes, com cerca de cem soldados, comandadas pelo major Teófanes Torres, de Vila Bela. Alguns soldados, ao se dirigirem para o local do encontro, defrontaram-se com Virgulino e mais dois homens. Iniciaram o tiroteio e o chefe dos cangaceiros foi atingido por um tiro no pé esquerdo, abandonando o combate que foi engrossando com a chegada dos outros cangaceiros e das volantes. Lampião ficou ferido, isolado de seu grupo, escondido em uma moita de arbustos justamente no local de passagem das volantes. Teria sido fácil encontrá-los pelas marcas de sangue nas folhagens, se não fosse o socorro prestado por alguns cangaceiros, liderado por Antônio Rosa, que desviou a atenção da polícia, levando-a para outra direção.

Passou ali dois dias sem socorro. Quando foi encontrado por seus companheiros, já estava bastante enfraquecido, febril e apresentava o membro inferior bastante infeccionado e cheio de vermes. Fizeram os curativos de emergência usando creolina e ácido fênico e buscaram reanimar suas forças com alimentação à base de leite, angu e rapadura. 

No terceiro dia, seu irmão Antônio Ferreira o levou para uma gruta – que ficou conhecida como a Gruta do Cangaceiro –, localizada no pé da Serra das Abóboras, que extrema com a Serra da Bernarda.

Deixando seu irmão em bons cuidados, partiu Antônio Ferreira, a toda a brida, para Princesa, onde participou ao coronel Zé Pereira o ocorrido.

Coronel José Pereira de Lima - Princesa-PB
            
Em 3 de abril, cinco dias depois, Antônio Ferreira retorna com um grande grupo armado, fornecido pelo coronel Zé Pereira, para, com segurança, transportar Lampião até a fazenda de seu cunhado Marcolino Pereira Diniz, no Saco dos Caçulas, em Patos de Princesa.
            
Um cidadão de nome José Alves Evangelista, cedeu sua casa nova para a hospedagem de Lampião. Estava se preparando para casar, construíra a casa e ainda não a tinha habitado.


Ali, Lampião foi operado pelo médico Dr. Severiano Diniz, que fez a recomposição dos ossos esfacheados da perna. Esse médico acompanhou o tratamento por três meses, e também na convalescença. O Dr. José Cordeiro de Lima, de Triunfo também assistia ao enfermo.

            
Os cangaceiros, em lugares estratégicos como o Livramento, o Pau Ferrado, além do Saco, montavam rigorosa vigilância para que nada atrapalhasse a recuperação de seu Chefe.

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VIDAS AO VENTO

Por Rangel Alves da Costa*

As roupas e os varais bem sabem da ventania que chega levando tudo. As folhas secas e os restos de mato conhecem bem o poder da ventania. As portas e janelas entreabertas não permanecem quietas sem que a ventania chegue forçando tudo. E o homem, o ser humano, conhece o que dessa ventania?

Os olhos entristecem com a passagem do vento forte. Ele nunca vem só, ele nunca passa açoitando sozinho. Vem trazendo consigo todo um restante de outono, todas as notícias distantes, um monte de coisas frágeis e desconhecidas, que vão seguindo adiante sem tempo de dar adeus. Porém sem antes deixar suas marcas profundas.

A ventania vem varrendo tudo, vem chegando amedrontando tudo. As folhas se apegam aos galhos temendo serem levadas, os troncos se agarram às raízes com medo de irem ao chão, os varais se atormentam receando o pior, as casas abertas se assustam com o uivo ruidoso e a insensibilidade do açoite perante os cortinados, os jarros e as flores de plástico.

As saias levantadas, os chapéus subindo aos ares, os cabelos desfeitos e os papéis levados das mãos, não representam quase nada perante o que a ventania pode transformar nas vidas humanas. Não que passe como furacão, como vendaval ou tornado, mas quando apenas sopra a sua força perante os sentimentos. Sim, pois a ventania possui maestria em se fingir de açoite para se apresentar diante do ser como algo intimamente atormentador.

E de repente vem a saudade como ventania em furor. Os entes queridos que partiram, os passos passados da vida, as outras idades que tanto fazem recordar, os amores desfeitos que retornam como retratos emoldurados. Aquele adeus jamais esquecido, aquela palavra que ainda continua ecoando no pensamento, as flores que morreram diante do olhar. E quanto mais o vento sopra mais chegam as imagens, as relembranças, as dores e os sofrimentos.


A ventania tão esperada e que sempre chega ao entardecer. Qualquer brisa que sopre é logo transformada em açoite maior, voraz, devastador. Deseja que seja assim porque imagina ser neste momento a oportunidade de deixar à janela o que acumulou como tristeza do dia. Imagina que a ventania leva a solidão, o medo de não namorar, a falta de beijo e de abraço, as carências tantas que tanto atormentam. E às vezes, naqueles dias onde a desesperança se transforma em aflição, dá mesmo vontade de subir ao monte, abrir os braços, e deixar que a ventania a leve para onde quiser. Apenas uma folha morta, é o que sente ser.

E vem o vento manso cantando uma velha canção. E vem o vento leve trazendo um poema em folha solta. E vem o vento faceiro trazendo um buquê perfumado para deixar à janela. E vem o vento ligeiro, apressado, esbaforido, querendo logo chegar para sentir a pele que se debruça à janela. Mas nunca é compreendido assim. Basta que desponte, que se faça sentir, e tudo se transforma em pesar, em angústia, em melancolia. E o que era vento logo se transforma em feroz ventania, como se no seu açoite estivesse toda a culpa pelos infortúnios da vida.

As vidas ao vento pela idade, pelo cansaço, pela caminhada na estrada. Quando o sol vai perdendo o calor e as sombras se avolumam pelos arredores, então as calçadas, os sombreados das mangueiras e jaqueiras, os cantos rentes às janelas e os aconchegos dos quintais, logo vão recebendo cadeiras de balanço para os instantes de paz. Mas eis que a aragem fresca ou a brisa mansa logo dá lugar à ventania. E assim acontece pelos açoites que chegam nas memórias, nas recordações, nos retratos e fotografias que ressurgem nestes momentos. Vento em fúria, também um mar que vai escorrendo pelos olhos sem luz e pelas faces marcadas de tempo.

O vento sopra, a ventania a tudo esvoaça. Os varais soltam suas roupas e se deixam entristecer pela solidão. Espera que uma força maior lhes arranque da terra e os deixem ao sabor do sopro feroz. Mas a ventania segue adiante, enquanto outra vem trazendo uma carta de muito distante: por enquanto adeus, diz a última frase trêmula pelo vento que chama.

Poeta e cronista
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LAMPIÃO É NOSSO SANGUE O DRAMA DE LAMPIÃO ANALISADO POR UM ÂNGULO DIFERENTE - PARTE II


JOÃO FERREIRA reviu terras que não pisava havia 37 anos, O único irmão de "Lampião" que não ingressou no cangaço vive hoje na cidade de Propriá, no Estado de Sergipe, levando a vida honesta que sempre levou. Sofreu bastante por ser irmão de "Lampião". 


PARA OS OUTROS A MORTE DE "LAMPIÃO" FOI UM BEM, UM ALIVIO.

ESTA REVISTA proporcionou a João Ferreira uma viagem de automóvel que ele jamais sonhara realizar. 

NO ALTO SERTÃO de Pernambuco João abraçou parentes que não via desde os seus quinze anos de idade.

NÃO HAVIA choro quando partia. Estivera ausente 37 anos. E ausência é madrasta de apego. 

JOÃO FERREIRA mandou cortar um galho de árvore e fazer urna cruz. Fincou-a no local onde jazera o corpo do mano. Foi recolher flores silvestres e veio depositá-los ao pé da cruz. Para homenagear o irmão. 

A iniciativa de O CRUZEIRO proporcionou a João Ferreira uma jornada sentimental que ele jamais sonhara realizar Esse homem alto, careca, desconfiado, das fotografias ao lado, passou seis dias em cima dum automóvel, varando 2.000 km de Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Vocês precisavam ver que arroubos de entusiasmo o alto sertão arrancava de João. Como seus olhos brilhavam. Como o semblante irradiava alegria, pelo menos enquanto ele podia esquecer as razões que o haviam afastado das terras de seu bem-querer. 

No município de Serra Talhada, em Pernambuco, ele abraçou parentes que não via desde os seus 15 anos de idade. E ele agora está com 52 anos. Levado à Fazenda Serra Vermelha, onde nasceu, e onde também nasceu "Lampião", João Ferreira encontrou xique-xique brotando nas ruínas do casarão de sua infância. Voltou-se para mim e disse com desalento: "A vida é assim mesmo..." Há 37 anos não pisava ali. Pensava que ia morrer sem voltar. Conversava (incógnito) com os novos donos da terra, fazia perguntas sobre a vida na fazenda. Tudo agora lhe parecia diferente. Não havia mais aquela atmosfera dos seus tempos de menino, dos seus tempos de rapaz. Não havia mais.


O ADVOGADO pernambucano Antônio Ferreira Magalhães, primo de "Lampião". 

 

"LAMPIA0" - MOÇO

Virgulino Ferreira do Sirva aos 26 anos de idade, numa fotografia rara que se encontrava em poder do umas tias, em Pernambuco. Foi nessa época que ele recebeu a "patente" de capitão das mãos de Padre Cícero, do Juazeiro do Norte. Reparar o olho direito cego. 


João VIAJANDO de barco, ouvia histórias sobre os últimos dias de "Lampião". À direita, deitado, o primo Manuel.

EM ANGICO desembarcou para ver a local onde, há 15 anos, o seu mono foi traído, morto e decapitado.

EM DELMIRO, na casa da mana Mocinha, tomou leite no pé da vaca (com farinha). 

EM SERRA Talhada, João Ferreira viu xique-xique brotando nas ruínas do casarão onde "Lampião" nasceu. 
  

"O CRUZEIRO" DESCOBRE EM ARACAJU A FILHA E O NETO DE MARIA BONITA. NUNCA FORAM FOTOGRAFADOS.


A FILHA, O NETO, E O GENRO DE LAMPIAO, Expedita, ao lado de seu esposo Manuel Messias Neto, segura o filhinho Dejair, de 9 meses de idade, neto de "Lampião". Pela primeira vez a família posou para o objetiva de um repórter. 


A FILHA DE "LAMPIAO"

Expedita Ferreira Nunes, que a família Ferreira aponta como única filha deixada por "Lampião" com Maria Bonita, foi localizado pelo repórter em Aracaju. É uma jovem esposa e mãe, com 21 anos de idade. Normal. Bonita. De tez morena. Foi educada por João Ferreira e, seguindo o exemplo de seu tio, não gosta de falar sobre "Lampião". Mas lê tudo que se publica sobre seu pai e até mesmo o filme "O Cangaceiro" ela foi ver e não gostou. Ela guardava a edição de O CRUZEIRO com a reportagem de João Martins sabre "Lampião". Expedita revê uma fotografia usado por Martins naquela reportagem. 

DIZIA-SE que "Lampião" e Maria Bonita haviam deixado um filho. João Ferreira nega, assinando a declaração cujo "facsímile" estampamos abaixo:


"Declaro ao repórter Luciano Carneiro que a senhora Expedita Ferreira Nunes, de 21 anos de idade, esposa do sr. Manoel Messias Nunes, 4 filhas de meu irmão Virgolino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, e de sua companheira Maria Bonita. Quando ela nasceu Virgolino me pediu que eu a fizesse uma mulher de bem. Ele não estava em condições de fazê-lo. Não me consta que alem de Expedita, tivesse havido qualquer filho da união de Virgolino e Maria Bonita. Se houve, se há, eu nunca soube."

RECIFE, 19 de Agosto de 1953 

CONTINUA...

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CANGAÇO - Cangaceirismo LAMPIÃO E OUTROS CANGACEIROS EM MANAÍRA - O CASAMENTO DE DOCA - PARTE II


Entre as terras desses guardiões, no povoado de São José, a 6km de Alagoa Nova, morava Doca. Manoel Bezerra de Macena, mais conhecido como Doca, era pai de Quitéria, de China e de Zé de Doca. Casou-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, conhecida por Isabel de Doca e que era tia de Didi Pereira da Silva. Todos esses nomes são de pessoas bem conhecidas dos manairenses. Ambos são descendentes dos primeiros fundadores da Fazenda São José. Ele, descendente de José Bizerra Leite, ela de Ignacio ou de Felix Ferreira da Luz.

Na juventude, Doca teria estudado algumas aulas junto com Virgulino Ferreira, construindo certa amizade, mantendo-a mesmo depois que este enveredou pelas trilhas do cangaço.

Nos anos 20, junto com Marcolino, comunicaram um local, julgado seguro, que permitiu a Lampião apoiar-se por vários anos nas imediações do Pau Ferrado.


Brincos e colar de ouro, para Isabel – Presentes de Lampião

Doca teve um desentendimento com o chefe do povoado onde residia e isso passou a trazer-lhe certos desconfortos. Quando resolveu casar-se com a manairense Isabel Ferreira da Luz, queria que a celebração ocorresse no São José, onde morava. O chefe da localidade mandou um recado a Doca informando que não permitiria que houvesse festa no casamento. Seria muita gente e ia fazer muito barulho. Naquela época, casamento tinha que ter o baile, mas ninguém podia ir contra uma ordem de um mandatário local.



Lampião soube dessa notícia e mandou um recado para Doca: “Amigo, pode contratá o sanfoneiro e organizá o baile que ninguém vai atrapaiá.”

No dia 23 de novembro de 1923, depois do casamento, chegou uma tropa armada. Vieram “passar a guarda” no casamento (garantir a tranquilidade). “Lampião apitou num apito e mandou chamar Pai”. Pai foi e Lampião disse “pode botá o baile que eu quero vê quem num qué escutá”.

A festa aconteceu, o sanfoneiro tocou e nada interrompeu a alegria. Atrás da casa, sob as árvores, ficaram os cabras, aos quais foi servido um farto jantar. Há quem diga que eram 17, outros afirmam que eram 40 cangaceiros. Doca chamou Lampião para jantar dentro da casa e, ali pela madrugada, o convidado disse: “a festa tá boa, Doca, mas eu vou imbora.”

Lampião levou como presente de casamento, para Doca, uma garrafa de fino vinho francês, envasado em garrafa de cristal decorado (foto à esquerda). Para Isabel, levou uma “vorta (colar) de muito bom tamanho, vorta de ouro e mais um pá de dois brinco” (foto à direita). Quitéria conta que, muitos anos depois, Isabel trocou por um cavalo, somente os brincos. “Mas o cavalo morreu. O cavalo era de Filiciano, mas Filiciano morreu. Ele deu osbrinco a Maria de Zé Grande, mas Maria de Zé Grande Morreu. Depois eu não sei mais não, acho que ninguém teve sorte com eles (os brincos)”.

“Na revorta de 30 pai amarrou dois fuzi debaixo da gaveta (no compartimento do fundo falso). Os sordado vieram, quebraram tudo, inxero a casa de buraco de tiro, mas quando a guerra acabou nós chegô do Brejo (Triunfo) e nós chegô e tava lá os dois rife, a Puliça num achô.”Não somente na época do casamento, mas em outros momentos de lazer, na sala da casa de Doca tinha uma mesa onde Lampião fazia suas refeições e se distraía, jogando cartas de baralho. A mesa tinha uma grande gaveta, com fundo falso.

Uma bandeja em grosso alumínio era o prato utilizado pelo cangaceiro para sua alimentação. A casa ainda mantém-se de pé e é cuidada pela filha mais velha do casal que nos reconta essas histórias. (Narrações de Quitéria de Doca).

CONTINUA...


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