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domingo, 18 de agosto de 2019

'DEU A TESTA' - A coragem do cabo Alfredo

A coragem do cabo Alfredo 
por Ângelo Osmiro Barreto

Silvino em tempos de paz
Antônio Silvino foi o primeiro Rei do Cangaço, pernambucano de Afogados da Ingazeira, aderiu à vida de bandoleiro para vingar a morte do pai. Homem temido no Nordeste, principalmente nos Estados do Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

O cangaceiro Antônio Silvino não gostava de cobradores de impostos, através de amigos tomou conhecimento que no povoado de Parelhas seria instalado um posto de coleta de impostos.

Não gostou nada da notícia, e logo que pode se dirigiu ao lugar para se inteirar da novidade. Naqueles dias o povoado estava com seu policiamento mais reduzido que o normal, estando no local um cabo e três soldados. Silvino invadiu a cidade e se dirigiu a delegacia, encontrando no local, somente um soldado, que não o conhecia pessoalmente.

Perguntou pelo comandante, o soldado respondeu que seu chefe estava em casa. O cangaceiro mandou chamá-lo, pois quem estava ali era o capitão Antônio Silvino e desejava vê-lo urgentemente.

O soldado tomando conhecimento de quem se tratava, foi correndo chamar seu superior, voltando logo em seguida acompanhado do cabo Alfredo de Souza. Com o militar na sua presença o cangaceiro perguntou áspero e arrogante:
- Não me esperava?
- Não senhor. Respondeu o cabo sem titubear.
- E se soubesse iria me esperar?
O cabo demonstrando uma coragem impressionante respondeu:
- Sim, esperaria junto com os meus soldados, porque esse é o meu dever.
O Cangaceiro Antônio Silvino gostou da franqueza e coragem do cabo, encerrou a entrevista. Entretanto disse que precisava de dinheiro, conseguisse junto aos comerciantes da localidade uma , determinada quantia.

Não houve alteração no povoado, depois de feita a coleta, o cangaceiro e seu grupo retiraram-se para outras paragens. A coragem do cabo Alfredo, talvez tenha evitado uma tragédia, aquele lugar livrou-se de presenciar atos de barbaridade e violência.

A polícia no sertão também era formada de homens corajosos e valentes.

 *Escritor e pesquisador do cangaço, atual Presidente da SBEC (Soc. Bras. Estudos do cangaço).

AS TRÊS FESTAS DA MESMA FESTA DE AGOSTO

*Rangel Alves da Costa

Poço Redondo é sede municipal sergipana e sertaneja onde tudo parece acontecer ao contrário ou segundo as conveniências menos acertadas. Assim com nomes de ruas, com escolhas políticas, com os mínimos cotidianos, mas também com a festa maior do município, que é a da celebração de sua Padroeira Nossa Senhora da Conceição, no mês de agosto.
A partir do instante que tiveram a ideia de separar o calendário religioso dos demais eventos da Festa de Agosto em Poço Redondo, desde então a divisão foi tamanha que até se prolonga a realização da mesma festa para datas posteriores.
O sagrado, seguindo um calendário definido pela paróquia, geralmente acontece desde o primeiro dia do mês até o dia 15 de agosto, com a Procissão em Louvor a Nossa Senhora da Conceição. Já a festa profana, com os shows dançantes na Praça de Eventos, passou a ser geralmente realizada no final de semana seguinte ao término do calendário religioso.
Contudo, atualmente – mas que já vem se firmando desde alguns anos - surgiu outra festa dentro da mesma festa e tão comemorada quanto aquelas da Praça de Eventos. Trata-se da Festa dos Paredões, tomando desde a frente da Câmara de Vereadores até a Praça Eudócia, ou Praça do Redondo. E esta reúne tamanha quantidade de gente, ora bebendo ora apenas flertando, que se tornou até impensável sua não realização.
Quer dizer, a Festa dos Paredões se oficializou por si mesma, e com força total, no calendário da Festa de Agosto. Possui tamanha importância aos jovens que as mocinhas, além de se esmerar nas vestimentas, nos saltos, nas bolsas e nas maquiagens para a festa noturna, igualmente têm de desfilar a mesma roupagem e o mesmo luxo ante as músicas de duplo ou nenhum sentido dos paredões.


Saltos altos, roupas ligadas e curtas, maquiagens que mais parecem saídas de filme de terror, com olhos tomados de sombras tão escurecidas e fortes que acabam escondendo a beleza singela do olhar feminino. Mas assim mesmo, pois tido ali como verdadeira passarela para fazer encantar e seduzir, mesmo sabendo que a beleza feminina não precisa de tanta exposição para ser reconhecida e valorizada.
Há que se reconhecer também a impossibilidade da promoção de todos os eventos dentro do mesmo calendário, sendo o religioso durante o dia e à noite (em algumas datas) e as festas de bandas e na praça a partir do entardecer e à noite (somente nos dias 14 e 15). E assim por que os shows culminam com os dias maiores da festa religiosa, tomando quase o dia inteiro na Igreja Matriz, e certamente os paredões não respeitariam a fé e devoção de um povo.
Deixai como está, como diz o outro. As transformações do tempo cuidarão de dizer o que é o melhor. A mudança nos jovens também ditará muito do diferente. Verdade que a religiosidade está diminuindo cada vez mais entre os mais jovens, mas ainda há uma grande parcela da população que deseja continuar tendo sua fé respeitada e celebrando as graças de sua padroeira.
Que assim seja. Mas de festa não se pode reclamar, pois em Poço Redondo tem até demais, chegando a ser três dentro da mesma Festa de Agosto. O problema é saber se na soma das três dá uma verdadeira Festa de Agosto, e como Poço Redondo merece.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

LAMPIÃO, CANGACEIRO-EMPRESÁRIO BEM-SUCEDIDO.

Por Raul Meneleu

Muitas pessoas ainda hoje pensam que Lampião era um bandido pobre, talvez por não conhecerem sua verve de comerciante e empreendedor, quando rapazinho e negociava nas feiras das cidades próximas de onde morava.

Era sim, filho de uma família da classe dos humildes proprietários rurais, situada entre os ricos donos de terras, fazendeiros poderosos e de uma massa de lavradores sem terra.

Naquela época, no inicio dos anos 1900, ser um pequeno proprietário de terras tinha pouco significado, pois a pobreza atingia tanto os despossuídos como os donos de pequenas nesgas de terra. Nivelavam-se culturalmente, e seu padrão de vida pouco diferia, todos sofriam o domínio do coronel.

Às vezes, possuir uma faixa de terra era perigoso, pois quando cobiçado pelo grande latifundiário que a cercava, a pessoa corria risco de perder sua vida e isso aconteceu com a família de Lampião.

Família de Lampião

Ele nasceu no dia 4 de junho de 1898 e enfrentou as mesmas dificuldades de quase todos os seus contemporâneos que tinha a mesma condição. O que terminou por jogá-lo no cangaço.

Era homem corajoso, argucioso e treinado desde cedo para enfrentar as agruras da caatinga, pois jovem já tomava de conta da pequena criação de seu pai e depois participando da condução de mercadorias, em um pequeno empreendimento, de seu pai, ao adquirir mulas para transporte, cujo nome do empreendimento era chamado almocrevia.

Destacava-se Virgulino Ferreira em tudo que se metia, pois era um jovem empreendedor.

Essas peculiaridades pessoais ajudam a entendê-lo melhor quando enveredou no banditismo. Era um bandido que progrediu. Tornou-se grande proprietário e um homem de negócios organizado, levando-se em conta seu tipo de vida. Conta-se que no ano de 1928 associou-se ao coronel Petronilo de Alcântara Reis e comprou duas fazendas na Várzea da Ema, na Bahia. Poucos meses antes tinha vendido outra fazenda em Vila Bela. Quase no fim da vida adquiriu mais duas em Porto da Folha, perto de Angico, onde foi morto.

Seus parentes mais próximo, irmão e irmãs chegaram a comprar terras e residências nas cidades e é difícil saber se foram presenteados por Lampião ou usados corno testas-de-ferro.

Lampião era um homem rico e possuía muito dinheiro e ouro. Dizem que ao morrer, carregava cem contos de reis, valor de três fazendas no Nordeste. Nos seus bornais encontravam-se cinco quilos de ouro e também dizem que estavam destinados a prover o futuro de sua filha com Maria Bonita. Além dessa fortuna, tinha muitas jóias como cordões e anéis de ouro.

Isso era parte de sua fortuna, que carregava costumeiramente. O grosso de seu capital, em ouro e dinheiro, enterrava em vários esconderijos, dentro de botijas. Um desses esconderijos ficava no Raso da Catarina, numa série de locais marcados por ele com o nome das notas musicais cifradas cuidadosamente em mapas que se combinavam e que muito serviram em sua fuga para a Bahia.

Ele entesourava riquezas através de roubos e assaltos. Mas Lampião revelou talento empresarial. Foi, por exemplo, fornecedor de outras quadrilhas. Revendia armas compradas de traficantes comuns, com cem por cento de lucro. Isso criou inclusive uma dependência econômica de alguns chefes de bando inclusive gerando queixas por sua exploração.

O mais exótico empreendimento comercial de Lampião foi a sua entrada no ramo de transportes. Acabou fundando uma companhia de caminhões e automóveis, que lhe deu bons lucros. Fornecia o capital para a compra dos veículos e os sócios cuidavam da administração. Retiravam o necessário para a continuidade da empresa e dividiam o lucro com ele. Muita gente ficou feliz com sua morte pois não tinha nada registrado no papel e apenas seus sócios andavam direitinho, com medo de perderem a vida.

Lampião também empreendeu os famosos  salvo-condutos, transformando esse expediente como altamente rendoso, a ponto dele encomendar ao mascate-cineasta Benjamin Abrão a confecção de centenas de cartões de visitas, usados para esse fim.

Investiu também numa frota de canoas que faziam a travessia do rio São Francisco, usando o mesmo processo de aliciar sócios. Pessoalmente, esses fatos diferenciam Lampião de seu grupo social de origem. Foi um cangaceiro-empresário bem-sucedido.

Mas nada o distingue tanto desse meio, que hipoteticamente tinha nele o representante de sua revolta, como o fato sabido e consagrado de que ele jamais matou alguém realmente importante. Havia um compromisso rigorosamente observado entre cangaceiros e coronéis para que isso não quebrasse o pacto estabelecido entre eles. O deputado Floro Bartolomeu, falando na Câmara Federal, amenizou o cangaço destacando justamente o fato de que não matava gente de "posição":

"...no sertão é raro um homem de posição ser assassinado, mesmo de emboscada, nas estradas desertas; sempre estes fatos ocorrem entre os cabras, cangaceiros ou não, gente que não faz falta." Em pronunciamento na Câmara dos Deputados.

O cumprimento fiel desse pacto, aliado a um terrorismo implacável como meio de controle social, fez de Lampião um bandido de sucesso.


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O FRAGELLO DE "LAMPIÃO"

Por Raul Meneleu

Esse livro raro publicado no ano de 1931, e que não encontramos mais a não ser nas mãos de colecionadores ou em bibliotecas públicas, traz um apanhado de notícias dos jornais do Rio de Janeiro e da Bahia, relação essa documentada nos quatro primeiros meses do ano de 1931, com hediondas façanhas do famigerado bandido nordestino, Lampião. É de autoria de Pedro Vergne de Abreu, também autor de Os Dramas Dolorosos do Nordeste  - Deixo como como se encontra transcrito, transcrevo para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler a introdução do mesmo, que é um libelo contra os crimes de Lampião.

"Pro re pauca loquar"
É BREVE A EXPLICACÃO . . .
( Do divino Poeta Mantuano)

Vae para dez mezes que uma voz mais poderosa e mais alta do que todas as vozes humanas me incita ao cumprimento de grandes deveres, até o sacrificio, para com a terra que amo sobre todas e sobre tudo...

Ha vinte oito annos, em transe de alma, decidi abandonal-a para consummar um divorcio necessario com a politica que a infelicitava e que, muito além das minhas previsões, continuou a empobrecel-a, dividil-a e devastal-a, até baixar ao que é nos ultimos annos : o "refugio pacifico" das peiores féras humanas!

Nos dias e noites de agonia que Vivi, no regresso de minha viagem á Europa, em 1902, a mim mesmo interpellava, para afogar as saudades e as hesitações da minha mocidade e preparar as grandes renuncias a que me votára: "É preciso combater e vencer o homem velho entumecido de orgulho e vaidade"...

Após tantos annos de ausencia e voluntario ostracismo, uma visita de poucos mezes aos lares talados de minha adorada Bahia, o contacto com as dores intraduzíveis das populações do seo Nordéste rever, deceram o coração do homem velho e deram aos meos 65 annos toda a paixão, enternecimento e coragem com que desertei outrora: E volto a combater o bom combate... .

Os "mestres cantores" que andam pela rama lyrica de suas faias, em livros ou jornaes, a fazer  apologia do cangaço e dos cangaceiros, a entoar-lhes laureas de heroismo e legenda, não podem ter uma ideia approximada dos dramas dolorosos que se desenrolam n'aquelles sertões adustos, taganteados quase diariamente pelas mais monstruosas atrocidades.

Intermittentemente, resido no Rio de Janeiro desde 1894, em que tive pela primeira vez assento no Congresso Nacional: tenho presenciado e assistido as mais graves perturbações, revoltas e motins que desde então têm desabado sobre a nossa formosa e culta Capital, e as correrias e precipitadas fugas das familias cariocas, como principalmente em 23 de Novembro de 1910 e 5 de Julho de 1922.

Pois nada vi comparavel com as scenas de panico, de homens, mulheres e crianças estonteados em meio do deserto e das caatingas só com a visão d'aquelle 'Monstrum horrendum, informe, ingens" que se chama "Lampeão!..." 

E depois dos destroços e ruinas; dos homicidios, violações e incendios; as almas mas penadas e ensandecidas, as Nióbes e Lucrecias para sempre ultrajadas e allucinadas, que pedem a morte como um allivio terminal! Mais humana a serpente de Ténedos, que na mesma pavorosa constricção esmagou Laócoonte e todos os seos filhos...

Jurei guerra de morte, com as armas que Deos me deo — a palavra e a penna — ao sombrio e multifário scelerado. E esse dever se impõe a todos os brasileiros; — pois é uma mentira, uma protervia sem nome, dizer-se que esse hediondo salteador é um fructo, da nossa incultura e desgoverno.

...0s Monstros florescem ás vezes entre as mais brilhantes civilizações: Londres, Paris e agora Dusseldorf, uma das mais adiantadas e industriosas cidades da Allemanha, têm visto tambem féras sanguinarias, que de humano só tem a "fórma e o aspecto"– Mas todos têm sido supprimidos e jugulados, e agora mesmo Reter Kverten. acaba de ser condemnado á guilhotina, em expiação de uma insignificante dezena de homicidios...

Sobre "Lampeão", que ainda vive, pezam muitas centenas de infames attentados..., Não desanimo de vêr desaggravada e vingada a honra do nome brasileiro, e confio que a Nova Republica não deixe expirar o segundo 'semestre de sua vegencia, sem cumprir esse grande e primordial compromisso.

No primeiro semestre, que hoje finda, "Lampeão" commetteo mais atrocidades no Nordéste do que nos ultimos dois anos: é o que me asseguram informantes da Bahia, que se têm dado ao cuidado de registrar seos feitos.

Antes de terminar essa explicação, devo rectificar dous involuntarios enganos, em que incidi no meu primeiro "Opusculo", publicado em 1930: — Lampeão" não é "Cearense", nem "afilhado ou discipido do Padre Cicero Romão Baptista",. . . Certamente..foi em Joazeiro (Ceará) que esse inveterado facinora percebeu as honras e as armas de Capitão honorario do nosso exercito, e d'ahi veio directamente irromper na Bailia. De onde, a supposição geral de ser aquella a sua procedencia; pois não disputamos a solicitude de "investigar-lhe a arvore genealogica", nem de cantar-lhe as gestas. Além das insuspeitas informações colhidas no livro do Sr. Gustavo Barroso ("Almas de lama e de aço.") e que transcrevi a pags. 16 e 17 do meu citado folheto .("Dramas do Nordeste"), outras muitas poderia aqui mencionar. 

Para desencargo de consciencia, e para corroborar que me firmei: em factos. históricos, notoriamente conhecidos, reproduzo apenas um suélto do "Globo", desta Capital, em recentissima data:

"No governo Bernardes, quando a coluna Prestes atravessava o Brasil, combatendo, "Lampeão" e seu bando foram chamados ao Joazeiro do Padre Cícero e ahi acolhidos. Receberam armas e muniçoes do exercito. O então deputado cearense, Floro Bartholomeu, nomeado general honorario, attribuiu a "Lampeão" o posto de capitão, concedendo-lhe favores especiaes e vantagens seguras. Data dahi a tenacidade daquelle cangaceiro, que tala os sertões do do nordeste a ferro e a fogo. Depois de ter prestado serviços ao governo federal, sob o patrocinio do Padre Cícero, de Joazeiro, "Lampeão" e seu bando se tornaram flagello. Todos aquelles, que estudaram o problema concluem que os cangaceiros do nordéste vivem sob o patrocinio dos grandes proprietarios que, por interrnedio deiles, servem à politica. O caso de "Lampeão" é typico, Até o governo federal, no tempo de Bernardes. precisou de seus serviços".

Rio, 24 de Abril de 1931.
VERGNE DE ABREU.

https://meneleu.blogspot.com/2014/12/o-fragello-de-lampeao.html

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VERSOS DE LAMPIÃO


Por Raul Meneleu

Alguns versos dessa letra, encontram-se no livro do Padre Maciel. Abaixo transcrevo-os: VERSOS DE LAMPIÃO Livro 1 Lampião “Seu Tempo e Seu Reinado - As Origens”

Página 73 PROSCRITOS

“Que não se julgue feliz
O que vive em bom estado,
Que vem a naufragação
E acaba em mau resultado”.

Página 81 Versos dedicados a avó Jacosa

“Passei meu tempo feliz
Quando no colo materno
Gozei o carinho terno
De quem tanto bem eu quis”

Página 82 Lembrando das brincadeiras de menino

“Quando me lembro senhores,
Do meu tempo de inocente,
Que brincava nos serrados
Do meu sertão sorridente”.

Página 86 Nas relações com os de fora

“Fui até bom camarada.
E tive amigos também”.

Página 93 Lembrando dos irmãos e família

“Junto com meus irmãos
Lutamos como heróis
................................
E a luta que travamos
Destemerosa, honramos
O sangue de nossos avós”.

Página 93 Traçando os anseios de seu ideal

“Cresci na casa paterna
Quis ser homem de bem
Viver de meus trabalhos
Sem ser pesado a ninguém
Fui almocreve na estrada...”

Página 98 Como primeiro vaqueiro do Pajeú
Usando a terceira pessoa ele fez esses versos:

“Gado bravo para ele
Não estando mal montado,
Sendo em cavalo bom,
Julgava o bicho amarrado,
Ou vinha pr’o curral sadio,
Ou com um quart quebrado”.

Página 100 Versos para seus amores

“Tive também meus amores,
Cultivei a minha paixão,
Amei uma flor mimosa,
Filha lá do meu sertão,
Sonhei de gozar a vida
Bem junto à prenda querida
A quem dei meu coração!”.


O livro "Lampião, SEU TEMPO SEU REINADO" do Padre Frederico Bezerra Maciel, VOL.I, pg 204 e 205, fala da famosa poesia e existe apenas uma estrofe.




Lampião teria sido um grande comandante militar se compreendido como cidadão. As circunstâncias o levaram para o mal. Teria também quem sabe, escrito muitos livros de poesias. Uma pena... Luiz Gonzaga quando menino, via foto dele e dizia pra sua mãe: "Mãe, veja que homem bonito!" Lampião também era tocador de 8 baixos e as mocinhas de sua época suspiravam por ele. Como disseram... "Era um Príncipe!"


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MÚSICAS DO CANGAÇO - CANTIGA DE JESUÍNO


Por Raul Meneleu

O grande historiador, escritor, conferencista e "contador de causos" Ariano Suassuna extraiu de sua verve poética, essas belas expressões em homenagem a esse cangaceiro justiceiro. O grande músico pernambucano Capiba musicou a letra. Acompanhe na voz de Therezinha do Acordeon:

Meus senhores que aqui estão
Vou contar meu dizatino
A canção do cangaceiro que se chamou Jesuíno
Seu bacamarte de prata
E o luar do seu destino
Num gibão
Todo vermelho
Um punhal no cinturão
Bem montado num cavalo
Cujo nome é Zelação
Jesuíno virou logo, ai, ai, ui, ui
Rei do povo do Sertão.
Ver a terra era seu sonho
Nobre terra do Sertão
Com o povo repartida
Pelo sol da partição
E é por isso, que ele canta
De bacamarte na mão
Eu tenho um espelho de cristal
Foi Jesus Cristo que limpou ele do pó
Mas lá um dia a terra se alumia
E o meio dia se espalha a luz do sol.
Mas os ricos se juntaram
Com o governo da nação
Lhe botaram emboscada
E ele morreu a traição
Mas o povo não esquece
Sonha com ele o sertão
E se diz que ainda hoje
Em qualquer ocasião
Alguém sofre uma injustiça
Nos caminhos do Sertão
Soam tiros do seu rifle, ai, ai, ui, ui
E o tropel de zelação
E Jesuíno brilhante
Volta feito aparição
Queima do dono da injustiça
De bacamarte na mão
Sua voz então se afasta
Cantando a mesma canção

Chamava-se Jesuíno Alves de Melo Calado, nasceu em Patu, Rio Grande do Norte, no ano de 1844.Fez-se chefe de Cangaço devido a intrigas com a família Limão, protegida por influentes potentados rurais das províncias do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Seus principais biógrafos são unânimes em reconhecer-lhe o caráter reto e justiceiro. Agiu no semi-árido paraibano e potiguar, quando a instituição do escravismo ainda vicejava de forma proeminente, refletindo as exigências da classe dominante em fazer valer seus interesses em detrimento de valores humanos. O cangaceiro transformou-se em ´Robin Hood´, intervindo em prol dos humildes em diversas oportunidades, com ênfase quando da grande seca de 1877-1879, atacando comboios de víveres enviados pelo governo imperial, distribuindo-os com famintos e desvalidos dos sertões ermos e esquecidos. Jesuíno morreu de emboscada no Riacho dos Porcos, em Belém do Brejo do Cruz, na Paraíba, no final da seca de 1879, atingido por carga de bacamarte disparada por seu inimigo chamado Preto Limão.


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SERÁ QUE FOI FEITO O DNA DO CAPITÃO LAMPIÃO?

Por José Mendes Pereira

Um pesquisador do cangaço me falou certo dia através de e-mail que para ser feito a exumação de um cadáver que há anos está sepultado é preciso uma série de autorizações burocráticas. Interessante: Para isso é uma burocracia enorme e para quem mata, rouba, estupra nada precisa de tanta burocracia. O sujeito mata, faz tudo isso, vai preso e no outro dia está solto. 

Mas algo que venha servir para uma nação e até mesmo outras nações saberem a verdade sobre a morte de Lampião no Sergipe ou nas Minas não se pode mexer no cadáver que lá repousa como se fosse o cadáver de Lampião. Veja a seguir da folha de S. Paulo Brasil.

DNA PODE REVELAR MORTE DE LAMPIÃO EM 93
Por Willian França

ENVIADO ESPECIAL AO NORDESTE E A MINAS GERAIS

O juiz José Humberto da Silveira, da comarca de Arinos (MG), deve decidir nesta semana se autoriza a exumação de um corpo enterrado em Buritis (MG), cidade sob sua jurisdição. Motivo: pode ser o corpo de Lampião, o Rei do Cangaço.

O cadáver é de um fazendeiro que morreu em 93, de parada respiratória. Tinha 96 anos -mesma idade que teria Lampião, se vivo.


Para o fotógrafo mineiro José Geraldo Aguiar, 47, esse homem foi o verdadeiro Lampião. Aguiar levantou a história do fazendeiro e fez o pedido de exumação.


Com a exumação, será possível confrontar o DNA (código genético) do cadáver com o da única filha reconhecida de Lampião e Maria Bonita, Expedita Nunes, que mora hoje em Aracaju (SE).


Se a exumação for autorizada, deverá ser feita pelo IML (Instituto Médico Legal) de Brasília. Consultada pelo IML, Expedita concordou em fazer o exame.


Dez nomes


Há quatro anos e meio, Aguiar recolhe dados sobre um fazendeiro, dono de 300 hectares, que se instalou no início dos anos 50 na margem esquerda do rio São Francisco, na cidade que leva o mesmo nome do rio, em Minas Gerais.


Alguns fatos estranhos cercaram a vida do fazendeiro. Aguiar identificou pelo menos dez nomes diferentes usados por ele.


Tanto que o conheceu como João Lima, os amigos tratavam-no por Luís, na lápide do cemitério está escrito Antônio Teixeira Lima e na certidão de óbito consta o nome Antônio Maria da Conceição.


O fazendeiro morou em pelo menos 15 cidades diferentes com Maria Lima (supostamente Maria Bonita), em quatro Estados (Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Goiás) -além de São Francisco, ele morou em Montes Claros, Irecê e Buritis, entre outros municípios. A tendência foi sempre morar às margens do rio São Francisco.


Com Maria Lima teve dez filhos, o mais velho hoje com 63 anos. Em uma viagem à Bahia, conheceu Severina Alves Moraes, a Firmina, com quem teve uma filha, hoje com 22 anos. Depois da morte de Maria Lima, o fazendeiro passou a morar com Firmina.


Segundo Aguiar, o fazendeiro temia represálias pelos crimes atribuídos a Lampião e, por isso, além de se esconder durante todo esse tempo, só autorizou que sua história fosse contada após sua morte.


Ainda segundo Aguiar, houve resistência de alguns filhos em revelar a sua biografia. Foi Firmina, com autorização de alguns filhos, quem passou uma procuração que dá amplos poderes ao fotógrafo.


A procuração inclui propriedade sobre a história do fazendeiro e até autorização para exumações.


Aguiar conheceu o fazendeiro casualmente, quando buscava testemunhas numa rua de São Francisco. Ele queria processar a prefeitura da cidade e precisava de depoimentos em seu favor.


"Pego de surpresa pelo meu pedido, assim à queima-roupa, na porta da sua casa, ele mostrou-se arredio. Não quis testemunhar. Contaram-me que ele tinha sido ligado ao cangaço e resolvi investigar. Quanto mais investigava, mais coincidências apareciam com a história do Lampião", contou o fotógrafo ao lembrar como conheceu o fazendeiro.


Aguiar tem documentos e depoimentos apontando evidências de que essa pessoa pode ter sido Virgolino (com "o", conforme certidão de nascimento obtida pela Folha) Ferreira da Silva, o Lampião.


"Ele costumava dizer: 'Homem que é homem não mente. Eu sou o verdadeiro Lampião. Homem nenhum conseguiu matar Lampião, e só Deus será capaz de me matar'." Segundo o fotógrafo, essa frase só foi dita depois de vários meses de conversa entre os dois.


"Ele era um homem muito sério, fechado. Nunca sorria. Falava pouco, com uma voz grossa que lembrava a de Mário Covas (governador de São Paulo)."


Olho direito


Segundo Aguiar, o fazendeiro tentava esconder o olho direito atrás de grossas lentes de óculos, muitas vezes estilhaçadas, e tinha a pálpebra direita caída.


No cangaço, Lampião sofreu um ferimento no mesmo olho quando jovem e lacrimejava constantemente, além de ter um defeito físico que impedia a abertura total da pálpebra.


O fotógrafo está concluindo um livro, "Lampião, o Invencível", com depoimentos de 45 pessoas, fotos e cópias de documentos.


Entre os documentos estão uma carteira de identidade e o registro, em um sindicato rural, que deu ao fazendeiro o direito de aposentar-se pelo extinto Funrural.


Os documentos têm assinaturas que serão usadas em exames grafotécnicos (há textos manuscritos de Lampião). Na foto da identidade do fazendeiro dá para ver, claramente, o problema do olho.


História


Virgolino Ferreira da Silva, segundo os livros de história, foi morto no dia 28 de julho de 1938 em emboscada na Grota (vale) do Angico, em Poço Redondo (SE) -às margens do rio São Francisco, divisa com Piranhas (AL).


Ele estaria junto com Maria Bonita e outros nove cangaceiros. Todos foram decapitados.


Segundo Aguiar, o suposto Lampião morreu com o nome de Antônio Maria da Conceição, em 3 de agosto de 1993, em Buritis (MG). Maria Bonita (oficialmente Maria Gomes de Oliveira), com o nome de Maria Teixeira Lima, teria morrido aos 70 anos, em 3 de agosto de 78, em Montes Claros (MG).

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LAMPIÃO MORTE E MISTÉRIO

Por Luiz Bento de Souza

Próximo aos 81 anos da morte do mais temido cangaceiro, Virgolino Ferreira da Silva (Lampião) em 28/07/1938 na Grota do Angico, Estado de Sergipe. 

Passados 81 anos, ainda continuamos o mesmo mistério. A morte de Lampião, a cada dia, vem se tornando motivo de maior polêmica na história do cangaço. Os mais estudiosos, historiadores e pesquisadores têm suas dúvidas em divulgar a natureza da morte de Lampião.


Pedro de Cândida chave fundamental de jogo de sete cabeças, foi assassinado. O mesmo havia responsabilizado o tenente João Bezerra por envenenamento.


Os canoeiros que fizeram a travessia das volantes, foram obrigados a retornarem às margens do rio. Para que se nada pudesse testemunhar. 

Os soldados volantes: compartilharam com o ataque simulante do contrário não seriam promovidos, nem faziam parte da divisão dos pertences dos cangaceiros (ouro, dinheiro, etc.)

Os cangaceiros sobreviventes da chacina, também foram induzidos na farsa simulante do ataque. Caso não compartilhassem com o suposto ataque, não receberiam seu indulto com pena reduzida.

Capitão João Bezerra

João Bezerra: expoente maior desse polêmico mistério. Era acusado pelas autoridades alagoanas em desvio de armas e munições do governo, com vendas clandestinas ao facínora cangaceiro Lampião. 

Em uma entrevista ao jornal alagoano, João Bezerra entrou em contradição em afirmar que, quando foi incumbido da missão de matar Lampião, o governo não estipulou a espécie de morte aplicada; claro, se estivesse que envenenar, envenenaria. Assim, poupava a vida minha e de seus soldados.

Afinal, como morreu Lampião? 

Dê sua sugestão: envenenamento ou bala ?

Escritor: Luis Bento de Sousa
(Lampião, figura controvérsia)

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O escritor fala que o tenente João Bezerra entrou em contradição. Mas eu acho que não. Veja o que ele disse e com certeza disse porque foi questionado por alguém:

João Bezerra: - Claro, se estivesse que envenenar, envenenaria. Assim, poupava a vida minha e de meus soldados.

Ele usou "SE" e se usou "SE" não entrou em contradição, porque ele afirmou uma possibilidade, caso não desse certo de outra maneira. Esta é a minha opinião e não quer dizer que tem que ser válida.

Mas o trabalho do escritor é excelente. De bom tamanho. Legal!


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