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sábado, 28 de setembro de 2013

De Virgulino a Lampião - samamultimidia - Parte VI


Virgulino e seus quatro, logo após a fuga do comissário, voltaram para casa, quase sem munição. No dia seguinte, valeram-se os irmãos do prestígio dos amigos para a liberdade do prisioneiro. Virgulino, entretanto, enviou um ultimatum ao delegado: “Se até à boca da noite meu irmão não chegar, vou buscar ele de qualquer modo”. 

Às cinco da tarde, João foi solto. Pela estrada vinha ele correndo como podia, aperriado e trôpego nos disconformes dos passos, apavorado com o esgüelamento sofrido durante horas, a cabeça zanzando, a goela ardendo de sede, a barriga torcendo de fome, o corpo moído dos maus-tratos. Passara ele trinta e quatro horas preso, injustamente e cruelmente maltratado, sem comer nem beber. E teve a sorte de não ter sido sangrado por um soldado de sorriso insosso e maligno que lambia a faca na sua frente!...

À boca da noite, resolveu José Ferreira mudar-se para a fazenda denominada Engenho. Já havia ele falado com o proprietário, o velho Fragoso, e conseguido uma casa desocupada de morador. Verdade é que ficava perto, mas tinha a vantagem de ser em outro município, Mata Grande, cujo delegado era amigo. 

Em 21 de maio de 1920, ainda madrugada, entre o primeiro e o segundo canto dos galos, reuniu José Ferreira a família e seus haveres, tão poucos! - uma pequena trouxa para cada um. Assim partiram, de mudança pela terceira vez os Proscritos! No arrasto da vida e do destino escuros, quiném aquela noite impenetrável, arrastava José Ferreira a família e a miséria. Caminhava devagar como vagaroso era o seu maginar e raciocinar diante da prepotência do destino nos enigmas das ditriminações divinas.

Já perto de chegar, voltou-se consolador para sua esposa e disse com resignação e fé: “Maria, é preciso aceitar a vontade de Deus!”. Ela continuava sempre amurrinhada, desacabando a saúde e a vida. Não se adomava a natureza sua a uma vida assim acuada por toda parte. Sentia-se desinfeliz, sem poder viver. Inda ali não chegara e já as perseguições já recomeçavam. Não tinha vindo para ali fugida delas? E ei-las de novo! Sempre injustas e agora grumitadas pela “autoridade”.

Nessas aflições todas, teve D. Maria Lopes durante o dia dois passamentos. Botaram-lhe até vela na mão, maldando tivesse nas últimas e não resistisse mais. José Ferreira, também agoniado, com as mãos apertando a cabeça e sem encontrar canto para aquietar o juízo, exclamava: “Não! Não é possível viver aqui! Não passo mais um dia nessa terra. Vou falar com o delegado de Mata Grande, que é meu amigo, para poder ficar por lá”. 

Diante da melhora, súbita e surpreendente, da esposa, andando embora devagarinho, comendo e conversando alegre – não sabia ninguém que era a “visita da saúde” precedendo a morte! – resolveu José Ferreira, de madrugada, selar dois burros e com seu filho João ir logo à Mata Grande trazer remédios e falar com o delegado, seu amigo. Os três filhos mais velhos continuavam ocultos no mato por causa da polícia. 

Aproveitando a manhã, alegre e de esperança, daquele dia 22 de maio, conduziram as filhas a mãe para fora, no terreiro da frente da casa, a modo de ela despairecer, tomar um arzinho e uns esquentes do sol brando. Não demorou muito tempo, deu-lhe nela inexplicável cansaço seguido de sonolência. Naquele momento instante, as três filhas notaram que a mãe, de repente, pendia a cabeça de lado e virava os olhos para cima, enquanto o queixo afrouxava entreabrindo a boca. Compreenderam a evidência do desenlace... Num sufragante, Virtuosa segurou a mãe pelas costas, levantando-a um pouco para Angélica tirar a cadeira. Ali mesmo foi ela deitada. Ezequiel e Anália agarraram-se ao regaço da mãe, chorando e chamando: “Mamãe! Querida mamãe!”

Talvez para sua consolação, nesse instante derradeiro, tenha ela ouvido dos lábios infantis de seus caçulas essa doce palavra que traduzia inteiramente tudo o que ela fora na vida: mãe!

O semblante sereno, o olhar fugidio para a eternidade, tendo diante de si a imagem do Senhor Crucificado apresentado por Angélica, que a custo repetia entre soluços: “Meu Jesus, misericórdia”, entregou seu espírito ao Criador. “Sem o mínimo estremeço a modo de um passarim!”.

Mocinha apagou a vela. Soprava uma aragem macia e refrescante aliviando aqueles corações transpassados de dor... Uma poeira de luz emoldurava aquele quadro de tragédia em terra estranha e de exílio. 

Lá para o meio-dia chegaram José Ferreira e João, simultaneamente com os três chamados de seus esconderijos. Encontraram a morta deitada numa cama de vento, amortalhada, com os lábios sorrindo para a morte, de vez que há muito deixara de sorrir para a vida!...

Na dor e na lágrima lamentaram por demais a desdita. Os três filhos perseguidos, às pressas colheram cravos amarelos e bugaris, enfeitaram o leito da mãe defunta e se esconderam de novo. Não podiam ficar velando. Somente de madrugada, assim mesmo cismados e precavidos, voltariam para o velório. A família e vizinhos entre soluços inteiraram a noite fazendo sentinela com os cânticos lúgubres das incelenças e o ofício das almas. No dia seguinte domingo, pela manhã, conduzida numa rede pelos filhos, que se revezavam, foi feito o enterro, estrada a fora rezando, e sepultada numa cova do cemitério do povoado de Santa Cruz do Deserto, após lhe terem o esposo e filhos beijado o rosto frio. Três coroas, lembranças do esposo, dos filhos e dos parentes, além de muitos buquês levados pelos acompanhantes, floriam a sepultura, que mais parecia um canteiro de festa e de vida. 

O pobre José Ferreira, com tanta coisa amarga e trágica sem trégua se sucedendo, ficou desatinado, abatido, sem gosto pra nada na vida, curtindo os penares da dor e da saudade e os sobressaltos de uma desgraça ameaçadora e iminente. 

No dia 28 de junho de 1920 chamou os três filhos que continuavam ocultos, e lhes disse: “Vocês aqui não podem mais ficar. Vão para Pernambuco que depois eu tomo o mesmo caminho”. Não podia, de súbito, se afastar de perto da sepultura da finada esposa. 

Seguiram os três filhos para Espírito Santo do Moxotó, onde ficaram trabalhando na propriedade de seu Terto. José Ferreira vendeu os dois burros para comprar roupa de luto para todos de casa... 

Cartas do delegado de Água Branca – comprado por Zé Saturnino – ao Chefe de polícia de Alagoas, falseando e carregando nas tintas os assucedidos mais recentes sobre os “perigosos bandidos” que cometeram “muitos crimes” alarmou o Governo que resolveu cortar pela raiz aqueles males. Para tal, determinou ao delegado, 2º Tenente José Lucena, famoso por excessos de severidade, fazer uma diligência por aquelas bandas conflitadas.  

Na casa de José Ferreira, só tristeza. Tinha ele ido ao cemitério e não compreendia por que desta vez chorara muito mais do que das anteriores. Revelara aos filhos o que dissera à falecida, já na cova enterrada, que não havia mais sentido para ele continuar a viver. Queria ir para de junto dela. Repassou, de minúcia, os bons tempos de antanho, de paz e ternura. Recordou particularmente a última festa, do Senhor São João, há dois anos atrás, em que a finada, tão bonita e saudável, tão vistosa e alegre, dançara com ele... Hoje, era ele mais morto do que ela morta!

No dia seguinte, precisamente 38 dias depois da morte de D. Maria Lopes, de manhãzinha, ele com mais João e as três meninas fora adjutorar, como alugados, os trabalhos de um roçado vizinho, a modo de trazer para casa alguma coisa de ganho para o de-comer carecente. Voltara logo José Ferreira para casa, cansado e escanchado em Condave, trazendo dependurados de cada lado das ancas do velho burro, dois sacos contendo quatro mãos de milho. Ao chegar no terreiro de frente da casa, bem perto do lugar em que a esposa falecera, apeiou-se. Correram pressurosos e choramingando de fome os dois menores e lhe tomaram a bênção. Abraçou-os o pai, afetuoso e longamente, acarinhando e beijando. Em seguida  tirou os sacos e derramou as espigas num balaio e de cócoras começou a tirar a palha para facilitar o trabalho das meninas de prepararem o angu, o qual, dessa vez não seria comido puro. Tinha ele comprado um bom taco de carne de bode e um litro de farinha. O almoço seria sustancioso. 

Estava José Ferreira dessa maneira entretido quando, de repente, viu sua casa cercada de soldados. A uma distância de três braças gritou Lucena para o velho José Ferreira: “Cadê os seus três filhos bandidos?”

Ferido em seus brios e honra, José Ferreira retrucou, com todo desassombro e altivez, alto, firme e pausadamente: “Não, sinhô! Bandidos, não! Meus filhos não são bandidos. Querem forçar eles a ser. Mas eles são é home!”...

“É assim que se responde a um oficial, velho malcriado, cachorro da mulesta” – revidou furioso Lucena. E sem mais, descarregou ele próprio a pistola no peito daquele pobre velho, pacífico e indefeso, que caiu, de chofre e de bruços, por estranha coincidência, ali, no mesmo chão onde falecera sua esposa. 

Ao tomarem conhecimento, todos da família, da tragédia naquele quadro desumano de miséria e barbaridade, reuniram-se em casa, e sentaram-se os filhos naquele mesmo chão fatídico do terreiro. João e as irmãs relataram o drama. Todos choraram muito. E depois de permaneceram bastante tempo em silêncio, Virgulino falou: 

- “Bem, nada mais nos resta a perder. O único bem que a gente tinha, e o mais precioso de todos, os nossos pais, foram assassinados, ela de choque, ele de bala: os dois no coração!”

Silenciou um momento. Levantou-se. E, de repente, traduzindo, num assombro inesperado e imprevisível de atitude, os processos íntimos de uma grande decisão, elaborada daquela situação, desvestiu os dois irmãozinhos de suas roupas de luto e pediu a João e irmãs que tirassem e lhe entregassem as roupas de preto e pesar que vestiam.  De tudo fez uma ruma no terreiro e tocou fogo. Os irmãos estarrecidos!


CONTINUA... 

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Martins Coelho - Um veterano e capacitado radialista de Mossoró

Por: José Mendes Pereira

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Martins Coelho é um dos mais antigos e capacitados radialistas de Mossoró, que desde os anos sessenta, período em que começou a sua intimidade com a comunicação, continua na Rádio Difusora de Mossoró, apresentando o seu programa semanal.

Dos muitos que com ele  começaram no rádio, alguns já partiram para a eternidade, Seu Mané Alves, Every Costa, Edmilson Lucena, e outros estão engajados em emissoras pelo Brasil afora, por exemplo o Jacó, que  se encontra em emissoras na capital do Brasil, Brasília.

Mas alguns deles abandonaram o rádio e partiram para outras atividades, como o Coronel Pereira, Geraldo Mendes. O ex-locutor Edson Martins, por problemas de saúde, já  se encontra aposentado.

O casamento do locutor Martins Coelho com o rádio foi pela primeira vez na Emissora de Educação Rural de Mossoró - "Rádio Rural", tendo sido o seu padrinho

 Monsenhor Américo Vespúcio Simonetti foi uma das figuras mais importantes da igreja nas últimas décadas no Rio Grande do Norte - http://tribunadonorte.com.

Monsenhor Américo Vespúrcio Simonetti que dirigia as emissoras rurais, uma em Natal, outra em Caicó e outra em Mossoró.

O programa que durante muitos anos o locutor Martins Coelho apresentou na Rádio Rural de Mossoró, ao deixar esta, levou para Rádio Difusora, e como é um programa popular, sempre conservou e continua aumentando a sua audiência em toda Mossoró e nas regiões adjacentes.

Como é um locutor que sempre gostou de animar o seu programa para não se tornar chato, sem graça, certo dia era 1º de Abril (não me recordo o ano), e confiando que os seus ouvintes não iriam acreditar na sua informação, já que era o dia da mentira - 1º de Abril, assim que chegou à Rádio Rural, no seu programa, Martins Coelho avisou que em frente à Rádio Rural,


Praça Vigário Antonio Joaquim - telescope.blog.uol.com.br

na Praça Vigário Antonio Joaquim, havia estacionado uma carreta cheia de mercadorias, as quais seriam distribuídas com os mais carentes de Mossoró.

Mas o mais engraçado foi que muitos não se lembraram que aquele dia - 1º de Abril - era dia da mentira. Logo a Praça Vigário Antonio Joaquim encheu de gente. E já que ali não havia nenhum tipo de automóvel com carga, todos queriam saber para onde haviam levado a dita carreta com as mercadorias.

Mas aconteceu que o nosso grande locutor Martins Coelho pagou caro por isso, e foi castigado pelo seu padrinho de casamento com a comunicação, monsenhor Américo Vespúcio Simonetti, que o demitiu dos registros da Rádio Rural de Mossoró.

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Como grande profissional que é, Martins Coelho registrou pela segunda vez a sua Carteira Profissional, e esta segunda vez, foi na Rádio Difusora de Mossoró, permanecendo até os dias de hoje, como locutor.

Mas você acha que Martins Coelho errou, em ter publicado este aviso que em frente a Rádio Rural tinha uma carreta cheia de mercadorias?

A população foi quem errou, já que ela sabe muito bem que o locutor Martins Coelho faz o seu programa com muita graça e simplicidade.

Parabéns ao locutor Martins Coelho pela sua capacidade profissional no rádio mossoroese.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.


Fonte:

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Jornal "A Tarde" 13 de abril de 1928 - O “TRUC” DE UM GOVERNADOR

Por: Rubens Antonio

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Como o sr. Costa Rego desarmou o sertão de Alagoas  

RIO, 12 (A TARDE) – Numa roda de amigos em que se achava conhecida figura, provinda de Maceió, ouvi a seguinte interessante narrativa: 

Empenhado em acabar com o banditismo no Estado de Alagoas, o governador Costa Rego architetou e poz em pratica uma medida original.

Allegando receios de reacção contra o seu governo, o sr. Costa Rego teria dirigido aos chefes politicos do interior, dos quaes alguns eram protectores conhecidos de cangaceiros, uma circular alludindo a essas suspeitas e pedindo o apoio a cada um delles, apoio que consistiria em reunir o maior numero possivel de homens destemidos, embarcando–os para a capital, para onde deveriam vir logo armados e municiados, trazendo a maior quantidade de armas e munições que fosse possivel arrecadar.

Á vista dessa circular, e querendo dar arrhas de maior dedicalão ao governo, cada um desses chefes entrou a empregar os maiores esforços, na demonstração da sua força.

Dahi resultou que legiões e legiões de cangaceiros vieram para a capital, promptos para combate. A cidade, pode dizer–se, ficou invadida por esses maus elementos.

Á proporção que iam chegando, o sr. Costa Rego ia arranchando esses cangaceiros nos quarteis e em casas que para esse fim destinou. E lá um bello dia, depois de pagar pelo governo as despezas da sua estada, deu passagens de volta a todos elles, fazendo–os portadores de cartas para os alludidos chefes politicos, nas quaes lhes agradecia o concurso prestado, que já não era, porém, preciso por haver passado a temerosa crise.

Quando, porém, esses chefes reclamaram as armas que tinham vindo, o sr. Costa Rego, então, lhes declarou, em nome do governo, que não havia necessidade de gente armada no interior do Estado. 

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A HISTÓRIA DO RAPAZOTE QUE FORÇADAMENTE CONTRAIU MATRIMÔNIO COM UMA JUMENTA (OU UMA HISTÓRIA MAIS ESCABROSA QUE ESSA)

Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

Nem olhe de banda que aconteceu de verdade. Já faz muito tempo, mas aconteceu. E lá no sertão onde tudo pode acontecer. Inclusive nadica de nada. Coisa do passado, mas até hoje se comenta nas rodas de fim de tarde, nos proseados matutos e nas biroscas em fins de feira, a triste e inusitada história do rapazote que forçadamente contraiu matrimônio com uma jumenta.

Tudo para ser dentro da normalidade daquele costume mais antigo e que se comenta existir até hoje, vez por outra um meninote ou até mesmo homem feito ser surpreendido pelos quintais, nas matarias ou atrás dos tufos escondidos, se roçando cheio de amores no traseiro de jumentinha nova e fogosa. Em diversas ocasiões o dono do animal conseguia o devido flagrante e o animalesco amante corria de calça na mão e se arrebentando por cima de tudo.

Havia o espanto e a vergonha pela conversa espalhada, mas nada de se estranhar que fosse assim. Hoje não, pois a mulherada não está mais tão difícil como antigamente e em cada canto que se vá há um rabo de saia mostrando a calcinha. Antigamente era tudo mais difícil, mais exigente e de dificultosa realização. Somente os velhos e doentios cabarés para salvar a exasperação da rapaziada

E quando nem brega tinha não havia outro jeito mesmo. Quem pagava o pato era mesmo a jumentinha que pastava despreocupada. E, diga-se de passagem, que também tanto apreciava um carinho por trás. Quando esquece o coice e levanta o rabo, então é certeza de que também já está cheia de desavergonhadas intenções. Já ouvi falar de verdadeiras paixões entre humanos e todo tipo de bicho, e sempre me perguntei quem era o irracional nessa safadeza toda.

 
O problema é que o rapazote foi dividir sua volúpia logo com a jumenta mais apreciada pelo poderoso senhor. E tal fato, segundo contam até hoje e está registrado em livretos de cordel e nos repentes populares, causou um bafafá tão danado que mexeu com toda a sociedade interiorana de então. Os motivos serão conhecidos mais adiante.

E assim aconteceu. Já num tempo de quebra do ranço coronelista, mas ainda os grandes latifundiários se mantendo como senhores absolutos das classes empobrecidas e a eles submetidas, existia um senhor de grande poder e riqueza nos sertões nordestinos do deus dará. Dono de terras infindas e boiadas e mais boiadas, mantinha verdadeiro apego aos seus rebanhos e todos os tipos de animais ali existentes.

Tanto gostava do garrote puro sangue como do papagaio falador; a mesma adoração que tinha por seu famoso alazão a tinha com relação ao cachorro. Mas eis que chegou aos seus ouvidos - e certamente fruto das fofocas premeditadas para produzir as mais nefastas consequências - que um rapazote, quase menino ainda, filho de um de seus empregados, havia sido avistado mantendo relação sexual com uma de suas jumentas.

O homem prontamente quis saber qual das jumentas havia sido seduzida pelo rapazote, e começou a soltar fogo pelas fuças quando soube que o conluio safadista havia sido com a jumenta parda, aquela mesma que ele tanta gostava. Não se sabe bem o porquê, mas o mundo quase acaba neste momento, considerando as atitudes tomadas pelo poderoso. Mandou selar seu alazão e subiu num pulo só, seguindo veloz em direção à residência de seu empregado, que ficava ali mesmo nas suas terras.

Pulou do animal e foi entrando birosca adentro e certamente passaria por cima se alguém estivesse no seu caminho. Gritou pelo dono da casa e uma voz foi ouvida lá do quintal. Bastou dizer quem estava ali para que o outro aparecesse num repente. Diante do temido patrão, nervoso e cabisbaixo, o coitado do homem quase dá um treco quando ouviu o inesperado.

Sabia que seu fio ainda nem deixou o cheiro de mijo e já vai casar, e com uma jumenta? Apois fique sabeno que inda hoje ele vai casar com uma jumenta minha que ele deflorou. Percure ele e vão junto até o casarão. O casamento vai ser lá na maiada mermo. Se ele teve a ousadia de bolinar nas vergonha de quem tava quieta, desvirginando a bichinha inocente, entonce agora vai ter todo tempo do mundo pá ficar no bem bom. Nem pense em deixar de ir. Do crontaro já sabe as consequença.

No fim da tarde desse dia o rapazote já estava devidamente casado com a jumenta. E por ordem do patrão, os dois foram devidamente encaminhados para um curral afastado. Mas quando já iam sendo levados à força, eis que o poderoso senhor irrompe em prantos, gritando de não acabar mais e pedindo para que desfizessem tudo e trouxessem aquela jumentinha pra perto dele.

E, talvez tomado pelo inexplicável das estranhas paixões humanas guardadas a sete chaves, acabou confessando que a jumentinha desde algum tempo era sua amante. E que não suportaria ver aquele pelo delicado sendo acariciado por outra criatura. Solteirão, e para espanto e deleite da sociedade conservadora de então, mandou imediatamente providenciar um pequeno reservado com mataria bem ao lado do seu quarto.

E, segundo dizem, foram felizes para sempre.



Poeta e cronista

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