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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Cangaceiros repentistas

Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
 Cabo- Francisco Carlos Jorge de Oliveira

O sol do  fim  da tarde,  se  desprendia oblíquo no  horizonte  púrpuro  por trás  das  serranias nordestinas e a aragem  morna  que   vinha  dos  altos  sertões,  tocavam branda  nas soadas  faces de homens  exaustos lhes  blindando com  o frescor  e o suave   aroma  das flores   de  inúmeras  aroeiras   que  enchiam  os  ares  das  caatingas; exalando um  perfume  indescritível. E com  um propósito eles deixam  a  Paraíba  para  entrarem  em solo  potiguar, eram bandidos  liderados por  Virgolino Ferreira  da Silva  vulgo  “Lampião” o  mais  temido  cangaceiro.

Lampião o primeiro da esquerda

É   introito  de  junho, principio  do inverno  de  1927,  e  o  rei  do cangaço  com  seus  comparsas após atacarem e  saquearem a cidade de Luiz Gomes,  agora seguem  rumo à  sede  de  uma fazenda  em  ruínas  onde  irão acampar  e esperar  a  chegada  do bando de Massilon  Leite  Benevides; que ainda encontra-se em terras cearenses. 

O cangaceiro Massilon Leite

No amanhecer  do  segundo   dia, uma das sentinelas  do acampamento  alerta o  bando  de Lampião  com  um sinal  de  que   está  chegando  gente, e no  átimo todos se  põe  a  postos,  mas;  logo um  batedor do  grupo, informa que são os  cabras  da  súcia  de Massilon que  estão  se  aproximando. Então logo após  serem  recebidos pelo capitão  Virgolino, se  fartam  na  maior comilança  e  bebedeira  com  os víveres e demais  produtos  furtados  na  cidade de  Apodi, e  assim os  cabras  festejam por cinco dias  seguidos,  e no sexto dia,  as  duas  maltas  unidas  deixam  suas  cavalgaduras aos cuidados  de um coiteiro  e  seguem a pé  para um lugar  escuso em meio às caatingas  onde  irão pernoitar  e posteriormente  prosseguirem com  o  audacioso plano  de  seus  lideres em ofensiva  a  Mossoró. Mas como  é  de  praxe,   em  todos  os  acampamentos   militares  ou   paramilitares,  tem  que   haver   algum  esquema  de    proteção  que  lhes  proporcione  segurança  à noite   enquanto  dormem, para  não  serem  surpreendidos  durante  o  sono. Então  a  escolha  destes  sentinelas  como   era  de  costume, Lampião  usava  um modo  lúdico e  bem divertido,  com  o  critério   do  erro,  isto  é;  todos  seguindo  posicionados  em  fila  indiana, no  percurso  da  caminhada e até   chegarem  ao  lugar  determinado  por  si,  o  rei  do  cangaço  ordenava  que  todos  cantassem  um  “repente” em  forma  de  trova,  mas  um  de  cada  vez,  porém  numa  sequência  e    sem  repetir  o  verso  já  cantado  pelo  companheiro,  e  aquele  que  errasse  a  rima,  ou  a   coesão  da  estrofe,  automaticamente  já  encontrava-se  escalado  para  a  guarda  noturna,  e  desta  forma  o  próprio   líder, era   quem  puxava  a   cantoria que  era mais  ou  menos assim.

Capitão:- Olê  mulé  rendeira!  olê  mulé  renda! Todos: - tu  me  ensina  a  fazê  rendas, que  eu  te  ensino  a  namorá! Virgulino: *Lampião  desceu  a  serra,  foi vizitar  juazeiro,  foi  pra  ver  mulé  bunita,  foi   tombém  buscá  dinheiro. *Sabino Gomes: - Pernambuco  i  Ceará,  Piauí  i  Alagôa,  nunca ví  coisa tão  bôa,  qui  nem  as  morenas di lá. *Luiz  Pedro : -Acordei agoniado, di  brabo  rangia  us  denti,  atirei  na  baraúna,  pensandu  qui  era u tenenti. *Cochete : - Minha  sogra  era uma bruxa, matei  ela  di  garrucha, cum   dois tiru  a quema  bucha, nu  pé  duma  arvi  mucha *José  Roque: - Entrei  nu  mato   armado,  di  faca,  facão  i cunha.,  cincoenta duzias  di  gato  tem dez mile   e   oitocentas unhas.*Massilom: -  Cangaceiro  i  macaco , nunca dá  di  cumbina, é  pipóca  na   panela,  é  tará!  tatá!  tatá! *Miudo: - Fui  pesca  nu  São Francisco,  mais  curisco  i  capitão,  peguemo  cinco  curimba,  dois  dorado  e  um  tubarão. *Mormaço: - Nu  sertão  di  Alagoa,   cortei  um  pau  di  pinheiro, pra  fazê  uma  canoa,  pra  pesca  u  dia  inteiro. * Mergulhão :- Tomei  água  di  cacimba,  no sertão  do  Ceará,  i  mijei  no  par  di  butina,  du  tenenti  Viaja. *Eziquel :-  Briga  feia  no  sertão, é  do  teiú  i  o  cascavel, são  dois  bicho  da  mulestra, qui   morri  i  não  vai  pro  céu.*José Pretinho: - Ví  um  bando  di  jurutí,  se arriba  do  meu  sertão, precurando   argum    luga,  qui  a  água   corri  pelu  chão. *Pinga  Fogo : - Eu  topei  cum   lubisome,  na  noite  de São  João,  gritei  por  meu  padim Cirço i  sai  num  carreirão. * - Mourão :- Mi  atraquei   cum   uma  quenga, lá  du  norti da  Bahia,  ela  babava  e  gritava,  mi  zunhava  i  mi  mordia. *Jatobá: - Zé  Sordado  não  deu  sorte,  na  briga  cum  Mergulhão,  levô um  chute  no  rabo,  e  prancho  a  cara  no  chão.  *Navieiro: -  O fuzi  di Lampião,  ta  cum  a  coronha lascada,  di  tantu  ele  da  coice,  nu  côco  da  macacada. 

Restavam   ainda mais  uns  trinta  cangaceiros,  quando  num  gesto Lampião   mandou   cessar  a  cantoria. Dai  um  cangaceiro  indagou: 

- Mais  capitão!  purquê  u  sinhô  mado parar , logo  agora  qui  a  cantiga  tava tão  bôa? 

E  o  rei do  cangaço respondeu: 

- Tá  bão!  eu  já  tenho  us  quatro  cabras  qui vão  ficar  di  guarda  esta  noite. Chegando  no  lugar  de acampar eu digo u nome deles. 

E  assim todos  ficaram  ansiosos  para chegar  logo  e  saber   quem  eram os  infelizes  escolhidos pelo  chefe, pois  ninguém  gostava  de  ficar acordado  a  noite  toda  cuidando do  acampamento,  outrossim;  eles  não haviam  errado  as  rimas, nem  as trovas, isto é; em  suas  concepções  mas...  a  palavra  do  rei  é  lei,  então;  manda  quem  pode  e  obedece  quem  tem  juízo.

Quando  a  noite  escura negrejou o acampamento, que a  mortalha rasgou a cara da lua, e todos já  se   preparavam  para    pernoitar, Lampião  chamou  os  cangaceiros  Miúdo,  Mormaço,  Zé Pretinho, Pinga Fogo, José Roque e  assim disse ao  primeiro: 

- Tubarão  não é  peixe de água doce. Ao   segundo: - Pinheiro  não  é  madeira  destas  bandas. Ao tenceiro - Pomba  juriti  não  vôa  di  bando. E ao quarto cabra:- Lubisome  é  diabo  qui  vagueia  na  quaresma  i  não  nas noites  das  festas di  fogueira. i você  Zé  Roque,  eu  num  vô  isquentá  as  idéia  pra contar  e  descobrir  se  esta certo  a  conta  das  unhas  dus  seus  gatos,  mas  despois  qui  nois  invadi  Mossoró  eu  vô  precura  um  profissô  i manda  ele  fazê  esta conta  pra  eu,  i  si  você  tivé  mi  inganando ou mangano  deu, o  diabo  que  não quera tá  no  seu  coro.  Agora us  quatro, menos  ocê  Zé  Roque,  podem  si  armar  i  si  revesarem  na  guarda  du  acampamentu inté amanhã cedu, i  sem  cunversa.

Aí Mendes, esta é  mais uma das minhas mil histórias  do mundo do cangaço.
    
”Saudações Militares ”  cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira pmpr-rr.

Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo23:03:00

    Lampião era um homem muito criterioso, seus costumes, tradições, respeito, sotaques,indumentárias, superstições e religião o tornaram um ser notável perante o povo nordestino.Ele tinha vários adjetivos, era um cidadão quase perfeito, seu destino foi de sangue e morte mas, a revolta contra as injustiças que o atirou nesta vida de crime. Apesar de tudo eu sou seu fã.

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