Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
O sol do fim da
tarde, se desprendia oblíquo no horizonte
púrpuro por trás das
serranias nordestinas e a aragem
morna que vinha
dos altos sertões,
tocavam branda nas soadas faces de homens exaustos lhes
blindando com o frescor e o suave
aroma das flores de
inúmeras aroeiras que
enchiam os ares
das caatingas; exalando um perfume
indescritível. E com um propósito
eles deixam a Paraíba
para entrarem em solo
potiguar, eram bandidos liderados
por Virgolino Ferreira da Silva
vulgo “Lampião” o mais
temido cangaceiro.
Lampião o primeiro da esquerda
É introito
de junho, principio do inverno
de 1927, e
o rei do cangaço
com seus comparsas após atacarem e saquearem a cidade de Luiz Gomes, agora seguem
rumo à sede de uma
fazenda em ruínas
onde irão acampar e esperar
a chegada do bando de Massilon Leite Benevides;
que ainda encontra-se em terras cearenses.
O cangaceiro Massilon Leite
No amanhecer do
segundo dia, uma das sentinelas do acampamento alerta o
bando de Lampião com um
sinal de
que está chegando
gente, e no átimo todos se põe a postos,
mas; logo um batedor do
grupo, informa que são os
cabras da súcia
de Massilon que estão se
aproximando. Então logo após serem recebidos pelo capitão Virgolino, se
fartam na maior comilança e
bebedeira com os víveres e demais produtos
furtados na cidade de
Apodi, e assim os cabras
festejam por cinco dias
seguidos, e no sexto dia, as duas maltas
unidas deixam suas
cavalgaduras aos cuidados de um
coiteiro e seguem a pé
para um lugar escuso em meio às
caatingas onde irão pernoitar e posteriormente prosseguirem com o
audacioso plano de seus
lideres em ofensiva a Mossoró. Mas como é
de praxe, em
todos os acampamentos
militares ou paramilitares, tem
que haver algum
esquema de proteção
que lhes proporcione
segurança à noite enquanto
dormem, para não serem
surpreendidos durante o
sono. Então a escolha
destes sentinelas como
era de costume, Lampião usava
um modo lúdico e bem divertido, com o critério
do erro, isto é; todos
seguindo posicionados em
fila indiana, no percurso
da caminhada e até chegarem
ao lugar determinado
por si, o
rei do cangaço
ordenava que todos
cantassem um “repente” em
forma de trova,
mas um de
cada vez, porém
numa sequência e
sem repetir o
verso já cantado
pelo companheiro, e
aquele que errasse
a rima, ou
a coesão da
estrofe, automaticamente já
encontrava-se escalado para
a guarda noturna,
e desta forma
o próprio líder, era
quem puxava a
cantoria que era mais ou
menos assim.
Capitão:- Olê mulé
rendeira! olê mulé renda! Todos: -
tu me
ensina a fazê
rendas, que eu
te ensino a
namorá! Virgulino: *Lampião
desceu a serra,
foi vizitar juazeiro, foi
pra ver mulé
bunita, foi tombém
buscá dinheiro. *Sabino Gomes: - Pernambuco i Ceará, Piauí i Alagôa,
nunca ví coisa tão bôa,
qui nem as
morenas di lá. *Luiz Pedro :
-Acordei agoniado, di brabo
rangia us denti,
atirei na baraúna,
pensandu qui era u tenenti. *Cochete : - Minha sogra
era uma bruxa, matei ela di
garrucha, cum dois tiru a quema
bucha, nu pé duma
arvi mucha *José Roque: - Entrei nu
mato armado, di
faca, facão i cunha.,
cincoenta duzias di gato
tem dez mile e oitocentas unhas.*Massilom: - Cangaceiro
i macaco , nunca dá di
cumbina, é pipóca na
panela, é tará!
tatá! tatá! *Miudo: - Fui pesca
nu São Francisco,
mais curisco i
capitão, peguemo cinco
curimba, dois dorado
e um tubarão. *Mormaço: - Nu sertão
di Alagoa, cortei
um pau di
pinheiro, pra fazê uma
canoa, pra pesca
u dia inteiro. * Mergulhão :- Tomei água
di cacimba, no sertão
do Ceará, i
mijei no par
di butina, du
tenenti Viaja. *Eziquel :- Briga
feia no sertão, é
do teiú i
o cascavel, são dois
bicho da mulestra, qui morri
i não vai
pro céu.*José Pretinho: - Ví um
bando di jurutí,
se arriba do meu
sertão, precurando argum luga,
qui a água
corri pelu chão. *Pinga Fogo : - Eu topei cum
lubisome, na noite
de São João, gritei
por meu padim Cirço i sai num
carreirão. * - Mourão :- Mi
atraquei cum uma
quenga, lá du norti da Bahia, ela babava
e gritava, mi
zunhava i mi
mordia. *Jatobá: - Zé Sordado não
deu sorte, na
briga cum Mergulhão,
levô um chute
no rabo, e
prancho a cara
no chão. *Navieiro: - O fuzi di Lampião, ta cum
a coronha lascada, di
tantu ele da
coice, nu côco
da macacada.
Restavam ainda mais
uns trinta cangaceiros,
quando num gesto Lampião mandou cessar
a cantoria. Dai um
cangaceiro indagou:
- Mais capitão!
purquê u sinhô
mado parar , logo agora qui
a cantiga tava tão
bôa?
E o rei
do cangaço respondeu:
- Tá bão!
eu já tenho
us quatro cabras
qui vão ficar di
guarda esta noite. Chegando no
lugar de acampar eu digo u nome
deles.
E assim todos ficaram ansiosos para chegar logo
e saber quem
eram os infelizes escolhidos pelo chefe, pois
ninguém gostava de
ficar acordado a
noite toda cuidando do
acampamento, outrossim; eles
não haviam errado as
rimas, nem as trovas, isto é;
em suas
concepções mas... a
palavra do rei
é lei, então;
manda quem pode
e obedece quem
tem juízo.
Quando a
noite escura negrejou o
acampamento, que a mortalha rasgou a
cara da lua, e todos já se preparavam
para pernoitar, Lampião
chamou os cangaceiros Miúdo, Mormaço, Zé Pretinho, Pinga Fogo, José Roque e assim disse ao primeiro:
- Tubarão não é
peixe de água doce. Ao segundo: - Pinheiro não é madeira destas
bandas. Ao tenceiro - Pomba
juriti não vôa
di bando. E ao
quarto cabra:- Lubisome é diabo
qui vagueia na
quaresma i não
nas noites das festas di
fogueira. i você Zé Roque,
eu num vô
isquentá as idéia
pra contar e descobrir
se esta certo a
conta das unhas
dus seus gatos,
mas despois qui
nois invadi Mossoró
eu vô precura
um profissô i manda
ele fazê esta conta
pra eu, i
si você tivé mi inganando ou mangano deu, o
diabo que não quera tá
no seu coro. Agora us quatro, menos ocê Zé Roque, podem
si armar i
si revesarem na
guarda du acampamentu inté amanhã cedu, i sem
cunversa.
Aí Mendes, esta é mais uma das minhas mil histórias do mundo do cangaço.
”Saudações Militares ” cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira
pmpr-rr.
Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Lampião era um homem muito criterioso, seus costumes, tradições, respeito, sotaques,indumentárias, superstições e religião o tornaram um ser notável perante o povo nordestino.Ele tinha vários adjetivos, era um cidadão quase perfeito, seu destino foi de sangue e morte mas, a revolta contra as injustiças que o atirou nesta vida de crime. Apesar de tudo eu sou seu fã.
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