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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A ONÇA PINTADA E O PANTERA NEGRA DOS SERTÕES

Por: Francisco Carlos Jorge de Oliveira
Cabo- Francisco Carlos Jorge de Oliveira

Sergipe 1934, é introito de outubro e após caírem as escassas chuvas da primavera, os sete  cascas  com seu colorido perfumado adornam o  lúgubre cenário sertanejo das  inóspitas  caatingas que ao longe, visto lá do alto da serra;  apresentam-se  como  visíveis pigmentos  amarelados  entre a parda  flora nordestina. A doçura do néctar e o aroma da floração espalhados pelo vento atraem vespas, marimbondos, moscas, abelhas e outros insetos. Os cuitelos fartam-se na doçura do mel de suas flores, o sabiá gorjeia em seus galhos tenros enquanto os tatus, veados, cotias  e caititus  alimentam-se da florada  que cai cobrindo o chão. Ah! Deus!  Quanta beleza!  Presente da mãe natureza e... Deleitam-se vidas, é  grátis!

Lampião e seu respeitado bando
    
O Rei  do  Cangaço  e  seu  bando,  chegam  e  acampam próximo a  um povoado  por  nome de Alagadiço  perto da cidade  de Frei Paulo à  mais ou menos  90km da capital  Aracajú, estão  cansados com  fome e  desprovidos de munição. Os cangaceiros Mané moreno, balão, Volta Seca e Cravo Roxo liderados por Luiz Pedro   a mando do Capitão, se deslocaram  até o supracitado lugarejo com destino à propriedade de  um  determinado morador comerciante e coiteiro  por nome Antônio de Chiquinho, em  busca  de víveres  e suprimentos bélicos para  abastecer  o  bando. 


E por aquelas bandas, os asseclas  permaneceram por uns  dois dias. Lá no acampamento á tardinha, Zé Baiano  vai  buscar água  em um arroio  e  vê  no brejo  as  pegadas  de um catingueiro, rapidamente ele volta e chama Virgulino  para ir caçar  o  bicho, então seu Capitão  mais que depressa  pega o fuzil  e convida o atroz Cirilo de Ingrácias que de imediato chama e atrela  Guarany e Ligeiro, os cães de Lampião   que além  de ótimos  guardiões  eram também excelentes  caçadores. Daí os cangaceiros soltam  a parelha  no  rasto  do  veado e afoitos  saem, formando  a  corrida que  se alonga caatinga  a dentro. Bem ao  longe no sopé  de  uma  serra  os  cachorros latindo  dão  sinal de acuação, o sol já  se pós e  logo  irá  escurecer, Lampião  e  Cirilo de Ingrácias  opinam  em voltar  mas, o intrépido Zé  Baiano resolve seguir em frente sozinho, quem é  caçador  sabe que é  comum  numa  caçada a matilha  abandonar  um  rasto  e  seguir novas  pegadas, foi o que aconteceu, e  quando o facínora chegou  onde a caça encontrava-se encurralada, achou estranho pois  veado anda  pelo chão  e  os  cães  estavam rosnando e olhando para o alto, Zé Baiano curioso resolveu ir  ver o que tinha  sucedido, mas  para  subir  até  lá em  cima  teria que desfazer de  todo  seu aparato e assim  foi feito; ele só levou  presa  á cintura  seu parabellun calibre  9mm,  e se agarrando  em  raízes, galhos  e  cipós,  conseguiu escalar  a parede de pedras  e chegar até o local  que era de  superfície  plana, e havia uma gruta de passagem bem estreita entre as escarpas  rochosas. 

O cangaceiro Zé Baiano

O  cangaceiro  ouviu  um barulho   dentro da  caverna  e ao tentar  ver o  que  era, escorregou em uma  pedra solta e perdendo o equilíbrio veio  a  cair  de costas dentro  de um  buraco no interior  da  furna. Meio atordoado pelo baque, ele procurou no bolso a  caixa de  fósforos e  por seu asar  só  tinha  um  palito, ascendeu-o  então  e ao  clarear  viu  encolhidinhos num  canto, dois  filhotes  de onça  pintada e  para completar  sua desgraça  ao  procurar  sua  arma, não a encontrou  pois a havia perdido durante a queda. "-Meu Padrim Cirço! Estou ferrado!" Dai bateu o desespero, ele tentou subir e sair  do  buraco  inúmeras  vezes, e de todas as  formas  tentou, e   tentou tanto  que sangrou todos os dedos e a única  coisa  que  conseguiu,  foi cair  e pisar  em  cima de um dos gatos que  lhe cravou  os  dentes no calcanhar, então anoiteceu  e o   escuro  ficou  preto, o preto tornou-se negro  e  o  negro virou  retinto, o jeito foi  sentar num canto e ficar olhando a boca  do  buraco  esperando  pelo pior, isto é; o fim mas...ah! Que lindo! Nisso surge a lua no céu cheia  esplendor.
     
Zé Baiano com fome contempla o astro nas alturas, ele a imagina um enorme e suculento queijo redondo,  e chega até  sentir o  gostinho coalho  na  boca,  quando de repente escurece de uma vez a boca do  buraco, mas como é de  hábito  ou por  instinto; em estado natural, todos  os felídeos  entram de costas  em  suas tocas, daí quando o facínora  se prepara  para ser  devorado, rapidamente  se  posiciona  de pé encostado na  parede  de rochas,  e quando chega a hora  fatídica ele sente  a cauda   do grande  felino  tocar  suavemente  em seu  rosto soado, então se  lembra do  velho ditado: ”Quem tá  perdido  não escolhe  caminho“. 

Daí o Pantera Negra agarra  com toda  sua  força no  rabo  da  onça pintada e solta  um  enorme grito: - Bicho Diabo! A fera se assusta da um esturro bestial e num pulo violento salta para fora  da toca,  libertando assim   o  cangaceiro  que  sai   atarracado  em seu  rabo, e quando  se sentem  livres, as  duas feras apavoradas correm  para  lados opostos tomando  rumos  diferentes, o cangaceiro quebrando galhos e rebentando cipós  no  peito se embrenha em  meio á caatinga, a  onça  idem. E junto a brisa perfumada que acompanha a madrugada  enluarada, crocitando nas  baixadas em galhadas orvalhadas, pernoitam  mochos,  bacuraus, urutaus  e caburés.
       
No começo da tarde do dia seguinte, Zé Baiano quase despido chega todo lascado no acampamento, procura seu líder e o coloca a par dos  fatos. Lampião por um momento fica em silêncio depois diz:- Vá comer e descansar um pouco, a depois chame dois  cabras  pra ir cum ocê  busca seu  armamento. Mané Moreno  gargalhou  ao ouvir e ver o velho cangaceiro passar por  ele em estado deplorável, mas  logo  foi repreendido  pelo  rei  do  cangaço  que como  castigo   desferiu  um  golpe  com  o coice  do  mosquetão atingindo-lhe  bem em cima do  dedão  do pé  esquerdo, azulando lhe a  unha.
        
Zé Baiano já bem  recuperado voltou com  seus  comparsas até o local do fato, e após  localizar  seus  pertences, armando-se e com todo o cuidado subiu até á caverna para  certificar  se o  bicho  ainda estava  lá mas, para sua surpresa a  fera  e  seus  filhotes  já  haviam partido, abandonado o abrigo. Daí então o referido cangaceiro resolveu confiscar  a  toca da  onça  fazendo  daquele local  seguro a sua mais recente  moradia. E foi assim que o “Pantera  Negra “ dos sertões  encontrou  seu  famoso  esconderijo, escuso entre as rochas em  meio ás caatingas sergipanas, onde  se escondia toda vez  após praticar as mais cruéis atrocidades, espalhando o terror pelos lugares que passava.

Amigo Mendes, esta é mais uma das minhas mil historias  do  fantástico  mundo do cangaço.
‘“‘Saudações Militares”

Francisco Carlos Jorge de Oliveira – Cabo QPM 1-0 PMPR  RR

Enviado pelo cabo Francisco Carlos Jorge de Oliveira

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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