Por José Cícero*
JC
na grota de Angico- SE com o saudoso Alcino Alves Costa (ao meio) e Bosco André
Que ninguém
mais possa acreditar que o perdemos como quem perde simplesmente um pedaço
importante de uma estória, um causo, uma epopéia, uma vida inteira... Isso não!
Apressado, ele apenas partira antes de nós. Quem sabe se encantara
numa dessas bibocas aprazíveis dos sertões do mundo. Das coisas que
ele amava e defendia com unhas e dentes. Ou esteja, quem
sabe, apenas tirando um cochilo nas sombras dos arvoredos nos
caminhos que dão pras bandas da sua querida Poço Redondo ou mesmo na
sagrada grota de Angico, nas areias do imenso rio...
Com os olhos
do coração haveremos de sentir e vê-lo de novo, agora eternizado nas
palpitantes histórias que seus livros contam. Digamos então, para que todos o
saibam:
- O caipira de
Poço Redondo não morrera, apenas despertou para à eternidade!
Ele é teimoso
e ousado. De modo que nunca deixaria o sertão assim tão fácil.
E a vida por
seu turno, é assim mesmo. Um longo caminho marcado por uma sucessão
de encontros e desencontros. Nesta eterna marcha, às vezes avançamos, outras
vezes ficamos para trás quase sem nos dá conta. O que não se pode no entanto, é
nunca desistir desta árdua caminhada. Porque a marcha da vida
nunca cessa. Pois só existe um grande segredo: é caminhar e caminhar...
De Piranhas para a grota de Angico pelo rio São Francisco
Pelos menos
quando pela primeira vez (em março de 2011) segui a trilha na direção da grota
de Angico foi assim. Tive a mesma sensação de está viajando na máquina do
tempo. Um importante instante de reflexão que fiz acerca da história do cangaço
e da minha própria vida; dentro de um cenário típico da caatinga nordestina.
Ainda com meus pés molhados com as águas límpidas e divinais do São Francisco.
Tive com este rio, também um encontro dos mais fantásticos e inesquecíveis... E
ao meu lado, com seus passos lentos, o mestre Alcino Costa – o velho caipira de
Poço Redondo. Boa conversa, aqui e
acolá entrecortada por uma observação histórica, ou mesmo uma
das suas piada chistosas e apimentadas.
Aninha
da Petrolina segurava a sua sombrinha. O mestre como sempre estava feliz. E o
sorriso largo era por assim dizer, o cartão-postal da sua agradável presença.
Também ao seu lado, a sua grande amiga Juliana.
Sua alegria
contagiava todos que estavam a sua volta. Todo o ambiente ficava assim, meio
leve e fagueiro com sua presença de espírito.
E assim seguíamos no rumo da famosa grota.
Vez por outra
uma parada para um descanso rápido. Perguntei-lhe quantas vezes ele já estivera
ali percorrendo o mesmo caminho. E ele me disse: - “pra mais de vinte”. Era de
fato, um apaixonado por tudo que dizia respeito à história do cangaço em
qualquer parte do Nordeste.
Estava
visivelmente cansado pela longa caminhada dentro da caatinga sergipana. Mas não
desistira. Muitos como o próprio Severo, decidiram ficar na palhoça às margens
do rio. Oferecera-me inclusive a câmara.Fiquei assim
responsável pelo registro das imagens dali em diante.
Subíamos a
trilha íngreme do cangaço sob o sol escaldante de maio. O velho
Chico ficava para trás como um antigo guia com a obrigação de nos levar de
volta à bela e histórica cidadela de Piranhas.
Parada rápida
para mais uma “fuga” como se diz nos sertões. Mais uma piada. Uma
brincadeira. E de novo prosseguimos até a próxima parada sob a sombra rala dos
arvoredos típicos daquele bioma de Sergipe – a pátria agreste do Alcino.
Chegamos,
diríamos que todos exaustos. Os homens citadinos por mais que o queiram não
estão mais afeitos a caminharem com seus próprios pés dentro dos matos, como
assim fizeram seus ancestrais e os próprios cangaceiros dos sertões.
Na trilha para Angico JC logo atrás, Alcino Costa, Juliana, Kiko Monteiro e Ana Lúcia
A grota
estava escaldante. A estiagem a castigara muito mais que no seu entorno. Quase
nenhuma sombra se encontrava ali. Todos ficaram literalmente entre pedras. As
cactáceas dominavam aquele ambiente quase inóspito, marcado por uma histórica
de sangue e tragicidade.
Após alguns
instantes o mestre Alcino tomara a palavra. Quase meia hora de rica
apresentação ao lado da cruz que indicava aos visitantes o local exato onde
morreram o reio do cangaço e sua amada Maria. O local era de fato, a marca
literal de uma grande tragédia. E a própria natureza parecia querer
perpetuar aquela sensação imagética de tristeza absoluta. Depois,
Vilela discorreu sobre a homenagem ao soldado Adrião que também
tombara morto no mesmo local...
A caminho de Angico: Alcino, Juliana, Kiko Monteiro e Ana - Março de 2011.
Muitas
fotografias começaram a ser feitas. Quase todos queriam um registro com o
mestre Alcino ao lado do cruzeiro. Inclusive eu. Entreguei a câmara a um
dos companheiros. E lá estávamos prontos para à posteridade: Eu ao lado do
Alcino e Bosco André. Eis agora a imagem da minha própria saudade.
Revendo esta
foto hoje, sou tomado por um cipoal de lembranças que me invadem a alma, como
se fossem a própria enchente do Velho Chico rompendo sem piedade as ribanceiras
dos sertões como a nos dizer que também sente saudade do mestre
caipira de Poço Redondo.
Quando navegar
de novo as doces águas do rio São Francisco de Piranhas à Angico, sei que me
encontrarei com Alcino. E aí haveremos de botar o papo em dia... falaremos de
pesquisas, de livros, do Cariri Cangaço, da Aurora, do coronel Izaías e de
outras amenidades no sentido de aplacar nossas saudades.
(*) José
Cícero
Secretário de Cultura e Turismo - Aurora/CE.
Pesquisador do Cangaço.
Conselheiro do Cariri Cangaço.
Secretário de Cultura e Turismo - Aurora/CE.
Pesquisador do Cangaço.
Conselheiro do Cariri Cangaço.
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