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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O assalto ao trem pagador da Central do Brasil


Às 8h 30 min do dia 14 de junho de 1960, uma terça-feira, um número indeterminado de mascarados, armados de metralhadoras e revólveres de grosso calibre, no local denominado, popularmente, de "Curva da Morte", no quilômetro 71 da linha auxiliar da Central do Brasil, próxima à estação Japeri, realizou um dos mais audaciosos assaltos da crônica policial brasileira, o assalto ao trem pagador da Central do Brasil, ficando a ação, a partir dessa data, para sempre, no imaginário coletivo da maioria dos brasileiros. 
Esse trem levava o pagamento de mais de mil ferroviários dessa e outras estações, muito dinheiro àquela época, na verdade, uma fortuna. Todo esse dinheiro estava contido numa caixa de madeira, guardada pelo pagador Cícero de Carvalho e mais dois auxiliares. Para facilitar o ataque, os assaltantes dinamitaram os trilhos e fizeram descarrilar a locomotiva e o vagão. Entraram no trem disparando, levando, em poucos minutos, todo o dinheiro que se encontrava no vagão.
Esse assalto ao trem pagador da Central do Brasil surpreendeu até aos mais experientes policiais relacionados com tais tipos de crimes pela audácia e precisão. Da maneira como foi executado, não havia notícias no Brasil, não obstante a ocorrência de outros na mesma companhia, em 1948 e em 1954, ambos, porém, com modestas repercussões na opinião pública pelo pouco que representaram em termos de perdas monetárias.
Obviamente, a Central do Brasil, foi pega de surpresa, nunca passando pela cabeça de seus executivos que tal coisa pudesse acontecer. Tanto era verdade que o trem circulava todos os meses nos mesmos dias e horários e, exatamente, na mesma linha. Esse foi seu erro.
Tudo começara à altura do km 72 da linha auxiliar que levaria o trem rumo à estação de Japeri e Paes Leme, trem esse que estava levando o dinheiro – três vezes mais do que o de costume – com que pagaria, além do salário normal, mais dois meses de abono, decretado dias antes pelos diretores da Rede Ferroviária Federal. Tudo estava calmo e tranqüilo como sempre. Em um dos vagões, na realidade, no último, os funcionários encarregados do pagamento contavam e separavam o dinheiro do pagamento, que, ao invés de estar trancado dentro do cofre existente no vagão, estava em caixas e latas, segundo se soube depois, exatamente para facilitar o trabalho do pagador e de seu auxiliar.
Repentinamente, ouviram-se algumas explosões (não se soube quantas, variando segundo as fontes) seguidas de ruídos das rodas aparentemente descarriladas do trem pagador. Aos solavancos, a composição ia, aos poucos, parando, deixando perplexos, e sem saber o que acontecia os ocupantes, dos vagões do trem.
Tão logo o trem parou, uma voz imperiosa, forte, tonitruante, gritou, através de um megafone, no melhor estilo cinematográfico, aparentemente um pouco distante: "Isto é um assalto! Desçam já do trem! Se reagirem, serão mortos sem piedade." Paralelamente, ouviam-se tiros e mais tiros, enquanto as vozes se aproximavam do vagão onde se encontrava o dinheiro. O saldo do tiroteio: Eusébio Galvão, guarda-linha da Central, levou um tiro na boca; Sebastião Alvarenga Vale ficou ferido; Leonel Esteves tomou um tiro na coxa e Círio Antônio da Silva levou umas boas coronhadas. Leonel, segundo ele próprio diria mais tarde, assim que pulou do carro, levou um tiro na coxa e, com medo, escondeu-se perto dos trilhos, enquanto assistia a toda a cena. Segundo ele, devia haver uns seis assaltantes à vista; vira ele, também, um homem alto, negro, talvez com mais de 1, 80 de altura, parrudo, sotaque de nordestino, usando como máscara uma meia de mulher que lhe cobria o rosto, além de luvas pretas, que certamente era o líder, o que dava as ordens. Usando uma parabélum em cada mão, ele foi o primeiro a entrar no vagão do dinheiro (mais tarde diriam que foi o segundo). 


Seu auxiliar mais próximo, o segundo no comando, era magrinho, baixinho e muito nervoso; não se preocupou em esconder seu rosto, sempre repetindo que iria executar os trabalhadores, porque morto não falava. Foi ele que levou o pessoal do trem para perto de um barranco, repetindo sempre que iria matar todo o mundo, sendo impedido pela maioria dos companheiros. Dizia também que iria jogar bananas de dinamite na composição e mandar tudo pelos ares. Quando Leonel, escondido, ouviu essas ameaças, saiu de seu esconderijo, pedindo clemência, pelo amor de Deus, dizendo que não queria morrer. Ele pressentiu que seus dias haviam terminado; porém o chefe disse um "deixa pra lá", e fugiram carregando o dinheiro, que totalizava 27 milhões e 600 mil cruzeiros. Quando acordou, ele se encontrava em um quarto de hospital.
Círio, o das coronhadas, contou uma história semelhante; também ele se encontrava no vagão, quando os dois mascarados apareceram, um deles investindo contra ele, gritando que "muita gente vai morrer", desmaiando com as coronhadas. Eusébio Galvão, o do tiro na boca, entrou em estado de coma, conseguindo, todavia, sobreviver. Por azar, o único a morrer não era funcionário da Central do Brasil: o operário Francelino Correia, que viajava de carona, levou um tiro na testa e não resistiu, morrendo na hora.


Fonte:  

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

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