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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Lampião e o libanês - Parte I


O libanês Benjamin Abrahão ganhou o consentimento de Lampião para acompanhar o grupo e fazer um filme sobre o cangaço. Antes do primeiro take, Abrahão teve que ficar em frente à câmera para provar de que não se tratava de uma armadilha, como informou oDiário de Pernambuco (leia matéria abaixo).

O filme foi exibido uma única vez, em 1938. Logo depois, o material foi apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), do governo Vargas, e só foi redescoberto em 1957, quando só restavam dele alguns minutos.  Confira:


Em 28 de julho de 2008, o Diário de Pernambuco publicou uma reportagem especial sobre o Cangaço e sobre o filme de Abrahão:

O libanês que domou Lampião

Quarenta e duas facadas decretaram o final, no dia 9 de maio de 1938, da cinematográfica vida do libanês nascido no lugarejo chamado Zahelh e que deixou o seu país natal durante a I Guerra Mundial. Benjamin Abrahão Botto veio parar no Brasil, mais precisamente em Pernambuco, muito longe dos Estados Unidos que seria o destino preferencial na sua rota de fuga. 

Ele estabeleceu-se no Recife como mascate, vendendo inicialmente tecidos. Depois, ampliou suas ofertas para produtos vindos do Sertão, como rapadura, farinha e carne-de-sol.

No início dos anos 20, empreendeu sua primeira aventura pelo interior, chegando até Juazeiro do Norte, no Ceará, onde se tornou secretário particular do Padre Cícero, considerado “santo” pelos romeiros que afluíam de todos os lugares do Nordeste. O médico e historiador Napoleão Tavares Neves ressalta que Abrahão ganhou a simpatia do religioso com uma mentira. Ao ver aquele homem diferente no meio da multidão, Padre Cícero, beirando os 80 anos de idade, teria se emocionado ao saber queo estrangeiro de fala enrolada nascera em Belém, na Palestina, o lugar de nascimento de Jesus Cristo.

Foi ao lado do Padre Cícero que Benjamin Abrahão conheceu, no início de março de 1926, o homem que mudaria o seu destino. Lampião, o rei dos cangaceiros, tinha ido a Juazeiro do Norte para receber uma patente de Capitão e depois lutar contra a Coluna Prestes. Os caminhos do libanês e do pernambucano de Serra Talhada se cruzariam novamente em 1936, quando Benjamin Abrahão, com uma carta de apresentação do Padre Cícero (falecido dois anos antes) e equipamentos obtidos na Aba Film, sediada em Fortaleza, parte em busca do bandido mais famoso do Nordeste com um objetivo: registrá-lo em celulóide.

O capitão Virgulino Ferreira é ignorante, mas inteligência não lhe falta

Armado com uma câmera de corda Nizo Kiamo, de 35 milímetros e lente Zeiss, cinco rolos de filme e mais uma câmera fotográfica Interview Établissements André Debrie, o libanês seguiu o rastro do bando de Lampião. Graças aos contatos do coronel Audálio Tenório, chefe político de Águas Belas, ele obteve a permissão de se aproximar dos cangaceiros na Fazenda Bom Nome, em Alagoas. Desconfiado, Lampião ordena que Abrahão fique na frente do equipamento para o primeiro take, para se certificar de que não era uma armadilha.

Com todos os filmes recheados de cenas do bando, Abrahão parte para Fortaleza. Depois de revelado, o material entusiasma Adhemar Albuquerque, que cede mais material para nova sessão de filmagens na caatinga. Depois de mais cenas da vida cotidiana dos cangaceiros, era hora de divulgar a novidade. Em 27 de dezembro de 1936, o Diario de Pernambuco é o primeiro jornal do Brasil a publicar a façanha do libanês. 

Na entrevista, recheada de fotos de Lampião, Maria Bonita e outros cangaceiros, Abrahão descreve como se encontrou com o homem que a polícia de sete estados não conseguia prender ou matar por quase duas décadas. “Fiz tudo para ver se escapulia alguma frase indiscreta. O capitão é ignorante, mas inteligência não lhe falta”, afirmou Abrahão ao Diario.

A única sessão de cinema da saga cangaceira

O Cine Moderno, em Fortaleza, abrigou, no dia 2 de julho de 1938, a única exibição pública do filme de Benjamin Abrahão. Na platéia, o chefe de Polícia, Cordeiro Neto, jornalistas e convidados para uma sessão privada. 

As cenas na tela causaram revolta. Como o governo Vargas iria admitir que um bandido pudesse ser retratado como o rei da caatinga, dando ordens ao seu bando, costurando, lendo e rezando o ofício?

O material acabou apreendido pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) e só foi redescoberto em 1957. A ferrugem das latas, o mofo e a poeira destruíram mais de 90% do material coletado pelo libanês nos seus dois encontros com Lampião. Restaram apenas cerca de 11 minutos de imagens. Nelas, os temíveis cangaceiros aparecerem sorrindo, encarando a câmera, simulando combates, dançando e despreocupados com a repressão oficial.

Benjamin Abrahão já não podia mais defender sua obra. Dois meses antes da exibição de Lampeão, o Rei do Cangaço, ele foi assassinado em Águas Belas, no interior de Pernambuco, crime atribuído a um sapateiro deficiente físico enciumado pela traição da mulher com o estrangeiro. Mas muitos já estavam incomodados com as cobranças de Abrahão da ajuda financeira prometida para a realização do filme.

O próprio Lampião percebeu que a parceria com o libanês, que inclusive exibia um documento assinado pelo cangaceiro de que nenhuma outra pessoa iria filmá-lo, não havia sido uma boa idéia. O país todo agora exigia providências para se acabar com o seu reinado no interior do Nordeste. 

Boa parte das 78 fotografias tiradas por Abrahão foi usada pelos jornais e revistas da época, como o Cruzeiro. Deste material original, meia dúzia teve os negativos originais perdidos ao longo do tempo e outros 12 não podem ser manuseados, sob o risco de virarem pó. As 60 fotos restantes passaram por uma recente restauração, incluindo 24 inéditas. O trabalho foi coordenado por Ricardo Albuquerque, neto do fundador da Aba Film, Adhemar. O projeto de resgate da obra de Abrahão, batizado de Memorial do Cangaço, tem ainda a participação de Vera Ferreira, neta de Lampião, e do pesquisador Amaury Correia de Araújo.

Como fez com o Padre Cícero, que posou com o libanês segurando um exemplar de O Globo, do Rio de Janeiro, do qual era correspondente no Rio de Janeiro, Benjamin Abrahão convenceu Lampião a segurar o jornal e também uma edição do A Noite Ilustrada. Maria Bonita, por sua vez, teria sido fotografada ao lado de um cartaz do Cafiaspirina, produto da Bayer. 

Até a multinacional alemã tentou tirar proveito da popularidade dos cangaceiros, que não sabia, naquele coito do Bom Nome, em Alagoas, que já estavam com os dias contados.


CONTINUA...

Fonte: 
http://revistamuito.atarde.com.br/?p=4464


Informação: 
O texto não apresenta autor, apenas suponho que foi escrito pelo Dr. Ivanildo Silveira, já que é da página "Orkut".

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