Por: Hélio
Pólvora
Da esquerda para direita: Neném do Ouro, Luiz Pedro e Maria Bonita
Chamava-se Maria Gomes de Oliveira. Na intimidade, Maria de Déa. Lampião a tratava por Santinha. Era natural de Glória, segundo registram alguns historiadores; ou de Paulo Afonso, afirmam outros. Consta que, quando morava em Paulo Afonso ouviu relatos das façanhas de Lampião e o admirava. Sendo a família coiteira do dito cujo, vieram a conhecer-se e, assim dizem, chegaram a trocar bilhetes.
Ela queria entrar para o bando — e ele relutava. Talvez esperasse uma decisão concreta. Maria era casada com o sapateiro José Miguel da Silva.
Maria Bonita e
Zé de Neném
Talvez já não estivesse casada quando ele a levou. Foi a primeira mulher a juntar-se ao bando. Lampião teria deixado bilhete ao marido espoliado, desculpando-se. Ela ia por “vontade própria”.
Bonita? É possível para os padrões de beleza sertanejos. O apelido fora ejetado por um ex-volante apaixonado — pegou na família e ganhou mundo na versalhada popular dos cordéis. Assim a descreve Wanessa Campos, um dos muitos exegetas do cangaço: “Baixinha, de pernas grossas e roliças. Seios pequenos, cabelos finos e olhos claros”. Tinha talhe de gente fina, feições regulares — enfim, uma espécie de serena beleza rústica. Pouco demonstrou da valentia que lhe atribuem, porque em geral as mulheres da quadrilha ficavam à margem dos tiroteios.
Maria Bonita teve com Virgulino três gestações falhas e uma filha única, Expedita, entregue aos 21 dias a uma família de confiança, já com 11 filhos para criar.
Expedita
Ferreira da Silva - Filha de Lampião e Maria Bonita
Impossível a vida familiar naquele ramerrão de caminhadas estafantes, fugas
precipitadas, risco de traições, raras tréguas entrecortadas de temores. O
choro de uma criança os denunciaria. A mulher do capitão não conheceu a neta
Vera Ferreira, que hoje lhe cultiva a memória. Mas visitou a filha três vezes,
com Lampião — e a menina sabia de suas origens.
Vera
Ferreira -neta de Lampião e Maria Bonita - esposo e Expedita Ferreira
Para as
atividades cotidianas, Maria Bonita vestia-se de brim grosso, da cor da polpa
da goiaba madura, engalonado e revestido de vermelho nos punhos. Há um desses
no Museu de História Natural, no Rio de Janeiro. Nos domingos e em festas
apreciava os modelos cinza, com riscos de giz e enfeites de sinhaninha vermelha
(fita ondulada ou em ziguezague). Era mais companheira, tal e qual as demais, à
exceção de Dadá, que substituiu o seu homem quando ferido nos braços, do que
combatente.
Dadá, Corisco
seu esposo, e Benjamim Abraão - O único homem que filmou Lampião
Decerto sabiam atirar, e atiravam em caso de extrema necessidade — mas os cangaceiros as mantinham à parte. “Pouca gente sabe que de brava ela nada tinha”, atesta Vera, a neta. E completa as bondades da avó com os adjetivos agradáveis, carinhosa, bem-humorada, dada a brincadeiras e generosa. Sua presença no bando e a de outras mulheres há de ter contribuído para a redução de estupros e assassinatos de velhos e crianças.
Bando de
cangaceiros de Lampião - ao centro: Lampião e Maria Bonita
Durou nove anos o amor, sem contar o namoro na Fazenda Malhada da Caiçara, em Paulo Afonso. “Sem dúvida, Maria Bonita viveu um grande amor por Lampião”, assegura a neta. E brande nesse sentido um argumento de peso: somente um amor apaixonado forçaria a mulher casada (para uns) ou separada (dizem outros) a romper fortes preconceitos e costumes da época.
http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Caro Mendes: O meu bom-dia
ResponderExcluirPergunto-lhe: Esta foto ao lado de Zé de Nenen é mesmo Maria Bonita? Está trajada de vestimenta do cangaço, mas com a fisionomia de MENINA.
Abraços,
Antonio Oliveira - Serrinha