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sábado, 7 de setembro de 2013

E A UNIVERSIDADE DO SERTÃO VAI PARA...

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

E A UNIVERSIDADE DO SERTÃO VAI PARA...

Desde muito que se comenta sobre a criação de uma Universidade Federal no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. Somente agora, depois de muitos rogos, abaixo-assinados, caminhadas e outras manifestações, o governo federal decidiu sobre a viabilidade do projeto e a sua efetiva implantação.

Contudo, também desde muito que outro problema vem instigando o sertão em peso. Todo mundo quer saber onde será implantado o campus da Universidade do Sertão. De antemão, todos já sabem que inicialmente funcionará nas instalações do Centro Dom José Brandão de Castro, uma unidade de formação agrícola localizada no município de Poço Redondo. Mas não há certeza se haverá ampliação dos espaços para a unidade continuar funcionando no local.

E não há certeza porque três municípios sertanejos sobressaíram-se no pleito reivindicatório e agora aguardam ansiosamente para saber qual será o escolhido: Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Canindé do São Francisco. E cada um com seus motivos, suas feições próprias e seus imensuráveis desejos de ter a Universidade do Sertão instalada em seus quadrantes.


Nossa Senhora da Glória, ou Boca da Mata como originariamente conhecida, pois dali em diante verdadeiramente se adentra ao sertão, é reconhecida e valorizada como polo regional sertanejo. E nesta condição já recebeu inúmeros benefícios governamentais, bem como a instalação de órgãos públicos e privados essenciais, núcleos de ensino superior, além de contar com um comércio bastante desenvolvido para a região.

Canindé do São Francisco se caracteriza como o município sertanejo que mais progrediu nos últimos vinte anos, com reais possibilidades de desenvolvimento cada vez maiores, sem esquecer as facilidades advindas com os royalties da Hidrelétrica de Xingó. Não há que se negar o Toque de Midas do desenvolvimento ali observável, vez que a riqueza municipal cria amplas possibilidades de ali ser gerada, e em pouco tempo, uma verdadeira metrópole sertaneja.

Contudo, como ocorre também com Nossa Senhora da Glória, o município de Canindé continua padecendo com as situações de pobreza mais aviltantes, com a má utilização de recursos e um desenvolvimento sem as estratégias suficientes para minimizar o problema do crescimento com o aumento da miséria social. Ainda assim, indubitavelmente, estes são os dois municípios que possuem maiores chances de abrigar a Universidade do Sertão.

E quanto a Poço Redondo? Infelizmente, nada de bom poderemos tecer a respeito de Poço Redondo. Dificilmente uma universidade seria instalada onde nem município há mais. O que se vê e o que se tem naqueles ermos distantes são escombros de um saudoso passado, um lugar marcado por recentes administrações que o transformaram num verdadeiro mausoléu dos esquecidos de tudo. Não há saúde, não há infraestrutura, não há ruas transitáveis, não há comércio, não há qualquer perspectiva boa que se possa ter como esperança.

Seria bairrismo demais, exagerado ufanismo, pretender que um centro de ensino tão dignificante, com arcabouço pessoal e profissional do mais gabaritado, vá se instalar onde não há nem um restaurante decente na cidade, onde a praça principal mais parece um encravamento de catacumbas, onde a imundície impera em cada canto e a feira é realizada por cima das calçadas da população. Há de se lembrar que a instalação de uma universidade requer que o município possua, no mínimo, infraestrutura para recebê-la. E pergunto: Onde está a infraestrutura de Poço Redondo?


Mas há uma esperança. Como fizeram com a África do Sul e agora com o Brasil para sediar copas do mundo, quando reviraram tudo para construir, talvez possam fazer assim também com Poço Redondo. Será preciso, pois, construir outro Poço Redondo. E misturar no entulho os recentes administradores, responsáveis que são pela lastimosa situação de agora. Somente assim haverá esperança.

Gostaria muito que o meu município fosse o escolhido. Torço por isso. Mas não vivo de ilusões. É preciso reconhecer que paramos no tempo, que não significamos mais nada no contexto sertanejo. E Glória e Canindé estão milhões de anos-luz à nossa frente. E estes, que tão bem souberam se desenvolver, agora merecem ser reconhecidos. E Poço Redondo terá que renascer das cinzas. Infelizmente.

E que doa a verdade. E que açoite a verdade escondida. Mas dela não há como fugir.

Rangel Alves da Costa, nascido em 1963, é natural de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. É advogado e escritor, e reside em Aracaju. Já publicou os seguintes livros: Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos (romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea Gandavos - Contando outras histórias. Possui outros livros prontos para publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a Ficção e a História - O Cangaço Imaginário. Colabora com artigos para o Jornal do Dia, de Aracaju. Diversos sites também publicam seus textos.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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