Por: Rangel Alves
da Costa(*)
Desde muito
que se comenta sobre a criação de uma Universidade Federal no Alto Sertão
Sergipano do São Francisco. Somente agora, depois de muitos rogos,
abaixo-assinados, caminhadas e outras manifestações, o governo federal decidiu
sobre a viabilidade do projeto e a sua efetiva implantação.
Contudo,
também desde muito que outro problema vem instigando o sertão em peso. Todo mundo quer saber
onde será implantado o campus da Universidade do Sertão. De antemão, todos já
sabem que inicialmente funcionará nas instalações do Centro Dom José Brandão de
Castro, uma unidade de formação agrícola localizada no município de Poço
Redondo. Mas não há certeza se haverá ampliação dos espaços para a unidade
continuar funcionando no local.
E não há
certeza porque três municípios sertanejos sobressaíram-se no pleito
reivindicatório e agora aguardam ansiosamente para saber qual será o escolhido:
Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Canindé do São Francisco. E cada um com
seus motivos, suas feições próprias e seus imensuráveis desejos de ter a
Universidade do Sertão instalada em seus quadrantes.
Nossa Senhora
da Glória, ou Boca da Mata como originariamente conhecida, pois dali em diante
verdadeiramente se adentra ao sertão, é reconhecida e valorizada como polo
regional sertanejo. E nesta condição já recebeu inúmeros benefícios
governamentais, bem como a instalação de órgãos públicos e privados essenciais,
núcleos de ensino superior, além de contar com um comércio bastante
desenvolvido para a região.
Canindé do São
Francisco se caracteriza como o município sertanejo que mais progrediu nos
últimos vinte anos, com reais possibilidades de desenvolvimento cada vez
maiores, sem esquecer as facilidades advindas com os royalties da Hidrelétrica
de Xingó. Não há que se negar o Toque de Midas do desenvolvimento ali
observável, vez que a riqueza municipal cria amplas possibilidades de ali ser
gerada, e em pouco tempo, uma verdadeira metrópole sertaneja.
Contudo, como
ocorre também com Nossa Senhora da Glória, o município de Canindé continua
padecendo com as situações de pobreza mais aviltantes, com a má utilização de
recursos e um desenvolvimento sem as estratégias suficientes para minimizar o
problema do crescimento com o aumento da miséria social. Ainda assim,
indubitavelmente, estes são os dois municípios que possuem maiores chances de
abrigar a Universidade do Sertão.
E quanto a
Poço Redondo? Infelizmente, nada de bom poderemos tecer a respeito de Poço
Redondo. Dificilmente uma universidade seria instalada onde nem município há
mais. O que se vê e o que se tem naqueles ermos distantes são escombros de um
saudoso passado, um lugar marcado por recentes administrações que o
transformaram num verdadeiro mausoléu dos esquecidos de tudo. Não há saúde, não
há infraestrutura, não há ruas transitáveis, não há comércio, não há qualquer perspectiva
boa que se possa ter como esperança.
Seria
bairrismo demais, exagerado ufanismo, pretender que um centro de ensino tão
dignificante, com arcabouço pessoal e profissional do mais gabaritado, vá se
instalar onde não há nem um restaurante decente na cidade, onde a praça
principal mais parece um encravamento de catacumbas, onde a imundície impera em
cada canto e a feira é realizada por cima das calçadas da população. Há de se
lembrar que a instalação de uma universidade requer que o município possua, no
mínimo, infraestrutura para recebê-la. E pergunto: Onde está a infraestrutura
de Poço Redondo?
Mas há uma
esperança. Como fizeram com a África do Sul e agora com o Brasil para sediar
copas do mundo, quando reviraram tudo para construir, talvez possam fazer assim
também com Poço Redondo. Será preciso, pois, construir outro Poço Redondo. E
misturar no entulho os recentes administradores, responsáveis que são pela
lastimosa situação de agora. Somente assim haverá esperança.
Gostaria muito
que o meu município fosse o escolhido. Torço por isso. Mas não vivo de ilusões.
É preciso reconhecer que paramos no tempo, que não significamos mais nada no
contexto sertanejo. E Glória e Canindé estão milhões de anos-luz à nossa
frente. E estes, que tão bem souberam se desenvolver, agora merecem ser
reconhecidos. E Poço Redondo terá que renascer das cinzas. Infelizmente.
E que doa a
verdade. E que açoite a verdade escondida. Mas dela não há como fugir.
Rangel Alves
da Costa, nascido em 1963, é natural de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano
do São Francisco. É advogado e escritor, e reside em Aracaju. Já publicou os
seguintes livros: Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O
Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha
das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos
(romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã
(poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas
Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de
Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo –
Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos
Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea
Gandavos - Contando outras histórias. Possui outros livros prontos para
publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a
Ficção e a História - O Cangaço Imaginário. Colabora com artigos para o Jornal
do Dia, de Aracaju. Diversos sites também publicam seus textos.
Poeta e
cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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