Por: Rostand Medeiros
DURANTE A
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AS MULHERES AMERICANAS QUE VOARAM NO WASP MOSTRARAM SEU
VALOR, CORAGEM E DEDICAÇÃO. MAS TAMBÉM SOFRERAM TODA SORTE DE HUMILHAÇÕES POR
SEREM APENAS MULHERES QUE QUERIAM VOAR
Autor – Rostand
Medeiros
Em setembro de
1942, uma piloto norte-americana de 28 anos de idade chamada Nancy Harkness
Love conseguiu convencer o ATC – Air Transport Command a deixá-la treinar
outras mulheres já licenciadas como pilotos civis, em funções destinada a
pilotos militares masculinos. Elas teriam a função de levar aviões para
inúmeras bases aéreas, recém-saídos das várias fábricas então existentes em
todo os Estados Unidos.
A princípio
foram selecionadas 27 recrutas, as primeiras mulheres a pilotar aviões militares
na terra do Tio Sam e logo elas faziam parte do Women’s Auxiliary Ferrying
Squadron -WAFS. Em pouco tempo este esquadrão foi ampliado e se tornou o Women
Airforce Service Pilots – WASP, uma organização não militar dentro de um grande
esquema militar. Aquilo era na verdade um experimento.
As meninas do
WASP viveram e trabalharam em mais de 120 bases aéreas nos Estados Unidos. Elas
usavam uniformes, seguiram códigos militares rigorosos e recebiam ordens como
qualquer um que estava nas forças armadas americanas na época. Mas como sempre
ocorre quando as mulheres adentram em uma nova área de trabalho, elas sofreram
preconceitos severos.
Elas não
usufruíam de um seguro de vida e de acidentes, não tinham maiores benefícios em
caso de morte e não poderiam ser enterradas em um cemitério militar com as
honras de praxe. Elas não podiam alcançar nenhum posto de significado fora de
sua organização, nem podiam dar ordens aos homens. Havia uma lei federal que
proibia as mulheres de pilotar aviões militares em situação de combate ou fora
das fronteiras dos Estados Unidos. Mesmo assim elas foram adiante e 38 mulheres
do WASP morreram em acidentes.
No final elas
tinham o que comemorar.
O que tinha
começado como um “experimento” deu muito certo. Até o final da guerra o
programa WASP treinou quase duas mil mulheres, das quais mais de 1.000 foram
graduadas com sucesso e orgulhosamente ganharam suas “asas”, que ostentavam no
seu uniforme. Elas transportaram quase 12.650 aeronaves militares, voaram mais
de 60 milhões de quilômetros e realizaram outros inúmeros trabalhos de
pilotagem.
Quando os
Aliados ganharam o controle na Europa e os americanos voltaram para casa, o
experimento foi encerrado. As mulheres receberam ordens de abandonar seus
empregos como pilotos, para dar lugar aos homens que retornavam e logo ficou
claro que era quase impossível para elas encontrar um emprego na aviação civil
depois da guerra. Algumas poucas optaram por entrar para o exército e a grande
maioria voltou para as suas vidas anteriores.
Ao pesquisar
na Internet a vida destas aviadoras pioneiras percebi que muitas nunca mais
voltaram a pilotar, mas para a maioria delas o período da Segunda Guerra
Mundial foi onde tiveram alguns dos melhores dias de suas vidas. Cada uma
destas histórias é verdadeiramente fascinante.
Entre as que
continuaram utilizando uniformes temos o caso de Nancy Harkness Love, que
depois da criação da Força Aérea dos Estados Unidos em 1948, se tornou
tenente-coronel. Em maio de 1953 uma ex-piloto do WASP chamada Jackie Cochran,
voando um poderoso caça a jato Canadair F-86 Sabre, se tornou a primeira mulher
piloto a quebrar a barreira do som. Na década de 1960 a mesma Jackie Cochran se
envolveu com o programa espacial Mercury, para desenvolver um projeto de
treinamento para mulheres astronautas. Durante este trabalho pioneiro algumas
mulheres ultrapassaram as realizações dos astronautas do sexo masculino. Mesmo
assim a NASA decidiu cancelar este programa sem maiores explicações. Inclusive
os famosos astronautas John Glenn e Scott Carpenter foram ao congresso
americano e abertamente se colocaram contra a admissão de mulheres no programa
espacial americano.
O papel das
mulheres do WASP é quase sempre avaliado pelos historiadores normalmente como
uma simples notinha de rodapé nos volumes sobre a Segunda Guerra Mundial. O
mais incrível em relação a desativação deste programa foi a ordem do Pentágono,
o ministério da defesa dos americanos, que ordenou o fechamento dos arquivos
referentes ao trabalho destas mulheres e tornou estas informações como “classificadas”.
Por mais de 30 anos, ninguém falava, escrevia, ou aprendeu algo sobre as
mulheres do WASP e seu trabalho.
Na década de
1950 algumas destas mulheres fizeram reivindicações para receberem as mesmas
vantagens que os homens recebiam por ferimentos sofridos na guerra. Uma delas
solicitou assistência por causa da surdez provocada pelo trabalho nos aviões,
mas além de ter o beneficio negado, foi severamente repreendida por fazer o
pedido, uma vez que ela não era considerada uma veterana.
Mas essa
verdadeira infâmia realizada pelo governo americano contra estas valorosas
mulheres não parou por aí. Em 1977 um anúncio feito pela Força Aérea dos
Estados Unidos informava que 10 mulheres seriam licenciadas como as “primeiras”
a voarem em aviões militares naquele país. Isso provocou um verdadeiro rebuliço
nas meninas do WASP, agora distintas avós. Mas elas não desistiram e foram a
luta.
Reuniram
assinaturas para apoio a um projeto de lei para que concedesse as veteranas do
WASP todos os benefícios que os veteranos de guerra do sexo masculino recebiam.
O apoio veio de gente como William Randolph Hearst, então o grande magnata
da imprensa americana e de outras pessoas bem colocadas na sociedade americana.
Finalmente em
novembro de 1977 foi aprovado o projeto de lei que trazia justiça a situação
daquelas mulheres. Elas agora eram veteranas.
Em 1 de julho
de 2009, o presidente Obama concedeu a Medalha de Ouro do Congresso, a maior
honraria civil dos Estados Unidos, para as mulheres que participaram do WASP.
Estavam na cerimônia cerca de 175 veteranas ainda vivas e mais de 2.000 membros
das famílias das pilotos já falecidas .
No final de
outubro de 2012 lancei o meu livro “Eu não sou herói-A história de Emil Petr”,
que conta a história do veterano de guerra Emil Anthony Petr. Ele foi oficial
navegador de radar da USAAF –United States Army Air Force, lotado em um bimotor
quadrimotor B-24 que tinha a sua base no sul da Itália. Ainda no período de
treinamento teve contato com algumas meninas da WASP, em uma engraçada história
que reproduzi no capítulo 10, nas páginas 74 a 76.
“Sobre a
condição natural de evacuação de resíduos líquidos e sólidos, que afeta a todos
os seres humanos na face da Terra, Emil recordou um caso engraçado.
Como eles
voavam para várias partes do país, em meio aos exercícios, não era anormal
transportar algum militar em trânsito entre uma base aérea e outra. Em uma
ocasião, durante um voo que tinha como destino a base aérea de Las Vegas,
atualmente conhecida como base aérea de Nellis, para deleite da tripulação
em que Emil estava provisoriamente engajado, deram carona a algumas moças da
WASP – Women Airforce Service Pilots (Mulheres Pilotos a Serviço da Força
Aérea). Esta era uma organização criada dentro da USAAF que utilizava apenas
mulheres com a função prioritária de transportar aviões novos e usados, a
partir de suas locais de fabricação ou entre as muitas bases aéreas existentes.
Era a primeira
vez que elas voavam em uma B-24 e estavam curiosas. Já a tripulação masculina
se desdobrava para tornar a viagem mais agradável e tranquila para as garotas.
Estavam todos animados, de riso aberto e tratavam as colegas com muito
respeito.
Mas uma delas
estava com uma aparência que transparecia preocupação. A jovem não falava
muito, olhava dos lados, como procurando algo. Em solo ela não se mostrou uma
pessoa arredia, nem antipática, isso apontava que alguma coisa estava errada.
Logo se soube que ela estava “apertada”, precisando ir ao banheiro da aeronave.
Quando lhe mostraram um dos canos, a sua face mudou de preocupação para a de
terror.
Apesar de
alguns tripulantes acharem que ela deveria ir para o local destinado a este
fim, os oficiais, Emil entre eles, já arquitetavam tirar o artilheiro de ré do
seu posto e a moça iria se resolver por lá mesmo. O rapaz que ocupava este
local não gostou nem um pouco da sugestão.
Para a sorte
da jovem, nos momentos finais, chegou pelo intercomunicador a notícia que o
piloto avistou Las Vegas, o destino das garotas. Emil conta que mal a B-24
parou, a pobre coitada desceu e desabou em uma carreira para o banheiro mais
próximo, que aparentemente era masculino.
Mas na hora do
desespero, vale tudo!”
Conforme
podemos ver nestas fotos aqui apresentadas, a meninas do WASP não abriam mão de
sua feminilidade e beleza. Junto com os uniformes e equipamentos de voo,
seguiam o batom, material de maquiagem e coisas que deixam as mulheres, seres
que se não existissem tornariam a vida dos homens um verdadeiro lixo, cada vez
mais belas.
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