Por: João Paulo História
Ainda criança conheci um dos mais importantes personagens da história de Nossa Senhora das Dores. Naqueles idos da década de 1990, ouvia atentamente meu avô - o senhor Orestes Souza de Carvalho - falar de um homem que, na opinião dele e da maioria dos de sua geração, havia sido o maior administrador público que a cidade, criada em 1920, conheceu.
O argumento usado por meu avô para convencer-me de sua versão era o fato de que ninguém, até então, tinha calçado tantas ruas, construído tantas escolas e, o mais importante para ele, demonstrado tanto zelo pela coisa pública. Afinal, afirmava (e continua afirmando ainda hoje) que o então prefeito Antônio Cardoso de Oliveira se fazia presente no canteiro de obras a fiscalizar e orientar os operários para que os recursos fossem aplicados sem desperdício e com a mais alta qualidade na matéria-prima implementada. Além do mais, chamava sua atenção o fato de que o prefeito fiscalizava, pessoalmente, inclusive aplicando multas que irritavam alguns, a limpeza e a organização das ruas da cidade e do município.
Após conhecer S. Juquinha por meio da memória de meu avô, tive a oportunidade de pessoalmente ser apresentado a ele. O jovem daquela época, então, passou a chamá-lo de “general”, pois, na mente daquela criança de menos de 10 anos de idade, aquela figura de fala e fisionomia firmes só podia ser um “general”. E o “general” logo nomeou-me “capitão”.
Essa imagem, do exemplo de homem público que havia conhecido a partir do meu avô e depois nas idas e vindas pelo calçadão da Getúlio Vargas, ficou durante muito tempo em minha mente.
Ao tornar-me um catador de histórias passei a mergulhar ainda mais na trajetória desse personagem cuja história confunde-se com a da própria cidade. E essas pesquisas solidificaram ainda mais em minha mente a imagem construída na infância, a de um homem sério, honesto e zeloso pela coisa pública, querido, admirado e respeitado pelos familiares, amigos e adversários políticos.
Ele nasceu no dia 15 de novembro de 1922, na fazenda Poço dos Paus, município de Capela. Filho de Francisco Cardoso de Oliveira e dona Maria Clarice de Oliveira, aos quatro anos de idade mudou-se com a família para N. Sra.das Dores, onde seu pai havia adquirido, dois anos antes, a fazenda Riacho da Areia. Passaram, então, a residir no povoado Volta onde o menino Juquinha conheceu suas primeiras letras pelas mãos da professora Maria da Glória Santos, a mesma que se tornou patrona da escola do povoado Gentil—construída pelo prefeito Antônio Cardoso.
Ingressou na vida política em 1951, quando foi eleito vereador pelo PSD para o quadriênio 1951-1955, tendo recebido mais de 400 votos (algo expressivo tendo em vista o pequeno eleitorado da época). Em 1967, assumiu o cargo de Prefeito de N. Sra. das Dores pela ARENA-2. Exerceu o cargo durante os anos 1967 e 1971, tendo tido o apoio do Governo do Estado, na pessoa de Lourival Baptista (1967-1970), com quem a Prefeitura fez diversas parcerias com vistas à realização de benfeitorias na cidade.
Dentre as principais obras de sua administração vale destacar: construção de um Matadouro Modelo, o mais moderno do Estado na época, no bairro “Cruzeiro Velho”; reforma da Pç. da Matriz; calçamento na Av. Lourival Batista, Pç. Joel Nascimento, Rua Edézio Vieira de Melo, Pç. José Barreto de Souza, Av. Augusto Franco, dentre outras; construção do Centro de Supervisão Escolar, hoje DRE´05; reforma do Estádio “Lourival Baptista”, atual “Ariston Azevedo”; construção de escolas nos povoados Sapé, Ascenso, Gentio, Bravo Urubu e outros; e a mais importante delas, a construção do prédio do Ginásio “Tertuliano Pereira de Azevedo”, hoje Colégio Cenecista Regional “Francisco Porto”, que proporcionou a muitas gerações de dorenses o acesso ao ensino secundário, antes somente possível aos ricos que podiam pagar para seus filhos estudarem em Aracaju. Juquinha, eu sou um dos frutos dessa sua ação, pois, sou ex-aluno desta escola que você não deixou ser extinta.
Devido a essa destacada atuação como prefeito de N. Sra. das Dores foi homenageado, em 1969, no Iate Clube de Aracaju, como o melhor administrador público do Estado de Sergipe naquele ano. Sua simplicidade não o envaideceu por causa deste reconhecimento, que ele dizia ser “coisa de Lourival”. Não Juquinha, não foi “coisa de Lourival”, você mereceu esta justa homenagem.
Ele nasceu Antônio Cardoso de Oliveira, mas ficará imortalizado em nossa memória como Juquinha, simplesmente Juquinha, pois, simplicidade era uma de suas marcas, exemplo de amigo e de homem público, exemplo de honestidade. Afinal, como ele mesmo dizia: “Eu cumpri com o meu dever. E quem cumpre com seu dever merece ter valor.” E é com esta certeza de dever cumprido que até hoje Juquinha é reverenciado por todos os dorenses, independente de idade e filiação político-partidária, pois, mesmo aqueles que não vivenciaram sua administração, como eu, podem acompanhá-la por meio da memória dos mais velhos que o apontam como um dos maiores homens públicos que Dores já viu surgir, um homem leal, honesto e zeloso com a coisa publica, um homem com muitos predicados. Predicados reconhecidos até mesmo por seus adversários, os quais sempre foram tratados com urbanidade, com respeito.
Juquinha, você não morreu, os heróis não morrem, ficam para sempre vivos na memória dos homens de bem!
Obrigado pelo seu exemplo e pela sua amizade!
Descanse em Paz meu “general”, sei que neste momento você está nos braços do Pai, ao lado daqueles que você tanto amou!
Esta é uma pequena homenagem do seu amigo, o “capitão”!
N. Sra. das Dores (SE), 12 de setembro de 2012.
N. Sra. das Dores (SE), 12 de setembro de 2012.
João Paulo Araújo de Carvalho
publicado no blogdoprojetomemorias.blogspot.com
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