Seguidores

sábado, 9 de julho de 2016

QUEM COMEU PÃO COM CREME NA BODEGA DE TOINHO?

Por Jerdivan Nóbrega de Araujo

Bença Padim Toin... Me dê um dinheiro...

Então ele virava as costas para o moleque, ia até um balaio de vime cheio de pão, fazia a volta por entre a mesa onde fica a gaveta do dinheiro e as prateleiras de frios, pegava uma enorme espátula já desgastada pelo uso, enfiava num barril cheio de creme de nata e o entregava ao seu afilhado, que saia saltitante pela rua do Comércio, até virar a esquina que vai chegar à Rua de Baixo. 

― Este moleque bem que poderia ser eu...

A cena se repetia todos os dias entre 14 e 15 horas, momento em que a Rural chegava carregada de pão feito lá na padaria de seu Luiz Barbosa, na Rua do Rio. O moleque sempre ficava a espreita e não perdia um bote.


Quem foi menino nas ruas de Pombal entre as décadas de 1960 e 1970(a Bodega foi aberta em 1960) sabe do que eu estou falando. O pão com creme da Bodega de “Toinho da Bodega” nunca achou concorrente na cidade. Sentir o creme escorrer pelos cantos da boca, o pão ainda quente sendo mastigado: não dava sequer vontade de engolir para podermos eternizar aquele momento. 

Houve um tempo que era assim! De tão famoso, era comum quando dois jovens estavam discutindo, e um deles ter a certeza da sua convicção, fazer seguinte desafio: “que apostar um pão com creme da bodega de Toinho?” ou as vezes: “não faço isso nem por um pão com creme da bodega de Toinho”.

Toinho, dona Durce, sua esposa e Geraldo, seu ajudante, ou o nosso inesquecível, Lairton que vinha ajudar a Toinho a dar conta da freguesia nos dias de sábados, aonde os moradores dos sítios, principalmente da Cambôa, vinham fazer a feira e tomar um gole de Pitu com tira gosto de bolacha peteca ou carne de charque crua, para depois cuspir da porta acertando quem passava na rua. 


Ao voltarmos a Pombal fazíamos questão de entrar naquele estabelecimento comercial, nem que fosse para sentir que o tempo parou em algum momento da década de 1970, deixando que seguíssemos o nosso caminho: os mesmos móveis, as mesmas prateleiras, a balança de dois pratos e a forma do atendimento de há trinta anos, o fiado na caderneta encardida, o papel de embrulhar com um peso em cima para não ser levado pelo vento, a faca de corta o sabão em barra mais embaixo, o fumo de rolo e o fardo de carne de charque ali ao alcance das mãos e Toinho sempre com um riso nos lábios a nos receber.

Na única sombra a frente da bodega, a velha Rural verde e branca estacionada ali desde 1978 disputava a sombra com os jumentos dos fregueses que faziam suas compras.

Todo filho de Pombal fala de Toinho da Bodega com muito carinho. A Bodega atravessou a linha do tempo das nossas memórias, ao ponto de ao passarmos em frente do prédio já sem vida, ainda sentirmos o cheiro e o sabor do tão famoso pão com creme da Bodega de Toinho. 

São poucos os estabelecimentos comerciais em cidades do interior que viram marca de fantasia ou que não precisam de uma “ferramenta” para ser lembrada. A bodega de Toinho é simplesmente a Bodega de Toinho, uma referência na marcação da passagem do tempo de nós jovens de Pombal, que vivemos as décadas de 1960 e 1970 e hoje carregamos nas costa o peso da idade, mas, deixando para trás uma vida muito bem vivida.

A Bodega de Toinho foi também o “armazém”, o “barracão” que sustentou muitas famílias de Pombal, através do “fiado” que só era quitado quando o trem pagador da ”refesa”, passava para pagar os proventos dos empregados da Rede Ferroviária, da Brasil Oiticica ou da Usina de Paulo Pereira. Antes disto não havia dinheiro circulando na cidade. 

Era, portanto, a caderneta da Bodega de Toinho que sustentava o tranco.

- Zé ta faltando açúcar...

- Mande o menino pegar na Bodega de Toinho...

E o menino não voltava sem o açúcar, café ou o pão.

Era assim!

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Nenhum comentário:

Postar um comentário