Escritor Marcos Pinto
Amigo HONÓRIO,
Bom-dia.
Garimpando novidades no vetusto jornal "O MOSSOROENSE", edição de 18.03.1914, encontrei os laços de grande amizade entre FELIPE GUERRA e BENÍCIO FILHO, sendo certo que FELIPE GUERRA foi padrinho de casamento de BENÍCIO FILHO, ocorrido em 14 de Março de 1914, em Mossoró.
Escoimando-se o ocorrido antes e depois do ataque de Lampião à Mossoró, o fato de que o BENÍCIO FILHO era o Diretor Geral da Segurança Pública do RN (cargo que corresponde ao atual Secretário de Segurança), depreende-se que o mesmo deveria ter tido todo o empenho em enviar força policial para guarnecer Mossoró.
Não o fez, de sorte que o nosso bravo RODOLFO FERNANDES defendeu a cidade convocando amigos e civis voluntários.
Ora, se FELIPE GUERRA era compadre e amigo íntimo do JERÔNIMO ROSADO, e exercia influência sobre BENÍCIO FILHO, deve-se atribuir, dentre outros fatores, a essa relação, que FELIPE GUERRA, já Desembargador desde 1919 e residente em Natal, tenha traficado influência para que BENÍCIO FILHO adotasse a posição pusilânime, e que deixou muito a desejar, em relação à defesa de Mossoró.
Qualquer novidade enviarei pra Vosmincê.
Abraço.
Lembrei-me de outra particularidade: O Desembargador HORÁCIO BARRÊTO era sobrinho da esposa (Dona. ALEXANDRINA BARRÊTO) do Governador do Rio Grande do Norte JOAQUIM FERREIRA CHAVES, que deu apoio integral à perseguição policial ao Cel. JOAQUIM CORREIA DE MELO[1][1] e aos AIRES em Pau dos Ferros (Fogo de Pau dos Ferros, em 1919[2][2]), sendo certo que tanto HORÁCIO BARRÊTO como FELIPE GUERRA foram indicados e nomeados Desembargadores pelo Governador em 1919.
Outra particularidade: FELIPE GUERRA foi candidato e eleito Deputado Estadual em 1934 na chapa dos Pelabuchos, na qual constava, também, BENEDITO SALDANHA, que foi eleito, mas que, devido a um sério entrevero com o Deputado “cabra macho” PEDRO MATOS, de Santana dos Matos, em plena Assembleia Legislativa, renunciou à Deputação, temendo por sua vida, que lhe dissera em alto e bom tom que toparia qualquer parada, a qualquer hora, de homem pra homem.
Raibrito (RAIMUNDO SOARES DE BRITO) me falou que a morte de PEDRO MATOS, atribuída a uma fatalidade, se dera na ocasião em que ele retornava para Natal, quando parou em Santa Maria ou Lajes (me falha a memória) e um soldado, disfarçando que estava a limpar sua arma, permitiu um disparo que atingiu de forma certeira e fatal o Deputado “cabra macho”.
O pior é que na hora do ocorrido só estavam na calçada PEDRO MATOS e o dito Soldado que, de forma calma e sem alarde, alegou disparo acidental. Como não havia qualquer testemunha do episódio, ficou mesmo por tiro acidental.
Averiguemos, pois. Ah, sim! Em 1918 já tinha havido a ruptura do FERREIRA CHAVES com TAVARES DE LIRA, e daí em diante o Dr. ZÉ AUGUSTO BEZERA DE MEDEIROS andou vendo e sentindo veementes sinais de traição de FERREIRA CHAVES em atos governamentais, que culminou com a ruptura em 1922 (leia-se livro “OCASO E FASTÍGIO DE FERREIRA CHAVES” - escrito pelo Dr. GIL SOARES). Sugiro-lhe, também, a leitura do livro "VERTENTES", do Dr. JOÃO MARIA FURTADO, pai do ex-deputado ROBERTO FURTADO.
Boa tarde. INTÉ!
Marcos Pinto
[1][1] De BARTOLOMEU CORREIA DE MELO recebi (Honório de Medeiros), em seis de abril de 2009, às 22h29min, o seguinte e-mail:
Lourenço Correia, jovem português de Braga, exilado político, chegou ao Brasil por Fortaleza e desceu mascateando até Pau dos Ferros, onde se fixou como comerciante e depois pequeno agricultor. Nesse tempo envolveu-se com a irmã do amigo Padre Pinto, daí nascendo Joaquim Correia que, tendo a mãe morrido no parto, foi criado e educado pelo tio padre. Após estes fatos, saiu Lourenço de Pau dos Ferros para Macaíba, onde progrediu como comerciante de secos e molhados e, já quarentão, casou com Idalina Jacinta Emerenciano (irmã do Professor Zuza), com quem teve mais cinco filhos, sendo os homens: Pedro, Francisco e João Correia. Tendo seu armazém saqueado na revolta do “quebra-quilos”, quando quase foi linchado, mudou-se com a família (filhos ainda crianças) para o Ceará-Mirim onde tinha propriedades rurais e poucos anos depois faleceu. Pedro Correia foi senhor de engenho e Prefeito do Ceará-Mirim, Francisco, foi comerciante, e João (meu avô materno), oficial do Exercito.
Joaquim Correia foi deputado por mais de três décadas (considerado por Câmara Cascudo o maior tribuno do seu tempo). Não se enquadrava muito no perfil clássico de Coronel nordestino; sempre teve apenas médias posses, havendo morrido na pobreza. Era sim, dono de carisma político e senso de conciliação, somente vencidos pela violência. A versão de sua história, contada por minha avó (cunhada e confidente) confere com fontes e fatos aqui citados. Neste comentário esclareço a relação entre os Correia de Paus dos Ferros e do Ceará-Mirim pouco conhecida pelos não parentes.
[2][2] Episódio relatado em “Massilon”, de Honório de Medeiros. Diz respeito a como os FERNANDES, liderados pelo Cel. ADOLPHO FERNANDES, tomaram o poder em Pau dos Ferros, pela força das armas, do Cel. JOAQUIM CORREIA que, com sua vida ameaçada, se foi da cidade e nunca mais voltou.
Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros
Honório de Medeiros
http://honoriodemedeiros.blogspot.com.br/2012/04/bastidores-politicos-da-invasao-de.html
É isso aí. Mais um valioso achado sobre a história do cangaço. Aguarde que em breve estarei postando mais um texto por aqui. Abraços e uma Feliz Páscoa!
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