Mulheres de personalidade forte e doce, dispostas a tudo em nome do amor, inclusive à morte. Foi dessa forma que Vera Ferreira descreveu as cangaceiras durante a Aula Magna realizada no câmpus Juvino Oliveira, em Itapetinga, Bahia. A participação feminina no cangaço foi o tema trazido pela pesquisadora para a aula que antecedeu o lançamento de seu livro em comemoração ao centenário de vida de Maria Bonita, sua avó e esposa de Virgolino Lampião.
Durante a aula, Vera Ferreira traçou um histórico sobre a participação feminina no cangaço, que teve início com a entrada de Maria Bonita e outras cem mulheres para o bando, por volta do final da década de 30, motivadas pelos laços afetivos com seus companheiros. O ingresso dessas cangaceiras no movimento mudou as formas de se relacionar do grupo, segundo Ferreira, “a contribuição feminina ao cangaço foi muito importante porque quando os cangaceiros entravam no povoado as famílias se assustavam pois eram só homens, a partir do momento em que elas começaram a ver mulher no cangaço, a recepção ficou muito mais tranquila, as mães se sentiam protegidas posto que ali tinham mulheres”.
Foram lembradas ainda as duras regras as quais eram submetidas as mulheres em nome da sobrevivência do grupo, como a de conseguir outro companheiro dentro do bando em caso de viuvez, sob a pena de ser morta; e a impossibilidade de convivência com as suas crias, que eram dadas pouco depois de nascidas à famílias conhecidas. Vera mencionou em uma de suas falas sobre a amizade que manteve com Dadá, mulher de Corisco, revelando casos como o de uma cangaceira morta pelo companheiro a pauladas por conta de uma traição, o qual Dadá descreveu como “um dos momentos mais cruéis e mais difíceis que ela já passou dentro no cangaço”. Mas, entre outras coisas a pesquisadora desconstruiu o mito da mulher guerreira e que pegava em armas, afirmando categoricamente que a cangaceira não participava do combate e seu papel dentro do grupo era ser companheira do seu homem.
Em 2011, ano em que Maria Bonita completa seu centenário Vera Ferreira prometeu dedicar-se inteiramente à preservação da memória de sua avó, que nasceu na Bahia, fato que a impulsionou trazer seu projeto de construção de um Memorial para o Estado, para isso a neta de Lampião tem buscado apoio junto a iniciativa pública e privada. Quando perguntada sobre a influência da mulher do cangaço sobre as mulheres atuais ela respondeu que “são várias as mulheres antes de Maria Bonita, vindas de outros movimentos, que aconteceram e nos servem de inspiração. Imagine uma mulher nordestina que foi casada, que deixa tudo para seguir um homem e levar uma vida sofrida e de perseguição. Logo se vê que é uma mulher forte, todas elas são fortes. É importante para mim saber que minha avó influenciou as artes, literatura, cordel, música, artistas populares, artistas plásticos, e que está no pensamento dessas pessoas”, completou a pesquisadora encerrando sua participação na Semana de Integração em Itapetinga*.
*Palestra de Vera Ferreira, neta de Maria Bonita, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia- UESB , em 23/2/2011. O texto é de Érica Bonfim
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