Por: Juarez Conrado - Jornalista
"Esta história já foi postada neste blog, mas agora com mais detalhes pelo mesmo autor."
Nesse período, Lampião, que empreenderia viagem para o agreste, notou a ausência de Novo Tempo, embora afastando de logo a possibilidade do mesmo ter morrido ou sido ferido, pois, em qualquer dos casos, os coiteiros já o teriam informado.
O cangaceiro Novo Tempo
Novo Tempo, entretanto, apesar da gravidade do seu estado, lutava para deixar o local onde fora ferido, conseguindo chegar à Fazenda Paus Pretos, de Antonio Carvalho, localizada em Poço Redondo. Desmaiado, foi encontrado pelo jovem Francelino, filho de Zé Vaqueiro, que imediatamente, ao tomar conhecimento do fato, foi ao encontro do cangaceiro, em mais uma demonstração de respeito e fidelidade ao capitão Virgulino.
Com a ajuda do filho, esforçava-se pela recuperação do Novo Tempo, cujo estado de saúde, no entanto, mostrava-se cada dia pior. Diante de tal situação e temendo viessem os soldados descobri-lo aos seus cuidados, o coiteiro arquitetou um meio de livrar-se dele: matá-lo.
Sem que a mulher ou o filho soubesse do seu propósito, foi ao encontro do referido, e, nada dizendo, desfechou-lhe um tiro no ouvido.
De retorno à casa, declarou a Antonia, sua mulher, e a Fernandinho, seu filho, que iria levar uma picareta para cavar a sepultura de Novo Tempo, que não resistiu aos ferimentos e morrera durante à noite.
Surpreendeu-se, porém, ao voltar ao local do crime: Novo tempo, cujo cadáver iria sepultar, lá não se encontrava, deixando-o bastante apreensivo.
Com um misto de pânico e remorso, voltou para casa. A inquietação, contudo, não lhe permitia conciliar o sono, tal o pressentimento do resgate do bandido pelos companheiros. Novo Tempo, realmente resistira ao tiro.
Depois de escapar por um riacho, para não deixar rastro, foi localizado por duas garotas, filhas de Zé Nicaço, que dele realmente cuidou. Sob a proteção de uma tolda e o uso de poderoso xarope com várias raízes, como era comum acontecer na medicina rural, ficou praticamente recuperado.
Nicaço, dias depois, foi solicitado por Novo Tempo, irmão da cangaceira Sila, Mergulhão e Marinheiro, para comunicar o acontecido a Zé Sereno, seu cunhado. No Poço dos Porcos, coito onde se encontravam os cangaceiros, foi recebida a notícia. Logo após, chegou o companheiro que julgavam morto.
Zé Sereno foi informado, por Novo Tempo, sobre tudo o que lhe tinha acontecido, inclusive a fuga empreendida por Zé Vaqueiro, após desfechar-lhe o tiro e sair apressadamente do local, certo de tê-lo liquidado.
Sabedor da infama traição, Zé Sereno (que era chefe do grupo que Novo Tempo participava), planejou, de imediato, terrível vingança: chamou quatro dos seus comandados, inclusive os irmãos Mergulhão, e Marinheiro, para irem à casa de Zé Vaqueiro. A ordem era que o judiassem bastante e matassem-no.
Partiram sem demora.
Ao encontrarem Zé Vaqueiro, este, cinicamente, procurou aparentar calmo ante a presença dos cangaceiros, porque imaginando o pior: sua traição e seu crime foram descobertos, o que significava morte bárbara e cruel.
Quando perguntado se tinha visto Novo Tempo, insistiu em negar qualquer fato que o relacionasse ao desaparecimento do bandido.
Um integrante do grupo, porém, irritado, e impaciente, o chamou de “nego descarado”, safado sem vergonha, fio de uma puta!, logo o desmascarando: Novo Tempo não morrera, estava em companhia dos demais cangaceiros lá no coito de Zé Sereno e contara tudo. Mesmo baleado no ouvido, sobrevivera milagrosamente, vendo, inclusive, o momento em que o coiteiro saiu apressadamente do local.
Nada mais lhe restava.
Deram início à vingança: Juriti, Sabiá, Mergulhão e Marinheiro por eles amarrado, xingado e maltratado a bofetadas, chicotadas e pontapés. Obrigando a própria vítima a cortar xique-xique e mandacarus, fizeram com os espinhos desta vegetação uma cama na qual, depois de despido, Zé Vaqueiro foi jogado, morrendo pouco tempo depois.
A vingança estava incompleta, mesmo cumprida a ordem de Zé Sereno no que se referia à grande judiação recomendada.
Seu corpo inanimado e sangrando bastante em virtude dos espinhos que lhe dilaceram as carnes e, ainda jogado na cama feita pelos bandidos, foi transformado em verdadeira tocha com a fogueira provocada por um dos cangaceiros que jogou fósforos acesos nos gravetos.
Retornaram com a “alma lavada”, por ter vingado a traição do coiteiro infiel.
"Lampião Assaltos e Morte em Sergipe"
Paginas: 80 e 81
Publicado em Aracaju - Sergipe
Ano de publicação: 2010
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