Por: Rangel Alves da Costa(*)
Não costumo faltar às aulas da vida. Quando tenho de ausentar-me é para inevitavelmente cometer algum erro também na vida.
Sempre me esforcei para ser bom aluno. Ouço atentamente cada lição, guardo tudo comigo e depois vou repassando tudo no dia-a-dia. Nem sempre tiro boas notas diante da imperfeição que em mim reconheço.
Mas o que aprendo, aprendo. Se esqueço ou me omito em praticar o que sei, o que aprendi, é por culpa própria. Não sou nem nunca serei daqueles que jamais reconhecem suas limitações nem admitem errar.
Os outros que aprendam ou não suas lições. De vez em quando até posso ajudar na recordação de algum ensinamento, mas cabe a cada um ter o seu próprio mérito. Ademais, não adianta ensinar a quem nunca aprende ou simplesmente não quer aprender.
Aprendi que muita gente se julga doutora em tudo, sabida demais, invencível. Passa diante da sabedoria e não dá nem bom dia; se vê diante da ciência e ignora, cruza com o conhecimento e menospreza a sua presença.
Do meu lado, caminho sempre procurando fazer valer a lição aristotélica: só sei que nada sei. E por ser assim julgo de grande utilidade tudo que possa vir a mim como forma de sabedoria, de lição, de conhecimento.
Não há caminho melhor de se seguir do que aquele na linha divisória entre a ciência e a sabedoria popular. Daquela as doutrinas, as fórmulas, as teorias; desta um verdadeiro arcabouço de praticidade e útil sabedoria.
Com o matuto aprendo, por exemplo, sobre a medicina caseira, sobre a plantação e a colheita, sobre a importância da fé e da religiosidade. E também não encontro nos livros o fazer das manifestações populares, o folclore autêntico de um povo, sua produção cultural e artesanal.
Não obstante tais lições colhidas no percurso, jamais me abstenho de levar comigo aquelas outras já nascidas no seio familiar. De fundamento espiritual e religioso, me permitem reconhecer se estou agindo, ou não, segundo os mandamentos divinos, praticando as boas virtudes, estando no mundo sem deixar de conviver com o meu Deus.
Esse estar com o meu Deus me levou a muitas reflexões sobre sua real possibilidade. Perante a maioria das pessoas Deus é uno, é o mesmo entre todos e para todos, na sua onipresença, onisciência e onipotência. Um dia decidi que não queria um Deus assim, me aproximando até de um egoísmo religioso.
Mas não era nada disso, pois descobri que é possível ter um Deus próprio, e este mesmo sendo a divindade de todos. Explico. Ora, se o coração é um templo, talvez o nosso maior, e posso transformá-lo na minha igreja, local onde cultivo e guardo toda minha fé, então existe um Deus próprio dentro desse templo/coração.
Desse templo tão dentro de mim é que louvo a tudo que mereça ser louvado, cultuo aquilo que mereça ser cultuado, me regozijo na alma e me penitencio perante os deslizes na estrada. E é nesse templo que vivo ajoelhado pedindo proteção ao meu Deus para cada passo que dou, para tudo que faço.
De resto, só me resta ir construindo fortalezas com cada grão que encontro. Se o grão me chega aos olhos querendo feri-lo, ainda maior será a vontade de cimentar a vitória, erguendo a partir dele a certeza de que o ser humano não se curva diante de um vento ruim que logo passará.
E se for bom esse grão, se à minha presença chegar igual semente, então guardarei no meu alforje de caminhada e o semearei quando o momento mais propício chegar. E qual o melhor momento para semear o bom grão, alguém perguntaria.
Responderia que depende de cada um. Quanto a mim, sempre escolho o primeiro instante de cada manhã, nos campos que se estendem além da janela. Lá fora a vida, e eis o campo fértil para minha semente.
(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário