Por: Clerisvaldo B. Dantas - Crônica Nº 817
“A não ser, porém, as histórias e estórias, o que mais me interessava de Seu Araújo era vê-lo fazendo coronhas de espingardas repletas de xilogravuras. Perdia minutos e minutos, os livros debaixo do braço, olhando aqueles desenhos e aquelas caras que iam ficando em cada coronha. E, somente quando ele próprio me advertia com sua severidade, é que o deixava e seguia para a escola”.
Oscar, último de pé à esquerda - cabeça de "Pontaria"
Estamos dentro dos vinte e dois anos da 2º edição de “Fruta de Palma (crônicas sertanejas)” do meu escritor santanense predileto, Oscar Silva. Revendo as saborosas crônicas de Oscar (20), vejo a apresentação de L. Lavenere (Gazeta de Alagoas), o prefácio de Tadeu Rocha (Delmiro, o pioneiro de Paulo Afonso), e citações de pessoas como Câmara Cascudo, Rubem Braga e outros. Tive a honra de constar nas páginas das homenagens e reler o livro mais uma das inúmeras vezes (coisa rara de acontecer). E “Fruta de Palma” puxa pelo seu romance “Água do Panema” (não confundir com o nosso, “Ribeira do Panema”). (Foto acima, volante do sargento Aniceto).
Escritor Oscar Silva
Sargento da elite do 2º Batalhão de Polícia, para combater cangaceiros, Oscar colabora em muito com os nossos livros inéditos “Lampião em Alagoas” e “O boi, a bota e a batina; história completa de Santana do Ipanema”. Eu nem era nascido e o homem já era sargento de Zé Lucena. Morava com a avó defronte a casa de meu pai, à Rua Antônio Tavares. Vim conhecer o meu herói que, fugindo às garras da fome, tornou-se sargento, correspondente de jornal, testemunha da cabeça de Virgolino e de outros cangaceiros e expedicionário do sepultamento do corpo do bandido: “Eu vi os pedaços de Lampião”, já perto do fim. Oscar venceu na vida tornando-se sargento e depois Coletor Federal, encerrando seus dias na cidade de Toledo. O título desta crônica pertence a ele, bem como o trecho frisado que fala sobre Seu Araújo, um ferreiro santanense querido do povo e que nas horas da necessidade também fazia o papel de dentista. Da página 53 à página 56, o escritor descreve o ferreiro, dentista e contador de estórias, acusando sua morte com esse belíssimo final literário:
“O “33” formou todo alinhado e marchou para o cemitério. Os fuzis “Mauser 1895” encandeavam como espelhos com o sol do sertão. O Brigada Ribeiro puxou da espada e comandou:
─ Para funeral, preparar!... Carregar!... Apontar!... Fogo!
Os homens do Tiro de Guerra pegaram o caixão de Seu Araújo, coberto com o Pavilhão Nacional, e jogaram-no dentro da cova. Teotônia e Afonsina soluçavam em pranto. Algumas pessoas espremiam os olhos. E eu dizia comigo mesmo:
─ Lá morreu meu “Tiradentes!”
O homem era alferes da Guarda Nacional.
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/07/o-meu-tiradentes.html
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