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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Lampião e seus cangaceiros ... No sertão de Araci/BA

Por: Fernando Tito
Doma Germínia

Germinia Pinho da Silva Góes, nascida em 23 de Junho de 1928. Mora em Araci-Bahia. Foi visitada na infância pelo bando de Lampião. Relato feito em Dezembro de 2007 à Fernando Tito.
Sabendo dos rumores que Lampião estava nas redondezas, meu pai José Tibúrcio da Silva, ao viajar para Queimadas mandou que minha mãe, Marcionília Pinho da Silva, fosse dormir na casa do cunhado (Martinho Pereira da Silva) que ficava perto, eu Germinia Pinho da Silva tinha apenas seis meses de idade. José Tibúrcio da Silva como proprietário da Fazenda Paraíba, transportava daqui peles de ovinos, bovinos e caprinos que levava para Queimadas pois lá havia um curtume que era do Coronel Vicente Ferreira da Silva, que era primo de José Tibúrcio da Silva. 

José Tibúrcio, Marcionília Pinho, Germinia Pinho e José Brígido (Zeles).

Ao chegar lá ele deixava as peles para serem curtidas e as que já estavam curtidas ele pegava para trazer, completando a carga com sacas de café que vinham de Jacobina para Queimadas.
Meu pai era dono de uma tropa de oito burros, sendo seu tropeiro o Senhor Higino morador da Fazenda Roda, ao chegar aqui na Vila do Raso, como era conhecido na época, meu pai tinha que ir prestar contas ao Coronel Vicente Ferreira da Silva, pois era ele que dava os fretes para meu pai conduzir. Foi no período desta viagem que Lampião chegou em João Vieira arraial de Araci, no mês de Dezembro de 1928, procurou saber quem era fazendeiro e quem tinha tropas de burros, alguém que se dizia ser amigo de meu pai informou a Lampião sobre meu pai e Lampião mandou o cangaceiro Corisco ir até a Fazenda Paraíba guiado por esta pessoa, pois não sabiam onde era a Fazenda, ao chegar não encontrando ninguém colocaram fogo na casa.

Quando foram cinco horas da manhã, pois eu acordava muito cedo para comer, minha mãe chamou as meninas para ir tirar leite das cabras, pois eu só tomava leite de cabra, ela me levava nos braços, ao chegar na malhada ela avistou o fogo em cima da casa e logo viram os cangaceiros com os fuzis, os burros amarrados e etc.

 
Recordação

Ela respeitando os cangaceiros não seguiu, pediu que uma das meninas que ela criava que voltasse na casa do meu tio Martinho para chama-lo para poder encorajá-la, pois ele ia enfrentar eles, ao chegar trazendo consigo nos braços o garoto José Brígido da Silva (Zeles) que tinha apenas dois anos e dois meses de idade, ele se reuniu com minha mãe que estava comigo nos braços, ao se aproximar da fazenda ela avista a fumaça em cima do telhado, pois eles já tinham arrombado a porta e entrado, pegado dinheiro, peças de tecido de seda, saquearam a casa e depois pegaram querosene, que na época meu pai comprava querosene em lata, destelharam a cumeeira da casa ensoparam com o querosene e puseram fogo.

 A casa que o Bando de Lampião colocou fogo na Fazenda Paraíba

Então minha mãe disse:
- Bom dia meus senhores! Com que autoridade vocês fizeram isso?
Eles responderam:
- A ordem que nós temos é quando chegarmos a uma fazenda e encontrar fechada, colocar fogo na casa.
Ela respondendo disse:
- Fez muito errado.
Eles perguntaram:
- Cadê seu marido? Por que ele correu?
Ela disse:
- Ele não correu, está viajando, está em Queimadas.
Eles disseram:
- Nós soubemos em João Vieira que ele tem uma tropa de burros.
Ela respondeu:
- Ele está viajando com essa tropa de burros, pois ele é cargueiro.
Eles retrucaram dizendo:
- Por que a senhora correu?
Respondeu ela:
- Eu não corri apenas fui dormir na casa do meu cunhado, se eu estivesse corrido não estava aqui com um curral apartado com as cabras e o outro com o gado. Estou vindo agora porque a minha filha que carrego nos braços chorou para comer, então vir tirar leite das cabras para fazer mingau para dar a ela.
O cangaceiro disse:
- Pois, então rodei e apague o fogo, que lá nos potes tem água.
Ela falou:
- Tem mesmo, porque quem botou não foram vocês, fomos nós que botamos água nos potes.
Minha mãe entrou e apagaram o fogo.
Corisco disse:
-Viemos porque o meu chefe mandou e se encontrasse seu marido era para arrancar o caco da cabeça dele e levarmos como prova que ele estivesse morto.
Ela disse:
- Pois não vai arrancar porque ele não correu e nem está aqui, está viajando.
Então eles se despediram e voltaram para o arraial João Vieira.

Açude: Site da cidade de 
Araci/ BA

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2010_06_01_archive.html

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