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segunda-feira, 11 de março de 2013

O Lado B do Rei do Baião - Rev. Continente


O CD Luas do Gonzaga é mais um dos bons serviços prestados à música brasileira pelo pesquisador, compositor, cantor e violonista baiano Gereba Barreto. Fã e amigo do Rei do Baião, Gereba - que tem cinco discos lançados com seu grupo Bendegó e várias de suas composições gravadas por grandes intérpretes da MPB, além de ter produzido arranjos para mais de quarenta álbuns – dedicou-se a realizar um sonho de seu ídolo. Em Luas do Gonzaga, o músico e, agora, produtor resolveu deixar adormecido o legado do Mestre Lua enquanto forrozeiro e despertou outra faceta do filho de Exu. Choros, serenatas, valsas e maracatus compostos e gravados por Gonzagão, entre as décadas de 1940 e 1950, chegaram ao conhecimento do público no final de 2012, ano em que foi comemorado o centenário do Rei do Baião. As canções foram descobertas por Gereba em 1985, durante a festa dos 73 anos de Gonzaga, na sua fazenda, em Exu. Incomodado com o rótulo de ser apenas forrozeiro - sentimento compartilhado com Gereba -, Gonzaga, certamente, estaria feliz de ver suas obras inéditas em outros ritmos, feitas com qualidade e sentimento, ao alcance popular.

As músicas que compõem o álbum - um total de 15 - faziam parte do acervo de gravações instrumentais de Gonzaga, em discos de 78 rotações. Durante cinco anos, Gereba pesquisou os compositores adequados para dar letras às melodias, além de ter enfrentado dificuldades com os direitos autorais. “Decidi que estas valsas e os choros tinham que sair do anonimato e resolvi passá-los para os nossos queridos poetas Fernando Brant, Zeca Baleiro, Abel Silva, Carlos Pitta, J. Velloso, Maciel Melo, Lirinha, Bené Fonteles, Xico Bezerra e Tuzé de Abreu”, escreveu no texto que abre o encarte do disco.

Reprodução/Capa

Na vinheta de 22 segundos que principia o álbum, a voz de Luiz Gonzaga relata parte de sua trajetória quando era soldado do exército em 1939 e “se arrumou” para ir  a São Paulo em busca de uma sanfona que comprara à prestação. A audição pertence ao acervo de Gereba Barreto gravado em Exu, em 1985. Na mesma faixa, a atriz Ingra Liberato narra o que seria a abertura de um programa de rádio intitulado Treze de Dezembro, data em que Luiz Gonzaga nasceu, anunciando Luas de Gonzaga como um capítulo da vida do Rei do Baião que será apresentado aos ouvintes dali por diante.

O choro que vem em seguida, Treze de Dezembro, na voz de Gilberto Gil, é uma evocação ao nascimento da maior voz do sertão e foi composto na ocasião dos 73 anos de Gonzaga, no sertão de Pernambuco. “Era já noitinha quando Gil chegou com seu violão e um pedaço de papel de pão na mão escrito com a letra do belo choro que “seu” Luiz fez em 1952. Gil cantou com aquele swing maravilhoso que só ele faz em seu violão”, recorda Gereba no texto de apresentação do álbum.

Nada é mais inusitado do que o maracatu intitulado Rei Bantu, com fragmentos de cantigas tradicionais de Recife, recolhidas por Lenine, que gravou a faixa junto com Margareth Menezes. Em Galope além do mar e Sete Luas do Gonzaga, Gereba assina as melodias, que ganharam letras de Capinan e Ronaldo Bastos, respectivamente, além da interpretação de Jussara Silveira nesta última.

Nota-se um fio condutor feminino sobre parte das canções, a começar por Lygia, gravada por Jorge Vercillo. Depois vem Mara, com letra e voz de Zeca Baleiro, Marieta,por Jair Rodrigues, Verônica, no canto teatralizado de Lirinha e, por último, Wanda, na voz de Flávio Venturini. Todas batizadas com nomes de mulheres que, provavelmente, passaram pela vida de Gonzaga e serviram de fonte de inspiração para o mestre.

Divulgação/Gereba Barreto não descansou enquanto não trouxe à tona a versatilidae do Mestre LuaOutra faixa que merece atenção é a valsa Passeando em Paris, interpretada com primor por Elba Ramalho e agraciada com os assobios de Gereba. Pisa de mansinho vem para amaciar ainda mais o conjunto da obra. “Pise de um jeito / que mais tarde a saudade / me traga de volta / o chamego desse teu pisar”. Além da composição de Xico Bezerra, que casou perfeitamente com as vozes de Adelmario Coelho e Santanna, a melodia é um daqueles chorinhos que grudam na cabeça, conquistando o ouvinte de imediato. Ná Ozzeti, Fagner, Dominguinhos e Maciel Melo também cantam no disco.

Luas do Gonzaga é dotado de atributos que o fazem, facilmente, entrar para a lista de registros raros da música brasileira. Fundamentado nas memórias de quem conviveu com o Mestre Lua e testemunhou episódios importantes de sua vida artística, o disco ainda ressalta a musicalidade de Gonzaga antes mesmo deste ser coroado como o Rei do Baião. “Primeiro fui fã, depois para minha completa realização, tornei-me amigo e, melhor, tenho orgulho de ter possibilitado grandes realizações em sua vida como, por exemplo, tocar pela primeira vez, em 1974, para uma plateia nobre de mais de cinco mil pessoas na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador. É bom lembrar que antes disso ele só se apresentava pela perifeira de Salvador”, diz o baiano de Monte Santo.

Gereba Barreto ainda acertou em cheio na seleção de letristas e intérpretes, que, por sua vez, se apropriaram de forma bastante rica e autêntica, cada um ao seu modo, das canções compostas pelo Mestre Lua. “Percebo que essa intuição era uma espécie de destino, para dar visibilidade a uma obra do 'seu' Luiz muito pouco conhecida. Tenho ciência de que, ao abraçar este projeto e possibilitar essas parcerias de tão ilustres autores da música brasileira com o nosso Gonzagão, estou cumprindo mais uma sagrada tarefa para a cultura popular brasileira”, conclui Gereba.


Bethânia Lima
Assistente de Eventos
84. 3212-5553/3211.5304

Quando chegou carta, abri
Quando ouvi Salif Keita, dancei
Quando o olho brilhou, entendi
Quando criei asas, voei...
Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei...

Chico César

Enviado pelo escritor, poeta e pesquisador do cangaço: Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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