Por: João de Sousa Lima
Durvalina
tentou alegrar Aristéia de todas as formas possíveis, porém a dor da amiga era
por demais recente inesquecível. Moreno escalou dois cangaceiros para levarem
Aristéia onde ela escolhesse, cumprindo o prometido ao amigo Cícero Garrincha.
João e Aristeia no Capiá da Igrejinha, na casa onde ela nasceu.
O cangaceiro cruzeiro passou a perseguir Aristéia, insistindo para ficar com
ela. A cangaceira ainda abalada com a perda do marido recusou as propostas de
cruzeiro. O dinheiro tirado dos bornais de catingueira, 50 contos de réis, foi
costurado por Durvalina, na barra do vestido de Aristéia. A cangaceira pediu
pra ir se entregar, pois se voltasse para família poderia ser morta. Moreno
aceitou o pedido da companheira e mandou Boa Vista e Cruzeiro levá-la em
Santana do Ipanema, local escolhido por ela. Os cangaceiros seguiram dentro do
Máximo cuidado, escoltando Aristéia. Na fazenda pedra D’água, os cangaceiros
pegaram um rapaz e mandaram que ele levasse a mulher até a cidade, pois não
podiam se aproximar mais, pois, corriam o risco de serem presos ou mortos. O
rapaz temeroso se recusou a atender ao pedido dos cangaceiros. Boa Vista se
aproximou e jurou sangrar o garoto caso ele desobedecesse a sua ordem. O jovem
sem opção seguiu escoltando Aristéia. Em Santana do Ipanema, diante dos olhares
curiosos, Aristéia se entregou ao capitão Mané Vicente. O militar deixou a
cangaceira em sala livre onde ela passou alguns meses. O moço portador, que
havia ido apenas deixar a mulher na cidade, acabou sendo preso também. O senhor
Ismael, de Alexandre, quando viu o rapaz preso, diante do absurdo da detenção,
procurou o delegado e foi pedir para que ele soltasse o garoto, pois o conhecia
e ele era guia de uma cega. O delegado ordenou a soltura do inocente e ele
retornou pra fazenda, onde realmente servia de guia de uma senhora que vivia na
escuridão por falta de visão.
Casa do filho de Aristeia, Pedro Soares.
No dia 15 de
maio de 1938, Aristéia deu a luz ao filho dela e catingueira. O menino ganhou o
mesmo nome do pai de Aristéia, José Soares. O filho ficou aos cuidados das tias
de Aristéia. O menino depois que cresceu, ganhou o mesmo apelido que tinha o
pai, catingueira.
Aristeia sendo entrevistada para um documentário que será lançado em julho
No mês de julho, cubículo apertado, cercado por grades, Aristéia ouviu fogos de
artifício estourados nos arredores da cidade. Diante dos gritos e do barulho
formado, Aristéia e mais algumas mulheres que também estavam presas subiram em
tamboretes e avistaram, ao longe, soldados que exibiam as cabeças de Lampião,
Maria Bonita e mais alguns cangaceiros abatidos na Grota do Angico, em Sergipe.
Foi essa a única vez que Aristéia viu Lampião, apesar de terem trilhado o mesmo
caminho do cangaço.
Participação de Aristeia no centenário de Maria Bonita
Pedra Agra, Pedro Gaia e Pedro Soares, homens de recursos, tios de Aristéia,
quando ficaram sabendo da prisão da sobrinha, reuniram-se e foram solta-la. A
cangaceira ficou livre das grades, tendo apenas que permanecer na cidade, sem
poder se ausentar, ficando sob ordens do coronel Lucena, que a enviou para casa
das tias Mariinha, Zafina, Santo e Maria Grande, na fazenda Lajinha.
Aristeia participando do Cine Ceará, em Fortaleza.
Os tios de Aristéia, Pedro Gaia e Pedro Soares residiam em Palmeira dos Índios,
sendo que o primeiro tornou-se depois prefeito de Santana do Ipanema. Homens de
influência política e publica usaram seus conhecimentos para deixarem a
sobrinha sem os infortúnios das regras regidas dos detentos vindos dos diversos
bandos de cangaceiro.
Aristeia sendo entrevistada para um documentário que serviu de formação para alunos de comunicação.
O coronel Lucena disse que Aristéia podia ir ficar na casa das tias, mas que
não fosse procurar mais por cangaceiros. Aristéia respondeu que não havia mais
cangaceiros vivos, pois Lampião havia morrido. Salvo desconhecimento da
cangaceira, o seu ex chefe, o Moreno, percorria ainda, os mesmos esconderijos.
Entrevista pra TV Bahia.
Na casa das tias, Aristéia ficou durante algum tempo, depois retornou pro Capiá
da Igrejinha, seu paraíso de infância, deixando José Soares, seu filho, para
ser criado pelas tias, todas elas, moças velhas.
Aristeia é recepcionada no aeroporto de Aracaju por Érico Israel.
Catingueirinha, quando já rapaz, deixou as tias e veio morar com a mãe biológica. Tornou-se um negociante de frutas, conhecidos por todos da região, levando seus produtos para serem vendidos nas feiras das localidades vizinhas. Em uma dessas viagens, demorou chegar em casa e a sua esposa aflita saiu em busca do marido, indo encontrá-lo na beira da estrada, gemendo e todo ensanguentado falecendo no outro dia, crime realizado em 1964, por um amigo, que levou irrisória quantia, pela qual, mesmo sendo a pior qualidade de bandido, não e tira a vida da mais simples espécie.
Encontro de cangaceiros em fortaleza
O salteador foi transferido para
Maceió, depois que um dos primos de catingueirinha tentou invadir a cadeia para
vingar do bárbaro assassinato, inconformado com a barbárie da morte de um jovem
familiar.
Homenagem
na morte de Aristeia por João de Sousa Lima
Aristéia ainda vive, lúcida e forte, hoje aos cuidados do filho Pedro Soares,
lembrando com facilidade dos fatos ocorridos que deixaram marcas profundas em
seu curso de vida, sendo sempre aliviada pelo amor dos familiares e pelas
correntes de orações que lhe são dedicadas em dia especial, em uma maravilhosa
noite festiva, acontecida no Capiá da Igrejinha, em Canapí Alagoas, terras
abençoadas e que ela carrega sempre no pensamento como se fosse parte sagrada
do seu próprio corpo.
João de Sousa Lima é escritor, pesquisador, autor de 09 livros. Membro da Academia de Letras de Paulo Afonso e
da SBEC- Sociedade Brasileira de estudos do Cangaço. telefones para contato:
75-8807-4138 9101-2501 email: joaoarquivo44@bol.com.br
joao.sousalima@bol.com.br
http://www.joaodesousalima.com
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