Publicado em 03/10/2013 por Rostand Medeiros
A forma
mais comum ao qual o grande público em geral imagina um navio
fantasma, é aquele tipo de barco que vaga sobre as ondas quase flutuando, quase
sempre sem tripulantes, que desaparece nos nevoeiros, navega assustando aqueles
que os avistam e sempre surge na forma de um antigo veleiro (engraçado, mas nunca
li nada sobre alguém ter visto um navio fantasma sem velas, que fosse movido a
diesel e soltasse fumaça).
Bem, dentre
todas as histórias envolvendo naves do além, sem dúvida a mais famosa é a do
veleiro supostamente holandês chamado Flying Dutchman. Ele é temido pelos
navegantes como um presságio de desastre.
Consta que em
1680 um veleiro mercante partiu de Amsterdã em direção a Batávia (atual
Jacarta, na Indonésia) sob o comando de um capitão sem escrúpulos chamado
Hendrick Van der Decken. Durante uma tempestade, ao contornar o famoso
Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África, os fortes ventos acabaram
levando o barco para fora do curso marcado e, em um acesso de raiva, diz-se que
o capitão Van der Decken amaldiçoou a Deus e murmurou que preferia navegar até
o Juízo Final. Por causa disso ele foi forçado a continuar navegando pelos
mares do mundo para sempre. Já outros relatos dizem que o Flying
Dutchman só pode ser visto na área do Cabo da Boa Esperança, pois a
maldição não permitiu que ele alterasse o seu curso.
Independente
desta questão, afirmasse que se alguém avistar o Flying Dutchman, pode
preparar os galhinhos de arruda, arrume lá da Bahia umas velas “sete dias e
sete noites”, separe uma boa quantidade de sal grosso de Macau e se ponha a
rezar com todo fervor, pois algo terrível vai acontecer.
Possivelmente
quem primeiro relatou publicamente ter visto o Flying Dutchmanfoi a
tripulação de um veleiro britânico em 1835. Estes informaram terem visualizado
um “navio fantasma” velejando em meio a uma tempestade severa. A guarnição
britânica disse que o barco parecia estar em rota de colisão, mas então
repentinamente desapareceu. Logo o tal barco fantasma foi visto por outras
tripulações, principalmente na região do sul da África.
Para muitos o Flying
Dutchman seria apenas uma lenda, um mito, ou puro folclóre. Mas houve
informações transmitidas por pessoas que eram tidas como gente séria, de
confiança na sua época e muitos destes relatos foram corroborados por
testemunhas.
Um dos mais
famosos encontros ocorreu em 1881, quando o barco de guerraHMS Bacchante, na
companhia de outras três belonaves, realizava um grande cruzeiro de
adestramento e patrulha naval de três anos ao redor do mundo. Entre os
tripulantes estavam dois jovens cadetes navais bem especiais, eram os príncipes
George e Albert, netos da rainha Vitória.
Uma noite
fria, o príncipe George (futuro rei George V) estava de guarda no passadiço do
navio, quando ouviu o grito de um marinheiro que estava no alto de mastro,
informando a presença de um “barco estranho”. O príncipe e outro oficial também
viram a nave. No outro dia a história se espalhou no HMS Bacchante e
logo o Flying Dutchman cobrou seu preço. Mas parece que a maldição do
navio fantasma era bem seletiva, pois o futuro rei e o oficial de serviço
morreram idosos, mas o pobre coitado do marinheiro que o viu morreu poucos dias
depois ao cair do mastro principal.
Consta que
ainda em 1881 outro navio passou no caminho do Flying Dutchman. Este era
um navio mercante sueco e outro pobre marinheiro, ao avistar o navio fantasma,
igualmente despencou do seu posto no alto do mastro e morreu, mas não antes de
dizer que o navio visto era o Flying Dutchman. Dois dias depois um
segundo vigia deste mesmo barco foi enviado até o alto do mastro, viu a nave
maldita e também morreu de uma queda.
Poucos anos
depois a tripulação do barco americano Relentless, ao contornar o perigoso
Cabo da Boa Esperança, viu o Flying Dutchman com consequências
funestras. O capitão do barco americano ordenou ao seu timoneiro que se
aproximasse do navio do além para que ele pudesse dar uma olhada melhor, mas o
piloto morreu ao timão. Nas mesma noite três outros tripulantes morreram
misteriosamente.
Este tipo de
relatos, fossem mentirosos, ou não, continuou alimentando a lenda e nos anos
posteriores o Flying Dutchman foi visto novamente. Em 1911 o barco
inglês Orkney Belle se deparou com o navio fantasma e em 1914 este
foi um dos primeiros navios britânicos afundados na Primeira Guerra Mundial.
Existe o
relato que em 1939, na praia sul-africana de Glencairn, em Cape Town, mais de
sessenta pessoas que estavam tranquilamente a beira mar tomando banho de
sol, viram o Flying Dutchman seguir célere em direção à uma
barreira de pedras. Logo depois a nave desapareceu diante de todos os
presentes.
Mesmo durante
a Segunda Guerra Mundial, aqui e acolá o Flying Dutchman era visto
pelos beligerantes de todos os lados do conflito. Em 1942, de acordo com o
almirante alemão Karl Doenitz, algumas tripulações de submarinos sob seu
comando, em patrulha na região do cabo da Boa Esperança, relataram o
avistamento do Flying Dutchman.
Neste mesmo
ano, próximo a mesma área onde o príncipe George viu o Flying Dutchman em
1881, o famoso barco fantasmas foi visto por um oficial da nave de guerra
inglesa HMS Jubilee. O tripulante em questão foi o tenente Nicholas John
Turney Monsarrat, membro da Royal Naval Volunter Reserve (RNVR), que uma noite
estava de vigia e sinalizou com iluminação para um estranho veleiro, mas não
recebeu resposta. Ele escreveu no diário de bordo do seu navio que havia
visto uma escuna de uma classe desconhecida, que a mesma estava se movendo com
suas velas cheias, mas não havia vento. Após a guerra o tenente se tornou o escrito
Nicholas Monsarrat, autor de vários livros de sucesso na Inglaterra, como “The
Cruel Sea” (1951).
Bem, Monsarrat
poderia até gostar de escrever, mas em um navio, principalmente em uma nave de
guerra, o que se escreve em um diário de bordo deve ser a letra da verdade,
pois se não for gera severas punições. Ao relatar no diário de bordo o
avistamento do Flying Dutchman, o tenente Monsarrat tornou o relato
oficial. Não sei o que seus superiores acharam dele ter visto e escrito sobre
este navio fantasma, mas aparentemente a sua carreira não foi afetada.
Em 1943,
novamente na África do Sul, novamente em Cape Town, de uma de suas praias,
quatro pessoas viram o Flying Dutchman navegando e desaparecendo
atrás de uma ilha.
Em 1959, a
tripulação do navio cargueiro Staat Magelhaen viu um veleiro aparecer
na popa, em uma rota de colisão, era o Flying Dutchman. Assim que as
duas naves estavam prestes a bater, o veleiro desapareceu. Mas foi possível
avistar uma pessoa no timão, este seria o capitão Van der Decken cumprindo a
sua sentença de condenação.
Comenta-se que
o Flying Dutchman ainda é visto, mesmo nesta época de radares, GPS,
orientação por imagens de satélite etc. Principalmente pelo pessoal de serviço
no convés das modernas naves, quase sempre as três da manhã, quase sempre perto
do cabo da Boa Esperança, de preferência em meio a uma tempestade.
E então amigos
do nosso “Tok de História”, as histórias envolvendo o Flying Dutchman seriam
reais? Mentiras deslavadas? Miragens? Ilusão de ótica? Efeitos da fadiga
por ficar visualizando o escuro mar tanto tempo na madrugada e em meio a uma
tempestade?
Real ou não,
são relatos como estes que alimentam o interesse das pessoas por fatos
históricos ligados aos oceanos.
Fotos –
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Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros
http://tokdehistoria.wordpress.com/2013/10/03/flying-dutchman-o-mais-famoso-navio-fantasma
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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