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sábado, 12 de setembro de 2015

O MATADOR DE "CORISCO"

Por Sálvio Siqueira
 Subgrupo de cangaceiros comandados por Zé Sereno e Mané Moreno

... um certo acontecimento na localidade de Pia Nova, deixa familiares e vizinhos com uma profunda tristeza. Acontece que um grupo de cangaceiros assassinam sogro e genro numa ação de monstruosa criminalidade.

São executados o pai de João Torquato, José Torquato, e seu cunhado Firmino. Daí por diante a angustia, tristeza e revolta corroem o íntimo do jovem que tinha muitos planos para a vida. O sofrimento interno o faz perder toda e qualquer perspectiva de vida futura. Cabisbaixo, vendo a todo instante a imagem do pai naquele ataúde, sendo colocado dentro daquele buraco profundo... seu último adeus. Quando as lembranças da sua voz, do seu jeito, da cor do seu rosto, da maciez de seus cabelos quando, com muito amor e respeito afagava, a angustia aumenta por saber que o perdera sem motivo. Não fora um chamado de Deus. Anteciparam sua 'viagem' simplesmente por maldade. Um bando de proscritos, não só mataram seu 'véio' e seu cunhado, mas, sua alegria, esperança e sensatez.

Toda a vizinhança ficou comovida com os assassinatos do sogro e do genro naquele recanto de terra esquecido pelas autoridades. Aos poucos, um sentimento turvo, mesquinho, chegando a sentir o cheiro do sangue que havia de ser derramado, invade e toma por completo o corpo, a mente e a alma do jovem João Torquato. Virou uma obsessão vingar seu querido genitor.

Sua índole nunca fora de bandido, mesmo tendo os 'porquês'...com as razões maiores que poderia ter, não entrara nas fileiras das veredas dos fora- da - lei. Entrou para a Força Policial que dava combate aquelas feras humanas que lhe tiraram o prazer de pedir sua bênção e escutar uma resposta trazida pelas ondas sonoras geradas nas cordas vocais da garganta de seu pai.

Após entrar nas Forças Especiais, as Volantes, seu pensamento não muda nem um pouco. Continua na busca dos assassinos que mataram seu pai. Tem vários comandantes, famosos na História do Fenômeno Cangaço.

Em determinado dia, estando com o companheiro de farda Chico Amaral, veem um bando de cangaceiros. Procura, no local, um lugar adequado para enfrentar aquele grupo de bandidos. No início da 'peleja', seu parceiro se acovarda e corre, ficando só na empreitada contra os bandoleiros.


O valente João Torquato - lampiaoaceso.blogspot.com

João, vislumbrando, dentre os componentes daquele grupo, um homem muito forte, de corpanzil avantajado, que caminha a frente dos outros, de imediato vem na mente que seria o famoso bandoleiro Corisco. Então Torquato atira de ponto. Acerta em cheio aquele corpo enorme, levando-o ao seco solo sertanejo sem vida. No entanto, não se tratava do subchefe Corisco e sim do cangaceiro Guerreiro que vinha na vanguarda do grupo. Talvez como batedor por ordens do chefe. Continuando o embate, ao som do disparo, os outros cabras jogam-se por terra a fim de protegerem-se. João Torquato segura, já sozinho, o fogo. Sua posição era privilegiada, com bons anteparos naturais evitando assim, ser atingido pelas balas inimigas.


O cangaceiro Corisco - lampiaoaceso.blogspot.com

Prosseguem-se os disparos, acompanhados de frases fortes em desafios de ambos os lados. Corisco, com pouca munição, quer evitar a continuação do combate, mas, ao virar-se para adentrar na mata, escuta a voz desafiadora de João. Ora, nunca tinha corrido com medo de ninguém, por que correria daquele 'macaco'? Mas de maneira alguma. João, dosando seus disparos, consegue manter a turba distante. De repente nota um vulto movendo-se sorrateiramente, se arrastando mesmo, na direção de um de seus flancos. Se atingisse, o cangaceiro, seu  objetivo, deixaria ele em maus lençóis, pois teria que defender duas frentes ao mesmo tempo. Sabedor do perigo, faz mira, prende a respiração e faz fogo. Atingido, o bandido grita de dor e fica contorcendo-se. Vendo que seu tiro não fora fatal, protegido, chega-se para junto do bandoleiro e desfere-lhe vários golpes com o coice do mosquetão, terminando de dar cabo daquele inimigo.

Volta sua atenção para o restante do grupo, que havia tido duas baixas, Guerreiro e Rouxinho, esse último, apenas um garoto, mas, tão fatal quanto qualquer outro de seus companheiros. Ver Corisco se afastando e começa a dizer que não fuja, que fique para continuarem lutando. Como sempre, Corisco, no reflexo dos valentes, gira o corpo na intenção de atirar na direção que vinha aquela voz que tanto incomodava-o. Nesse instante, o valente volante atira. O projétil da sua arma vai de encontra ao braço direito do chefe cangaceiro. Encontrando pouco obstáculo, a bala prossegue seu caminho e atinge o outro membro superior do "Diabo Louro".


A sua companheira, a cangaceira Dadá, vira uma fera. Torna-se em um obstáculo para que o volante termine com a vida de Christino Gomes. Ela saca de sua pistola e dispara todos os projéteis na direção do soldado João Torquato. Acabam-se as balas... não há tempo nem como recarregar o carregado. Dadá agacha-se e 'cata' algumas pedras. Começa a atacar o volante arremessando pedras... o volante faz mira e aperta o gatilho, clic, também está descarregado. Rapidamente leva a mão no bornal a procura de mais balas. Encontrando-as, recarrega sua arma e quando faz pontaria, sente uma dor horrível na mão. Seus companheiros chegam e o confundem com um cangaceiro. Então atiram, acertando sua mão.

No instante que se acabam as pedras colhidas e arremessadas, Dadá volta-se na direção de Christino e o empurra para dentro da mata. Saindo rapidamente da linha de tiro.

Para mim, nesse momento deu-se fim o Cangaceiro Corisco. As sequelas desses ferimentos não deixam mais o valente alagoano combater, lutar com armas de fogo e/ou brancas. Termina, no instante em que a bala da arma do soldado volante, João Torquato, atinge seus braços, a trajetória de um cruel assassino. Daí para frente, Christino segue com suas sequelas.

Dadá, a companheira 'viúva' do cangaceiro Corisco, faz curativos nos ferimentos de Christino. A mesma relata que teve que fazer desbridamento nos tecidos necrosados. Não sabia como ele nada dizia, nem gemia, quando a pequena lâmina, cortava sua carne para o pus, junto com sangue, acumulados, pudessem sair.

Seguindo em frente, Christino tornasse um bêbado, sem autoridade para seus cabras. Aquele que causava medo, terror mesmo, ficara morto, no pé daquela laje, pelas balas da arma de João Torquato. A 'viúva' Dadá, tomou as rédeas do grupo. Impôs e ordenou. Na tolda, Sérgia cuidava com carinho e dava amor a Christino. No acampamento, Dadá ordena, grita, torce e distorce, os poucos cangaceiros que permaneceram no grupo.

Os jornais, naquela época, noticiam que Corisco iria se entregar. Christino Gomes ainda cogita uma entrega com autoridades, mas, a 'viúva' Dadá, não permite que ele se entregue. Como? Impossível, pois perdera seu cangaceiro há algum tempo atrás e, de maneira alguma, iria permitir que Christino tomasse o lugar de Corisco na História.

O jovem Christino Gomes morto - Grupo LCN


Pouco tempo depois, uma volante, comandada pelo tenente Zé Rufino, quase no ocaso de uma tarde de um dia, já se notando as primeiras sombras da noite, as quais trazem sempre os espectros daqueles que foram vítimas, tanto pelos cangaceiros como pelas volantes, quase no final do mês dedicado a Maria, mata o jovem de 38 anos, Christino Gomes da Silva Cleto.

OFÍCIO DAS ESPINGARDAS MEMORIAL CANGAÇO

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