Autor – Eduardo Benessi
Fonte – http://www.s1noticias.com/
Sim, eu já
corrigi Português dos outros, mas também já fiquei extremamente constrangido
quando descobri tardiamente que “a gente” não era “agente” e eu morro de
vontade de dizer isso para alguns amigos meus que estão por aí escrevendo
tal expressão de forma errada. Mas, no meio desse dilema, penso que embora eu
queira que todos falem um Português correto, tenho algumas ressalvas quanto a
sair por aí bancando um professor chato, e quero dividi-las com vocês:
1 – Perto do
Google todo mundo é Pasquale
É muito raro
alguém ter um Português irretocável. Na era digital temos o auxílio do
companheiro Google, e jogar na caixa de pesquisa para que o sistema deduza a
forma correta de escrever é algo tão comum, que às vezes as pessoas até se
esquecem de que todo mundo em algum momento levanta dúvidas tidas como
vergonhosas pelo senso comum, só que claro, sem ninguém saber – apenas o
Google. Posso afirmar que já vi mais da metade das pessoas que eu vejo
oprimindo de forma hipócrita quem erra Português cometendo também erros banais
de Gramática.
Fonte – http://lounge.obviousmag.org/
2 – É a
língua portuguesa que nos serve, não ao contrário
As pessoas
quando questionadas sobre o motivo de não aceitarem erros de Português atribuem
tal fato a justificativa do bonito ou feio. Ora, sabemos bem que esse tipo de
adjetivação é completamente subjetiva e relativa. Ao pensarmos que a Gramática
sofre diversas transformações, e novas normas adentram ao padrão culto e outras
são descartadas, concluímos que a mesma é apenas uma convenção, que a língua é
dinâmica, justamente para atender a uma demanda de quem se comunica. Se o
emissor consegue comunicar o que ele quer dizer mesmo errando algo e o receptor
compreende a mensagem, não existe um motivo razoável para que se crie um
reboliço em cima disso, uma vez que a ideia transmitida foi entendida
corretamente.
3 – Achar
que a forma de falar da sua cidade é a certa é preconceito linguístico.
É muito comum
os nativos de cidades grandes acharem que apenas o jeito de falar local,
incluindo o sotaque, é o correto. O Brasil é um país cheio de pluralidades,
grande em extensão, e se constitui por regiões que vivem de diferentes
influências culturais. É completamente plausível que existam regionalismos e
maneirismos na forma de comunicação que ultrapassam uma suposta obediência a
qualquer que seja o padrão linguístico de determinada cidade mais influente.
Nesse caso existe um predomínio de crença ao invés de conhecimento, e o
preconceito acaba se revelando por parâmetros irracionais.
4
– Existe muito de elitismo em julgar o Português dos outros.
Mesmo sabendo
que deficiências no Português não são uma exclusividade das camadas mais
humildes, é importante considerar que muita gente não teve o mesmo acesso que
você à Escola; que infelizmente não frequentou um Colégio porque tinha demandas
mais urgentes a serem atendidas, ou simplesmente não teve um ensino de
qualidade. Muitas das brincadeiras depreciativas em relação ao erro de
Português são relacionadas às classes sociais. Se você notar, no discurso
explicativo sobre o porquê da correção, sutilmente percebe-se que os
patrulheiros gramaticais pensam o erro de Português como algo vergonhoso por
ser “coisa de pobre”. E mesmo aos que tiveram todas as oportunidades:
quem disse que nossas gavetas cognitivas são iguais? As pessoas não possuem
memórias equivalentes, elas não aprendem de forma igual, existem palavras tidas
como bobas, que por algum motivo não são memorizadas por nós na época de
Escola, e não existe nenhuma lei que obrigue ou convencione a idade certa para
que você aprenda uma determinada palavra. Existem também as gírias, muitas
vezes tidas como tóxicas à linguagem, quando na verdade são códigos de
comunicação que servem como instrumentos de formação de identidade em um
determinado grupo ou espaço comum, e mesmo que se trate de um coloquialismo,
como dizer que essas palavras são erradas?
5 – Quando
você corrige alguém a pessoa geralmente se sente mais constrangida do que
ajudada
Eu imagino que
alguns vão generalizar e achar que estou fazendo uma apologia ao erro de
Português, quando na verdade estou apenas propondo uma reflexão sobre os
efeitos causados por quem tripudia ou alardeia em público o erro alheio. Sempre
que eu vejo gente corrigindo alguém na frente dos outros, ou postando
terrorismos em relação aos erros de linguagem no “Facebook”, só consigo
enxergar um opressor se autoafirmando e tentando diminuir o outro, apenas para ostentar
uma suposta superioridade linguística. Isso acaba mostrando apenas um cidadão
tentando provar que sabe mais, para talvez alimentar as carências do próprio
ego, dentro daquela medíocre lógica comparativa que fortalece uma
autoinsegurança em cima de uma insuficiência alheia.
6 – Você
pode aprender muita coisa, inclusive com quem diz “nóis vai”
Estamos sempre
em estado de vigília em relação ao paradoxo nos outros. Costumamos desconfiar
de um “Personal trainer” que é gordo ou de um pneumologista que fuma, ou de um
dentista com uma arcada desarmônica. Lembro-me de uma professora no meu curso
de Pedagogia – em plena Universidade de São Paulo – que flexionava frases
erradas na linha “nóis vai”, e eu me perguntava como aquela mulher estava ali
me ensinando sobre como lecionar em uma Faculdade cheia de exigências no
quesito “competência acadêmica”. A matéria era sobre “Políticas para portadores
de necessidades especiais”, e o conteúdo me foi de extrema valia, elevou meu
olhar, me fez desconstruir preconceitos, agregou-me novas perspectivas sobre a
inclusão e no fim do semestre me dei conta de que independente do Português
falho dessa docente eu havia aprendido muito sobre aquele tema. E mesmo se
sairmos da esfera dos intelectuais e pensarmos em uma pessoa de situação
humilde: você acha mesmo que só porque o seu Português é falho, não tem nada o
que aprender com ela?
7
– Haters, quem são?
Existe uma
patrulha, que costuma cultivar um tipo de hostilidade gratuita, que vai além da
importância do objeto criticado. Um “Hater” é aquele tipo de pessoa que
precisar vencer discussões, e que geralmente caça assuntos polêmicos e perde
horas elaborando discursos embasados, apenas para provar que estácerto.
Precisam chamar a atenção, mesmo que isso os transforme nos vilões da historia.
Um Hater geralmente não odeia o Português dos outros, ele apenas ama odiar
qualquer coisa.
Autor –
Eduardo Benessi
Fonte – http://www.entendaoshomens.com.br/7-questionamentos-sobre-corrigir-o-portugues-alheio-em-publico/
P.S. – Fugindo
um pouco de temas históricos e publicando um texto que achei interessante…
Extraído do blog Tok de História do historiógrafo e pesquisador do cangaço Rostand Medeiros.
http://tokdehistoria.com.br/2016/01/07/7-questionamentos-sobre-corrigir-o-portugues-alheio-em-publico/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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