Fotografia
tirada pouco tempo após ter se entregado à polícia em novembro de 1914 quando
na ocasião já trajava o uniforme de presidiário.
Antônio
Silvino se tornou o prisioneiro número 1122, da cela 35, do Raio Leste. Por
vários processos, pelos vinte anos de opção pela vida no cangaço, foi condenado
a 239 anos e 8 meses de prisão.
Na cadeia,
teve um comportamento exemplar e decidiu aprender a ler e escrever,
aproveitando as horas do dia para fazer algo útil. Nos intervalos das aulas,
fabricava abotoaduras, brincos e pequenos artefatos de crina de cavalo,
ganhando algum dinheiro com a venda desses produtos.
Passou a ser
objeto de estudos e pesquisas, principalmente de alunos da Faculdade de Direito
do Recife. Entretanto, não gostava de recordar o seu passado.
Em certa
ocasião, recebeu a visita de José Lins do Rego, um jovem advogado cujo desejo
era o de se tornar um romancista. Outras vezes, foi procurado por Luís da
Câmara Cascudo, Nilo Pereira, José Américo de Almeida, entre várias
personalidades importantes. Quanto aos jornalistas, o ex-cangaceiro se recusou,
sistematicamente, a recebê-los.
Antônio
Silvino passou vinte e três anos, 2 meses e 18 dias recluso. Mas, após esse
período, recebeu um indulto do Presidente Getúlio Vargas. Na época, ele
declarou:
Minha vida
todo mundo conhece. Vinte e três anos de reclusão alteraram o meu destino. Mas,
diga lá fora, que eu nunca roubei, nem desonrei ninguém, e, se matei alguma
pessoa, foi em defesa própria, evitando cair nas mãos de inimigos.
Saiu feliz da
vida da prisão, como um passarinho que escapou da gaiola. Tinha 62 anos de
idade.
Liberto, ele
decidiu andar pela rua Nova, olhar as vitrines, ir até à Sorveteria Pilar,
conhecer a praia de Boa Viagem, admirar Recife e Olinda. Chegou, inclusive, a
conhecer o Rio de Janeiro e o Presidente Vargas.
Desejando se
estabelecer no interior do Estado, Antônio Silvino resolveu mandar uma carta
para José Américo de Almeida, um político de renome na Paraíba, solicitando-lhe
um emprego, por conta dos "seus serviços prestados ao Nordeste". Mas,
o escritor e político jamais lhe respondeu a carta.
O ex-detento
viaja para o sertão da Paraíba. Ficou vagando de cidade em cidade, se
hospedando nas casas de alguns amigos antigos, porém jamais obteve recursos
financeiros para comprar a tão sonhada pequena propriedade e dedicar-se de
corpo e alma à agricultura.
Terminou indo
viver com uma prima, Teodulina Alves Cavalcanti, que morava com o seu esposo em
uma casa modesta na rua Arrojado Lisboa, em Campina Grande, na Paraíba.
Considerando-se
que Antônio Silvino permaneceu vinte anos arriscando a vida e enfrentando o
perigo no cotidiano, é possível afirmar que o ex-cangaceiro teve uma vida
longa. Lampião, por exemplo, foi morto em Sergipe no ano de 1938, aos 41 anos
de idade. Na ocasião de sua morte, Antônio Silvino estava cumprindo a sua pena
e, quando indagado acerca do ocorrido, ele declarou:
Não me causou
admiração porque a vida é incerta, mas a morte é certa. Não me interessam mais
esses assuntos de cangaço, pois sou um homem regenerado. Só quero, agora,
descanso na minha velhice.
Do perigoso
cangaceiro que fora no passado, ele era hoje um homem idoso, mas que possuía
uma mente esclarecida e respondia bem à todas as perguntas que lhe faziam.
Dele, foi esse depoimento:
Nunca tive
medo de morrer em pé, quando campeava pelo Nordeste, mas, agora, deitado, não
quero morrer, se bem que não tenha medo do inferno, pois se para lá for,
disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer. Pro céu é que eu
não quero ir, pois, ao que me consta, lá não há campo pra luta, nem lugar para
Capitão de mato como sempre fui. Quero viver mais um pouco, mesmo com esta
agonia que estou sentindo, com esta falta de ar, com esta falta de conforto.
E acrescentou:
A justiça dos
homens me condenou. A justiça da Revolução de 30 me absolveu, dando-me
liberdade. A doença agora me prende e eu tenho que aguardar o pronunciamento da
justiça de Deus. É ela maior de que todas as justiças da terra.
Antônio
Silvino teve oito filhos: José, Manoel, José Batista, José Morais, Severino,
Severina, Isaura e Damiana. Ele morreu na casa de sua prima Teodulina, no dia
30 de julho de 1944. Ao lado de uma multidão de curiosos, procurando vê-lo pela
última vez, o ex-cangaceiro foi enterrado no Cemitério de Campina Grande. Uma
senhora idosa depositou uma coroa de flores sobre a sua sepultura e, uma jovem,
um cacho de angélicas e cravos.
Passados dois
anos e meio do seu falecimento, nenhum familiar apareceu para a retirada dos
ossos de Antônio Silvino. Sem alternativa, os coveiros enterram os restos
mortais em um outro lugar do cemitério. Hoje, não se sabe mais aonde.
O que sobrou
do Capitão Antônio Silvino, do célebre Rifle de Ouro, se perdeu, em meio a
tantas outras ossadas que nunca foram reclamadas. A sua fama, no entanto,
registrada pelos poetas populares em literatura de cordel e, por muitos
intelectuais, em vários livros e periódicos, permanece viva e intacta em todo o
Brasil.
Fonte Texto: VAINSENCHER, Semira Adler. Antônio Silvino. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife.
Foto: O MALHO
Geraldo
Antônio de Souza Júnior (Administrador)
Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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