Entrevista feita por Aderbal
Nogueira e Paulo
Gastão
Lembro que um dia recebi a visita do coronel Antônio de
Brito, uns Homens ricos, da nossa Região, depois dos cumprimentos, pediram que
ele se sentasse e eu, intrigado, lhe disse:
- Rapaz, não estou vendo nenhum
soldado.
Ele informou que haviam saído por volta da meia noite para atacar uns
cangaceiros numa fazenda (Fazenda Pico) que distava 20 km de onde estávamos.
Eu
disse:
- Tá certo.
Em poucos minutos chegou o genro dele com um telegrama de
Olhos D’água do Casado. No telegrama dizia:
- Atacamos os cangaceiros, estamos
com uma cangaceira baleada (Inacinha) e tenha cuidado aí.
A ex-cangaceira Inacinha
Com esse último
termo usado, que pedia atenção, chegamos à conclusão que os cangaceiros
estariam vindo pra onde estávamos. O dia estava começando (8:30h. pra 9:00h.)
minha patroa (esposa, Tereza) estava de resguardo, pedi pra o Coronel Antônio
me aguardar enquanto eu iria na minha casa. Peguei três caixas de munição, com
50 cartuchos em cada e fui em casa.
No caminho o povo estava assustado. Cheguei
em minha casa e antes mesmo de sair de lá, chegou num cavalo um amigo, com a
seguinte mensagem:
- Eu vim avisar a vocês que os cangaceiros estão vindo pra
cá, já mataram Lelinho, Antônio Tirana e ficaram matando uma família aqui na
região, bem próximo daqui.
E logo quando os cangaceiros chegaram, na entrada do
nosso arraial, pegaram um compadre meu, o Abílio. Pessoas amigas pediram que
ele não saísse, por conta dos ataques de cangaceiros, mas ele foi teimoso. Eu
disse pra minha mãe:
- O negócio não está bom!
Ela respondeu:
- Você está
assustado com esse monte de munição.
Eu rebati:
- Assustado não, estou é
prevenido. Coloque a empregada da casa (Elenira) pra cuidar da criança, (com
poucos dias de nascida) e a senhora vá rezar.
- Ela ainda disse pra mim:
- Meu
filho, não se entregue.
Respondi:
- Fique tranquila, eu não me entrego! (risos).
Fechei as portas do sobrado e deixei apenas uma entrada disponível e
logo ouvir os tiros, eu lamentei:
- O ensaio da dança tá preparado.
Pedi que
ninguém colocasse a cabeça do lado de fora. Bem próximo da minha casa pegaram
um rapazinho de 16 anos. A mãe ainda pediu pra o Corisco que não matasse seu
filho. Depois desceram em direção ao comércio, decididos a tocar fogo nos
estabelecimentos.
Fiquei preocupado, pois eu era dono de armazéns. Até gasolina
eu vendia. O local era movimentado, por conta de uma estrada de ferro. Eu
estava municiado, com bala na agulha e toda a expectativa que gira em torno de
uma situação igual a essa.
Logo chegou um rapaz amigo (Romeu) e disse que
queria ficar comigo, ele estava indo pra casa do prefeito, (João Correia de
Brito), mas o cerco estava se fechando e não tinha tempo pra isso.
Um fato
inusitado: O delegado (Cipriano) e mais oito Homens armados estavam passando
correndo. Eu o convidei para entrar na minha casa. Ele disse que não, pois
estava era correndo para o outro lado do rio. Estava fugindo dos cangaceiros,
com a desculpa de que estavam com pouca munição.
Eu, zangado, rebati:
- Você
está correndo porque é covarde delegado, valente não pode amolecer.
Depois
veio um cabra, metido à valente, (o Artur) correndo, com medo da coisa. A
mulher dele vinha atrás. Ela falava errado e gritava por ele:
- Autur, Autur, tú
vai me deixar.
Ele respondeu:
- Pode ficar. E o “pau comendo”.
Quando ele
disse assim, eu brinquei, dizendo:
- Tá muito bom.
O Artur ia acompanhado de um
negão de prenome Cícero Martins, os dois foram pro lado do morro e de lá deram
um tiro, os ânimos se acirraram, os soldados começaram a trocar tiros com os
cangaceiros e a fumaceira subiu.
O coronel Antônio entrou na água (havia um rio
próximo) com roupa e tudo, na intenção de ir pro outro lado, o rio estava cheio
e no meio dele Antônio estava exausto, quase sucumbindo, quando resgataram ele,
em uma canoa.
Nem o tenente quis peitar os cangaceiros, ele disse:
- O diabo é
quem vai lá.
Foi muito sangue derramado, durante essa batalha, o povo morrendo
a poucos metros e as mulheres rezavam um rosário pelis almas mortas, mas
rezavam ligeiro, apressadas... (risos). Foi muito dramático tudo isso...
Fonte: facebook
Página: Coronel Delmiro Gouveia
Link: https://www.facebook.com/coroneldelmiro.gouveia/posts/1687673631509775
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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