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quinta-feira, 10 de março de 2016

ENTREVISTA DE CHIQUINHO RODRIGUES - A INVASÃO DE PIRANHAS POR GATO E GRUPO DE CORISCO

Entrevista feita por Aderbal Nogueira e Paulo Gastão

Lembro que um dia recebi a visita do coronel Antônio de Brito, uns Homens ricos, da nossa Região, depois dos cumprimentos, pediram que ele se sentasse e eu, intrigado, lhe disse:

- Rapaz, não estou vendo nenhum soldado.

Ele informou que haviam saído por volta da meia noite para atacar uns cangaceiros numa fazenda (Fazenda Pico) que distava 20 km de onde estávamos. 

Eu disse: 

- Tá certo. 

Em poucos minutos chegou o genro dele com um telegrama de Olhos D’água do Casado. No telegrama dizia: 

- Atacamos os cangaceiros, estamos com uma cangaceira baleada (Inacinha) e tenha cuidado aí. 

A ex-cangaceira Inacinha

Com esse último termo usado, que pedia atenção, chegamos à conclusão que os cangaceiros estariam vindo pra onde estávamos. O dia estava começando (8:30h. pra 9:00h.) minha patroa (esposa, Tereza) estava de resguardo, pedi pra o Coronel Antônio me aguardar enquanto eu iria na minha casa. Peguei três caixas de munição, com 50 cartuchos em cada e fui em casa. 

No caminho o povo estava assustado. Cheguei em minha casa e antes mesmo de sair de lá, chegou num cavalo um amigo, com a seguinte mensagem:

- Eu vim avisar a vocês que os cangaceiros estão vindo pra cá, já mataram Lelinho, Antônio Tirana e ficaram matando uma família aqui na região, bem próximo daqui.

E logo quando os cangaceiros chegaram, na entrada do nosso arraial, pegaram um compadre meu, o Abílio. Pessoas amigas pediram que ele não saísse, por conta dos ataques de cangaceiros, mas ele foi teimoso. Eu disse pra minha mãe: 

- O negócio não está bom! 

Ela respondeu: 

- Você está assustado com esse monte de munição. 

Eu rebati:

- Assustado não, estou é prevenido. Coloque a empregada da casa (Elenira) pra cuidar da criança, (com poucos dias de nascida) e a senhora vá rezar.

- Ela ainda disse pra mim: 

- Meu filho, não se entregue. 

Respondi: 

- Fique tranquila, eu não me entrego! (risos). 

Fechei as portas do sobrado e deixei apenas uma entrada disponível e logo ouvir os tiros, eu lamentei: 

- O ensaio da dança tá preparado. 

Pedi que ninguém colocasse a cabeça do lado de fora. Bem próximo da minha casa pegaram um rapazinho de 16 anos. A mãe ainda pediu pra o Corisco que não matasse seu filho. Depois desceram em direção ao comércio, decididos a tocar fogo nos estabelecimentos. 

Fiquei preocupado, pois eu era dono de armazéns. Até gasolina eu vendia. O local era movimentado, por conta de uma estrada de ferro. Eu estava municiado, com bala na agulha e toda a expectativa que gira em torno de uma situação igual a essa. 

Logo chegou um rapaz amigo (Romeu) e disse que queria ficar comigo, ele estava indo pra casa do prefeito, (João Correia de Brito), mas o cerco estava se fechando e não tinha tempo pra isso. 

Um fato inusitado: O delegado (Cipriano) e mais oito Homens armados estavam passando correndo. Eu o convidei para entrar na minha casa. Ele disse que não, pois estava era correndo para o outro lado do rio. Estava fugindo dos cangaceiros, com a desculpa de que estavam com pouca munição. 

Eu, zangado, rebati: 

- Você está correndo porque é covarde delegado, valente não pode amolecer. 

Depois veio um cabra, metido à valente, (o Artur) correndo, com medo da coisa. A mulher dele vinha atrás. Ela falava errado e gritava por ele: 

- Autur, Autur, tú vai me deixar. 

Ele respondeu:

- Pode ficar. E o “pau comendo”. 

Quando ele disse assim, eu brinquei, dizendo: 

- Tá muito bom. 

O Artur ia acompanhado de um negão de prenome Cícero Martins, os dois foram pro lado do morro e de lá deram um tiro, os ânimos se acirraram, os soldados começaram a trocar tiros com os cangaceiros e a fumaceira subiu. 

O coronel Antônio entrou na água (havia um rio próximo) com roupa e tudo, na intenção de ir pro outro lado, o rio estava cheio e no meio dele Antônio estava exausto, quase sucumbindo, quando resgataram ele, em uma canoa. 

Nem o tenente quis peitar os cangaceiros, ele disse: 

- O diabo é quem vai lá. 

Foi muito sangue derramado, durante essa batalha, o povo morrendo a poucos metros e as mulheres rezavam um rosário pelis almas mortas, mas rezavam ligeiro, apressadas... (risos). Foi muito dramático tudo isso...

Fonte: facebook
Página: Coronel Delmiro Gouveia
Link: https://www.facebook.com/coroneldelmiro.gouveia/posts/1687673631509775

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