Por Andrea
Linhares (*)
A eleição
municipal de 15 de novembro de 1968 foi a segunda experiência eleitoral da
ARENA e MDB no Brasil após as eleições gerais de 1966. Foi, portanto, o
primeiro teste do novo sistema bipartidário implantado após 1965 na disputa
pelo controle das estruturas políticas e partidárias municipais brasileiras.
Disputa talvez
não seja o termo correto: a governista ARENA fora concebida para ser um partido
majoritário e para isso a cúpula militar lançou mão, entre 1965 e 1979, de uma
série de recursos jurídicos que imputaram ao novo sistema partidário o caráter
de “artificial”.
Nas eleições
de 1966 o governo atingira o propósito. Das 409 cadeiras em disputa na Câmara
Federal, 277 foram preenchidas pelos quadros arenistas e 132 por emedebistas.
Na renovação de 22 vagas ao Senado (1/3), apenas quatro foram conquistadas pelo
MDB.
Em 1968 não
foi diferente. Se as capitais e áreas mais urbanizadas mostravam-se propensas a
votar nos quadros da oposição - e para resolver tal problema foram suspensas as
eleições nas capitais - em grande parte da municipalidade, especialmente nos
chamados grotões eleitorais, os quadros da ARENA, majoritariamente constituídos
por ex-udenistas e pessedistas, (re)encontravam suas bases sagradas de
legitimidade política sob a nova moldura institucional bipartidária.
Como em 1966,
a acomodação dos conflitos e interesses divergentes no interior da legenda
governista foi possível graças ao instituto das sublegendas partidárias introduzido
pelo Ato Complementar nº 26, de 29 de novembro de 1966 e posteriormente
regulamentado através da Lei nº 5.453, em 14 de Junho de 1968.
No Rio Grande
do Norte, embora o MDB já estivesse fundado em 1968, somente a partir de 1969 o
partido estruturaria de modo mais consistente suas bases municipais, com a ida
dos herdeiros políticos de Aluízio Alves para a legenda.
Desse modo, se
podemos falar em competição nas eleições municipais de 1968 para
preenchimento dos cargos de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores devemos
frisar que tal competição se deu não entre ARENA e MDB mas sim entre as
sublegendas da ARENA: ARENA 1 ou ARENA Vermelha, comandada pelo então senador
Dinarte Mariz, oriundo da UDN, e ARENA 2 ou ARENA Verde, comandada pelo
ex-pessedista Aluízio Alves.
A eleição
municipal de 1968 representou, portanto, mais um capítulo da rivalidade
política e pessoal entre Mariz e Alves estabelecida desde a eleição de 1960,
quando Dinarte preteriu o nome de Aluízio Alves ao governo do Estado em favor
do nome do advogado Djalma Marinho.
Aluízio Alves
à frente da ARENA 2 embarcou na legenda governista por questões de
sobrevivência e fez oposição à Dinarte no interior da ARENA até 1969, quando
teve seus direitos políticos cassados por dez anos.
Entretanto,
apesar de sua posição secundária na ARENA, Aluízio possuía consideráveis
recursos políticos para enfrentar seu adversário: tinha no comando do executivo
estadual o governador aliado Monsenhor Walfredo Gurgel. Tinha também como
trunfo seu irmão, Agnelo Alves no comando do executivo da capital. Tinha também
sob seu comando - e sua pena - a Tribuna do Norte, principal veículo de
comunicação do estado.
Devido à
grande irregularidade do calendário eleitoral desde a década de 1950, alguns
municípios já haviam preenchido as vagas de prefeitos e noutros a Câmara também
havia sido renovada desde 1965.
Considerando
os 150 municípios então existentes no Rio Grande do Norte, em 1968 ocorreram
disputas para o executivo e para o legislativo municipal, em 134 municípios, em
88 deles para escolha de prefeitos.
A ARENA,
embora vitoriosa nos 88 municípios, fragmentou-se perigosamente com o pleito: a
ARENA vermelha conquistou 33 prefeituras e a ARENA Verde, ligada a Aluízio
obteve vitória em 55 municípios.
Em Mossoró, um
capítulo à parte: na segunda cidade do Estado o governismo oficial, representado
pelo candidato Vingt-un Rosado, apoiado por Dinarte, com 11.034 votos, perdeu
para o candidato de Aluízio, o então deputado Antonio Rodrigues de Carvalho,
com 11.132 votos.
Aluízio Alves,
mobilizando mais uma vez a simbologia da “cruzada da esperança”, realizou
vários comícios na praça do Codó com destaque para as famosas vigílias em cima
do “caminhão da Esperança”. Seu candidato, dentro do marketing verde,
ficou conhecido como “capim” e o forte e corpulento adversário Vingt-un Rosado,
como o “Touro” (outra explicação para a alcunha deriva do fato de que no jogo
do bicho o número 21 corresponde ao touro).
A disputa foi
intensa durante toda a campanha eleitoral entre “o Touro e o Capim”.
Aluízio Alves e sua verve impregnou na cidade a expressão: “é o capim comadre”,
“é o capim compadre”, “é o capim meu filho”... E ao final o capim venceu
o touro, tirando da família Rosado, pela primeira vez, o controle da capital do
Oeste. O novo prefeito comprometia-se também a “marchar com a cruzada da
esperança em 1970”.
Em 1º de
dezembro de 1968 a Tribuna do Norte publicava o balanço político-partidário no
Estado, com os novos prefeitos eleitos e aqueles eleitos anteriormente e com
mandato até 1970: 45 prefeituras sob influência da ARENA Vermelha e 104 sob
influência da ARENA Verde.
Não é difícil
entender porque Dinarte Mariz, com apoio de aliados, articulou junto aos
militares a cassação dos direitos políticos de Aluízio Alves e Agnelo Alves em
1969. Para além dos ressentimentos o que parecia estar em jogo era o controle
da ARENA e da liderança do governismo federal no Rio Grande do Norte.
· Professora
do Depto de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte –
UERN.
Sob tal
adjetivo não pode se esconder, entretanto, a intensa dinâmica de disputas, o
progressivo controle do domínio do modus operandi de se mobilizar apoio
eleitoral e o aprendizado sobre como lidar com as contradições da política por
parte daqueles que participaram desses processos ve madeiradisputas
eletivas
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzagueano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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