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domingo, 31 de julho de 2016

LAMPIÃO NO CINEMA.

Do acervo do pesquisador do cangaço Guilherme Machado

1937 - No Cine Moderno, durante a projeção restrita do Filme "Lampeão".

O INÍCIO DO CINEMA CEARENSE E A PRESENÇA DE ADHEMAR ALBUQUERQUE E BENJAMIN ABRAHÃO.

Não pretendíamos transcender, nesse trabalho, à recuperação do documento histórico relativo aos exibidores que trouxeram o cinema à nossa cidade e desenvolveram suas atividades como empresários desse gênero de arte.

Sentimo-nos obrigados, entretanto, a dedicar um registro especial ao pioneirismo na produção cinematográfica em nosso Estado, estabelecendo uma referência dos primeiros tempos e para lembrar que aqui medrou o entusiasmo pela produção cinematográfica, mesmo em condições adversas.


Não há muitas fontes sobre aqueles que ousaram realizar os primeiros filmes. Em nossas pesquisas nas fontes primárias, muitas delas destruídas pelo trágico incêndio na Biblioteca Pública do Estado do Ceará, encontramos, entretanto, a notícia sobre o primeiro filme feito no Ceará.

No dia 1º de abril de 1910, o Cinema Rio Branco, exibia o documentário "A Procissão dos Passos", com o destaque na publicidade para o fato de ser este "o 1º filme rodado no Ceará". Além dessa informação, não temos nenhum outro esclarecimento. Desconhecemos quem o teria feito, se algum conterrâneo ou algum cineasta visitante que aqui tenha aportado. Um segundo filme produzido em nossa terra, igualmente sem os créditos de seus realizadores, foi o "Ceará Jornal", exibido no Cinema Riche, no dia 26 de fevereiro de 1919.

Não há dúvidas, entretanto, quanto ao pioneirismo na produção documental, de qualidade técnica, do cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque, nascido em Fortaleza, em 19 de julho de 1892, e falecido, aos 83 anos de idade, no dia 17 de julho de 1975. Paralelo à sua atividade artística, foi funcionário por 40 anos do Bank of London. Aqui constituiu família, casando-se com Lasthenia Campos de Albuquerque, tendo o casal nove filhos: Francisco Afonso, Antonio Afonso, Paulo Afonso, Pedro Afonso, Suzana, Lastenia, Maria Lucíola, Marta e Luis Afonso.

Sua criatividade artística teria uma manifestação inicial no campo da fotografia e do cinema, com destaque para a criação da Aba Film, empreendimento definitivo no ramo de fotografia, e que alcança até hoje, sob a direção de seu filho, Antônio Albuquerque, o melhor padrão de qualidade.

Tem-se o ano de 1924 como a data de lançamento de seus primeiros filmes, documentários em 35 milimetros, de aspectos e acontecimentos da Fortaleza e cidades interioranas. De fato a imprensa local registra com louvor o esforço de Adhemar Albuquerque, comentando o filme "Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará (1924, 2 atos, realização de Adhemar Albuquerque, com o seguinte conteúdo: Fases dos jogos: Ceará 4 x 2 Maranhenses; Maranhenses 2 x 0 América; Maranhenses 2 x 1 Fortaleza; Guarany 4 x 0 Maranhenses), por ele lançado no Cinema Moderno, no dia 15 de outubro de 1924. Sobre essa estréia, publicou o "Correio do Ceará" (16.10.1924):

UM "FILM" CEARENSE

O "Cine Moderno", exhibiu, na noite de hontem, um "film" cearense, esmeradamente confeccionado, producto exclusivo do esforço louvável, da intelligencia artística e do bom gosto do nosso patrício, o sr. Adhemar Albuquerque.

Trata-se de uma interessante cinta cinematographica, dividida em 2 partes, da temporada maranhense de "foot-ball", no Ceará, contendo phases dos jogos que se realizaram, flagrantes das archibancadas e do movimento de "torcedores" e gentis "torcedoras" para o "field" da "A.D.C.", no Alagadiço, onde se feriram as pugnas. Há ainda outros aspectos do desembarque dos desportistas visitantes, dos "teams", captains, juizes e auxiliares na temporada.

As photographias são de todo escellentes. O "film" é nitido, circumstanciado e de passagens bem apanhadas.

É digno de nota ter sido tal "film" todo e inteiramente confeccionado nesta capital por aquelle nosso conterraneo que se torna, assim, merecedor de encomios.

A cinta ainda será exhibida no proximo domingo, nos cinemas "Moderno" e "Majestic".

A produção do pioneiro Adhemar Albuquerque passa a ser uma constante nas décadas de 20 e 30, tendo na fase inicial da produção silenciosa, como o maior destaque para "O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" (1925, documentário, 5 partes), cujo lançamento ocorreu no Cinema Moderno, a 8 de dezembro de 1925, com reapresentação no mesmo cinema a 11 de fevereiro de 1927. A publicidade dizia: "Um filme que mostra os costumes do nosso povo, cenas de nossa terra... O Juazeiro- Vistas da Cidade - Dias de feira - O movimento das ruas - O Padre Cícero - Os devotos - A multidão - A excursão Presidencial - Paisagens - Trechos da Viagem - O açude de Cedro - Fortaleza - Panorama da Cidade - A chegada do Padre Macêdo - Ponte de desembarque - Crato - Barbalha - Quixadá, etc."

Ainda, nos primeiros anos da produção de Adhemar Albuquerque, identificamos os seguintes lançamentos: "A Festa no Iracema" (1926, Aba Film, curiosos aspectos das danças na noite de 31 de dezembro) - exibido no Moderno a 16.5.1926; "A Indústria de Sal no Ceará" (1926, Aba Film, 1 ato) - exibido no Moderno a 16.5.26; "A Visita do Dr. Washington Luís ao Ceará" (1926, Aba Film, 2 atos; "completas reportagens cinematográficas da "Aba Film", desde a chegada do vapor "Pará", a estadia e visitas de sua Excia., até ser recebido em Paraíba") -Moderno, 12 10.26; "A Parada Militar de 7 de Setembro" (1926, Aba Film, 1 ato; "23º Batalhão de Caçadores, Polícia Estadual, Colégio Militar, Tiro de Guerra nº 38, Liceu do Ceará, Colégios: Cearense, Castelo, São Luiz, etc.") - Moderno 12.10.26; "Inauguração dos Filtros no Açude do Acarape do Meio para Abastecimento d'água em Fortaleza" (1927, Aba Film, 1 ato, natural) - Moderno, 1.1.28; "O Banquete Oferecido pela Colônia Cearense, no Rio, ao Dr. Matos Peixoto" (1 ato) e "A Visita de S.Excia. Dr. Matos Peixoto ao cais do Porto, no Rio" (1 ato) - exibidos também no Cinema Moderno, a 18.7.28.

Os filmes brasileiros e as produções cearenses despertam ainda mais a atenção do nosso público, quando ocorre a transição do cinema silencioso para o sonoro. A população de Fortaleza é tomada de vivo entusiasmo quando o Moderno, exibe a 29 de novembro de 1931, o filme sonoro "Cousas Nossas" (1931, Byington & Cia., São Paulo, produtor Alberto Byinton Jr., dirção Wallace Downey, fotografia Rudolph Lustig e Adalberto Kemeny, som Moacir Fenelon, com Procópio Ferreira. Paraguaçu, Batista Jr., Jaime Redondo, Arnaldo Pescuma, Jararaca e Ratinho, Estefânia de Macêdo, e outros). No ano seguinte ao lançamento desse grande êxito de bilheteria e de crítica que foi "Cousas Nossas", aparece no "Correio do Ceará" (31.3.1933) a seguinte apreciação sobre as realizações brasileiras e da Aba Film, em particular, com algumas expressivas sugestões:

https://www.facebook.com/groups/ocangaco/permalink/1274286629251119/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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