Do acervo do pesquisador do cangaço Guilherme Machado
1937 - No Cine
Moderno, durante a projeção restrita do Filme "Lampeão".
O INÍCIO DO
CINEMA CEARENSE E A PRESENÇA DE ADHEMAR ALBUQUERQUE E BENJAMIN ABRAHÃO.
Não
pretendíamos transcender, nesse trabalho, à recuperação do documento histórico
relativo aos exibidores que trouxeram o cinema à nossa cidade e desenvolveram
suas atividades como empresários desse gênero de arte.
Sentimo-nos
obrigados, entretanto, a dedicar um registro especial ao pioneirismo na
produção cinematográfica em nosso Estado, estabelecendo uma referência dos
primeiros tempos e para lembrar que aqui medrou o entusiasmo pela produção
cinematográfica, mesmo em condições adversas.
Não há muitas
fontes sobre aqueles que ousaram realizar os primeiros filmes. Em nossas
pesquisas nas fontes primárias, muitas delas destruídas pelo trágico incêndio
na Biblioteca Pública do Estado do Ceará, encontramos, entretanto, a notícia
sobre o primeiro filme feito no Ceará.
No dia 1º de
abril de 1910, o Cinema Rio Branco, exibia o documentário "A Procissão dos
Passos", com o destaque na publicidade para o fato de ser este "o 1º
filme rodado no Ceará". Além dessa informação, não temos nenhum outro
esclarecimento. Desconhecemos quem o teria feito, se algum conterrâneo ou algum
cineasta visitante que aqui tenha aportado. Um segundo filme produzido em nossa
terra, igualmente sem os créditos de seus realizadores, foi o "Ceará
Jornal", exibido no Cinema Riche, no dia 26 de fevereiro de 1919.
Não há
dúvidas, entretanto, quanto ao pioneirismo na produção documental, de qualidade
técnica, do cearense Adhemar Bezerra de Albuquerque, nascido em Fortaleza, em
19 de julho de 1892, e falecido, aos 83 anos de idade, no dia 17 de julho de
1975. Paralelo à sua atividade artística, foi funcionário por 40 anos do Bank
of London. Aqui constituiu família, casando-se com Lasthenia Campos de
Albuquerque, tendo o casal nove filhos: Francisco Afonso, Antonio Afonso, Paulo
Afonso, Pedro Afonso, Suzana, Lastenia, Maria Lucíola, Marta e Luis Afonso.
Sua
criatividade artística teria uma manifestação inicial no campo da fotografia e
do cinema, com destaque para a criação da Aba Film, empreendimento definitivo
no ramo de fotografia, e que alcança até hoje, sob a direção de seu filho,
Antônio Albuquerque, o melhor padrão de qualidade.
Tem-se o ano
de 1924 como a data de lançamento de seus primeiros filmes, documentários em 35
milimetros, de aspectos e acontecimentos da Fortaleza e cidades interioranas.
De fato a imprensa local registra com louvor o esforço de Adhemar Albuquerque,
comentando o filme "Temporada Maranhense de Foot-Ball no Ceará (1924, 2
atos, realização de Adhemar Albuquerque, com o seguinte conteúdo: Fases dos
jogos: Ceará 4 x 2 Maranhenses; Maranhenses 2 x 0 América; Maranhenses 2 x 1
Fortaleza; Guarany 4 x 0 Maranhenses), por ele lançado no Cinema Moderno, no
dia 15 de outubro de 1924. Sobre essa estréia, publicou o "Correio do
Ceará" (16.10.1924):
UM
"FILM" CEARENSE
O "Cine
Moderno", exhibiu, na noite de hontem, um "film" cearense,
esmeradamente confeccionado, producto exclusivo do esforço louvável, da
intelligencia artística e do bom gosto do nosso patrício, o sr. Adhemar
Albuquerque.
Trata-se de
uma interessante cinta cinematographica, dividida em 2 partes, da temporada
maranhense de "foot-ball", no Ceará, contendo phases dos jogos que se
realizaram, flagrantes das archibancadas e do movimento de
"torcedores" e gentis "torcedoras" para o "field"
da "A.D.C.", no Alagadiço, onde se feriram as pugnas. Há ainda outros
aspectos do desembarque dos desportistas visitantes, dos "teams",
captains, juizes e auxiliares na temporada.
As
photographias são de todo escellentes. O "film" é nitido,
circumstanciado e de passagens bem apanhadas.
É digno de
nota ter sido tal "film" todo e inteiramente confeccionado nesta
capital por aquelle nosso conterraneo que se torna, assim, merecedor de
encomios.
A cinta ainda
será exhibida no proximo domingo, nos cinemas "Moderno" e
"Majestic".
A produção do
pioneiro Adhemar Albuquerque passa a ser uma constante nas décadas de 20 e 30,
tendo na fase inicial da produção silenciosa, como o maior destaque para
"O Juazeiro do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" (1925, documentário,
5 partes), cujo lançamento ocorreu no Cinema Moderno, a 8 de dezembro de 1925,
com reapresentação no mesmo cinema a 11 de fevereiro de 1927. A publicidade
dizia: "Um filme que mostra os costumes do nosso povo, cenas de nossa
terra... O Juazeiro- Vistas da Cidade - Dias de feira - O movimento das ruas -
O Padre Cícero - Os devotos - A multidão - A excursão Presidencial - Paisagens
- Trechos da Viagem - O açude de Cedro - Fortaleza - Panorama da Cidade - A
chegada do Padre Macêdo - Ponte de desembarque - Crato - Barbalha - Quixadá,
etc."
Ainda, nos
primeiros anos da produção de Adhemar Albuquerque, identificamos os seguintes
lançamentos: "A Festa no Iracema" (1926, Aba Film, curiosos aspectos
das danças na noite de 31 de dezembro) - exibido no Moderno a 16.5.1926;
"A Indústria de Sal no Ceará" (1926, Aba Film, 1 ato) - exibido no
Moderno a 16.5.26; "A Visita do Dr. Washington Luís ao Ceará" (1926,
Aba Film, 2 atos; "completas reportagens cinematográficas da "Aba
Film", desde a chegada do vapor "Pará", a estadia e visitas de
sua Excia., até ser recebido em Paraíba") -Moderno, 12 10.26; "A
Parada Militar de 7 de Setembro" (1926, Aba Film, 1 ato; "23º
Batalhão de Caçadores, Polícia Estadual, Colégio Militar, Tiro de Guerra nº 38,
Liceu do Ceará, Colégios: Cearense, Castelo, São Luiz, etc.") - Moderno
12.10.26; "Inauguração dos Filtros no Açude do Acarape do Meio para
Abastecimento d'água em Fortaleza" (1927, Aba Film, 1 ato, natural) -
Moderno, 1.1.28; "O Banquete Oferecido pela Colônia Cearense, no Rio, ao
Dr. Matos Peixoto" (1 ato) e "A Visita de S.Excia. Dr. Matos Peixoto
ao cais do Porto, no Rio" (1 ato) - exibidos também no Cinema Moderno, a
18.7.28.
Os filmes
brasileiros e as produções cearenses despertam ainda mais a atenção do nosso
público, quando ocorre a transição do cinema silencioso para o sonoro. A
população de Fortaleza é tomada de vivo entusiasmo quando o Moderno, exibe a 29
de novembro de 1931, o filme sonoro "Cousas Nossas" (1931, Byington
& Cia., São Paulo, produtor Alberto Byinton Jr., dirção Wallace Downey,
fotografia Rudolph Lustig e Adalberto Kemeny, som Moacir Fenelon, com Procópio
Ferreira. Paraguaçu, Batista Jr., Jaime Redondo, Arnaldo Pescuma, Jararaca e
Ratinho, Estefânia de Macêdo, e outros). No ano seguinte ao lançamento desse
grande êxito de bilheteria e de crítica que foi "Cousas Nossas",
aparece no "Correio do Ceará" (31.3.1933) a seguinte apreciação sobre
as realizações brasileiras e da Aba Film, em particular, com algumas
expressivas sugestões:
https://www.facebook.com/groups/ocangaco/permalink/1274286629251119/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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