Crato: O
médico Magérbio Lucena, descreve, com detalhes, os últimos passos de Lampião no
sertão nordestino. Ele diz que Lampião viera de Icuim, em Alagoas, atravessara
o Rio São Francisco e fora para um lugar chamado Sacão, em Sergipe. De lá fora
para o Logrados dos Félix, no mesmo Estado, de onde viera para o coito
(refúgio) do Riacho do Angico, local muito escondido, mas também de retirada
muito difícil.
“Coito de uma
entrada só é cova de defunto”, dissera, certa vez, o cangaceiro Corisco,
referindo-se ao local em que o rei do cangaço chegou no dia 21 de julho de 1938
e ali ficou à espera dos bandos de Labareda e Corisco para uma reunião com
todos os seus subchefes. Estava sendo servido pelo coiteiro Pedro de Cândido,
um dos donos da propriedade, homem de sua inteira confiança.
De acordo com
o relato de Magérbio, um cangaceiro de Corisco, passando pela Fazenda da Novo
Gosto, falou para o vaqueiro Joca Bernardes sobre a reunião dos bandos. Joca,
inimigo de Pedro de Cândido, procurou a polícia em Piranhas, Alagoas, e disse
ao sargento Aniceto que o seu desafeto estava acoitando Lampião. Aniceto
comunicou-se com o tenente João Bezerra, que veio de Pedra – hoje Delmiro
Gouveia, em Alagoas, com o aspirante Ferreira. A tropa desceu o rio na calada
da noite e prendeu Pedro de Cândido, que sob tortura teve que indicar o local
do coito.
Lampião
altamente protegido por coronéis de barrancos, políticos influentes e policiais
de alta patente com quem negociava munições, foi em vida o carrasco de médios e
pequenos agricultores e comerciantes em todo o Nordeste, extorquindo-lhes as
parcas economias por meio de sequestros por dinheiro, venda de proteção e
roubos à mão armada em meio a assassinatos e estupros.
Com o advento
do Estado Novo, em 1937, todos as portas começaram a se fechar para o cangaço. Existe
uma versão de que o próprio Getúlio Vargas foi quem exigiu do interventor de
Alagoas, Osmam Loureiro, a cabeça do célebre quadrilheiro, no prazo de 30 dias.
Coronel José Lucena
O coronel José
Lucena chefe da polícia que sempre desconfiara que João Bezerra vendia Armas e
munições para o rei do cangaço, deu-lhe o mesmo prazo: a cabeça de Lampião ou a
farda do tenente. Não deu outra: o bandido foi morto numa comprovação de que
Lampião sí vivia porque as autoridades toleravam sua existência.
Tenente João Bezerra à esquerda da frente da foto
Imagem
A imagem de
herói e justiceiro com que se idealizou os cangaceiros era nosso folclore não
corresponde a realidade. Assim como os outros cangaceiros, Lampião era cruel,
sanguinário e agia em benefício próprio e de seus compadres. Nesse sentido, ele
pode ser comparado a bandidos atuais que também ganham essa aura de heróis
populares, como Escadinha ou Fernandinho Beira-Mar, para alguns moradores dos
morros do Rio de Janeiro.
Fonte: Jornal
"DIÁRIO DO NORDESTE"
Cidade:
Fortaleza.
Data: 28 de
julho de 2009
Ano: XXVII
Número: ? -
Regional
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Este jornal
foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e sócio da SBEC - Sociedade
Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Nascimento (Chagas Nascimento).
Nota: Desculpem-me alguma falha na digitação, sou um pouco cego. Se faltar alguma letrinha na palavra, mas você entenderá o significado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário