Por José Romero
Araújo Cardoso
A divisão regional proposta por Josué de Castro em Geografia da Fome – O dilema
brasileiro: Pão X aço, livro importantíssimo publicado em 1946, enfatizou cinco
regiões brasileiras conforme as condições apresentadas pelo grau nutricional.
Josué de Castro enfatizou a existência das áreas: Amazônica, Nordeste
Açucareiro, Sertão Nordestino, Centro-Oeste e Extremo Sul. O autor destacou que
das cinco áreas que forma o mosaico alimentar brasileiro, as três primeiras são
nitidamente marcadas pela fome, seja endêmica, no caso das áreas Amazônica e
Nordeste Açucareiro, ou epidêmica, caso do Sertão Nordestino. O Centro-oeste e
o Extremo Sul estariam sujeitos à subnutrição.
A sujeição do sertão nordestino à esporádicas fases de fome epidêmicas pode ser
apontada pelo domínio exercido pelas secas em períodos de previsibilidade
reduzida, tendo em vista o conhecimento recente acerca do atrelamento dos
períodos de estiagens ao aquecimento fantástico das águas do Pacífico Sul no
Continente Americano, efetivando fenômeno conhecido como El Niño.
Na época da publicação da primeira edição da geografia da Fome ainda não havia
sido feita essa relação secas no semiárido nordestino com o resultado das
erupções vulcânicas submarinas fenomenais que ocorrem nas costas do Chile e do
Peru, região conhecida como Círculo do Fogo.
As secas mais intensas se responsabilizaram de forma mais intensa, em épocas
pretéritas, pela desagregação da própria vida social no sertão nordestino
e no Norte de Minas Gerais, chegando a influenciar o regime de chuvas em outras
áreas menos castigadas.
Exemplo disso
encontra-se na forma radical como se mostraram os efeitos da grande seca de
1877-1879, pois estenderam-se para áreas menos sujeitas às secas, como o
agreste e a zona da mata.
Com relação a essa estiagem que marcou indelevelmente a região Nordeste,
Rodolfo Teófilo escreveu que só no Ceará 300 mil pessoas ou morreram de fome e
de sede ou emigraram para os seringais da Amazônia.
Antes e depois que Josué de castro escreveu a sua Geografia da Fome, diversas
estiagens castigaram principalmente o semiárido. Em 1958, a ação emergencial
foi a forma encontrada pelo governo para tentar reverter o quadro caótico que
assolava a região.
Para tentar sobreviver, o sertanejo desenvolveu engenharia empírica, utilizando
a matéria-prima encontrada no bioma caatingueiro. Bolandeira de descaroçar
algodão, engenho de rapadura, alambique de cachaça, prensa de cera de carnaúba,
são exemplos de elementos constitutivos da civilização da seca.
As secas representam impacto profundo na qualidade de vida da população
sertaneja, não querendo guinar para o determinismo ambiental, pois Delmiro
Gouveia provou que é possível empreender estruturas modernas em áreas
deprimidas e pouco eficientes quanto aos indicadores sociais, que puseram
abaixo diversas teses defendidas de que o clima condiciona de forma
extraordinária a vida social.
Exemplo de que inserção no polígono das secas incide sobre as condições de vida
da população encontra-se na situação observada por Minas gerais na região
Sudeste, estando esse estado Brasileiro em desvantagem com relação ao conjunto,
provavelmente devido a sua porção norte estar sob domínio do clima semiárido.
Importante livro que marcou pós-segunda grande guerra, a Geografia da Fome de
Josué de Castro continua atual, pois problemas crônicos que ainda afligem a
população brasileira urgem por soluções.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto da UERN.
Enviado por José Romero de Araújo Cardoso
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