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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A GEOGRAFIA DA FOME E O SERTÃO NORDESTINO ENQUANTO ÁREA SUJEITA ÀS EPIDEMIAS DE FOME

Por José Romero Araújo Cardoso



A divisão regional proposta por Josué de Castro em Geografia da Fome – O dilema brasileiro: Pão X aço, livro importantíssimo publicado em 1946, enfatizou cinco regiões brasileiras conforme as condições apresentadas pelo grau nutricional.
          
Josué de Castro enfatizou a existência das áreas: Amazônica, Nordeste Açucareiro, Sertão Nordestino, Centro-Oeste e Extremo Sul. O autor destacou que das cinco áreas que forma o mosaico alimentar brasileiro, as três primeiras são nitidamente marcadas pela fome, seja endêmica, no caso das áreas Amazônica e Nordeste Açucareiro, ou epidêmica, caso do Sertão Nordestino. O Centro-oeste e o Extremo Sul estariam sujeitos à subnutrição.
          
A sujeição do sertão nordestino à esporádicas fases de fome epidêmicas pode ser apontada pelo domínio exercido pelas secas em períodos de previsibilidade reduzida,  tendo em vista o conhecimento recente acerca do atrelamento dos períodos de estiagens ao aquecimento fantástico das águas do Pacífico Sul no Continente Americano, efetivando fenômeno conhecido como El Niño.
          
Na época da publicação da primeira edição da geografia da Fome ainda não havia sido feita essa relação secas no semiárido nordestino com o resultado das erupções vulcânicas submarinas fenomenais que ocorrem nas costas do Chile e do Peru, região conhecida como Círculo do Fogo.
          
As secas mais intensas se responsabilizaram de forma mais intensa, em épocas pretéritas,  pela desagregação da própria vida social no sertão nordestino e no Norte de Minas Gerais, chegando a influenciar o regime de chuvas em outras áreas menos castigadas.

Exemplo disso encontra-se na forma radical como se mostraram os efeitos da grande seca de 1877-1879, pois estenderam-se para áreas menos sujeitas  às secas, como o agreste e a zona da mata.
          
Com relação a essa estiagem que marcou indelevelmente a região Nordeste, Rodolfo Teófilo escreveu que só no Ceará 300 mil pessoas ou morreram de fome e de sede ou emigraram para os seringais da Amazônia.
          
Antes e depois que Josué de castro escreveu a sua Geografia da Fome, diversas estiagens castigaram principalmente o semiárido. Em 1958, a ação emergencial foi a forma encontrada pelo governo para tentar reverter o quadro caótico que assolava a região.
          
Para tentar sobreviver, o sertanejo desenvolveu engenharia empírica, utilizando a matéria-prima encontrada no bioma caatingueiro. Bolandeira de descaroçar algodão, engenho de rapadura, alambique de cachaça, prensa de cera de carnaúba, são exemplos de elementos constitutivos da civilização da seca.
          
As secas representam impacto profundo na qualidade de vida da população sertaneja, não querendo guinar para o determinismo ambiental, pois Delmiro Gouveia provou que é possível empreender estruturas modernas em áreas deprimidas e pouco eficientes quanto aos indicadores sociais, que puseram abaixo diversas teses defendidas de que o clima condiciona de forma extraordinária a vida social.
          
Exemplo de que inserção no polígono das secas incide sobre as condições de vida da população encontra-se na situação observada por Minas gerais na região Sudeste, estando esse estado Brasileiro em desvantagem com relação ao conjunto, provavelmente devido a sua porção norte estar sob domínio do clima semiárido.
          
Importante livro que marcou pós-segunda grande guerra, a Geografia da Fome de Josué de Castro continua atual, pois problemas crônicos que ainda afligem a população brasileira urgem por soluções.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-Adjunto da UERN. 

 Enviado por José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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