Por Clerisvaldo B.
Chagas, 12 novembro de 2016 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.589
Vivia-se um
tempo em que o Sertão não tinha cercas. A vegetação de caatinga ainda virgem
predominava amplamente no semiárido. Caprinos e ovinos viravam bichos
selvagens, longe da ferra e sedes de fazenda. As estradas de carro de boi,
caminhos e veredas, esticavam-se em muitos dias sem uma casa, sem gente, sem
esperança. Os animais do mato cruzavam os rumos de terra arenosa, poeirenta,
comprida, isenta quase dos humanos. Os macacos se coçavam na encruzilhada.
Emas, raposas, suçuaranas, jabutis... Transitavam livres na flora perfumosa.
Ilustração:
(brasilcowboy).
No mundão
catingueiro que parecia deserto, as notícias espalhavam-se com rapidez
extraordinária, sempre que interessavam aos nativos. Muitos estudiosos
citadinos ficavam sem entender como surgiam tão depressa essas mensagens aonde
não chegava ainda o automóvel, o caminhão e o rádio.
O segredo
estava na própria necessidade local de defesa, simples e barata. As notícias
ensebadas contra os gravetos e os espinhos da jurema andavam a cavalo. Nos
cavalos valentes dos vaqueiros que rompiam mato, chãs, serrotes, quebradas, em
galopes desenfreados levando as mensagens nos embornais da boca. Nem somente
vaqueiros eram estafetas heróis, mas também o trabalhador braçal disponível no
momento e até filhos e crias de proprietário fazendeiro. Raramente um sertanejo
rural, homem ou mulher, ignorava a arte de montar.
Quando
cangaceiros, volantes ou o padre da novena apareciam, os cavalos faziam finca
com o cavaleiro avisando os arredores. Novos cavaleiros de posse da notícia
transportavam-na para mais longe ainda, criando-se assim uma rede cabocla de
comunicação veloz.
Naturalmente
não estamos falando da teia coiteira que agia de forma particular.
No Sertão até
os animais são receptores e transmissores de mensagens às cabeças dos humanos
pensantes da terra. Mas aí é outra história, amigo. É só entrar no mundo mágico
sertanejo.
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