Seguidores

sábado, 18 de março de 2017

O CANGAÇO NA ENTREVISTA DE UM CATEDRÁTICO DE DIREITO DO CEARÁ

Material do acervo do pesquisador do cangaço Antonio Corrêa Sobrinho

Na matéria abaixo, entrevista sobre cangaço concedida ao jornal "Diário da Manhã", e publicada no "O Estado de S. Paulo", edição de 29 de junho de 1927, pelo professor da Faculdade de Direito do Ceará, RAIMUNDO GOMES MATOS (não confundir com o homônimo deputado cearense), uma informação por ele dada me causou surpresa e despertou meu interesse: a de que no município de Aurora, Ceará, em 1927, LAMPIÃO OFENDEU GRAVEMENTE TRÊS SENHORAS CASADAS, sendo uma delas sobrinha do major Moisés Figueiredo, este, como sabemos, na época, o chefe das forças policiais cearenses no combate ao cangaço na região alencarina, autoridade esta, inclusive, parente afim, na condição de cunhado, do famoso coronel Isaías Arruda, ambos considerados, por muitos, protetores e até fornecedores de armas e munição ao terrível e maioral bandoleiro Lampião.

Notícia de fato esta que não me recordo ter lido em algum lugar, senão agora, neste nonagenário texto jornalístico, que reputo de considerável valor informativo, pois oriunda de um catedrático, o sobredito professor Raimundo Gomes de Matos, que, segundo o site "Portal da História do Ceará", é filho do Crato/CE, onde nasceu em 10 de outubro de 1885, que se formou em direito e militou como advogado nos tribunais do Nordeste, alcançando fama de bom orador e excelente criminalista. Ingressou no quadro de professores da Faculdade na qual se formou e foi seu diretor por cerca de dez anos. Jornalista, fundou e dirigiu “O Jornal” (1916) e colaborou assiduamente na imprensa de Fortaleza. Li que é nome de rua em Fortaleza, não sei se procede. Não tenho a data do seu falecimento.

Pois bem, são informações como esta, versando sobre o que teria ocorrido no passado, que lemos a toda hora, aqui e ali, principalmente as que nos chegam pelo conduto de mentes presumivelmente decentes, cultas, conhecedoras das coisas e atentas aos acontecimentos de sua era, repito, como esta que aqui trazemos para estudo, que, quando não ratificadas ou, pelo menos, citada pela pesquisa como provável fato, que espero não acontecer com a mencionada informação, só me levam a desconfiar e, não raro, desacreditar no que me dizem do passado dos homens, do que realmente, efetivamente, eles fizeram ou deixaram de fazer.

O CANGAÇO NA ENTREVISTA DE UM CATEDRÁTICO DE DIREITO DO CEARÁ

Recife, 27 – O professor Raimundo Gomes Matos, catedrático da Faculdade de Direito do Ceará, entrevistado pelo “Diário da Manhã” sobre o cangaço fez as seguintes declarações:

“O banditismo é uma instituição nacional, ao mesmo tempo que constitui uma profissão. Os politiqueiros e mandões de aldeia são os maiores responsáveis pelo banditismo porque armam facínoras contra os seus adversários.


Muitas vezes os bandidos, ombreados por soldados de polícia, fazem com estes causa comum.


Lampião, hoje ferozmente perseguido na Paraíba, teve ali a sua escola de bandidos, prestando serviços políticos a diversos chefes.


Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará possuem numerosas escolas desse gênero, cujos professores são os chefes políticos que aliciam os “cabras”.


Enquanto perdurar esse regime, podem os malfeitores ser perseguidos, mas o banditismo existirá, ressurgindo hoje ou amanhã.


Lampião bivacou vinte e três dias no município cearense de Aurora, a meia légua de estrada de ferro de Baturité, nas proximidades da fronteira paraibana. Ali curou feridos e refez as tropas.

O major Moisés Figueiredo, delegado militar de Aurora, comunicou aos seus superiores o fato, mas nenhuma medida foi por aqueles tomada. Apenas o vigário da freguesia, ante a absoluta falta de garantias, reuniu o seu rebanho, na Matriz, entregando as ovelhas ao patrocínio de S. José.


Durante a sua estadia no referido município Lampião ofendeu gravemente três senhoras casadas, sendo uma delas a sobrinha do próprio major Moisés.


Quanto à visita de Lampião a Juazeiro, o entrevistado declarou que padre Cícero é o homem de maior prestígio pessoal do Brasil, mas de um prestígio manso e evangelizador que representa uma verdadeira providência para o alto sertão, onde não chega a ação do governo ou chega deturpada.


Tendo o Dr. Artur Bernardes incumbido o deputado Floro Bartolomeu de armar mil homens para combater a coluna Prestes, aquele parlamentar recorreu a Lampião, mandando-o chamar. Em seguida, embarcou para o Rio, a chamado do presidente da República, vindo ali a falecer.

Nesse ínterim, chegou Lampião a Juazeiro, mostrando ao padre Cícero a carta que acabava de receber do deputado.


Padre Cícero, que é homem forrado de um espírito de moralidade mal compreendida, entendeu que se prendesse Lampião, praticaria uma traição. Assim preferiu arrostar as responsabilidades que poderiam advir.


Demais concluiu o professor Matos, padre Cícero não é governo, nem polícia para prender bandidos.


Fonte: facebook
Página: Antonio Corrêa Sobrinho
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário