Por Medeiros Braga
O cordel foi conhecido
Como folheto de feira
Era cantado em mercado,
Nas ruas, praças, ribeira,
Pelos alpendres de casa
Pelos oitões, feito brasa,
Ou à sombra de mangueira.
Por estrofes narradoras
Dos mais diferentes temas,
Com versos de sete sílabas
Ou de dez em alguns lemas,
Eram sempre caprichados,
Rimados, metrificados
Dentro da regra suprema.
Essa audaz literatura
Já tinha a definição
De IMPRESSA, NARRATIVA
E POPULAR, na função
De levar o saber certo
Ao letrado e analfabeto
Do povoado sertão.
Sendo essa a descrição
Verdadeira, tão fiel,
Desse folheto de feira
Que se diz, hoje, cordel
Afirmo por esse teste
Qu’ele nasceu no Nordeste
Da verve do menestrel.
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Digo mais que o folheto
Que nós temos por cordel
Nasceu ele no Nordeste
De um grande menestrel:
Leandro Gomes de Barros
Que compondo, sem esbarros,
Cumpriu bem o seu papel.
Os de sete ou de dez sílabas,
De seis, de sete ou dez versos
Foi Leandro quem compôs
Com seus temas mais diversos...
O primeiro com estorvo
A escrever para o povo
Esses folhetos impressos.
De que ele se inspirou
Na famosa cantoria
De Romano que cantou
Com Inácio da Catingueira
E de tão forte a poeira
Nesse embate levantou.
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Mas, quem foi esse poeta
Criativo e genial?...
Leandro Gomes de Barros
Com a verve sem igual,
Foi ele um paraibano
Talentoso, justo, humano,
Da cidade de Pombal.
Nasceu esse bom poeta
Na Fazenda Melancia,
No distrito de Paulista
Que se emanciparia,
Lá o Fórum é exaltado
Com seu nome destacado
Para a honra da poesia.
Leandro Gomes de Barros
Nasceu no ano de mil,
Oitocentos e sessenta
E cinco, num lar gentil,
Mas, ao crescer, sem escolta,
Deu uma reviravolta
Sua vida juvenil.
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Muita gente do Nordeste,
Sobretudo dos grotões
Folheava seus folhetos
A buscar informações
E também nesse a, b, c
Aprendiam uns a ler
Tendo estrofes por lições.
Garoto de uns treze anos
Sempre eu era convidado
Para folhetos de feira
Ler em sítio e povoado,
Não lembro quem escrevia,
Mas Leandro bem devia
Ser no tempo apreciado.
Leandro Gomes de Barros
Era um poeta educado,
Escrevia muito bem
Fazia folheto ousado,
Tinha sempre um revisor
Para os temas de humor
Ou um clássico arrojado.
Pra Jorge Amado o cordel
Diante de tais perigos
É uma arma do povo
Contra os seus inimigos,
Num mundo desprotegido
Ele é ao oprimido
A trincheira, seus abrigos.
“O Punhal e a Palmatória”
Pelo seu bom desempenho
Foi um folheto-denúncia
De maltrato tão ferrenho
Que causou a reação,
Vingança, perseguição
De um senhor de engenho.
Esse senhor de engenho
Surrou o seu morador
Com pesada palmatória
Provocando muita dor
E causando, sem razão,
Uma grande humilhação
E ira contra o senhor.
Por conta disso se armou
Com uma faca peixeira
E um dia o emboscou
Matando a sua maneira,
Deixou-o na terra quente
E tratou de ir urgente
Para outra bagaceira.
Leandro Gomes de Barros
Com seu folheto-jornal
Noticiou o ocorrido
Com comentário final,
De forma que, sem receio,
Desagradou mesmo em cheio
A burguesia rural.
Como a classe dominante
Tem de tudo à sua mão,
Leandro Gomes de Barros
Foi punido com prisão
E devido o trato rude
Debilitou a saúde,
Teve a vida a redução.
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São constantes nos seus versos
As críticas pelas ações
Dos senhores de engenho,
Governos, religiões,
Do seu ato interesseiro
Onde tem sempre o dinheiro
O controle dos sermões.
Enaltecia a justiça
Já de Antonio Silvino
Cujo verso e bacamarte
Tinham, pois, um só destino,
Nas formas mais diferentes
Defendiam indigentes
Com sentimento mais fino.
Tinha o leitor preferência
Por atos de cangaceiro,
A do rei Antonio Silvino
Assombro do mundo inteiro,
Por ser ele um aguerrido,
Era sempre o mais vendido
Do mais letrado ao vaqueiro.”
Algumas das 80 estrofes de um cordel de minha autoria
Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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