Por Verluce Ferraz
Se Lampião não
tinha limites, limitava os outros. Por ser um ambiente pouco propício para ser
compartilhado com as mulheres, por muito tempo o mundo do cangaço foi
refúgio somente para os homens. A justificativa era aceitável pois, mulheres
são frágeis, não suportam grandes caminhadas carregando peso de armas, além de
engravidarem e choro de crianças atrai os soldados, inimigos de cangaceiros.
Nos grupos lampiônicos entra mais um componente para justificar tal divisão: -
mulher amolece os homens! Esse segundo argumento conferido às mulheres era pura
falácia, aliás, todos os argumentos para que as mulheres não entrassem no
cangaço eram falaciosos. Na História tivemos muitas mulheres que enfrentaram
grandes batalhas e até as guerras, é só lembrar Cleópatra que reinou no Egito
(70 a.C), comandou exércitos, conduzia encontros diplomáticos falando mais de
dez idiomas; teve seis filhos; Dandara, mulher de Zumbi, lutou ao lado do
marido para a libertação dos negros, teve vários filhos; Anita casada com
Guiseppe Garibaldi foi revolucionária que fez história no Século XIX, por ter
lutado na Revolução Farroupilha; a princesa Isabel apelidada de A Redentora,
tornou-se a primeira senadora do Brasil; era casada e teve três filhos; Ana
Pimentel Henriques Maldonado, esposa de Martim Afonso de Souza (ano de 1534)
foi procuradora do marido e teve seis filhos com ele; Chica da Silva
(1732/1796) do Arraial de Tijuco, Diamantina (MG), filha de uma escrava com um
militar português; casou com um poderoso administrador, tornou-se poderosa,
entrava nas Igreja e nas casas dos ricos; teve treze filhos com o marido.
Acreditar que mulher amolece homem é uma grande inverdade; que homem deve
evitar mulher para poder brigar também é engodo. O que havia no Cangaço era uma
censura prévia e mentirosa, fácil de ser compartilhada entre os jovens
analfabetos cangaceiros que muito cedo entravam para o mundo do crime.
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, não tinha limites, mas limitava os
outros com o seu poder de indução e o poder bélico. Essas limitações advinham
de fontes psíquicas, o cangaceiro Virgulino, dizer que “mulher amolecia homens
pois homem tem que ter corpo fechado” era, no mínimo, manipulação. Os tabus de
Virgulino Ferreira da Silva é que vão colocar essa linha divisória entre os
sexos; a origem dessa mentira estria na própria psique do cangaceiro. Mas nem
sempre isso constituía lei, e nem impedia que alguns de seus homens invadissem
os lares das famílias estuprando as jovens – são muitos os relatos que
Virgulino se ofendia com os homens de seus bandos que estupravam jovens, por
isso ele mandava os castrar.
Mas, qual seria a origem desse falso pudor, desse
falso respeito que tanto incomodava e levava Lampião a impor uma vida quase
celibatária aos seus companheiros? Tais justificativas vêm cair por terra
quando Lampião permite que a Maria de Déia entre para o cangaço, e o acompanhe
no seu mundo de crimes. A presença das mulheres no cangaço não alterou em nada
o mundo dos cangaceiros, não alterou em nada o comportamento de Lampião. O tabu
que havia de que as mulheres "amoleciam os homens", de que eram
frágeis e a ponto de não resistirem às condições climáticas do sertão? A mulher
cangaceira também não há de ser mais feminina, pelo contrário, nada faziam para
demonstrar suas feminilidades; não cozinhavam, não se davam à maternidade e
quando engravidavam tomavam os chás abortivos , as que pariam, davam os filhos.
Assim, não faziam qualquer tarefa do mundo das mulheres femininas. As mulheres
cangaceiras viviam para servir aos homens na sexualidade. Algumas nem tinham
direito a escolha para se relacionarem - houve casos de mulheres que entraram
forçadas para o cangaço e, depois quiseram trocar os parceiros mas foram
brutalmente assassinadas.Dentro do cangaço todas as tarefas do mundo doméstico
ficavam a cargo dos homens. Contava Lampião com seus 32 anos de idade quando se
aproximou de uma mulher casada e pediu que a mesma lhe bordasse alguns lenços.
Foi um lenço e um bordado que tanto atraíram o cangaceiro. O fetiche está num
lenço bordado. Lampião vai ser dominado pelo fetiche e a Maria há de
compartilhar do mesmo prazer. Afinal, esses prazeres brotam da mesma fonte: a
psique.
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